domingo, 18 de setembro de 2016

Lula perdeu o controle - CARLOS HEITOR CONY


FOLHA DE SP - 18/08

RIO DE JANEIRO - É uma das histórias mais conhecidas do folclore universal, foi até filmada por Walt Disney, com Mickey Mouse no papel principal. Cansado de limpar a casa, apelou para um feiticeiro, que lhe providenciou uma vassoura mágica que arrumava tudo. Lamentavelmente, ele esqueceu a fórmula mágica que fazia a vassoura parar de trabalhar. Resultado: a vassoura não apenas limpou a casa, mas a destruiu, levando em seus destroços o aprendiz de feiticeiro.

A história não é tão fantástica assim: o caso de Lula é uma versão amplificada do mesmo drama. Achando que o país estava desarrumado e sujo, invocou o feiticeiro, que lhe deu a vassoura mágica para arrumar o Brasil. Teve inicial sucesso, mas não aprendeu a dominar a vassoura, criando um partido (PT) e seus derivados, como a CUT, a militância das ruas e outros apetrechos que julgava mágicos.

Sem saber ou sem querer imobilizar a vassoura que criou, está vendo agora a feitiçaria fazer os estragos que estamos sofrendo, com a corrupção desvairada e um Brasil mais sujo do que antes.

Ele próprio, não sabendo como deter a feitiçaria, está ameaçado de ser varrido, dividindo a prisão com os aprendizes mais importantes que o ajudaram. Não lhe adianta acusar as elites, o imperialismo e os golpes que alega estar sofrendo.

Na sua primeira investida rumo ao poder, era um líder respeitável e pobre. Levado pelo seu primeiro secretário de imprensa, o elegante Ricardo Kotscho, cheguei a comprar uma camisa do PT para ajudar a sua eleição. Apesar da minha modesta contribuição, ele não se elegeu (votei em Brizola) e deixou de vender camisas, inaugurando uma corrupção que não soube parar e que agora o atinge pessoalmente. A pobre e solitária camisa, que lhe comprei e nunca vesti, não pode concorrer com o mensalão, o petrolão e a Lava Jato.

Mudanças no pré-sal são boas para o Brasil - JORGE M. T. CAMARGO


FOLHA DE SP - 18/09

A COP21, conferência do clima da ONU em Paris, deu uma sinalização inequívoca da transição do planeta para uma economia de baixo carbono. Os países participantes decidiram reduzir emissões de gases de efeito estufa para combater as mudanças climáticas.

O esforço terá efeito profundo na indústria global de energia por restringir o horizonte de tempo dos combustíveis fósseis. Neste cenário, o Brasil não pode mais perder tempo e desperdiçar a chance de aproveitar ao máximo os benefícios da extraordinária província petrolífera do pré-sal.

No caminho do desenvolvimento dessa imensa riqueza que jaz nas profundezas do subsolo marinho brasileiro existe um entrave: a exigência de que a Petrobras seja obrigatoriamente a operadora com participação mínima de 30% nos investimentos.

O plenário da Câmara dos Deputados deverá votar em breve o projeto de lei 131/2015, que libera a estatal dessa obrigação e oferece a ela uma opção preferencial.

A mudança é boa para a Petrobras, que poderá escolher os projetos em que queira participar, sem o dever de acompanhar ofertas feitas com base em avaliações com que não concorde ou premissas estratégicas e comerciais diferentes das suas. Uma opção será sempre melhor que uma obrigação.

A mudança é boa para o Brasil, pois poderá decidir, de forma soberana, sobre o ritmo de desenvolvimento do pré-sal que melhor atenda aos interesses do país, sem depender, e ter de aguardar, da recuperação da capacidade financeira de sua estatal.

A mudança é boa para a indústria nacional. Um operador único se torna cliente único, o que aumenta o risco das empresas fornecedoras locais -como sabem, dolorosamente, os milhares de desempregados pela crise que hoje enfrenta a Petrobras- e limita o desenvolvimento tecnológico e as oportunidades de internacionalização que um ambiente de maior diversidade de operadores propiciaria.

A mudança é boa para a saúde e a educação. Embora o projeto não trate da distribuição dos recursos oriundos do pré-sal, que continuam com o mesmo destino definido por lei, a aceleração dos investimentos trará um aumento significativo na arrecadação de impostos.

