segunda-feira, 27 de julho de 2015

Com recorde de produtividade, criminalidade cai e latrocínios chegam à marca mais baixa desde 2012, SSP-SP

ESTATÍSTICAS CRIMINAIS
Roubos e furtos em geral e de veículos, sequestros e estupros caem nos primeiros seis meses do ano. Taxa de 9,38 mortes intencionais por 100 mil habitantes é a menor da história
O Estado de São Paulo fechou o primeiro semestre do ano com queda nos principais indicadores de crimes patrimoniais e contra a vida.
Os latrocínios obtiveram importante recuo no semestre, chegando a patamares menores do que os obtidos em 2012, 2013 e 2014. Apesar do aumento em dois casos de latrocínio em junho de 2015 (29) em relação a junho de 2014 (27), no 1º semestre desse ano, os roubos seguidos de morte caíram 11,94% em relação ao mesmo período do ano passado. O total de ocorrências passou de 201 para 177, ou seja, 24 casos a menos.


Os roubos em geral tiveram redução de 6,19%, em junho, mantendo a tendência de queda desse ano, que obteve diminuição desse índice em 5 dos 6 meses, acumulando redução de 5,56% no semestre, com 8.977 ocorrências a menos.
Em junho, também os furtos em geral mantiveram a tendência de queda (5 dos 6 meses do ano), apresentando recuo de 2,15% nas ocorrências. É o índice mais baixo para o mês desde 2002.
Os furtos em geral, no semestre, tiveram 8,03% registros a menos que no mesmo período do ano passado, com a redução de 21.488 casos, chegando ao menor número para os seis meses iniciais do ano, desde 2002: 
Em junho, os roubos de veículos caíram 32,3%, com 2.549 casos a menos. Cabe destacar que o indicador está em queda há 13 meses no Estado. É o segundo menor número de roubos de veículos da série histórica:
No semestre, o roubo de veículos acumulou forte queda de 26,13%, com 13.800 ocorrências a menos do que o mesmo período de 2014, e, inclusive, atingiu índices menores do que os anos de 2012 e 2013:
O recuo também aconteceu nos furtos de veículo. De janeiro a junho deste ano, houve redução de 11,33%, com 7.184 ocorrências a menos. Apenas em junho, a diminuição dos furtos de veículo foi de 12,93%, com 1.277 ocorrências a menos.
Acompanhando a queda dos crimes patrimoniais, o Estado de São Paulo apresenta queda nos roubos de carga pelo segundo mês consecutivo.  A redução em junho é de 11,25%, com 74 casos a menos em relação a igual mês do ano passado. O indicador passou de 658 para 584. É a primeira vez no ano que o número de ocorrências é menor que 600.


A análise do último trimestre também aponta que o indicador está em queda. Houve recuo de 3,85%, no período de abril, maio e junho, em relação aos meses de 2014.  O número passou de 2.132 para 2.050 – 82 casos a menos. No semestre, entretanto, houve uma leve elevação de 2,84% em relação ao mesmo período do ano anterior. Também, houve variação no índice de roubo a banco, em 2,25%, com o aumento de 2 casos no semestre (89 em 2014 e 91 em 2015).
Os estupros caíram 11,54% nos seis primeiros meses, com 591 ocorrências a menos. Esta é a 25ª queda desse crime nos últimos 26 meses. O índice atual é o menor desde 2009, quando entrou em vigor a nova lei de estupro (12.195/2009), que incluiu nessa natureza outras classificações de crimes, como o atentado violento ao pudor.


No mês de junho, os estupros caíram 10,39%, com 79 casos a menos.  Esta é a 25ª queda desse crime nos últimos 26 meses.  O índice atual é o menor desde 2009.
As extorsões mediante sequestro apresentaram recuo de 19,05% de janeiro a junho, passando de 21 para 17 registros. É o menor índice registrado no período de toda série histórica e a primeira vez que o indicador fica abaixo de 20.


RECORDE HISTÓRICO NO ÍNDICE DE HOMICÍDIOS
O Estado de São Paulo bate novo recorde na queda dos homicídios dolosos com o fechamento do primeiro semestre do ano. Com a redução de 11,62% nas mortes intencionais nos seis primeiros meses, o índice caiu para 9,38 ocorrências por 100 mil habitantes – a menor taxa da história. É a primeira vez que o semestre contabiliza um número menor de 2.000 homicídios.


