A Economia Mundial de Energia de 2020
A transição do carvão, petróleo e gás para energia eólica, solar e geotérmica caminha a largos passos. Na velha economia, a energia era produzida pela queima de alguma coisa – petróleo, carvão ou gás natural – levando a emissões de carbono que vieram a definir o atual modelo econômico. A nova economia, por sua vez, captura energia do vento, do sol e calor vindo de dentro da própria terra. Ela será amplamente guiada pela eletricidade. Além do uso para iluminação e para aparelhos eletrodomésticos, será usada tanto para transporte quanto para aquecer e resfriar edifícios. Combustíveis fósseis que distorcem o clima pertencerão ao passado, à medida que os países preferirem fontes de energia limpa, não esgotáveis e não aquecedoras do planeta. O afastamento dos combustíveis fósseis começa pelo setor de eletricidade.
O desenvolvimento de 5,3 mil megawatts de capacidade de geração de energias não-renováveis no mundo até 2020 – mais da metade decorrente do vento – seria mais que suficiente para substituir todo o carvão e petróleo e 70% do gás natural utilizado para gerar eletricidade. A adição de cerca de 1,5 mil gigawatts de capacidade de aquecimento térmico até 2020, quase dois terços em virtude de aquecedores solares de telhado, diminuirá em muito o uso de petróleo e de gás para aquecimento de prédios e de água.
Ao olhar as grandes mudanças de 2008 para a economia energética do Plano B de 2020, a eletricidade gerada por combustíveis fósseis cai mais de 90% no mundo todo. Isto é mais que compensado pelo crescimento em cinco vezes da eletricidade gerada de forma renovável. No setor de transportes, a energia vinda de fósseis recua em torno de 70%.
Ao olhar as grandes mudanças de 2008 para a economia energética do Plano B de 2020, a eletricidade gerada por combustíveis fósseis cai mais de 90% no mundo todo. Isto é mais que compensado pelo crescimento em cinco vezes da eletricidade gerada de forma renovável. No setor de transportes, a energia vinda de fósseis recua em torno de 70%.
O processo se inicia a partir da troca por carros híbridos recarregáveis gasolina/eletricidade e por automóveis elétricos que funcionarão quase que totalmente com eletricidade. E segue também com a troca por trens elétricos, muito mais eficientes que os movidos a diesel. Muitos prédios serão totalmente elétricos – aquecidos, esfriados e iluminados inteiramente com eletricidade renovável sem carbono. Em nível regional e federal, cada perfil de energia será formado pela capacidade local de fontes renováveis de energia. Alguns países, como os EUA, Turquia e China, deverão contar com ampla base de renováveis. Mas o vento, seja o do alto mar ou do continente, emergirá como a fonte líder.
Em junho de 2009, Xiao Ziniu, diretor do Centro Nacional de Clima da China, afirmou que o país teria até 1,2 mil gigawatts de potencial gerador eólico. Hoje a capacidade total é de 790 gigawatts. Segundo o especialista, essa nova estimativa “garante que a inteira demanda de eletricidade da China possa ser coberta somente por energia eólica”. Além disso, o estudo identificou 250 gigawatts de potencial de eólica no mar. Um oficial sênior chinês já havia anunciado que a capacidade geradora a partir de vento atingirá 100 megawatts até 2020, o que significa ultrapassar a energia nuclear muito antes.
Países como Espanha, Argélia, Egito, Índia e México preferirão usinas térmicas solares e armazenadores fotoelétricos solares para alimentar suas economias. Para a Islândia, Indonésia, Japão e Filipinas, a energia geotérmica será sua principal fonte. Outros dependerão principalmente de hidroeletricidade, como a Noruega, República Democrática do Congo e o Nepal. Algumas tecnologias, como aquecedores solares de telhado para água, serão adotadas em quase todos os lugares. Com a economia energética do Plano B, os EUA produzirão 44% de sua eletricidade a partir das fazendas eólicas. As usinas geotérmicas suprirão outros 11%. Células fotoelétricas, a maior parte delas nos telhados, resultarão em 8% de eletricidade, e as usinas térmicas solares, 5%.
Cerca de 7% virá da energia hidroelétrica. Os 25% restantes serão gerados de energia nuclear, biomassa gás e natural, nesta ordem. Com o progresso na transição de energia, o sistema de transporte de energia da fonte até os consumidores mudará muito. Na energia da velha economia, gasodutos transportavam petróleo dos campos para o consumidor ou para os portos, onde abasteciam os petroleiros. A grande frota de navios trazia o petróleo do Golfo Pérsico para os mercados de todos os continentes. O Texas oferece um modelo de como construir uma rede para capturar energia renovável. Após uma pesquisa mostrar que o estado tem duas fortes concentrações de energia eólica, uma no oeste do Texas e outra em Panhadale, a Comissão de Utilidade Pública coordenou o desenho de uma rede de linhas de transmissão de alta voltagem para conectar essas regiões com os centros de consumo como Dallas/Ft Worth e San Antonio.
