Já foram aplicadas 467 multas a pessoas flagradas jogando lixo nas ruas da capital fluminense Foto: Tânia Rego/ABr
Na primeira semana do Programa Lixo Zero, foram aplicadas 467 multas a pessoas flagradas jogando lixo nas ruas da capital fluminense, segundo balanço divulgado na quarta-feira, 28 de agosto, pela prefeitura. No período, houve redução de 34% nos resíduos sólidos jogados nas ruas do centro da cidade, de acordo com os dados oficiais.
A maioria das punições foi registrada na Avenida Rio Branco, uma das principais vias do centro da capital fluminense, com 90 multas. Na Cinelândia, outra área de grande movimentação, o número chegou a 72. Na Avenida Presidente Vargas, foram 31 multas. A maior parte das penalidades foi por lixo de pequena quantidade, cuja multa é no valor de R$ 157.
Infrator flagrado pelos fiscais jogando lixo na rua tem que pagar multa entre R$ 157 e R$ 3 mil
Segundo o presidente da Companhia de Limpeza Urbana do Rio (Comlurb), Vinícius Roriz, o trabalho dos garis diminui quando eles recolhem lixo das lixeiras em vez de varrerem as ruas. “Pode ser que mais para frente isso permita deslocar equipes que sobrarem para outras áreas da cidade, onde a cobertura é menor. Isso permite à Comlurb fazer alguns remanejamentos. Mas nós estamos bastante satisfeitos com os resultados da campanha e estamos observando que as ruas têm ficado mais limpas”, destacou.
Ao todo, 192 fiscais estão divididos em 58 equipes, cada uma com um guarda municipal, um policial militar e um agente da Comlurb. Além de reduzir os gastos com limpeza de ruas, que chegam a R$ 90 milhões por mês, a iniciativa visa a conscientizar a população. Atualmente, a capital fluminense tem cerca de 30 mil lixeiras e a Comlurb pretende colocar mais 7 mil nas ruas ainda este ano.
“O discurso de conscientização continua o mesmo, se não encontrar uma lixeira, procure uma ou leve o lixo para casa”, orientou Vinícius Roriz. O infrator flagrado pelos fiscais jogando lixo na rua tem que pagar multa entre R$ 157 e R$ 3 mil. O valor depende do tamanho do produto que foi descartado.
Uma cidade sul-coreana tornou-se fonte de inspiração para centros urbanos de todo o globo que buscam soluções tecnológicas para se tornarem mais "inteligentes". Songdo fica nas proximidades de Seul, uma cidade já bastante high-tech que oferece internet de alta velocidade no metrô e onde é possível assistir a vídeos online ou enviar mensagens de e-mails enquanto se caminha por movimentadas ruas do centro.
Ao contrário da capital sul-coreana, porém, Songdo é uma cidade experimental e já foi erguida incorporando em seu DNA as mais avançadas tecnologias de construção e urbanismo. Mas até que ponto uma cidade como essa pode ser considerada um sucesso?
A construção de um centro urbano a partir do nada oferece uma série de desafios e oportunidades. No caso de Songdo, um dos desafios era incorporar tecnologias que fossem realmente inovadoras, uma vez que os sul-coreanos já estão acostumados com alguns recursos considerados novidades em outros lugares.
Em Seul, por exemplo, além das redes de wi-fi acessíveis em espaços públicos, há painéis eletrônicos nas saídas de estações ferroviárias que informam aos passageiros o tempo de espera para os ônibus de conexão. Empresas como a Samsung também estão desenvolvendo sistemas que ligam dispositivos domésticos aos celulares dos moradores da cidade.
O que mais uma cidade como Songdo pode oferecer? Na área tecnológica, uma cidade novinha em folha permite o teste de hardwares futuristas, como sensores que monitoram a temperatura, o consumo de energia e o fluxo de tráfego pela cidade. Esses sensores também podem - em teoria - avisar os usuários de transporte público quando seu ônibus está para chegar. E mesmo alertar autoridades locais quando há qualquer problema na cidade.
Questão ambiental Muitas inovações estão sendo projetadas em função de preocupações ambientais. Entre elas, estações para recarregar a energia de carros elétricos e sistemas de reciclagem de água, que impedem que água potável seja usada em banheiros de escritório.
