terça-feira, 1 de julho de 2025

Aneel aprova aumento de 13,2% na conta de luz da Enel em residências de São Paulo, FSP

 A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou nesta terça-feira (1º) um reajuste tarifário médio de 13,94% para a distribuidora Enel São Paulo.

O reajuste anual da concessionária passa a valer a partir desta sexta-feira (4) e terá efeitos distintos por classes de consumidores. As residências, ligadas em baixa tensão, perceberão um aumento de 13,26% na conta de luz, enquanto consumidores ligados em alta tensão terão reajuste de 15,77%.

A imagem mostra várias luminárias pendentes em um ambiente interno. Há uma lâmpada com uma cúpula branca e outra lâmpada exposta, ambas emitindo luz. O fundo é neutro, destacando as luminárias.
Conta de luz sobe a partir de sexta-feira (4) na cidade de São Paulo e região metropolitana - Allison Sales/Folhapress

Segundo a Aneel, os itens que mais impactaram a alta tarifária foram os encargos setoriais, com efeito de 6,44% sobre o índice de reajuste, e a retirada de componentes financeiros que haviam sido contabilizados no reajuste anterior, com impacto de 7,97%.

A Enel São Paulo é uma das maiores concessionárias de distribuição de energia do país, atendendo 8 milhões de unidades consumidoras na capital paulista e região metropolitana, com um faturamento anual na ordem de R$ 22 bilhões.

Na última sexta-feira (27), a Aneel também informou que manterá a conta de luz na bandeira vermelha patamar 1, o que representa um acréscimo de R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos.


Além da inovação convencional: como responder à crise climática com inovações profundas, FSP

 Entramos na segunda metade de 2025, ano em que o Brasil sediará a COP30. Em sua terceira carta como presidente da conferência, o embaixador André Corrêa do Lago destacou três prioridades centrais. A terceira delas —talvez a menos discutida— é a mobilização da capacidade científica e tecnológica mundial para tornar a transição energética mais inclusiva e eficiente. Trata-se de uma convocação à inovação com impacto real, baseada em ciência e engenharia de fronteira.

A mudança do clima é reconhecida como um wicked problem —um problema complexo, interdependente e urgente ("super wicked"), que não se resolve com soluções simples. Exige transformações sistêmicas. Para isso, precisamos de inovações que vão além dos aplicativos e dos ganhos incrementais. Precisamos de "deep techs" (DTs) —inovações baseadas em ciência e engenharia avançadas, com potencial para transformar setores inteiros. A boa notícia é que o Brasil pode —e deve— ousar desde já nesse processo.

A imagem mostra uma vista aérea de um parque esportivo, com várias quadras e campos visíveis. Há uma grande área pavimentada que se estende ao longo do parque, cercada por árvores e áreas verdes. No fundo, pode-se ver um edifício e uma área em construção. O céu está claro e ensolarado, e a disposição das quadras sugere um espaço dedicado a atividades esportivas e recreativas.
Parque da Cidade onde será realizada a COP30, em novembro, em Belém - Marx Vasconcelos/Reuters

Segundo a AIE (Agência Internacional de Energia), cerca de 30% das reduções de emissões necessárias até 2050 dependerão de tecnologias que ainda não atingiram escala comercial —ou sequer foram inventadas. Hidrogênio de baixo carbono, captura e armazenamento de carbono (CCS) e pequenos reatores nucleares (SMRs) são exemplos de soluções promissoras, mas que ainda enfrentam barreiras significativas. Diversas aplicações nessa direção podem ser classificadas como DTs.

Mas promover "deep techs" não é o mesmo que apoiar startups convencionais. Como destacou Lars Frolund no Energy Summit 2025, no Rio de Janeiro, esse tipo de inovação exige arquiteturas institucionais próprias e disruptivas, com capacidade de lidar com ciclos longos, riscos elevados e alto grau de incerteza.

É preciso criar ecossistemas voltados à experimentação, orientados por problemas concretos —e não apenas por demandas imediatas do mercado, como é o caso dos apps. Esse tipo de abordagem já foi testado com sucesso em iniciativas como a Darpa, nos Estados Unidos, e começa a ganhar versões adaptadas em outras partes do mundo.

Um exemplo emblemático é o das vacinas de mRNA. Antes de se tornarem centrais no combate à Covid-19, suas tecnologias foram apoiadas pela própria Darpa — a agência de inovação do Departamento de Defesa dos EUA— muito antes de haver mercado claro ou demanda previsível. A aposta parecia ousada, mas mostrou o poder transformador de investir cedo em ideias ainda vistas como "heréticas".

