sexta-feira, 1 de março de 2024

PIB do Brasil fecha 2023 com alta de 2,9%, mas fica estagnado no segundo semestre, FSP

  

RIO DE JANEIRO e SÃO PAULO

Influenciada pela agropecuária, a economia brasileira fechou o ano de 2023, o primeiro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com crescimento acumulado de 2,9%.

É o que apontam dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta sexta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado ficou levemente abaixo da variação de 2022 (3%) e da mediana das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 3% para 2023.

Os dados do IBGE também mostram uma desaceleração da atividade econômica no segundo semestre, após o impulso da agropecuária, concentrado no início do ano.

Máquina agrícola é usada em lavoura de milho no município de Maringá, no Paraná - Rodolfo Buhrer - 13.jul.2022/Reuters

Considerando somente o quarto trimestre de 2023, o PIB ficou estagnado (0%) em relação aos três meses imediatamente anteriores. A expectativa mediana de analistas era de variação de 0,1%, conforme a Bloomberg.

O PIB também ficou estagnado no terceiro trimestre de 2023, na comparação com os três meses imediatamente anteriores. O IBGE revisou o desempenho nesse período de 0,1% para 0%.

Mesmo com a perda de força, o PIB fechou o ano passado com um desempenho superior ao projetado inicialmente por analistas.

Ao final de 2022, o mercado financeiro esperava um crescimento de apenas 0,8% para o acumulado de 2023, conforme a mediana do boletim Focus, divulgado pelo BC (Banco Central). As previsões foram ajustadas para cima ao longo dos meses.

AGRO DÁ IMPULSO NO ANO

O ano de 2023 foi marcado pela ampliação da safra agrícola. Assim, o PIB contou com impulso da agropecuária no início do ano passado.

Puxada pela soja e pelo milho, a agropecuária cresceu 15,1% e bateu recorde no acumulado de 2023, segundo o IBGE. A série histórica começa em 1996.

"A agropecuária teve papel fundamental na economia brasileira", afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Os serviços (2,4%) e a indústria (1,6%) também avançaram no período. Dentro da indústria, o instituto ressaltou a influência positiva da indústria extrativa.

Essa atividade teve alta de 8,7% devido ao aumento da extração de petróleo, gás natural e minério de ferro. Tanto a agropecuária quanto o setor extrativo têm grande impacto do mercado externo.

CONSUMO AVANÇA NO ANO COM EMPREGO AQUECIDO E TRANSFERÊNCIAS

Pela ótica da demanda, o destaque veio do consumo das famílias, que avançou 3,1% em relação a 2022.

Palis disse que esse resultado teve influência da melhora do mercado de trabalho, com aumento da ocupação e da massa salarial, além da trégua da inflação.

"Os programas de transferência de renda do governo colaboraram de maneira importante no crescimento do consumo das famílias, especialmente em alimentação e produtos essenciais não duráveis", acrescentou a pesquisadora.

O patamar elevado dos juros, por outro lado, representou um entrave para um avanço maior do consumo. O ciclo de cortes da taxa básica, a Selic, só teve início em agosto.

PERDA DE RITMO AO LONGO DE 2023

No quarto trimestre de 2023, a estagnação do PIB (0%) veio acompanhada por avanços de 1,3% na indústria e de 0,3% no setor de serviços.

A agropecuária, por outro lado, caiu 5,3%. O IBGE ponderou que safras importantes, como soja e milho, estão concentradas no primeiro semestre, o que ajuda a explicar o resultado negativo.

Com os juros ainda elevados, o consumo das famílias perdeu fôlego no quarto trimestre. O componente recuou 0,2%, após alta de 0,9% no terceiro trimestre.

Os investimentos produtivos na economia, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), avançaram 0,9% nos três últimos meses de 2023.

O aumento dos aportes veio após queda de 2,2% no terceiro trimestre. No ano de 2023, os investimentos acumularam baixa de 3%.

CENÁRIO DE DESACELERAÇÃO EM 2024

Para o PIB de 2024, a expectativa, por ora, é de desaceleração. Analistas do mercado projetam um avanço de 1,75%, segundo a mediana da edição mais recente do Focus, publicada na terça (27) pelo BC.

As estimativas, contudo, vêm subindo. Ao final de 2023, por exemplo, o mercado esperava um crescimento de 1,52% para o PIB de 2024.

