O primeiro país a identificar o potencial para redução do uso de materiais foi a Alemanha. Inicialmente com Friedrich Schmidt-Bleek, no início da década de 90, e depois com Ernst von Weizsäcker, líder ambiental, no parlamento alemão (o Bundestag). Para os dois, as modernas economias industriais poderiam funcionar sem problemas usando apenas um quarto das matérias-primas prevalentes na época.
Alguns anos mais tarde, Schmidt-Bleek, fundador do Instituto Fator Dez, na França, mostrou que era tecnologicamente possível aumentar – por um fator 10 – a produtividade dos recursos, dada a política de incentivos.
Além de reduzir o uso de materiais, a economia de energia gerada pela reciclagem dispensa maiores explicações. O aço feito de sucata consome apenas 26% de energia em relação ao feito com minério de ferro. Para o alumínio, esse número é de 4%. O plástico usa apenas 20% . E papel reciclado, 64%, com bem menos químicos durante o processo. Se as taxas mundiais de reciclagem desses recursos fossem equiparadas àquelas já adotadas pelas economias mais eficientes, as emissões de carbono cairiam rapidamente.
A indústria, incluindo a de plásticos, aço, cimento e papel, responde por 30% do consumo mundial de energia. A petroquímica, que reúne produtos como plásticos, fertilizantes e detergentes, é a maior consumidora de energia no setor manufatureiro, contando com cerca de um terço do uso industrial global. No mundo, as crescentes taxas de reciclagem e a transição para sistemas mais eficientes de manufatura podem facilmente reduzir em 32% o uso de energia nesse segmento industrial.
A indústria, incluindo a de plásticos, aço, cimento e papel, responde por 30% do consumo mundial de energia. A petroquímica, que reúne produtos como plásticos, fertilizantes e detergentes, é a maior consumidora de energia no setor manufatureiro, contando com cerca de um terço do uso industrial global. No mundo, as crescentes taxas de reciclagem e a transição para sistemas mais eficientes de manufatura podem facilmente reduzir em 32% o uso de energia nesse segmento industrial.
A indústria global de alumínio, com produção de mais de 1,3 bilhão de toneladas em 2008, corresponde a 19% do uso da energia industrial. Medidas como a adoção de sistemas mais eficientes de altos-fornos e a completa recuperação do aço usado ajudam a diminuir em 23% o consumo energético na indústria de aço.
A redução do uso de materiais deve ver a reciclagem do aço como objetivo primeiro, já que a sua utilização é gigantesca quando comparada com a de todos os outros metais juntos.
A redução do uso de materiais deve ver a reciclagem do aço como objetivo primeiro, já que a sua utilização é gigantesca quando comparada com a de todos os outros metais juntos.
O seu emprego é hoje dominado por três indústrias: automóveis, aparelhos domésticos e construção. Nos EUA, praticamente todos os carros são recicláveis. Deixá-los apodrecendo em ferros-velhos equivale a um ato incompreensível de desperdício. A taxa americana de reciclagem de aparelhos domésticos gira em torno de 90%; a de latas de alumínio, em 63%; a de vigas e trilhos, em 98% e as de vergalhões, em apenas 65%. Ainda assim, o aço descartado sob várias formas é suficiente para resolver as necessidades da indústria automobilística americana. A reciclagem de aço começou a subir mais há uma geração, com o advento do forno voltaico em arco, tecnologia que transforma sucata em aço, utilizando apenas um quarto da energia requerida para produzi-lo a partir do minério de ferro.
Esses fornos correspondem à metade ou mais da produção de aço em mais de 20 países. Algumas poucas nações, incluindo Venezuela e Arábia Saudita, usam exclusivamente arcos elétricos. Se três quartos da produção de aço mudassem para fornos voltaicos utilizando sucata, o uso de energia na indústria de aço poderia ser reduzido em quase 40%.
Outra grande consumidora de energia é a indústria de cimento, que, em 2008, produziu 2,9 bilhões de toneladas. Com metade da produção mundial, a China sozinha fabrica mais cimento do que um conjunto de 20 países. E ainda assim o faz com extraordinária ineficiência. Se utilizasse as mesmas tecnologias de fornalha do Japão, poderia baixar em 45% o consumo de energia para produção de cimento. Caso todos os produtores de cimento do mundo adotassem os processos mais eficientes de fornos secos, o uso de energia despencaria 42%.
A reestruturação do sistema de transportes também concentra um alto potencial na redução do uso de materiais. Melhorar o trânsito urbano, por exemplo, significa que um ônibus de 12 toneladas pode facilmente substituir 60 carros de 1,5 tonelada, ou um total de 90 toneladas, reduzindo o uso de material em 87%. A cada vez que alguém troca um carro por uma bicicleta, o uso de materiais diminui em 99%.
O grande desafio que se impõe às cidades, na economia de energia, é reciclar o máximo possível de componentes dos materiais urbanos descartáveis. Hoje, praticamente todos os produtos de papel podem ser reciclados, incluindo caixas de cereais, panfletos e embalagens de papel, além de jornais e revistas. O mesmo vale para latas de metal, vidro e boa parte dos plásticos. O lixo da cozinha e do quintal pode ser transformado em adubo fertilizante de plantas.
Economias industriais avançadas com populações estáveis, como a Europa e o Japão, podem recorrer ao estoque de materiais existentes na economia em vez de se socorrerem em matérias-primas virgens. Outra indústria emergente é a de reciclagem de aeronaves. Daniel Michaels escreveu no Wall Street Journal que a Boeing e a Airbus, concorrentes há 40 anos no mercado de aviões comerciais a jato, disputam agora para ver quem pode desmontar aviões com mais eficiência.
O primeiro passo no processo é retirar os componentes vendáveis da aeronave, como motores, trem de pouso, forno de cozinha e centenas de itens. Para um jumbo a jato, essas peças podem ser vendidas conjuntamente por até US$ 4 milhões. Na etapa de desmontagem final, recicla-se cobre, plástico e alumínio: este último material servirá na fabricação de carros, bicicletas e até mesmo outra aeronave.
O objetivo é reciclar 90% do avião. Mas talvez um dia seja possível atingir 95%. Com mais de três mil aviões de carreira já aposentados e outros muitos por vir, essa frota representa uma mina de alumínio.
Uma medida cada dia mais atraente para reduzir emissões de carbono é retirar o incentivo de indústrias consideradas não essenciais que fazem uso intensivo de energia. Em resumo, a redução de materiais contribui significativamente para diminuir as emissões de carbono. Isso começa pelos principais metais – aço, alumínio e cobre – cuja reciclagem requer apenas uma pequena fração da energia necessária para produzi-los a partir de minério.
Segue com os projetos de carros, aparelhos domésticos e produtos eletrônicos, de modo que possam ser facilmente desmontados para reutilização ou reciclagem. E inclui evitar o uso de produtos desnecessários.
——————————————————————————————-
*Lester Brown é autor de Plano B 4.0 – Mobilização Para Salvar a Civilização (424 páginas, coedição brasileira de Ideia Sustentável e New Content, com patrocínio do Bradesco)
——————————————————————————————-
*Lester Brown é autor de Plano B 4.0 – Mobilização Para Salvar a Civilização (424 páginas, coedição brasileira de Ideia Sustentável e New Content, com patrocínio do Bradesco)
Publicado em Livre Pensar. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário