Prevista para 2010, operação com novo controlador de trens, que diminui o tempo de espera, só será implementada em toda a rede no fim de 2014
10 de setembro de 2013 | 2h 04
Bruno Ribeiro e Caio do Valle - O Estado de S.Paulo
Principal aposta do Metrô de São Paulo para reduzir a superlotação das linhas, o novo sistema de controle dos trens vai demorar mais um ano para funcionar. É um atraso que se arrasta desde 2010. Como consequência, técnicos da companhia têm sido obrigados a adaptar trens recém-reformados, que já têm o novo sistema, para que possam rodar no modelo antigo.
O novo controlador se chama CBTC (sigla em inglês para Controle de Trens Baseado em Comunicação) e foi comprado em 2008 ao custo de R$ 712 milhões. O sistema deveria garantir um aumento de até 20% na velocidade média dos trens - o que equivale a um aumento do mesmo porcentual na oferta de lugares nos horários de pico, diminuindo a lotação.
Os planos do Metrô eram aproveitar a reforma de 98 trens - um contrato de R$ 1,7 bilhão - para instalar os novos equipamentos nos vagões. Isso seria feito durante a reforma, enquanto os trens estivessem desmontados. Mas, com o atraso na instalação do CBTC, técnicos do Metrô são obrigados a fazer ajustes para que os vagões já reformados continuem rodando no sistema de controle antigo, chamado ATC.
O Estado obteve uma planilha da companhia, de 2 de maio, que mostra o problema. Onze dos 118 trens disponíveis para as Linhas 1-Azul e 3-Vermelha não podiam ser utilizados por falta de sistema de controle.
"De fato, o CTBC não está no prazo que deveria. Por isso, a gente pegou o sistema convencional e fez uma adaptação, para ele funcionar com o trem modernizado", afirma o diretor de Operações do Metrô, Mário Fioratti. "Mas existe um problema aí. O sistema convencional precisa 'conversar' com o trem modernizado. Precisa de uma interface para essa conversa", diz. "Essa planilha (de 2 de maio) é de quando esse módulo não estava instalado."
Nesse processo, os trens acabam mantendo os dois tipos de controle instalados. "São trens flex, como a gente diz aqui", conta Fioratti. Ele afirma, no entanto, que a falta de trens não compromete a operação.
Novos prazos. O atraso é decorrente de dificuldades técnicas. A rede não foi projetada para rodar com o sistema CBTC. O novo sistema não tem passado nos testes de segurança do Metrô. Não há outro exemplo, no mundo, de uma adaptação de rede dessa magnitude.
Na semana passada, o presidente da companhia, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, afirmou que o novo controle só ficará pronto no fim de 2014. "A gente pretende ter esse sistema CBTC implementado na Linha 2 agora ainda em setembro ou outubro. Na Linha 1, está prevista a implementação em agosto do ano que vem. E, na Linha 3, no final de 2014."
O CBTC foi comprado pelo Metrô da multinacional francesa Alstom, uma das empresas investigadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal por suspeita de participação em um cartel formado para fraudar licitações do Metrô. A empresa diz que coopera com as autoridades nesses casos.
"Em razão dos atrasos da Alstom na implementação do CBTC, o Metrô aplicou multas que somam R$ 77 milhões", diz a companhia, em nota. Além disso, segundo o Metrô, os pagamentos para a Alstom "estão suspensos há um ano, por decisão da própria contratada".
Linha 6. O governo do Estado deve lançar hoje o novo edital para contratar empresas interessadas em construir a futura Linha 6-Laranja (entre a Vila Brasilândia e a Estação São Joaquim). É a segunda tentativa de atrair o mercado para a obra - a primeira, há pouco mais de um mês, não teve interessados.