segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O peso, a mola, o suicídio,José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo



José Serra (PSDB) cresceu. Pode não ter sido nas pesquisas, mas evoluiu politicamente. Sua fidelidade a Gilberto Kassab (PSD) é de fazer inveja aos tucanos. Sua disposição para elogiar a gestão do prefeito nos erros e nos acertos é rara na política. O candidato Serra mudou 180 graus em comparação à eleição presidencial de 2002. Tornou-se um campeão da continuidade com continuísmo. Era tudo o que Fernando Henrique Cardoso queria dez anos atrás. Alguém que defendesse seu governo e sua imagem com gana. Que falasse seu nome e mostrasse suas obras na TV.
Não é fácil defender um governante impopular. Custa e caro. O candidato aliena o eleitorado que desaprova aquela administração. Mas Serra está pagando sem reclamar. O tucano segue no patamar de 13% de intenção de voto entre os eleitores que acham o governo Kassab ruim ou péssimo, segundo o Ibope. Não seria um problema se o contingente dos que acham a gestão Kassab ruim ou péssima fosse pequeno. Era 43% do total do eleitorado da cidade antes da propaganda começar. É 48% agora.
"O Kassab tem uma gestão na Prefeitura que é bem melhor do que a avaliação que neste momento tem". As palavras "neste momento" dessa frase de Serra (dita em entrevista à TV Estadão na sexta-feira) encerram sua esperança. Em 2008, Kassab também era mal avaliado antes da campanha eleitoral, mas usou suas horas na TV para convencer o eleitor do contrário e acabou reeleito.
A torcida de Serra não basta para a história se repetir. Talvez sua propaganda ajude, mas está atrasada. Na eleição paulistana anterior, o prefeito partiu de um fosso menos profundo e começou a escalada antes. Além disso, enfrentava uma adversária que carregava uma taxa de rejeição equiparável à de Serra hoje. As circunstâncias são diferentes, o resultado pode ser também.
Serra não está levando um voto sequer para carregar Kassab. Antes do horário eleitoral, tinha 42% entre os raros eleitores que acham a gestão do prefeito boa ou ótima. Tem agora 36%. Entre o terço que classifica o governo Kassab como "regular", o tucano caiu de 31% para 21%. Como os números do Ibope mostram, a administração do fundador do PSD está longe de ser uma mola.
Olhando de fora, carregar um peso como Kassab parece fatal para um candidato. Mas Serra conformou-se na entrevista à TV Estadão: "É uma realidade". Prefeito e candidato são uma coisa só. Um veio do outro. É como se Kassab tivesse mantido a cadeira ocupada para ninguém sentar enquanto Serra foi ali disputar uma eleição de governador e outra de presidente. Unha e carne. São tão indissociáveis que Serra não só defende como diz que "faria o mesmo" quando a Prefeitura de São Paulo viola o sigilo médico de um eleitor que só queria curar os olhos para voltar a trabalhar, mas foi usado como bola de pingue-pongue pelas campanhas do PT e do PSDB na sua guerra de versões.
O episódio, trazido à luz pelo corajoso furo da repórter Julia Duailibi, sintetiza a sucessão paulistana até agora. Petistas e tucanos ficam de picuinha, e o eleitor paga a conta. Gabriel Chalita (PMDB) martela esse diagnóstico diariamente, mas quem fatura é um adversário. Celso Russomanno (PRB) lidera a eleição enquanto Serra e Fernando Haddad (PT) empatam, um ao outro.
Neomalufismo. Paulo Maluf (PP) suicidou-se, politicamente, ao bancar Celso Pitta como seu sucessor à Prefeitura de São Paulo. Nunca mais ganhou uma eleição majoritária. Mas seu legado reaparece nesta sucessão, ironicamente pelas asas de um renegado. Russomanno nasceu para a política quando Maluf era governador, há mais de 30 anos. Rompeu e, agora, "Celsinho do Detran" herda o malufismo, sem Maluf. Como Lula, ele transforma eleitor em consumidor e vice-versa. É o malufismo de consumo.
Neofilia. Chalita foi de uma sinceridade comovente ao confirmar, em entrevista à TV Estadão, que está faltando dinheiro e faz campanha a fiado. É dos poucos a admitir, mas está longe de ser o único a enfrentar escassez de doações eleitorais. A prestação parcial de contas mostra que a maior parte do dinheiro gasto até agora (42%) nas campanhas Brasil afora veio - pasme - do bolso dos candidatos. Devem ver o gasto como um investimento.
Não é o caso de Chalita, que tem sido (mal) bancado pelo PMDB. Os partidos, aliás, tiraram mais dinheiro de seus cofres para custear campanhas do que as empresas. Ao menos por enquanto. É um sinal de que os empresários estão esperando para ver quais candidatos emplacam nas pesquisas para só investir no favorito. Chega de gastar com perdedor. Por falar em perdedor, tem partido de candidato derrotado a presidente com fatura de mais de R$ 700 mil pendurada até hoje na praça. Os fiadores de Chalita devem estar preocupados.

