quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A nova onda conservadora


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Walcyr Carrasco (Foto: reprodução)
Muita gente, diante dos discursos e posturas da deputada Myrian Rios (PSD-RJ), acha que ela é simplesmente obtusa. Discordo. A trajetória da deputada prova que burra não é. De atriz sem talento, que posou nua, tornou-se paladina da moral e dos bons costumes. Não é uma trajetória incomum. Mulheres que exibem a sensualidade muitas vezes vivem o que chamo de síndrome de Maria Madalena. Arrependem-se do passado, tornam-se defensoras dos mais rançosos princípios morais e de uma pretensa espiritualidade. É um duplo efeito da lei da gravidade: enquanto o peito cai, o espírito se eleva. Exemplo disso foi Elvira Pagã, vedete do teatro rebolado, primeira a usar biquíni na praia: na maturidade dedicou-se a pintar quadros esotéricos. Já vi acontecer muitas vezes com diabinhas menos famosas. De tão universal, botei a personagem na novela Gabriela, exibida no ano passado pela Globo. “Dorotéia”, interpretada pela atriz Laura Cardoso, não existia no romance original de Jorge Amado. Mas tinha a ver com seu universo. Era a vigilante da moral e dos bons costumes na Ilhéus dos anos 1920. Fiscalizava o comportamento das sinhás e suas filhas e denunciava qualquer transgressão. No final, descobriu-se que na juventude fora prostituta e dançava nua nos cabarés. Magnificamente interpretada por Laura, “Dorotéia” tornou-se ícone na internet, com seus comentários moralizantes.
O que leva uma pessoa a achar que tem o direito de dizer como outra deve pensar e viver?  
Conheci Myrian Rios rapidamente quando era casada com o cantor Roberto Carlos. Usava uma microssaia espantosamente curta. Mais tarde se tornou missionária e elegeu-se deputada com o apoio evangélico. Faz pouco, teve sancionada pelo governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, a lei que estabelece o “programa de resgate de valores morais, sociais, éticos e espirituais”. Ninguém sabe exatamente do que se trata esse programa. Mesmo porque a espiritualidade não é regida pelo Estado. Como Sérgio Cabral não se elegeu papa, nem é bispo evangélico ou babalorixá, nem sequer imagino o que pretenda fazer quanto à lei que sancionou. Myrian Rios foi criticada nas redes sociais. Nem é a primeira vez: no passado, insinuou que os homossexuais seriam pedófilos, provocando revolta generalizada. Mas sinto que não está sozinha nessa cruzada moralista. Uma onda conservadora assola o país. Com frequência, o discurso moral ocupa o lugar do político. Na eleição para a prefeitura em São Paulo, o então candidato e atual prefeito, Fernando Haddad (PT), foi acusado pelo candidato José Serra (PSDB) de tentar distribuir um “kit gay” quando ministro da Educação. Aliás, em 2010, o “kit gay”deixou de ser distribuído após pressão da bancada evangélica.

Há outras evidências: agressões e assassinatos de homossexuais são frequentes; surgiu um movimento contra a legalização da prostituição, proposta pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ). Como se estar a favor da legalização equivalesse a defender a prostituição em si. E não somente desejar que as prostitutas tenham direitos como outros trabalhadores.

