quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Fome ‘made in Brazil’, editorial OESP

 Notas&Informações, O Estado de S.Paulo

02 de fevereiro de 2022 | 03h00

O Brasil voltou ao mapa da fome. O alerta foi cada vez mais repetido ao longo da pandemia e deve ser ainda mais. Mas seria ruim se ele servisse para disfarçar, sob o manto da excepcionalidade, uma degradação que, malgrado ter sido agravada pela crise sanitária, começou bem antes dela. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, entre 2013 e 2018, a população urbana em insegurança alimentar aumentou de cerca de 20% para 35%, e a rural, de 35% para 47%. A insegurança alimentar grave nas cidades cresceu de 2,8% para 4,1%, e no campo, de 5,5% para 7,1%.

O escândalo é ainda maior porque a fome é amargada em pleno “celeiro do mundo”. Os focos mais graves de insegurança alimentar no planeta são países com escassez de recursos naturais ou atingidos por guerras, conflitos civis e catástrofes naturais, tudo aquilo de que o Brasil sempre foi poupado.

Ao contrário, nos últimos 40 anos, a revolução agrícola catapultou espetacularmente a produção de alimentos. A oferta no mercado internacional também cresceu, e o preço dos alimentos caiu. Ou seja, a causa da fome no País nunca foi, e hoje é menos ainda, a escassez de alimentos, mas sim de renda. Entre 2013 e 2018, a insegurança alimentar grave cresceu 8% ao ano. Em 2013, o brasileiro consumia em média 96,7 quilos de carne por ano, e hoje consome pouco mais de 25 quilos. A fome nacional não foi construída do dia para a noite nem é uma condição extraordinária causada pelo vírus, mas é resultado do fracasso retumbante das políticas sociais.

O governo lançou recentemente o programa Brasil Fraterno, para mobilizar doações de alimentos de empresas em troca de isenções fiscais. Também tramitam no Congresso propostas de incentivos para restaurantes e supermercados doarem alimentos excedentes ou com prazo de validade próximo. Evidentemente, são estímulos bem-vindos. Tanto mais se considerando estimativas que apontam que o Brasil desperdiça cerca de 30% de seus alimentos. Segundo o Programa da ONU para o Meio Ambiente, o Brasil ocupa a 10.ª posição entre os países que mais jogam comida fora. Mas restringir as ações de combate à fome à redução do desperdício é só uma folha de figueira para disfarçar a única coisa no Brasil tão abundante quanto a comida: a incompetência.

A causa principal do desperdício, por exemplo, não está no varejo e muito menos nos hábitos familiares, mas na infraestrutura precária e sistemas de transporte atrasados, que progressivamente drenam alimentos entre a colheita e a comercialização.

A inflação dos gêneros alimentícios básicos, muito maior que a inflação média, tem entre suas causas principais o aumento do dólar, a instabilidade política e o aumento do desemprego, fatores made in Brazil, especialmente pelos atos e palavras irresponsáveis do atual presidente da República.

Tampouco o crescimento da extrema pobreza ou o desmonte das políticas públicas de segurança alimentar na última década são fruto de alguma conjuntura internacional e muito menos de reveses naturais. Políticas como o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, o Programa de Alimentação Escolar, o Programa de Cisternas ou o Programa de Restaurantes Populares foram depauperados a olhos vistos para acomodar verbas clientelistas e eleitorais no Orçamento público.

Mesmo com o agravamento da crise na pandemia, além de programas de incentivo a doações, o máximo que Brasília produziu foram propostas natimortas de tabelamento de preços. De investimentos robustos em programas de distribuição de cestas básicas, medidas para reforçar o abastecimento, uso de estoques públicos, modelos de operações bem conduzidas de importação ou incentivos à agricultura familiar não se viu praticamente nada.

O combate à fome é do tipo que pode ser classificado como uma “guerra total”. Cada indivíduo, cada empresa, deve empunhar suas armas e fazer o que estiver ao seu alcance. Cada centavo doado, cada iniciativa social, por mais improvisada que seja, são valiosos. Mas somente o Estado pode evitar uma catástrofe maior.

Magalu e Via em cabo de guerra por palavras-chave, The News

 Keywords. Duas das maiores varejistas do país, Magalu e Via — dona da Casas Bahia e do Ponto Frio —, estão em um cabo de guerra jurídico que pode alterar a forma como as empresas compram anúncios no Google no Brasil.