O fim da geração das diretas




Coluna Econômica - 03/09/2012 por Luis Nassif

As pesquisas eleitorais da semana passada – IBOPE, DataFolha e Vox Populi – marcam definitivamente o fim de uma era na política brasileira.
Mostraram a candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo desabando em todos os níveis e, particularmente, entre eleitores do PSDB. Parte migrou para o candidato Celso Russomano, parte menor para Gabriel Chalita.
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Serra morre politicamente, mas arrasta o partido consigo. Não fosse seu estilo trator, sua incapacidade crônica de permitir o florescimento do novo, o PSDB paulistano estaria com Gabriel Chalita em boa colocação, sem um centésimo da taxa de rejeição do candidato oficial. Ou estaria com José Aníbal, tucano histórico que, em muitas oportunidades, sacrificou-se pelo bem do partido. Ou apostando em outro nome novo que, mesmo perdendo, lançasse as bases para a renovação partidária.
No entanto, percebendo o potencial político de Chalita, assim que assumiu o governo do Estado Serra iniciou um trabalho pertinaz de desconstrução da imagem do correligionário. Fez o mesmo com Aníbal e com quem mais pudesse, no futuro, despontar como liderança partidária.
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A insistência irracional de Serra em manter-se à tona, em pensar apenas no próprio umbigo, deixa o PSDB em posição difícil. E revela o derradeiro fracasso de FHC frente a Lula.
Até então, a política brasileira pós-redemocratização girava em torno dos políticos que ascenderam com a campanha das diretas. Houve dois partidos com perspectiva de poder – PSDB e PT – ambos dominados por oligarquias políticas da geração das diretas.
No caso do PSDB, houve um sopro de renovação trazido por Franco Montoro (quando governador de São Paulo pelo PMDB), mas com o partido focado em São Paulo. No caso do PT, uma base ampliada de militantes, permitindo revelar lideranças em outros estados, mas ainda assim com o centro do poder concentrado em São Paulo – dos sindicalistas e “igrejeiros” de Lula aos egressos da guerrilha, de José Dirceu.
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Lula percebeu os novos tempos, entendeu que havia se esgotado o ciclo de Aloisio Mercadante, Martha Suplicy e, de cima para baixo, impôs a renovação: pessoas com perfil administrativo, sem a pesada carga ideológica dos velhos militantes. Lançou Dilma Rousseff para a presidência e Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo.
FHC não teve o mesmo descortino. Em 2010 bancou a candidatura pesada de Serra à presidência, abortando o voo de Aécio Neves – no único momento em que o cavalo passou encilhado para o ex-governador mineiro. Permitiu que o partido ficasse nas mãos do inexpressivo Sérgio Guerra, fechou os olhos para o potencial de um Antônio Anastasia, governador de Minas, abriu mão das políticas inovadoras do Espírito Santo, perdeu o discurso socialdemocrata.
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Com Aécio demonstrando total falta de vontade de abrir mão da vida pessoal, sem abrir espaço para outras vocações, o PSDB perde o protagonismo.
Passados os efeitos dessas eleições, haverá um rearranjo da política nacional. Encerra-se a geração das diretas, entram outros protagonistas, como o governador de Pernambuco Eduardo Campos ou o prefeito do Rio, Eduardo Paes. E o próprio Anastasia como vice de Campos, se o PSDB tiver juízo.