Pessoalmente, sempre fui muito próximo dos evangélicos. Meu falecido tio Domingos, irmão de minha mãe, foi pastor presbiteriano. Tive um primo missionário na África. Como cristão, aprendi a conviver com quem tem ideias diferentes das minhas. Só não acredito em impor o que a gente pensa ou agredir quem vive de forma diversa. Ultimamente surgiu o evangélico radical. Fundamentalista, que branda princípios supostamente retirados da Bíblia. Embora a doutrina cristã possa ser resumida em “Amai ao próximo como a ti mesmo”. Historicamente, o cristianismo implica abandono do “olho por olho, dente por dente” do Antigo Testamento e propõe uma sociedade mais tolerante. Mas os novos fundamentalistas querem punir, proibir. Políticos não evangélicos – incluindo os que estão em cargos de poder – obedecem, para manter coalizões. O filme Os deuses malditos, de Luchino Visconti (1969), mostra a ascensão do nazismo por meio da manipulação de uma família. Mostra os pequenos e grandes fatos que conduziram a Alemanha naquela direção. Agora, sinto um cheiro ruim de autoritarismo no ar. Há um recuo com relação a conquistas que implicavam na convivência entre os diferentes – a base da democracia, afinal. Quando uma lei pela moral e pelos bons costumes é sancionada, a agressão foi à sociedade. A deputada Myrian Rios é a ponta de um iceberg. Eu me pergunto: o que leva uma pessoa a achar que tem o direito de dizer como outra deve pensar e viver?

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O pânico de Santa Maria


osé de Souza Martins - O Estado de S.Paulo
Há no Brasil um elenco de tragédias decorrentes de pânico em recintos fechados, com numerosas vítimas. Ficou na memória popular o caso de 1938, numa matinê no Cine Oberdan, no bairro do Brás. Alguém gritou "fogo!". Os que estavam no balcão dispararam em direção às saídas. Trinta e uma pessoas morreram esmagadas, crianças na maior parte. Em uma tarde de domingo de dezembro de 1961, um incêndio criminoso no Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, matou mais de 500 pessoas, 70% crianças. O caso de Santa Maria é de pânico em recinto desprovido de meios adequados à atenuação de suas consequências mais graves. As vítimas tentaram escapar, mas não encontraram a saída.

O pânico é característico da sociedade moderna porque a multidão é dela praticamente constitutiva. A sociedade moderna frequentemente se expressa como corpo coletivo em grandes aglomerações humanas, temporárias, que atenuam ou anulam a competência para a reflexão individual e a decisão pessoal. Cada um se torna dependente do comportamento dos outros, comportamento por contágio. 

O caso paradigmático de pânico foi o do Mercury Theatre, um programa radiofônico de Orson Welles, na noite de Halloween de 1938, que transmitia uma dramatização da obra de H. G. Wells, A Guerra dos Mundos. Para imprimir realismo à apresentação, o programa foi interrompido para transmissão de uma notícia extraordinária: marcianos estavam desembarcando em diferentes pontos. Segundo o estudo clássico de Hadley Cantril, The Invasion of Mars, milhares de pessoas foram atingidas pelo pavor. 

O comportamento coletivo é tendencialmente irracional, provocado por fator geralmente repentino, como uma faísca, uma explosão, um grito, uma falsa notícia alarmante, em situações sociais em que as referências estáveis de conduta, que são as normais e corriqueiras, não operam plenamente. As pessoas estão cercadas predominantemente por desconhecidos e os códigos de conduta são em boa parte improvisados no momento, de reciprocidades meramente reativas.

Quando um começa a correr, todos correm, mesmo sem saber o motivo. É essa característica sociológica do comportamento coletivo que impõe a prudência e a providência de que as situações de multidão sejam regulamentadas e condicionadas por marcos e instrumentos de referência de conduta e de segurança em situação de emergência: saídas largas e em número proporcional ao público presente, extintores de incêndio, especialistas em orientação de multidão, iluminação, etc.. São os lembretes das normas sociais interiorizadas, que essas situações invariavelmente colocam entre parênteses. O caso de Santa Maria, pelas informações até agora disponíveis, sugere que o alto índice de mortes foi agravado pela falta desses cuidados.

Quando do pânico decorrem mortes, as pessoas surpreendidas nos trajes, nos atos, no cenário e na circunstância "impróprios para morrer", numa cultura funerária como a nossa, tradicional, que pressupõe a morte em família, as sequelas sociais são imensas.

Cria-se a situação culturalmente anômala do ausente que não chega, do filho que não volta. A espera passa a regular a vida da família, numa sociedade em que já não há lugar para esperar.