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Esses exemplos, segundo Lars, oferecem pistas de como promover "deep techs" aplicadas à energia, com foco em soluções capazes de enfrentar o "wicked problem" das mudanças climáticas.

O Brasil tem vantagens comparativas evidentes: recursos renováveis abundantes, base científica sólida, experiência regulatória e vocação para a energia limpa. Mas ainda enfrenta desafios persistentes para transformar ciência em inovação —e inovação em valor. A cultura de aversão ao risco, a fragmentação institucional e os mecanismos de financiamento pouco adaptados às incertezas de ciclos tecnológicos longos são barreiras que precisam ser superadas.

A boa notícia é que há movimento. A experiência do MIT REAP Rio, voltada à construção de um ecossistema de inovação em energia, é um exemplo promissor de articulação entre governo, setor privado e academia. Também despontam oportunidades como a expansão de data centers e os projetos de hidrogênio verde ——que podem funcionar como plataformas para testar e escalar novas abordagens. Quem sabe possamos, inclusive, embarcar em inovações em energia nuclear com os pequenos reatores?

A transição energética é mais do que um desafio ambiental: é uma chance estratégica de reposicionar o Brasil no cenário global. Não basta importar soluções —é hora de criá-las. Inovar em tempos de transições ambientais, digitais, energéticas e geopolíticas exige novas arquiteturas de inovação orientadas por problemas, com coragem institucional, visão de longo prazo e disposição para errar e aprender.

E, como ensina a lógica da inovação, quem aposta cedo em mudanças estruturais colhe os maiores retornos. Este é o verdadeiro chamado à ação da COP30.


Saída para cracolândias não é expulsar pessoas, diz ativista de transformações em Nova York, FSP

 

São Paulo

No coração da cidade, a área verde cercada por escritórios era evitada por pedestres devido à presença de traficantes e usuários de crack. A descrição poderia servir para algum lugar no centro de São Paulo, mas esse era o retrato do Bryant Park, em Nova York, até o início da década de 1980.

Hoje considerado um dos principais exemplos mundiais de revitalização de um espaço público, o parque reverteu décadas de predominância de atividades negativas com o engajamento de agentes públicos e privados na criação de atividades capazes de atrair pessoas de diferentes perfis para o local.

É esse tipo de transformação de espaços públicos que o sociólogo Ethan Kent, 48, tem difundido nas últimas duas décadas em suas viagens a centenas de cidades em mais de 60 países. Mais do que isso, ele defende um legado quando o assunto é o placemaking, termo em inglês que descreve intervenções criativas para construir locais inclusivos e agradáveis para a permanência.

Seu pai, o fotógrafo, economista e geógrafo urbano Fred Kent é cofundador do PPS (Project for Public Spaces), a organização sem fins lucrativos que atuou na transformação do Bryant Park e outros espaços icônicos novaiorquinos, como a Times Square, e em diversas partes do mundo.

Um homem com cabelo grisalho e barba está em um ambiente urbano, gesticulando com as mãos enquanto fala. Ele usa um paletó escuro e uma camisa clara com padrões. Ao fundo, há pessoas caminhando e algumas árvores, além de estruturas urbanas visíveis.
Ethan Kent, fundador da rede de aceleração de transformação de espaços públicos PlacemakingX - Reprodução/PlacemakingX

Após anos à frente do PPS, Ethan fundou em 2019 a Placemaking X, uma rede mundial de aceleração de transformações de espaços públicos.

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Em São Paulo, visitou ativações em áreas de convivência, como o conjunto B32 (conhecido pela praça com escultura de baleia na avenida Faria Lima) e o vão livre do Masp, durante uma semana ministrando aulas a estudantes do Insper, ocasião em que conversou com a Folha.

Questionado sobre a degradação de centros urbanos brasileiros e a presença das cracolândias, Ethan afirmou que a solução não está na expulsão de grupos indesejados, mas sim em atrair os demais públicos.

Como organizar os espaços públicos afetados por atividades negativas, como o tráfico e o consumo de drogas?
Infelizmente, nos Estados Unidos, ainda hoje, há áreas onde se concentram pessoas com problemas de saúde mental, dependência química, pobreza… E isso acontece em parte porque as cidades são, naturalmente, lugares atrativos, e acabam atraindo esses grupos.