O número de ocorrências é também o menor para um mês de junho em toda a série histórica, iniciada em 2001. Com 262 casos registrados, a redução foi de 18,38% no mês em relação aos 321 homicídios registrados em junho de 2014 – 59 a menos.
MENOR TAXA DO BRASIL
No primeiro semestre de 2015, São Paulo continua tendo a menor taxa de mortes intencionais do país, de acordo com o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2014.
O índice do Brasil é de 23,7 homicídios dolosos por 100 mil habitantes.  O gráfico abaixo aponta que se o Estado de São Paulo fosse desconsiderado da contabilidade, o Brasil teria uma taxa ainda maior, totalizando 27,5/100 habitantes – 16,03% maior.
Com os índices de São Paulo dentro do Brasil, o país mantém uma taxa 13,82% menor.
Fonte: 2004 a 2014 - Anuário do Fórum Brasile

domingo, 26 de julho de 2015

Brasil, Grécia e o superávit, por Gustavo Franco , in OESP

26 Julho 2015 | 03h 00
Estamos cada vez mais parecidos com a Grécia no campo das finanças públicas, e os eventos recentes apenas consolidam mais essa triste conquista da presidente Dilma Rousseff.
A primeira e mais perturbadora das semelhanças já existia na conta de juros que cada governo paga anualmente a seus credores: o Tesouro Nacional do Brasil pagou 5,6% do PIB em juros em 2014, mais do que Grécia e Itália, que pagaram 4,2% e 4,5% do PIB respectivamente.
A dívida grega é quase o triplo (na faixa de 175% do PIB), mas é bem mais barata e longa que a brasileira, que está em cerca de 65% do PIB. Como os juros praticados no Brasil se aproximam do triplo do que paga a Grécia, fica explicada a semelhança na conta final.
Os juros são muito mais altos no Brasil porque os gregos são bem mais ricos que os brasileiros. É simples. Estimativas para a riqueza (ou o capital) se popularizaram com o trabalho de Thomas Piketty, e permitem supor que a riqueza dos gregos está entre três e quatro vezes o seu PIB, talvez mais, de modo que seria necessário que algo como 50% dela estivesse investida em papéis do próprio governo, para que os gregos carregassem uma dívida de 175% do PIB.
O mesmo vale para Itália, Japão e outros países ricos, para os quais dívidas grandes, relativamente ao PIB, não se mostram tão pesadas.
Já no Brasil, onde a riqueza deve estar na faixa de um PIB, dificilmente mais, uma dívida na faixa de 65% do PIB significa que cerca de dois terços da riqueza dos brasileiros estaria alocada em papéis do governo, o que é bem mais pesado do que se observa na Grécia. 
A patologia brasileira é conhecida como “dominância fiscal” e apenas se cura, abstraída a feitiçaria, reduzindo dívida via superávit primário. No Brasil, como na Grécia, é preciso haver algo como 3% do PIB de superávit primário, ou algo parecido, para que a razão dívida/PIB se estabilize, ou entre em declínio, tanto mais acentuado quanto maior for o crescimento.
O Brasil já seguiu a receita durante toda uma década depois de 1998, quando firmou seu acordo com o FMI (que foi mantido até 2005). Nesses anos, o superávit primário médio foi de 3,34% do PIB e o crescimento médio anual foi de 3,15%. 
É difícil entender as razões pelas quais os gregos tanto esperneiam para produzir esforços fiscais dessa ordem, a serem constituídos gradualmente até 2018, senão pela preguiça em fazer o dever de casa. A lógica parece semelhante à que presidiu o anúncio da semana passada, pelo qual o governo brasileiro desistiu de um superávit primário de 1,2% do PIB e fixou uma meta de 0,15% para 2015. Antes dessa decisão, era possível dizer que o Brasil seguia o bom senso e as recomendações que a Europa fazia à Grécia. Agora, inesperadamente, recuamos para a posição grega.
É verdade que a economia está em recessão, e que isso atrapalha as metas fiscais, mas o fato é que não há nada mais patético que um doente que não quer se tratar, ou que quer debater medicina com o médico.
No Brasil, como na Grécia, as eleições tiveram um papel essencial no curso dos eventos. No nosso caso, parece até que a irresponsabilidade que se praticava era de quem imaginava perder, e ganhou. No caso deles, inventou-se um plebiscito que o governo ganhou e foi a pior coisa que podia ter acontecido. Em ambos os casos foram “Vitórias de Pirro”, aquelas onde os custos da vitória são piores que os da derrota. 
Para o Brasil, a política fiscal praticada após 2009, e com especial ênfase na reta final do primeiro governo Dilma Rousseff, entrará para os anais do estelionato eleitoral na mesma cava do inferno onde se localiza o praticado nas eleições de 1986, com o prolongamento do congelamento de preços fixado pelo Plano Cruzado. As únicas diferenças estão em que o truque foi fiscal, praticado mediante “pedaladas”, e não diretamente nos preços, e se deu em câmara lenta. 
Uma vez esgotada a mágica desse “neochoque heterodoxo”, tudo começou a dar errado e os níveis de aprovação do governo despencaram: ninguém gosta de ser feito de trouxa. As revelações sobre os escândalos apenas agravaram o quadro, e a presidente se encontra diante de um risco muito concreto de perder o seu mandato não por incompetência econômica, mas por desrespeitar uma lei. Nem o presidente, e principalmente ele, ou ela, pode fazer isso.
Na Grécia, a democracia teve o seu santo nome invocado de forma meio torta quando o primeiro-ministro Alexis Tsipras malversou a ideia de consulta popular com sua “jogada” de convocar um plebiscito sobre o que fazer sobre a negociação com a Europa. Não há sentido em se fazer uma “decisão democrática” sobre o dinheiro dos outros. 
O fato é que a esmagadora maioria dos gregos quer ficar na união monetária, e ficou confusa com a pergunta do plebiscito. Tentou-se que a consulta se tornasse uma espécie de embate internacional entre a austeridade e o desenvolvimento, ou uma reafirmação da soberania grega. Mas não era mais que uma esperteza mal concebida e que saiu pela culatra. O governo precisou fazer uma forte campanha pelo “não”, que acabou prevalecendo, mas o “voto” mais importante foi o executado com o bolso, pelo qual os gregos correram aos bancos para tirar seu dinheiro antes que o governo resolvesse mesmo recriar uma moeda nacional grega. Em consequência da corrida, o governo se viu forçado a implementar algo semelhante ao nosso Plano Collor e a criar para si uma sinuca de bico de proporções trágicas.
Tsipras volta “vitorioso” para a Europa que lhe informa que a porta da saída é serventia da casa e que as condições negociais ficaram piores, enquanto que, em casa, os bancos estão fechados e a população em pânico. Que trapalhada!
Sem dúvida, a ideia de “Vitória de Pirro” é interessante afinidade entre Tsipras e Dilma Rousseff. A verdade sobre a economia não apareceu com clareza nas eleições brasileiras de 2014, mas mesmo antes de consumada a vitória eleitoral, Dilma já estava refém de seus erros anteriores, e avançou em negociações com bom senso ao demitir seu ministro heterodoxo e trazer Joaquim Levy. Agora parece hesitar. 
Os gregos não querem voltar para a dracma, pois não são malucos, assim como os brasileiros não querem inflação via esse keynesianismo vagabundo da escola Mantega-Varoufakis. Ambos os países tiveram o bastante em matéria de invencionices, e agora querem caminhos convencionais, receitas confiáveis e padrões internacionais. É isso o que Levy representa, e enfraquecê-lo será outro tiro no pé, talvez mortal.

