Mottainai! A expressão da língua japonesa pode ser interpretada como “que desperdício!”. A palavra resulta da união de dois termos: mottai, originário do Budismo, refere-se à característica digna ou sagrada das entidades materiais. Pode ser também aplicado a tudo no universo físico, sugerindo que objetos não existem isoladamente – tudo está intrinsicamente conectado.
Já nai representa a forma negativa da língua japonesa. Logo, mottainai é uma expressão de negação desses laços.
Literalmente, pode ser compreendida como “faltando com a dignidade do objeto”, ou seja, parte do princípio de que se uma pessoa não é capaz de aproveitar ao máximo o uso de algo, não deveria nem mesmo possuí-lo, pois simplesmente não merece o direito ético ao material. Trata-se de uma expressão penosa, de tristeza, que denota a negação do vínculo entre todas as coisas.
Literalmente, pode ser compreendida como “faltando com a dignidade do objeto”, ou seja, parte do princípio de que se uma pessoa não é capaz de aproveitar ao máximo o uso de algo, não deveria nem mesmo possuí-lo, pois simplesmente não merece o direito ético ao material. Trata-se de uma expressão penosa, de tristeza, que denota a negação do vínculo entre todas as coisas.
Tradicionalmente, os budistas utilizavam-na em sinal de arrependimento ao desperdício ou mau uso de algo sagrado, como objetos religiosos ou ensinamentos. Atualmente, é comum seu uso diário para indicar o desperdício de qualquer material, tempo ou outros recursos.
A aplicação do termo mottainai simboliza o respeito pela essência das coisas, não apenas em relação à causa ambiental, mas também elevando a consideração pelos direitos humanos e a paz mundial. É um conceito atemporal, que induz à reflexão sobre questões de desperdício e pode resultar em uma reconsideração do modo como se dá o trato entre pessoas, animais e objetos.
Essa conexão foi estabelecida pela ambientalista vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2004, Profª. Wangari Maathai, que interpreta o conceito de mottainai como o mesmo dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) e defende a ideia de que estamos apenas emprestando os recursos das gerações futuras. Portanto, é responsabilidade das gerações presentes assegurar às que virão o direito de aproveitá-los igualmente.
Atualmente, além da Mottainai Campaign, idealizada pela Profª. Maathai com o objetivo de promover o conceito internacionalmente, existe outra campanha iniciada pela ex-ministra do Meio Ambiente do Japão, Yuriko Koike, denominada Mottainai Furoshiki (furoshiki é um lenço de tecido quadrado, tradicional da cultura japonesa, que pode ser utilizado inúmeras vezes como sacola ou embalagem de objetos, dependendo do modo como é dobrado).
Na medida em que estimula o uso do furoshiki, a campanha resgata uma tradição cultural para a redução e reutilização, já que o uso desse lenço contribui para minimizar os resíduos domésticos de sacolas plásticas e embalagens. Além disso, o tecido, agora, é produzido de fibra 100% originária de garrafas PET recicladas – mais resistente que sacolas plásticas de supermercados ou papéis de embalagens, reutilizável e multiuso, prático para o cotidiano, demandando apenas um pouco de criatividade para manuseá-lo da melhor maneira.
O modo como a expressão mottainai foi vinculada à causa ambiental tornou-se, portanto, bastante pertinente, uma vez que surgiu em um país com limitações geográficas e que, mesmo permanecendo isolado da lógica do comércio internacional por séculos, acabou se desenvolvendo de modo consciente e em harmonia com a natureza. Assim, promover a ideia contra o desperdício por meio desse conceito agrega a questão do significado ético do consumo, da finitude e do respeito.
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Maria Clara Takaki é pesquisadora de Ideia Sustentável, formada em Relações Internacionais, com especialização em sustentabilidade pela Universidade de Hokkaido, no Japão.
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