O placemaking desenvolveu formas muito criativas de lidar com isso. Claro que precisam existir outras abordagens complementares, como moradia acessível. As cidades ficaram menos acessíveis, mais caras. Também é necessário policiamento comunitário, mais criativo.

Mas uma das abordagens que funcionou razoavelmente bem, por um tempo, foi tornar esses espaços mais convidativos para todo mundo. A ideia é impedir que qualquer grupo domine completamente um espaço. Quando isso acontece, consideramos quase uma privatização do espaço público.

Se um grupo de pessoas em situação de rua controla aquele lugar, isso acaba limitando o espaço. Da mesma forma, se o espaço é só para pessoas ricas ou para idosos, ele se torna desinteressante para o restante da população.

Nossa abordagem nunca é expulsar quem está dominando o espaço, mas sim trazer outros grupos, fazer com que mais pessoas estejam presentes.

E quando espaços centrais começam a parecer mais seguros, as pessoas entendem que é possível, sim, haver uma mudança cultural.

No Bryant Park, por exemplo, essa abordagem foi aplicada com muito sucesso. Claro que ainda pode existir tráfico ou crime, mas a percepção mudou muito. Você pode, inclusive, estar sentado ao lado de um traficante e se sentir seguro. Isso funciona, mas, claro, alguns problemas persistem.

Há alguns exemplos nos Estados Unidos de espaços públicos onde, com algum sucesso, contrataram pessoas que estavam em processo de saída da situação de rua para ajudar na gestão desses locais. Muitas vezes essas pessoas conhecem muito bem aquele espaço e não querem ser vistas como um problema.

Então, você envolve essas pessoas como parte da solução. Quando meu pai estava liderando o projeto do Bryant Park, ele entrevistou os próprios traficantes e descobriu onde eram os melhores pontos para "fazer negócios". Foi exatamente nesses lugares que decidiram colocar os quiosques [para venda e consumo de alimentos e bebidas].

Sobre Nova York, especialmente nos anos 1970 e 1980, qual foi o papel das políticas de tolerância zero contra o crime? E elas ainda fazem sentido hoje, considerando o risco de criminalizar pessoas pobres e vulneráveis?
Essa foi uma política aplicada no passado, mas não sei se ainda faz sentido hoje.

Olha, eu não sou exatamente um especialista em segurança pública, mas pelo que entendo, essas políticas não foram tão eficazes assim. Tiveram, sim, alguns efeitos colaterais e reações negativas.

O que realmente fez com que Nova York alcançasse o sucesso que teve foi a melhora da economia, a qualificação dos espaços públicos, e a criação de BIDs [sigla para Business Improvement Districts, uma área ou zona especial em que poder público e setor privado fazem parceria para desenvolver negócios], que trouxeram uma abordagem de segurança mais adaptativa, mais próxima das comunidades, e muito mais responsiva aos problemas locais.

Foi algo mais próximo do conceito de policiamento comunitário, que acabou emergindo. Além disso, as pessoas voltaram a se apaixonar pela cidade, sentir que eram donas daquele lugar. Tornaram-se novamente cuidadoras dos espaços públicos.

A imagem mostra uma grande árvore de Natal decorada com luzes e enfeites vermelhos e dourados, localizada em um mercado ao ar livre. Há muitas pessoas ao redor, algumas paradas e outras caminhando, em um ambiente urbano com prédios altos ao fundo. O céu está claro e a atmosfera é festiva, típica da época natalina.
Público lota a feira de inverno no Bryant Park diante de uma grande árvore de Natal na área central de Manhattan, em Nova York - Mike Sega - 15.dec.2023/Reuters

Parcerias entre governo e setor privado parecem ser a principal alternativa para projetos de revitalização de espaços públicos. É sempre necessário muito dinheiro para construir um bom espaço urbano para a convivência?
Olha, a verdade é que muitos dos melhores espaços públicos não custaram muito. Eles foram feitos com mudanças temporárias, de baixo custo, intervenções rápidas e leves.

E, muitas vezes, esses projetos ajudam a construir parcerias público-privadas locais ou estruturas de governança que gerem e cuidem daquele local, daquele bairro.

Para nós, isso é a linha de frente da inovação nas cidades: a gestão dos espaços. Muitas partes do mundo estão caminhando para uma gestão mais holística, no nível dos bairros, que une os diferentes setores para resolver problemas de maneira integrada.