De acordo com estudos e projeções da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a obrigatoriedade do operador único a arrecadação do setor será de R$ 21,3 bilhões em 2030. Removendo essa restrição, passaria a R$ 205 bilhões.

A mudança é boa para a economia brasileira. Por subordinar-se a uma commodity internacional, o setor do petróleo é menos dependente da retomada do crescimento econômico do país, podendo, inclusive, dar considerável impulso a ele, pela dimensão de investimentos, empregos e tributos que é capaz de gerar.

Como sabemos, mudanças são as únicas certezas na vida. O Brasil fez no passado escolhas hoje vencidas pela força da realidade. Não mudaram, porém, os fundamentos do sucesso de nossa indústria de petróleo -o potencial geológico brasileiro e a capacidade tecnológica local.

A mudança na legislação do pré-sal é boa para a indústria de petróleo brasileira por torná-la ainda mais diversificada, competitiva e saudável. Até a realização da Rio Oil & Gás, maior evento do setor, entre 24 e 27 de outubro, aguardamos o anúncio de outras medidas importantes para destravar investimentos.

JORGE M. T. CAMARGO, 62, mestre em geofísica pela Universidade do Texas (EUA), é presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP)

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Desde 2007, metade dos municípios atinge meta do Ideb para 5º ano do fundamental, Agência Brasil

Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil
Escolas públicas de ensino básico em vários municípios brasileiros receberão a visita do Ministério Público com o objetivo de averiguar a qualidade do ensino e as condições dessas escolas (Elza Fiúza/Agência Brasil)
O Ideb é um indicador de qualidade dos ensinos fundamental e médio, divulgado a cada dois anosElza Fiúza/Agência Brasil
Metade dos municípios brasileiros vem atingindo, desde 2007, as metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para os anos iniciais do ensino fundamental nas escolas públicas, etapa que vai do 1º ao 5º ano. Nos anos finais, do 6º ao 9º ano, a porcentagem cai para 18,9%. Em toda a série histórica, entre as capitais, apenas cinco batem as metas para os anos finais e 14 para os anos iniciais.
O levantamento foi feito pelo Instituto Ayrton Senna para a Agência Brasil, com base nos dados divulgados ontem (8) pelo Ministério da Educação (MEC). Foi considerado o Ideb das escolas públicas, tanto da rede municipal quanto estadual.
O Ideb é um indicador de qualidade dos ensinos fundamental e médio, divulgado a cada dois anos. O índice é calculado com base em dados sobre aprovação e desempenho escolar obtidos por meio de avaliações do MEC. Desde a criação do indicador, em 2005, foram estabelecidas metas que devem ser atingidas por escolas, prefeituras e governos estaduais.
As metas intermediárias são diferenciadas para cada ente federativo e escola, porque cada um partiu de um ponto distinto em 2005. O objetivo é que o país atinja o Ideb nos 6 anos iniciais do ensino fundamental até 2021 e nos anos finais até 2025.
Nos anos iniciais, a meta é cumprida nacionalmente desde 2007, quando começou a ser estipulada. Para 2015, a meta do Brasil é de 5,2. A etapa alcançou 5,5. Nos anos finais, a meta foi descumprida pela primeira vez em 2013. Em 2015, o índice esperado de 4,7 também não foi alcançado. A etapa registrou um Ideb de 4,5.
"Nos anos iniciais, o Brasil vem melhorando de forma consistente e vai bater a meta prevista talvez até mesmo antes de 2021. Já nos anos finais, o Brasil melhora, mas não o suficiente para bater a meta, vai ter que fazer um esforço maior", diz o diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. 
Dos cerca de 4,7 mil municípios com Ideb divulgado desde o início da série histórica, 2,3 mil vêm batendo sistematicamente as metas. Considerando apenas o Ideb de 2015, a porcentagem aumenta. Dos cerca de 5,3 mil com o índice calculado, 4 mil, ou 75,8% bateram a meta para os anos iniciais. Nos anos finais, considerando apenas o Ideb de 2015, a porcentagem também aumenta, passando para 28,6%. Apesar da melhora, a porcentagem significa que, nos anos finais, cerca de 70% dos municípios não conseguiram cumprir o estipulado para o ano e, nos anos iniciais, 50%. 
"Para início do ensino fundamental, parece que encontramos o caminho, mas quando começa a ter um professor por disciplina, o Brasil desanda e não têm mais condições de dar a resposta que precisa. O problema se agrava depois no ensino médio", disse Ramos.
Na avaliação do presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, para melhorar a educação, é preciso investir na formação de professores. "Primeiro é preciso perder a ideia de que mais é igual a melhor, isso não cola na educação. O que é preciso para melhorar é ter bons professores e, para isso, tem que atrair gente muito boa para ser professor. O Brasil não chegou sequer a pensar nisso", afirmou.
Segundo ele, fatores externos como a melhoria do nível socioeconômico dos brasileiros, que têm mais peso nos anos iniciais, podem ter influenciado no cumprimento da meta do Ideb e no desempenho dos estudantes. Mais para frente quando o ensino depende mais da escola, os índices não são satisfatórios.
Estados e capitais
Cinco capitais bateram as metas do Ideb nas escolas públicas para os anos finais do ensino fundamental desde o início da série histórica: Manaus, Fortaleza, Goiânia, Cuiabá e Campo Grande. Considerando apenas o Ided de 2015, Recife e Teresina também se unem ao grupo.
Nos anos iniciais, mais capitais cumpriram a meta desde 2007: Rio Branco, Salvador, Fortaleza, Goiânia, Cuiabá, Campo Grande, Belo Horizonte, João Pessoa, Curitiba, Teresina, Rio de Janeiro, Boa Vista, Florianópolis e Palmas. Em 2015, além dessas cidades, Manaus, Vitória, Recife, Natal e São Paulo também bateram a meta.
Minas Gerais é o estado que mais concentra municípios que bateram as meta de 2015 para os anos iniciais e finais. Nos anos iniciais, foram 752 cidades, o equivalente a 18,8% com os dados do Ideb disponíveis. Em segundo lugar, nos anos iniciais, está São Paulo com 484 municípios, 12,1%; e, em terceiro, o Paraná, com 317 municípios, ou 7,9%.
Nos anos finais, 399 cidades mineiras, o equivalente a 26,6% daquelas com Ideb computado para as escolas públicas, atingiram a meta. Em segundo lugar está o Ceará, com 147 municípios, ou 9,8%; e, em terceiro, Goiás, com 146, ou 9,7%.
Veja o Ideb das capitais para os Anos Iniciais (AI) e Anos Finais (AF):
NORTE
Manaus - AI: 5,5; AF: 4,4
Macapá - AI: 4,4; AF: 3,5
Boa Vista - AI: 5,5; AF: 3,8
Belém - AI: 4,4; AF: 3,3
Porto Velho - AI: 4,9; AF: 3,7
Rio Branco - AI: 5,8; AF: 4,5
Palmas - AI: 6,0; AF: 4,7
NORDESTE
Maceió - AI: 4,3; AF: 3,0
Aracaju - AI: 4,3; AF: 3,1
Salvador - AI: 4,7; AF: 3,1
São Luís - AI: 4,6; AF: 4,0
Natal - AI: 4,6; AF: 3,2
João Pessoa - AI: 4,6; AF: 3,7
Recife - AI: 4,6; AF: 3,9
Teresina - AI: 5,9; AF: 4,6
Fortaleza - AI: 5,4; AF: 4,2
SUL
Porto Alegre - AI: 4,8; AF: 3,6
Curitiba - AI: 6,3; AF: 4,6
Florianópolis - AI: 5,7; AF: 4,6
SUDESTE
Vitória - AI: 5,6; AF:
Rio de Janeiro - AI: 5,6; AF: 4,1
São Paulo - AI: 6,1; AF: 4,3
Belo Horizonte - AI: 6,2; AF: 4,4
CENTRO-OESTE
Campo Grande - AI: 5,4; AF: 4,8
Brasília - AI: 5,6; AF: 4,0
Cuiabá - AI: 5,4; AF: 4,3
Goiânia - AI: 5,7; AF: 4,9
Edição: Maria Claudia