O que houve? Na véspera da Black Friday, a Magalu percebeu que sua concorrente havia comprado a palavra-chave “Magalu” no Google. Com isso, todas as pesquisas com essa palavra mostravam os sites da Via no topo, acima da própria Magazine Luiza.

  • Agora, você pode imaginar o desespero da empresa ao perceber a ousadia do marketing da Via antes do maior período de vendas do ano...

“Melhor chamar o jurídico” — disse a Magalu. Ao adicionar o judiciário, a empresa conseguiu uma liminar que impedia a prática por parte da Via, mas, menos de uma semana depois, foi a própria concorrente que entrou na justiça pelo mesmo motivo.

Resultado? A Via também conseguiu uma liminar — decisão temporária —, fazendo com que ambas fossem proibidas de usar a marca da outra para os anúncios do Google, pelo menos temporariamente.

O que ninguém esperava: A proibição vale apenas para as duas e, enquanto isso perdurar, as outras concorrentes, como Shopee, Amazon e Americanas, podem comprar as keywords “Magalu”, “Ponto Frio” ou “Casas Bahia”. É mole? risos.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Cratera na marginal é nova vidraça tucana em obras do metrô de SP, FSP

 

SÃO PAULO

​A cratera aberta nesta terça-feira na marginal Tietê é a mais nova vidraça tucana em obras do metrô de São Paulo. O buraco de agora se soma a promessas não cumpridas, interrupção de obra, rescisão de contrato e prejuízos diversos nessa mesma linha.

O anúncio da linha 6-laranja do metrô é de 2008, ainda na gestão de José Serra (PSDB) e um ano depois de um desabamento na linha 4-Amarela ter aberto uma cratera e matado sete pessoas em Pinheiros.

Cratera se abre em asfalto em obra da linha-6 Laranja do Metrô
Cratera se abre em asfalto em obra da linha-6 Laranja do Metrô - Reprodução/Globo News

A promessa inicial para a linha 6 era entregá-la em 2012 para operação, o que não ocorreu dez anos depois e é provável que ganhe novos prazos com esse acidente.

Na época do anúncio, ela logo ganhou o apelido de linha das universidades. Em seu trajeto, de 15 km de extensão e 15 estações, estão instituições como PUC, Mackenzie e Faap. A promessa é que um dia essa linha ligará a Brasilândia, no extremo norte da cidade, à estação São Joaquim, da linha 1-Azul.

A linha 6, conhecida agora pela cratera na marginal, é aquela que levou moradores de Higienópolis a se organizarem contra a obra. Foi ali que usaram o termo "gente diferenciada" para descrever as pessoas do extremo norte da cidade que seriam atraídas ao tradicional bairro paulistano.

Essa linha também é aquela comemorada como a primeira PPP (Parceria Público Privada) plena do Brasil, quando o consórcio vencedor não apenas faz a obra, mas também é responsável pela operação dos trens.

Essa propaganda, porém, sofreu um forte abalo em consequência da Operação Lava Jato. As empreiteiras da PPP Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC Engenharia passaram a ser investigadas e não conseguiram mais recursos para tocar as obras, o que levou a uma paralisação por anos.

Essa interrupção, além de uma disputa judicial, provocou a deterioração dos quarteirões em torno da obra, com lixo e mato alto. A linha 6, porém, é só um exemplo da conturbada relação do paulistano com o metrô.

Pontualidade, eficiência e limpeza são reconhecidas. Por outro lado, já faz parte do imaginário tanto o aperto de seus trens superlotados, a tarifa e as promessas de obras nunca cumpridas, além do caos em dias de greves e paralisações de seus funcionários.

A coleção de problemas mais recentes inclui o capenga monotrilho da linha 15-Prata (zona leste) e o sempre atrasado monotrilho da linha 17-Ouro (zona sul).

Com a cratera da marginal agora em sua conta política, o governador João Doria (PSDB) deixará o Governo de São Paulo até o início de abril para disputar o Palácio do Planalto.

Em 2018, quando o então governador tucano Geraldo Alckmin fez o mesmo, ele deixou para trás um passivo de atraso em todas as obras do metrô. Um legado do PSDB.