sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A atriz obrigada a defender o parto da neta em hospital público mostrou que o Brasil está doente. Por Donato



Postado em 01 Feb 2017
por : 
Antonia Fontenelle
Antonia Fontenelle

O Brasil está doente. A chaga talvez não esteja classificada na literatura médica, mas existe, é perniciosa e seus portadores não querem ser tratados pelo SUS. É coisa de pobre.
A atriz Antonia Fontenelle, cuja carreira já trilhou novelas de TV, acompanhou e postou nas redes sociais o nascimento de sua neta.
Famosa, Antonia tem muitos seguidores. O que a surpreendeu foi a repercussão negativa de boa parte deles a respeito de um detalhe do parto: ele ocorreu em um hospital da rede pública, o Miguel Couto, no Rio de Janeiro.
De tão descabidos, e em quantidade espantosa, Antonia Fontenelle viu-se compelida a se explicar.
“Quando soube que a Tabil (namorada de seu filho) estava grávida, ela estava com três meses de gestação. Fiz um bom plano de saúde para ela, mas para parto existe uma carência de um ano. Para os exames não tem. Eu já sabia disso, mas não ia deixar ela tratar a gravidez toda na rede pública porque soube de situações passadas em que ela passou mal, precisou fazer exames e não conseguiu. Meu obstetra a acompanhou do começo ao fim. Só que um parto custa em torno de R$ 40 mil na rede particular e não tenho, hoje, condições de pagar isso”, disse.
Ao que tudo indica, foi a condição financeira que fez com que sua neta nascesse de parto natural num hospital público. Para Antonia, também parece ter sido uma experiência nova.
E não de todo ruim, pelo contrário. Mas parece ter sido isso um acinte para seus seguidores que possuem a cultura já mais que inculcada em suas cabeças de que tudo que é público é péssimo e é exclusivo para pobres.
“Miguel Couto???”, perguntou um deles, assim, abismado.
Também não faltaram os que fizessem conexões rasteiras: “Olha a crise, até a neta da Fontenelle nascendo em hospital público”, disse outra.
Que doença é essa que estabelece que serviços públicos são para pobres e os demais devem utilizar os fornecedores da rede privada?
Quem conseguiu inocular esse vírus que faz com que contribuintes fiquem constrangidos de usar o serviço que foi pago na forma de impostos e que todos têm direito? E como foi feito para que se acredite piamente que tudo que é público é péssimo?
A atriz fez questão de relatar seu contato com o que chamou de ‘mundo paralelo’:
“Se estivesse em outro momento da minha vida iria proporcionar a Tabil um parto como o meu, mas não pude. Mesmo assim, foi tudo digno. E pensando nessa experiência, em que pude estar lá conversando com ela, vendo as mães chegando muito nervosas e depois as acalmando, vejo que foi um dia muito especial e de muita reflexão. Porque a verdade é que a gente vive em um mundo paralelo”, afirmou Antonia.
Claro, ela observou aspectos negativos, mas o ‘caos’ que ela (e muitos de seus seguidores imaginam) não existia.
“Vi que o Miguel Couto tem uma boa direção, mas precisa de mais aparato (…) Ontem a obstetra que nos atendeu, eu contei, fez uns dez partos, isso só no horário que eu estava lá.” Pelo visto, ninguém morreu. “O que vejo nas redes sociais é gente dizendo que sou rica e fui tirar o lugar de uma pessoa pobre. Eu pago impostos, a Tabil também, assim como meu filho. O serviço público é para a população. Daí as pessoas vêm me criticar? Eu estava lá, do começo ao fim, acompanhando, dando apoio e amor. Se alguma coisa desse errado ou ela fosse mal-atendida, o Brasil inteiro ia saber disso. Não vejo nada de errado em usar o serviço público”, afirmou Antonia.
O National Health Service é o sistema público de saúde inglês. Emprega 1,3 milhão de pessoas, atende a 1 milhão de pacientes a cada 36 horas e é considerado a maior estrutura de saúde pública do mundo.
De tão querido pela população satisfeita com o atendimento, foi homenageado na festa de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres.
Já por aqui, como bem diagnosticou Antonia Fontenelle, criaram-se mundos paralelos, de ricos e de pobres. Essa doença se chama classismo, apartheid, segregação. Tem em genéricos e de marcas também. É vendida não em anúncios, mas em reportagens de TV.