Com investimento de US$ 5 bilhões e mais de 4,6 mil quilômetros de linhas de transmissão, instalou-se uma capacidade de capturar 18,5 mil megawatts de geração eólica a partir dessas duas regiões, o suficiente para suprir metade dos 24 milhões de habitantes do estado. Atualmente, os serviços públicos e investidores privados já propõem construir linhas eficientes em corrente contínua de alta voltagem (HVDC) para ligar regiões ricas em vento com centros de consumo. A TransCanada, por exemplo, pretende desenvolver duas linhas de alta voltagem: a Zephyr, que unirá o Wyoming, de ventos abundantes, com o mercado da Califórnia, e a Chinook, que fará o mesmo com o estado de Montana, também rico em ventos. Essas linhas de cerca de 1,6 mil quilômetros cada são desenhadas para acomodar três mil megawatts de eletricidade eólica.
Nas planícies do Norte e no Meio Oeste, a ITC Holdings Corporation propõe o que chama de Expresso da Energia Verde (Green Power Express). O investimento de 4,8 mil quilômetros de linhas de transmissão de alta voltagem objetiva ligar 12 mil megawatts de capacidade eólica de Dakota do Norte, Dakota do Sul, Iowa e Minnesota, com o Meio Oeste industrial, mais densamente populoso. As primeiras linhas pesadas podem se tornar parte da rede nacional que deseja construir o secretário de Energia norte-americano, Steven Chu.
Uma rede forte e eficiente reduzirá a necessidade de capacidade de geração, diminuirá os custos ao consumidor e baixará as emissões de carbono. Já que nenhuma fazenda eólica tem perfil igual a outra, cada uma acrescentada à rede torna o vento uma fonte mais estável de eletricidade. Com milhares de fazendas eólicas espalhadas de costa a costa, o vento vem se tornando uma fonte estável de energia, parte da potência da carga de base . A capacidade de prever as velocidades do vento e a intensidade solar em todo o país com pelo menos um dia de antecedência, torna possível gerenciar a diversidade de fontes renováveis de maneira eficiente.
Para a Índia, uma rede nacional permitiria capturar os vastos recursos solares do seu grande deserto. Também a Europa começa a pensar seriamente em uma super-rede continental. Alongando-se da Noruega ao Egito, e de Marrocos ao leste da Sibéria, com ela seria possível captar grandes quantidades de energia eólica, particularmente na costa leste europeia, e a quase ilimitada energia solar no norte do Saara e na costa sul do continente. Assim como a proposta rede nacional norte-americana, a rede europeia utilizaria linhas de corrente direta de alta voltagem para transmitir eletricidade de modo muito mais eficiente do que as linhas já existentes.
Uma empresa irlandesa, Mainstream Renewable Power, propõe usar cabos submarinos de linhas de alta voltagem para construir a super-rede europeia em alto mar. A rede se estenderia do Mar Báltico ao Mar do Norte, e para o sul pelo Canal da Mancha em direção à Europa meridional. Segundo a empresa, essa medida evitaria o gasto de tempo com aquisições de terra para construir um sistema continental. A companhia sueca ABB Group, que acabou de completar 640 quilômetros de alta voltagem via cabos submarinos, ligando a Noruega aos países baixos, estabeleceu parceria com a Mainstream Renewable Power para a construção dos primeiros estágios da super-rede.
Uma antiga proposta, elaborada pelo Clube de Roma, sob o nome de DESERTEC, vai além, com planos de conectar a Europa à energia solar abundante do norte da África e do Oriente Médio. Em julho de 2009, 11 empresas europeias líderes – incluindo a Munich Re, Deutsche Bank, ABB e Siemens – e uma empresa argelina, a Cevital, anunciaram um plano para criar a Iniciativa Industrial DESERTEC. O objetivo é financiar o desenvolvimento da capacidade de geração térmica solar no norte da África e no Oriente Médio para exportar eletricidade para a Europa e cobrir as necessidades dos países produtores. Com a perspectiva de exceder 300 mil megawatts de geração essa proposta supera em muito qualquer padrão.
Encontra-se alinhada com as atuais preocupações com mudanças no clima e o esvaziamento das reservas de petróleo e gás. Caio Koch-Weser, vice-presidente do Deutsche Bank, afirma que “a Iniciativa mostra em quais dimensões e com que escala precisamos pensar se queremos dominar os desafios da mudança climática”. O século 20 testemunhou a globalização da economia energética a partir do momento em que o mundo inteiro passou a depender fortemente do petróleo de um punhado de países, muitos deles situados em uma única região do planeta. Este século presenciará a localização da economia mundial de energia à medida que os países comecem a drenar seus recursos naturais de energia renovável.
1- Nota do tradutor: do inglês, Baseload
* Lester Brown é autor de Plano B 4.0 – Mobilização para Salvar a Civilização (424 páginas, Ideia Sustentavel e New Content, patrocínio do Bradesco)
* Lester Brown é autor de Plano B 4.0 – Mobilização para Salvar a Civilização (424 páginas, Ideia Sustentavel e New Content, patrocínio do Bradesco)
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