Com cerca de 15 semanas de gravidez, Camila Raduan, 24, de São Bernardo do Campo (SP), teve um sangramento. Foi às pressas a uma maternidade perto de casa que atendia seu plano de saúde. Havia sido fechada.
Correu a um pronto-socorro. O bebê estava bem. Mas, para evitar surpresas, dias depois, Camila resolveu procurar um local para o parto. Sem sucesso: descobriu que outra maternidade particular havia encerrado as atividades.
Agora, com 37 semanas, está decidida: sem opções de seu plano na cidade, vai ter o filho em Santo André (SP).
Casos como esse vêm se repetindo devido ao fechamento em série de maternidades.
Nos últimos cinco anos, ao menos 17 encerraram suas atividades em São Paulo, segundo levantamento feito a pedido da Folha por entidades que reúnem clínicas e hospitais particulares no Estado -o Sindhosp e a Fehoesp.
Na capital, o tradicional hospital Santa Catarina anunciou que, após 35 anos de funcionamento, fechará a maternidade em outubro.
Para evitar ter o mesmo destino, a Santa Casa de Belo Horizonte lançou campanha na internet e negocia ajuda de governos. Novas consultas já não são marcadas.
O fechamento afeta também as vagas do SUS. Desde 2009, o país perdeu 4.086 leitos para gestantes, uma redução puxada pelos hospitais particulares conveniados ao SUS -nestes, a queda é de 36,5%. Nos hospitais públicos, houve aumento de 0,4%.
Não há dados consolidados sobre os leitos apenas da rede privada, mas gestores de hospitais confirmam que vêm diminuindo, principalmente devido à opção por áreas consideradas mais rentáveis, como oncologia e cardiologia.
"Muitos procedimentos nas maternidades são simples e pagam muito pouco", diz o presidente do Sindhosp, Yussif Ali Mere Jr. Para ele, o fechamento, em alguns casos, é uma questão de "sobrevivência" dos hospitais.
Visão similar tem Francisco Balestrin, da associação de hospitais particulares, que cita também uma redução na taxa de nascimentos no país.
No entanto, segundo os dados do SUS, a queda no número total de leitos a gestantes desde 2009, de 9%, já é maior que a de partos, de 5%.
Para o secretário de Atenção à Saúde Fausto Pereira dos Santos, do Ministério da Saúde, além da mudança demográfica, contribuem para o fechamento das maternidades regras que elevaram custos.
"Hoje é inadmissível não ter retaguarda de um leito de UTI, por exemplo. Manter uma maternidade ficou caro. Deixou de ser bom negócio.
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