Novas perspectivas para o transplante de órgãos, OESP (pauta)


Progressos permitem prever, para um futuro próximo, o fim das listas de espera
* Silvano Raia e Mayana Zatz ,
ZATZ
03 Fevereiro 2017 | 03h00
Superados os aspectos de técnica cirúrgica e sistematizadas as medidas clínicas pré e pós-operatórias, o progresso dos transplantes depende, agora, de contribuições de diferentes estratégias e linhas de pesquisa.
A longevidade crescente da população e os bons resultados com o procedimento explicam o fato de que em todos os países faltem órgãos para atender às listas de espera. Nos EUA, 124 mil pacientes estão inscritos para transplante de órgãos sólidos e apenas 28 mil procedimentos são realizados por ano. No Brasil realizamos cerca de 8 mil transplantes por ano, atendendo apenas a 30% da demanda teórica.
A doação de órgãos depende de variáveis de difícil controle, tais como a logística entre a captação e o transplante, a qualidade do órgão a ser transplantado, bem como de características culturais que dificultam a compreensão do conceito de morte cerebral e, assim, da autorização da doação pela família.
Nas últimas décadas, três linhas de pesquisa em nível celular visam a produzir órgãos adicionais: técnicas de impressão tridimensional, substituição de todas as células de órgãos não transplantáveis por outras do mesmo órgão do receptor e, finalmente, a produção de animais geneticamente modificados cujos órgãos possam ser transplantados para o homem.
A procura dessas alternativas valoriza as aplicações práticas da pesquisa básica e tem despertado grande interesse científico e econômico, justificando até mesmo um artigo recente na revista The Economist.
• Bioimpressão tridimensional:baseia-se na descoberta, no início do século, de que células + polímeros que as sustentam sobrevivem quando espalhadas sobre tecidos vivos. Além disso, quando dispostas, camada sobre camada, crescem formando tecidos ou órgãos vivos, tais como rim, fígado, pele, osso e vasos. Já foram produzidos orelhas, ossos, músculos e pele, que pode ser usada no tratamento de queimados, substituindo diretamente a área atingida.
No ano passado, um grupo da Northwestern University, em Chicago (EUA), conseguiu imprimir ovários de camundongos e transplantá-los em fêmeas, que geraram filhotes.
Uma empresa chamada Organovo, em San Diego (EUA), prevê a impressão de rins e fígados para daqui a três anos. Já está oferecendo tecido renal e hepático para teste de drogas.
A Johnson & Johnson criou várias empresas associadas a grupos acadêmicos visando a imprimir fragmentos de tecido ósseo para uso em ortopedia. 
A francesa L’Oréal, a americaa Procter & Gamble e a alemã Basf estão produzindo pele humana impressa viável. A L’Oreal já produziu 50 m2 para testes com produtos cosméticos.
• Recelularização de órgãos sólidos previamente descelularizados: consiste num processo de descelularização completa e ulterior recelularização de órgãos que não podem ser aproveitados por não terem qualidade para ser transplantados.
Na descelularização são retiradas todas as células até ficar apenas um arcabouço que servirá de molde para o novo órgão. Em seguida, são retiradas células-tronco do sangue periférico do receptor, que são reprogramadas para se tornarem pluripotentes (células-tronco IPS, do inglês induced pluripotent stem-cell), isto é, com potencial de formar qualquer tecido. Essas células são, então, diferenciadas de acordo com o órgão a ser recelularizado. Como essas células são derivadas do receptor, não causam rejeição.
Pesquisas nesse sentido encontram-se em fase avançada no laboratório do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), da Universidade de São Paulo (USP).
• Xenotransplante: consiste no transplante de órgãos de animais geneticamente modificados para o homem e, provavelmente, representa a alternativa mais promissora entre as três citadas. Os suínos (mini pigs) são a melhor opção, pela semelhança da sua fisiologia com a dos humanos, pela facilidade de manejo, pela fertilidade e pelo tamanho adequado.
Até recentemente, dois obstáculos impediam seu emprego clínico: rejeição hiperaguda e risco de infecção do receptor por vírus inócuos para os suínos, mas patogênicos para o homem. Nas últimas décadas, o problema da rejeição foi contornado pela modificação, por engenharia genética, de cerca de 20 genes no embrião suíno visando à redução de proteínas inflamatórias e reguladoras do sistema de inflamação, criando, assim, um perfil isogênico em relação ao receptor humano. 
O grupo de Joseph Tector, da Universidade do Alabama (EUA), modificou sucessivamente genes de suínos, obtendo rins compatíveis com receptores humanos. Restava ainda vencer o risco de infecção por retrovírus. E há cerca de um ano o grupo de George Church, da Universidade Harvard (EUA), usando uma nova técnica, chamada CRISPR-Cas9, descrita pelas pesquisadoras Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentiee (já implantada no CEGH-CEL), conseguiu inativar 62 retrovírus numa linhagem de células epiteliais de embriões suínos, evitando, assim, o risco de infecção no receptor.
Com base nesses resultados, o pesquisador da Universidade Harvard criou uma empresa chamada Genesis, que visa a produzir e fornecer órgãos para transplantes ao menor custo possível.
Saliente-se, porém, que a engenharia genética acima referida é realizada imediatamente após a fecundação, na fase inicial da divisão do ovo (zigoto). Para atuar nesse momento tão precoce deve-se usar fecundação assistida e implante imediato do embrião geneticamente modificado em fêmeas na fase hormonal adequada à nidação.
Uma análise geral de todos esses progressos permite prever, para um futuro próximo, uma disponibilidade de órgãos suficientes para abolir as listas de espera, sem depender da generosidade de doadores vivos nem da morte de doadores falecidos.
*RESPECTIVAMENTE, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP E PROFESSORA TITULAR DE GENÉTICA DO INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS DA USP
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

PRODUÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL REGISTRA RECORDE NO BRASIL EM DEZEMBRO, ANP



Em dezembro de 2016, o Brasil teve recorde tanto na produção de petróleo quanto na de gás natural. A produção de petróleo totalizou 2,730 milhões de barris por dia (bbl/d), superando os 2,671 milhões de bbl/d produzidos em setembro de 2016. Trata-se de aumento de 4,7%, se comparado com o mês anterior, e de 7,8%, se comparado com o mesmo mês em 2015.

Já a produção de gás natural foi de 111,8 milhões de metros cúbicos por dia, superando os 111,1 milhões de m³/d produzidos em novembro de 2016. O aumento foi de 0,6%, se comparado ao mês anterior, e de 11,3%, se comparado ao mesmo mês em 2015.

A produção total de petróleo e gás natural no País foi de aproximadamente 3,433 milhões de barris de óleo equivalente por dia.

O campo de Lula, na Bacia de Santos, foi o maior produtor de petróleo e gás natural, produzindo, em média, 710,9 mil bbl/d de petróleo e 30,8 milhões de m³/d de gás natural. A produção de petróleo de Lula é a maior já registrada por um campo no Brasil, superando o recorde anterior do próprio campo em novembro de 2016, que foi de 663,2 mil bbl/d.

Pré-sal


A produção do pré-sal, oriunda de 68 poços, foi de aproximadamente 1,262 milhão de barris de petróleo por dia e 49,0 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, totalizando aproximadamente 1,570 milhão de barris de óleo equivalente por dia, um aumento de 8,4% em relação ao mês anterior. A produção do pré-sal correspondeu a 46% do total produzido no Brasil. Os poços do “pré-sal” são aqueles cuja produção é realizada no horizonte geológico denominado pré-sal, em campos localizados na área definida no inciso IV do caput do art. 2º da Lei nº 12.351, de 2010.

Queima de gás


O aproveitamento de gás natural no mês alcançou 96,1%. A queima de gás em dezembro foi de 4,3 milhões de metros cúbicos por dia, um aumento de 13,5% se comparada ao mês anterior e de 28,3% em relação ao mesmo mês em 2015. O principal motivo do aumento na queima de gás nesse mês foi a realização de teste no campo de Búzios, através da Plataforma Dynamic Producer. O ano de 2016 teve recorde no aproveitamento do gás natural produzido no Brasil, com cerca de 96,1% de aproveitamento.

Campos produtores


Os campos marítimos produziram 94,9% do petróleo e 78,9% do gás natural. A produção ocorreu em 8.573 poços, sendo 755 marítimos e 7.818 terrestres. Os campos operados pela Petrobras produziram 94,3% do petróleo e gás natural.

Estreito, na Bacia Potiguar, teve o maior número de poços produtores: 1.103. Marlim, na Bacia de Campos, foi o campo marítimo com maior número de poços produtores: 63.

A FPSO Petrobras 58, produzindo nos campos de Jubarte, Baleia Azul, Baleia Anã e Baleia Franca, produziu, por meio de 13 poços a ela interligados, 189,6 mil boe/d e foi a UEP (Unidade Estacionária de Produção) com maior produção.

As bacias maduras terrestres (campos/testes de longa duração das bacias do Espírito Santo, Potiguar, Recôncavo, Sergipe e Alagoas) produziram 142,9 mil boe/d, sendo 117,8 mil bbl/d de petróleo e 4,0 milhões de m³/d de gás natural. Desse total, 138,4 mil barris de óleo equivalente por dia foram produzidos pela Petrobras e 4,5 mil boe/d por concessões não operadas pela Petrobras, sendo 326 boe/d em Alagoas, 1.601 boe/d na Bahia, 62 boe/d no Espírito Santo, 2.252 boe/d no Rio Grande do Norte e 249 boe/d em Sergipe.

Outras informações


Em dezembro de 2016, 287 concessões, operadas por 25 empresas, foram responsáveis pela produção nacional. Destas, 79 são concessões marítimas e 208 terrestres. Do total das concessões produtoras, uma encontra-se em atividade exploratória e produzindo através de Teste de Longa Duração (TLD), e outras oito são relativas a contratos de áreas contendo acumulações marginais.

A partir desta edição, o Boletim Mensal da Produção de Petróleo e Gás Natural passa a apresentar uma nova seção, que detalha a produção de petróleo e gás natural em campos terrestres, incluindo o histórico do último ano e os campos e poços com a maior produção.

Mais informações estão disponíveis no Boletim, disponível em: 
http://www.anp.gov.br/wwwanp/publicacoes/boletins-anp/2395-boletim-mensal-da-producao-de-petroleo-e-gas-natural.