As mortes de Lulinha - IGOR GIELOW


FOLHA DE SP - 25/07

BRASÍLIA - Em 2008, o diário "Extra" flagrou um menino negro nadando numa poça resultante de um vazamento na favela onde morava em Manguinhos, zona norte do Rio.

Consta que o então todo-poderoso presidente Lula se comoveu com a cena e resolveu transformar o local em vitrine de regeneração sob a bandeira do PAC, programa que tinha uma "mãe", Dilma Rousseff.

O menino, Christiano Pereira Tavares, foi levado ao palanque das autoridades para as devidas fotos e a promessa de construção de uma piscina na "comunidade", o eufemismo do politicamente correto para esses lugares esquecidos pelos políticos depois dos comícios.

Agora, o mesmo "Extra" informa que Lulinha, como o garoto foi apelidado após encontrar Lula, morreu aos 15 anos sob suspeita de overdose na unidade de saúde que ostenta sua foto sorridente na parede.

Manguinhos segue pobre, e a piscina, segundo o relato, abandonada. A família de Lulinha melhorou um pouco de vida, mas o quadro de desagregação segue inalterado.

Além de tragédia, a morte do garoto, se confirmada pelos motivos apontados, encarna um retrato da decadência do legado da era PT no poder. O investimento no combate à miséria, prioridade digna mesmo que tenha sido só eleitoreira, é tisnado pela realidade -do petrolão que já grassava à época ao desastre de gestão que atolou o país sob Dilma.

Sem bonança externa e com o sorriso de Levy, a classe que emergiu pela via perversa do consumo vai voltando para seu nicho anterior; brilha solitária na ruína a TV de tela plana na qual a irmã de Lulinha, grávida aos 14 anos, vê desenhos animados.

Não morre apenas Lulinha. Morre uma ilusão que teve, como toda farsa, lampejos de euforia. Morre o país cujo futuro radiante, para quem quis acreditar, havia chegado. A construção da realidade, ainda mais com os atores à disposição, será dolorosa.

Lulinha não verá nada disso.