O sistema de coleta de lixo de Songdo também impressiona. Não há caminhões de lixo passando pela cidade nem grandes lixeiras na frente dos edifícios. Em vez disso, os resíduos domésticos são sugados diretamente das cozinhas de edifícios residenciais por uma vasta rede subterrânea de túneis ligadas a centros de processamento de lixo, onde cada resíduo é automaticamente classificado, desodorizado e tratado.
A ideia é usar parte desse lixo doméstico para produzir energia renovável, embora tal sistema ainda não esteja em operação - como muitas das inovações técnicas planejadas para Songdo. Isso ocorre porque, hoje, menos da metade da cidade está ocupada.
Nos escritórios comerciais, a taxa de ocupação é menor que 20% e nas ruas, cafés e shoppings do centro há amplos espaços relativamente vazios - o que constitui o segundo grande desafio a ser vencido pelos idealizadores e administradores de Songdo.
Apesar de a cidade ser próxima ao aeroporto internacional da Coreia do Sul, as ligações de transporte com Seul são rudimentares. E, por enquanto, os incentivos para empresas que se deslocam para a nova cidade inteligente nem sempre superam os custos.
Mas Songdo já está atraindo famílias e jovens casais de Seul, embora não necessariamente por causa de suas soluções tecnológicas futuristas - nem pela pujânça de sua área comercial.
Áreas verdes A cidade foi planejada em torno de um parque central, e sua disposição permite que os moradores das áreas residenciais possam caminhar por essa área verde para trabalhar no centro comercial.
Kwon, por exemplo, conta que se mudou para a Songdo há três anos e todos os dias seu deslocamento diário para a empresa em que trabalha como tradutora consiste em uma caminhada de 15 minutos pelo parque.
"Depois do almoço também ando um pouco no parque com meus colegas - isso se tornou algo importante na minha vida", conta Kwon. "Quando morava em Seul, tinha de dirigir para encontrar meus amigos ou para levar meu filho para ver os amigos dele. Em Songdo, meu filho vai de bicicleta para a casa de seus amigos e eu posso caminhar para encontrar os meus. A cidade também me aproximou dos meus vizinhos."
Por enquanto, os apartamentos residenciais estão vendendo bem e ainda há muitos edifícios desse tipo em construção, mas Songdo parece ser menos atraente para o mercado corporativo. Um ou outro negócio está començando a abrir as portas espontaneamente em suas grandes avenidas vazias.
Anarquia criativa Mas a cidade ainda precisa ganhar cores e zumbidos urbanos - aquela anarquia criativa, típica de aglomerações populacionais não-planejadas. Como costuma dizer Jonathan Thorpe, presidente da empresa americana Gale International, que construiu Songdo, "são os moradores que fazem uma cidade".
"Estamos tentando adicionar diversidade e vitalidade (a Songdo), algo que o desenvolvimento orgânico (de uma cidade) garante", explica Thrope. "É um desafio tentar replicar isso em um ambiente planejado. Ao mesmo tempo, com tal planejamento podemos desenvolver a infraestrutura da cidade de modo a garantir que ela funcione - não só agora, mas também daqui a 50 anos."
Não se pode deixar de ver com horror a tentativa de três jovens, entre 18 e 15 anos de idade, numa madrugada da semana passada, de enterrar vivo, nas areias da praia de Ipanema, no Rio, um morador de rua, depois de espancá-lo com uma pá e tentar sufocá-lo com um saco plástico.
Felipe Hanower/Agência O Globo
Espancamento, sufocamento e sepultamento frustrado por pouco
Surpreendidos pela polícia, foi o homem resgatado e levado para um hospital. O maior de idade foi autuado por tentativa de homicídio e corrupção de menores e os menores foram encaminhados para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Os criminosos alegaram que a vítima era um estuprador.
Poderia ser apenas mais uma aberração no rol de maldades que, vez ou outra, são noticiadas e espantam os que se preocupam com a condição humana. Exceções a contrariar a consciência social.