domingo, 2 de setembro de 2012

Há 40 anos, o metrô - enfim - começava a operar


BRUNO RIBEIRO , EDISON VEIGA - O Estado de S.Paulo
Espanto. Empolgação. Otimismo. E um pouco de medo. Foi assim que São Paulo viu nascer seu metrô, em 6 de setembro de 1972. Nessa data ocorreu o primeiro teste de um trem da companhia, em evento que contou com a presença de autoridades municipais, estaduais e federais.
O transporte rápido sobre trilhos só começaria a operar comercialmente dois anos mais tarde, mas o teste foi considerado uma inauguração: afinal, ainda que por poucos metros, era a primeira vez que um metrô andava em São Paulo.
"Naquele tempo, uma coisa dessas era novidade para todo mundo", comenta Antonio Aparecido Lazarini, que teve o privilégio de ser o condutor desse primeiro teste (leia mais abaixo). "Tinha gente que perguntava se, por andar debaixo da terra, dava para ver o subsolo. E muitos tinham medo, diziam que podia ser perigoso, que jamais andariam em um negócio desses. Alguns imaginavam que andar de metrô seria como entrar em uma caverna."
Os funcionários mais antigos da companhia também se recordam que muitos paulistanos não aprovavam as obras. Reclamavam dos transtornos na região, da demora em concluir tudo e, principalmente, do alto valor investido.
Evolução. Autoridades, urbanistas e as pessoas mais esclarecidas, por outro lado, viam a novidade com extremo otimismo. Em 25 de janeiro de 1972, o Estado publicou uma reportagem em que especialistas previam que, dentro de 20 anos, a cidade contaria com "dezenas de linhas de metrô". Quarenta anos se passaram e as linhas são apenas cinco. Quando o metrô entrou em operação, seus trens percorriam, diariamente, 353 km. Hoje, o total percorrido é de cerca de 67 mil km.
Outro fato importante é que o metrô já nasceu atrasado em São Paulo. Para se ter uma ideia, Londres, a primeira cidade do mundo a contar com um sistema de transporte assim, fez essa inauguração em 10 de janeiro de 1863. Isso mesmo: 111 anos antes da inauguração comercial do sistema em São Paulo. Resultado: enquanto a malha metroviária da capital britânica é de 400 km, os paulistanos têm apenas 78,1 km à disposição (veja mais dados no infográfico acima).
Otimismo. O secretário de Estado de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, diz que a marcha lenta da criação de novas linhas ficou no passado. "A expectativa hoje é muito mais segura. Você tem quatro linhas em construção e, até março, poderemos ter cinco obras ao mesmo tempo. É inevitável que vamos partir para um patamar de 10 km de linhas construídas por ano." O que se viu até agora, no entanto, foi um número muito menor. Na história do metrô, a média tem sido de 2 quilômetros de linha a cada 12 meses.
Com mais linhas abertas, a promessa da atual gestão da Companhia do Metropolitano é de uma cidade integrada. "Certamente vai mudar o perfil. Será uma rede que ultrapassará os 100 km em 2014 e os 200 km no final da década", afirma o secretário.
As projeções dos órgãos que planejam o transporte público da cidade são de que, antes de 2020, a maior parte das viagens realizadas na cidade será feita por metrô.