Isso rompe barreiras e coloca como objetivo central criar lugares que sejam amados pelas pessoas.

É a mudança do paradigma de place-taking [tomar do lugar] para placemaking [fazer o lugar].

Existem diferentes modelos para esse tipo de organização, como distritos com incentivos para parcerias público-privadas, cobrança de uma taxa específica de imóveis empresariais que concordam em custear melhorias no entorno e ONGs locais que possam gerir esses espaços públicos.

Ao comentar na sua aula sobre como cidades acolhedoras atraem talentos, você afirmou que atualmente as pessoas escolhem o lugar antes do emprego.
Claro. Estamos vivendo uma era em que as pessoas podem viver e investir onde quiserem, mais do que nunca.

Só que o modelo de desenvolvimento das cidades nas últimas décadas fez com que elas se tornassem cada vez mais parecidas umas com as outras. Todas começaram a correr atrás de um conceito muito estreito de "habitabilidade", que basicamente tentava encaixar qualquer cidade no padrão da revista The Economist, ou seja, uma cidade pronta para qualquer corporação global operar nela.

Esse modelo criou uma monocultura urbana. Um modelo econômico extrativista, onde a maior parte do dinheiro não fica na cidade, mas vai para acionistas externos, e não para as comunidades que realmente vivem e gastam ali.

As cidades que mais vão ter sucesso no futuro são aquelas que atraem pessoas porque elas querem viver ali, que desafiam e apoiam as pessoas para que elas contribuam para aquele lugar, não apenas consumam.

O modelo tradicional de habitabilidade virou, na prática, um modelo de marketing: condomínios isolados no meio de parques, que poderiam estar em qualquer lugar do mundo.

Esse modelo está totalmente ligado ao aumento do custo de vida, à gentrificação negativa e à gentrificação cultural.

O que vemos é que, nesses ambientes, há pouca inovação. As pessoas não aprendem muito, ficam cada vez mais temerosas em relação às outras e acabam mais solitárias e desconectadas. A solidão, aliás, hoje é considerada um problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde.

Portanto, estamos desconectados uns dos outros e dos nossos próprios lugares.

E você também associou essa cidade mais atrativa a lugares que criam "desculpas" para que as pessoas se encontrem. Você pode explorar um pouco mais esse conceito?
As cidades que vão vencer são aquelas que convidam as pessoas a se conectarem umas com as outras, se conectarem com o próprio lugar e, principalmente, a contribuírem para a criação desse lugar.

Nos melhores lugares, as pessoas esbarram umas nas outras, têm ideias e criam negócios que são sobre aquele lugar, para aquele lugar.

Então, muitas das grandes transformações dos espaços públicos em Nova York e ao redor do mundo começaram porque alguém era contra alguma coisa. Essa energia negativa pode virar algo transformador quando as pessoas passam a dizer o que realmente querem.

A indignação que corria no sangue de alguns se transformou em algo positivo quando, por exemplo, elas se opuseram à demolição da High Line [linha ferroviária desativada que foi transformada em um parque elevado em Nova York].

Também foi assim quando Jane Jacobs (1916-2006) impediu que o Washington Square Park fosse transformado [a ativista liderou o movimento contra o plano do engenheiro Robert Moses (1888-1981) de construir uma via expressa na área do parque].

São Paulo tem áreas públicas concedidas ao setor privado. Algumas são atrativas, mas outras não foram abraçadas pela comunidade. Quais erros podem resultar em fracasso na ativação de espaços?
Projetos de placemaking podem, sim, acabar sendo desviados para uma abordagem muito limitada em qualquer etapa do processo. Eles podem enfrentar problemas já na fase de engajamento, que é crucial.

Às vezes, você até tem uma visão muito boa para o espaço, mas se esse processo fica restrito a arquitetos e paisagistas, ou só ao governo, ou só a uma empresa, isso pode remover toda a energia positiva e o senso de pertencimento.

Por isso, o processo precisa ser sobre aprendizado constante, aprendizado coletivo, mobilização coletiva e ação. É um processo de testar coisas, experimentar, errar, acertar, e construir um ecossistema de capacidades em torno de um projeto, de um bairro, de uma cidade inteira.


RAIO-X

Ethan Kent, 48

1976, Nova York (EUA). Sociólogo, é co-fundador do PlacemakingX, rede de aceleração global para a construção de espaços públicos acolhedores e transformações urbanas.