Neste ano, a atividade econômica não deve contar com o mesmo impulso da agropecuária, já que fenômenos climáticos extremos jogam contra a produção no campo. O Brasil viveu episódios como ondas de calorseca e tempestades em regiões produtoras nos últimos meses.

Os juros, por outro lado, estão em ciclo de queda. O corte é visto como possível estímulo para o consumo em 2024, 

Reação do governo a pedido de impeachment é caçada inútil a animal bizarro, Bruno Boghossian, FSP

 O governo anunciou que vai dedicar energia à caça de animais raros, talvez folclóricos. O líder de Lula na Câmara, José Guimarães, avisou a partidos da base aliada que o Planalto vai tirar cargos e verbas de deputados que assinaram um pedido de impeachment apresentado por políticos bolsonaristas contra o petista.

Se o governo abriu espaço em sua máquina para algum parlamentar interessado em derrubar o presidente ou disposto a embarcar num factoide da oposição, deveria corrigir em silêncio a própria lambança. É mais provável que Guimarães tenha tentado inventar uma espécie exótica de inimigo e, no fim das contas, fabricado apenas uma trapalhada.

O pedido de impeachment contra Lula por suas declarações sobre Israel tem as assinaturas de um punhado de deputados de partidos que integram a base de Lula. A lista de 139 nomes explica muita coisa sobre as condições em que o governo opera politicamente e não revela nada sobre aqueles parlamentares.

O deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo Lula (PT) na Câmara - Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O União Brasil tem três ministérios e uma salada de deputados em suas fileiras. O governo não vai encontrar em seus cargos nenhum afilhado de Kim Kataguiri ou Rosângela Moro. Já deputados do PSD catarinense ganham mais exibindo nas redes suas assinaturas no pedido de impeachment do que ao lado de Lula.

O jogo de Guimarães não foi combinado com o Planalto. O ministro Alexandre Padilha mal conseguiu passar pano para a barbeiragem. Disse que seria "muito estranho" e "muito inesperado" encontrar algum signatário do impeachment com cargos no governo. "Algo bizarro", resumiu.

O risco de impeachment é zero. O governo poderia trabalhar discretamente para desidratar o pedido e aproveitar a nominata para fisgar um ou outro deputado permeável às regalias do poder.

Pode ser que alguém encontre um traidor na lista do impeachment. Fará pouca diferença para Planalto e oposição. O único efeito da ameaça é transportar um assunto da Terra plana bolsonarista para as relações políticas do governo no mundo real.

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Onde foi parar a esquerda?, Hélio Schwartsman, FSP

 O que fizeram com a esquerda? Terá ela sido abduzida por alienígenas?

Antes que os autoproclamados progressistas comecem a me xingar, reitero que votei em Lula no último pleito. Contra a anti-institucionalidade de Bolsonaro, repetiria esse voto mil vezes. Mas, convenhamos, não ser golpista é obrigação, não virtude a celebrar.

Quando analisamos as pautas concretas e como cada grupamento político se comporta diante delas, o quadro que emerge é bem desolador. O projeto de lei que reduz drasticamente a saída temporária de presos foi aprovado no Senado com apoio maciço da bancada de esquerda. Só 2 dos 81 senadores foram contra.

O presidente Lula (PT) discursa durante visita à fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP) - Carla Carniel/Reuters - REUTERS

Algo parecido vai ocorrer agora na votação da PEC que amplia a imunidade tributária de igrejas, já que a proposta tem o apoio do governo Lula —embora vá na contramão do princípio da solidariedade tributária que a esquerda sempre defendeu.

E essa lista pode ser ampliada. A política de apaziguamento dos militares vem sendo conduzida com esmero pelo presidente petista, apesar da participação de generais e oficiais superiores na trama golpista. Outras pautas históricas da esquerda, como a legalização do aborto e a descriminalização das drogas, foram completamente esquecidas. Se há uma chance de avançarem, é por ação do STF, não dos políticos.

Não ignoro que a esquerda seja minoritária no Congresso e que fazer política implica saber ceder. Mas será que não dá para pelo menos sinalizar que as ideias mais universalistas e mais generosas da esquerda liberal e iluminista não morreram? Onde ainda observamos algum ativismo esquerdista é em pautas corporativistas —volta da contribuição sindical— ou economicamente erradas —estaleiros.

É triste dizê-lo, mas o que mais marca Lula hoje como um governante "de esquerda" é que ele ganha elogios do Hamas. Não é por ser judeu, mas não penso que receber o selo de aprovação de uma organização terrorista conte como ponto positivo.