Não se trata de caso excepcional, porém. Excepcional e inovador apenas na técnica de violência criminosa: enterrar viva a vítima. De julho para cá, foi registrada ao menos meia dúzia de ocorrências de pessoas queimadas vivas em diferentes lugares do Brasil, na maior parte dos casos por jovens, algumas vezes menores, quase sempre do sexo masculino. Com exceção de um caso em Guamá, Brasília, em que do trio criminoso fazia parte uma menor, filha de policial. Em Barretos, São Paulo, foi gravemente queimado quando chegava em casa um jovem carteiro, pai de família, porque tinha pouco dinheiro no bolso. Tivemos recentemente o caso da dentista queimada viva no subúrbio de São Paulo e do dentista também queimado vivo no interior.
Nem sempre se trata de casos em que a violência cruel é complemento de uma ação criminosa, como o roubo. Um número grande de casos envolve pessoas que agridem e até matam cruelmente por pura diversão. Quase sempre se trata de vítima indefesa ou desvalida. Não é raro que a vítima seja negra. Com grande frequência os criminosos são de classe média, cenário que se alarga se nele incluirmos os casos de atropelamento e morte ou mutilação de pedestres por motoristas socialmente bem situados, que fogem e no ato e na fuga dão explícitas demonstrações de menosprezo pela vida alheia.
Nossa sociedade, nesses já frequentes casos, vem botando a cara pra fora, como se costuma dizer. Essas ocorrências são indícios de que a sociedade brasileira está doente. A certeza de que esses crimes são lícitos e impunes está presente em quase todos os casos. Quando, em 1997, foi queimado vivo o índio pataxó hã-hã-hãe Galdino Jesus dos Santos num ponto de ônibus de Brasília, os assassinos, de famílias de alta classe média, alegaram que pensaram ser ele um mendigo.
Isto é, em seu entender, se fosse mendigo, podia.
Em vários desses casos são fortes as indicações de que o pressuposto da violência é o mesmo: o de que há pessoas que não têm direito ao tratamento de sujeitos de direito, porque menos humanas que as demais. Menos humanas porque negras, mestiças, indígenas, mulheres, pobres. Polícia e Justiça não raro agem segundo esse mesmo entendimento, o de que uma parcela da população brasileira é menos humana e menos gente que outra. No caso de Galdino, os assassinos em pouco tempo estavam em liberdade. Se vasculharmos mais fundo, vamos encontrar um padrão recorrente de comportamento de classe média, que vem de nossas heranças históricas de desigualdade social e mando. O que antes era atributo da minoria senhoril, agora se difunde com a ascensão social de gente que chega economicamente às camadas superiores da sociedade sem ter chegado às camadas superiores da cultura e da civilização. Em média, vamos nos tornando mais ricos e mais ignorantes, decaindo na escala da civilidade.
Essas coisas costumam acontecer altas horas da noite, como no caso ocorrido na praia de Ipanema e nos outros mencionados. Nos numerosos casos de linchamento no Brasil, um crime do mesmo gênero dos aqui mencionados, em longa série histórica, há notória diferença entre linchamentos praticados à noite e os praticados de dia. Os linchamentos noturnos são mais violentos e neles são maiores os indicadores de crueldade, como a de mutilar a vítima ou a de queimá-la ainda viva.
Tanto o justiçamento popular quanto a diversão juvenil de queimar vivas pessoas sozinhas e desamparadas são manifestações de uma covardia estrutural: os violentos são corajosos quando ninguém está vendo, quando não há testemunhas, quando há apenas cúmplices. Quando, nos casos de linchamento, se leva em conta que as multidões espontâneas que deles participam são extrações ao acaso do conjunto da sociedade, temos uma significativa indicação de uma disposição que vem das nossas estruturas sociais profundas, aquelas sem visibilidade imediata na maquiagem social do cotidiano, dos fingimentos que asseguram uma sociabilidade de superfície, aparentemente conforme as normas da civilidade. Uma disposição, também, que se aproveita do amortecimento da consciência social numa sociedade em que os direitos da pessoa não têm raízes fundas nem são cuidados com amor de jardineiro.
* José de Souza Martins é sociólogo e professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Autor, entre outros livros, de "A Sociologia Como Aventura" (Contexto)