ACÚMULO DE LIXO NAS RUAS DO BRÁS PREOCUPA PARLAMENTARES


Juvenal Pereira
CPI das Enchentes
Luiz Gonzaga é o presidente da LOGA


Nesta quarta-feira (18/08), a CPI das Enchentes ouviu Luiz Gonzaga Alves Pereira, presidente da Logística Ambiental de São Paulo S.A- LOGA, concessionária responsável pela coleta, transporte, tratamento e destinação de resíduos domiciliares e hospitalares
A LOGA atende13 subprefeituras (Butantã, Casa Verde, Freguesia do Ó/Brasilândia, Jaçanã/Tremembé, Mooca, Lapa, Sé, Santana, Penha, Perus, Pinheiros, Pirituba/ Jaraguá, Vila Maria/Vila Guilherme) .Questionado pelos vereadores, Luiz Gonzaga informou que durante esse tempo, a empresa já recebeu diversas notificações, mais ou menos 30 multas totalizando um desconto de aproximadamente R$170 mil na fatura.
 
O vereador e presidente da CPI, Adilson Amadeu (PTB), está preocupado com a quantidade de lixo presente nas ruas do Brás, Pari e Canindé. “Eu posso nomear mais de 60 pontos onde há depósito de lixo irregular”, disse Amadeu.
 
O presidente da LOGA aceitou o convite do vereador Amadeu para uma caminhada pelos bairros. “No Brás, há uma grande concentração de  pólos geradores de lixo. Porém as empresas se negam a contratar o serviço de terceiros para a coleta e usam a cota domiciliar”, informou Gonzaga. A cota domiciliar prevista no contrato é de 200 litros de lixo por unidade habitacional. 
 
Também participaram da reunião os vereadores: Zelão (PT); Wadih Mutran (PP), relator; Quito Formiga (PR); Abou Anni(PV); José Police Neto (PSDB); Donato (PT);e Aurélio Miguel (PR).  
IXO DAS RUAS VAI PARA AS FÁBRICAS RECICLADOPDF
Classificação: / 1
FracoBom 
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Tem sido comum fiscais da Prefeitura vistoriarem o comércio do Brás e lacrarem firmas constituídas que trabalham com produtos recicláveis.
Segundo a própria Prefeitura, embora sejam microempresas legais perante o fisco, não se concede alvarás para esse tipo de comércio.
Ocorre que, trabalho é trabalho, os carroceiros precisam ganhar o pão e ao mesmo tempo tiram o lixo das ruas, vendendo-o às firmas de reciclagem e, estas, por sua vez, separam o plástico do pano e do papel, embalando e repassando para indústrias. O plástico é transformado em grãos, o papel derretido para mil fins e os retalhos de pano são usados em outras mil utilidades, como estopa, tapetes, esfregões, acolchoamento de sofás, bancos de carros, e enfim, ao que se destina.
Como o Brás é Brás de problemas com o lixo sem fim, impõe-se que as autoridades sejam condescendentes com a questão, encontrando um meio para facilitar o trabalho dessas microempresas que no todo somam centenas de famílias que precisam trabalhar, de acordo com a própria cartilha do MEI.

Todos precisam trabalhar
Wesley trabalha há três anos com reciclagem no Brás. “As lojas jogam o lixo nas ruas do Brás e nós pegamos o material”, diz ele. Ele é em seguida reciclado. E com isso ajudam na limpeza do bairro.
Ele trabalha com plástico e pano. “Com o pano, fazemos tapete, estopa e enchimento”, conta. O destino deste material são as fábricas de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Parte do material é comprado dos carroceiros, acrescenta Wesley. O material é muito bem separado antes de ser reciclado.
Com o plástico, pega-se o grão para se fazer, por exemplo, sacola de mercado. O plástico mole, diz ele, serve para embalagem.
A quantidade de material que chega por dia no local varia muito, explica. Seis pessoas garantem o sustento de suas famílias com este trabalho.
Wesley finaliza dizendo que o estofamento do banco de carro também é feito com os restos de pano.

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Wesley faz o lixo ser usado em mil utilidades




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Rodrigo embal