sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Linha marrom do metrô pode alterar a dinâmica da Raposo Tavares, Mauro Calliari - FSP

 O metrô é o grande indutor de crescimento da cidade. A cada nova estação, surgem prédios, novos moradores, comércio e serviço. Há décadas concentradas na região central, as linhas estão finalmente sendo planejadas para abranger os municípios da Grande São Paulo (os trilhos da CPTM já chegam a várias cidades, mas ainda falta muito para atingirem nível de serviço próximo ao do metrô).

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Rodovia Raposo Tavares na altura da entrada para Cotia - Adriano Vizoni - 30.dez.2022/Folhapress

Uma dessas novas linhas será a linha 22, marrom. Ela tem potencial de alterar profundamente a dinâmica de transportes na zona oeste.

Para começar, ela é a primeira linha com estações na Cidade Universitária, da USP. A linha amarela poderia ter passado por lá, mas foi vetada numa infame reunião, anos atrás, em que um reitor decidiu que não queria atrair pessoas de fora da universidade.

Agora, Metrô e USP concordaram em construir duas estações dentro do campus, na praça do Relógio e Hospital Universitário, o que vai colocar a universidade no mapa da cidade. São dezenas de milhares de estudantes, professores e funcionários que poderão deixar o carro em casa para chegar ao campus.

A grande novidade, entretanto, é a ligação intermunicipal. É aqui que o metrô pode alterar a escala de sua influência e mexer com a mobilidade de verdade.

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A linha marrom vai sair de Cotia, passar por Osasco e chegar a São Paulo onde se conectará com outras linhas nas estações Hebraica (esmeralda), Faria Lima (amarela) e o ponto final na Sumaré (linha verde). Serão 37 mil passageiros por hora e capacidade para crescer até 46 mil. É razoável imaginar que grande parte dessa demanda seja de pessoas que trocariam o carro pelo metrô.

As vantagens da substituição começam pela óbvia redução do congestionamento e do impacto urbanístico, mas um benefício enorme está na redução da pegada de carbono. Cada pessoa que opta pelo metrô diminui sua emissão de CO2 de 170 para 28 gramas para cada quilômetro rodado. Se metade dos usuários sejam pessoas que abandonaram o carro, serão 700 toneladas de CO2 emitidas a menos por dia.

Bem, aí surge a pergunta: por que o Governo de São Paulo optou por aumentar a vazão da Raposo Tavares no médio prazo sabendo que no longo prazo há um projeto mais amigável para a cidade e mais sustentável ambientalmente em andamento?

São coisas distintas, claro. O metrô custa mais e demora mais para ficar pronto. Mas se o transporte coletivo fosse a base do sistema, todo o resto poderia se adaptar a ele, resolvendo gargalos na Raposo e oferecendo uma rede capilar de ônibus para levar pessoas até o metrô a partir dos condomínios dispersos da região, como na Granja Viana.

Apesar de estar sendo encaminhado celeremente, o projeto da Nova Raposo, que prevê derrubada de árvores, túneis e viadutos para despejar mais carros na área urbana de São Paulo, deveria, pelo menos no seu escopo, ser repensado.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Dora Kramer - Desembarque de araque, FSP

 O senador Ciro Nogueira (PP-PI) anda falando em público o que seus companheiros de campo político dizem aos sussurros pelos cantos: a direita está abusando do direito de errar.

A oposição trocou de lugar com o governo, que até pouco tempo atrás era campeão nos tropeços. Parecia não haver remédio para a turma de Lula (PT), tanto que os adversários deram o toque da debandada. O fim de setembro foi estipulado como prazo para o desembarque do PP e da União Brasil, unidos numa federação de 109 deputados federais e 15 senadores.

Três homens sentados à mesa em reunião oficial. O homem ao centro fala e gesticula com a mão direita, com microfone à frente. Atrás deles, duas bandeiras brasileiras, uma com o círculo azul e estrelas e outra com o brasão nacional. Copos d'água e placas de identificação estão sobre a mesa.
O presidente Lula ao lado de André Fufuca (esq., ministro dos Esportes) e do então ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, em reunião de 2024 - Pedro Ladeira/Folhapress

Pois a data fatal chegou e o que se tem em cena são duas possíveis vagas nos ministérios do Turismo e dos Esportes para o presidente preencher conforme suas conveniências, dois ministros relutantes na saída e que nos ensaios de despedida ainda dão apoio à reeleição do petista.

Em termos de afirmação oposicionista, Celso Sabino (União-PA, ministro do Turismo) e André Fufuca (PP-MA, dos Esportes) são troféus que não valem a missa prometida. Lula não perde nada e ainda ganha cargos na administração federal para distribuir, caso os filiados à federação deem mesmo adeus aos empregos país afora.

O desembarque, por ora, é de araque. O gesto das cúpulas dos dois partidos acabou por cair no vazio dos erros aos quais se refere Ciro Nogueira, um político experiente que conhece o lado adversário por dentro. Já foi entusiasta e aliado de governos do PT.

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As demais legendas do centrão, integrantes da aliança desde sempre bamba, preferiram não se precipitar, deixando as coisas como estão para ver como ficarão adiante. Nem por isso escaparam de sofrer os efeitos da afoiteza dos parceiros de planos para a próxima eleição.

Agora falta um ano, com Lula em campanha aberta, e os adversários reféns das esperanças vãs de um condenado.

As marés viram, é verdade, mas vai dar trabalho se livrar da armadilha dos extremistas que pregaram sua marca na direita, ora identificada com manobras antirregimentais, motins, tentativa de anistia disfarçada e toda sorte de agressões ao bom senso.