domingo, 2 de janeiro de 2022

Policiais influenciadoras exibem metralhadora, distintivo e farda nas redes, FSP

 


SÃO PAULO

Armas de fogo, fardas, distintivos e até vídeos disparando com metralhadoras são postagens cada vez mais comuns nas redes sociais de policiais civis pelo Brasil, que usam seus perfis para mostrar o que consideram o glamour da profissão.

As influenciadoras são agentes e até investigadoras da polícia, e podem estar transgredindo leis e códigos de conduta ao utilizar materiais e símbolos das corporações em benefício próprio. Elas também costumam mostrar suas vidas pessoais nas redes, incluindo fotos de viagens, restaurantes e passeios.

Uma delas é a ex-agente da Polícia Civil de Pernambuco Gabriela Queiroz, que acumula 234 mil seguidores em seu perfil no Instagram. A maior parte das publicações remetem à época em que trabalhava na instituição, embora hoje atue como analista no TRE-BA (Tribunal Regional Eleitoral da Bahia).

Gabriela Queiroz é ex-agente da Polícia Civil de Pernambuco e tem um perfil no Instagram com 234 mil seguidores
Gabriela Queiroz é ex-agente da Polícia Civil de Pernambuco e tem um perfil no Instagram com cerca de 234 mil seguidores - Instagram @gabiiqueiroz

Nos treinamentos em escolas de tiro, estava frequentemente acompanhada de outras policiais. O grupo costuma gravar vídeos disparando armamentos que vão desde pistolas até metralhadoras. O perfil também tem fotos de lazer, em viagens e restaurantes, além de selfies.

A Polícia Civil de Pernambuco, assim como a maior parte das corporações brasileiras, não possui uma resolução que instrui os servidores sobre como devem se comportar nas redes sociais, estabelecendo limites sobre o que deve ou não ser compartilhado. Em nota, a corporação disse que está trabalhando em uma regulamentação para orientar os policiais sobre a utilização do uso de símbolos da instituição.

A servidora foi procurada via email, mas não se manifestou até a publicação da reportagem.

Presença frequente nas fotos de Queiroz, a investigadora da Polícia Civil de Minas Gerais Nathália Bueno possui 177 mil seguidores, e tem como um dos principais atrativos as dicas e frases motivacionais para aqueles que desejam passar nos concursos da polícia.

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Os seguidores que desejarem ir além podem ainda comprar um curso preparatório com a investigadora. Em nota, a Polícia Civil de MG afirmou que publicou internamente em maio de 2020 instruções sobre as publicações em redes sociais, sob pena de transgressão disciplinar. A investigadora foi procurada via email, mas não se manifestou.

Já a agente Adrielle Vieira, de Alagoas, acumula 140 mil seguidores em seu perfil no Instagram em uma conta que segue a mesma receita: armas e lazer. A servidora também usa seu perfil para fazer publicidade de sua própria marca, uma loja online que oferece produtos femininos, entre eles, um colar com pingente de algemas.

O Artigo 88 do Estatuto Pessoal da corporação proíbe os membros da instituição de "valer-se do cargo para lograr proveito pessoal em detrimento da dignidade da função policial".

A Polícia Civil de Alagoas afirma, por meio da Corregedoria da instituição, que já possui um procedimento administrativo aberto para investigar e apurar a responsabilidade funcional da agente. A servidora foi procurada pelas redes sociais mas também não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Embora na esfera administrativa as leis que regem as polícias civis fiquem por conta dos estados, na esfera criminal os servidores podem ser autuados dentro do Código Penal e pela Lei da Improbidade Administrativa, explica a desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo e professora de direito do Insper Ivana David.

A magistrada afirma que constitui ato de improbidade administrativa quando o servidor se utiliza do cargo público para obter vantagens, como utilizar materiais do estado em atividades pessoais de qualquer natureza.

"A impressão é que estão treinando e usando material da polícia fora dos limites administrativos, expondo a instituição. A improbidade só existe com uso das armas, uniforme, viatura e munição da polícia. Uso de bens particulares, ainda que parecidos, não configuram", explica David. "Se for o caso, o Ministério Público e as corregedorias têm que tomar providências."

Segundo o procurador de Justiça Marcio Sergio Christino, os servidores não podem explorar a imagem do estado para auferir ganho pessoal. O procurador afirma que os policiais têm direito à liberdade de expressão, desde que não vincule sua imagem à condição de membro de uma instituição.

"O indivíduo não pode usar o estado para se autopromover", diz o procurador. "O que não pode ou não deve é usar a instituição como um meio para auferir ganhos, usando a imagem da instituição, que não é dele. A imagem é do estado. A condição de policial não é dele, a condição de policial é do estado."

Quando não há regulamentação específica, os servidores se baseiam apenas nos códigos de ética ou leis orgânicas das polícias de cada estado, muitas vezes criados antes da popularização das redes sociais. Isso abre brecha para novos perfis como esses ou como o notório caso do delegado da Cunha, afastado do cargo após uma série de polêmicas que envolviam sua atuação na internet.

Um dos poucos que estabeleceu diretrizes de uso do ambiente digital foi São Paulo, onde atua a investigadora Paula Barreira.

A servidora possui um perfil com 87 mil seguidores nas redes sociais. Em sua apresentação pessoal, a investigadora informava que era parte da corporação, o que já transgredia as regras para redes sociais da Polícia Civil de SP.

É vedado aos servidores paulistas possuir um perfil de natureza institucional ou que induza os usuários a acreditar que seja uma conta funcional, utilizar qualquer fração do nome da organização, além de mostrar o brasão ou símbolos oficiais, por exemplo.

Além das fotos com insígnias da polícia, distintivos e armas, Barreira também faz publicidade em suas redes. Em uma delas, oferece um cupom de desconto para uma linha de coldres (estojos, normalmente presos à cintura, onde se guardam armas de fogo).

Após o contato da reportagem, as postagens relacionadas à polícia foram apagadas e sua apresentação pessoal editada para "perfil pessoal sem vínculo institucional".

A investigadora afirma que seus seguidores se formaram ao longo de nove anos que antecederam o ingresso na corporação, quando compartilhava sua admiração pela segurança pública. Declara também que as postagens relacionadas a sua atuação foram devido ao "orgulho e satisfação profissional".

A Secretaria de Segurança Pública de SP declara, em nota, que todas as denúncias sobre uso inadequado das redes são apuradas, inclusive a citada na reportagem.

Paula Barreira é investigadora da Polícia Civil de São Paulo e tem um perfil no Instagram com cerca de 87 mil seguidores
Paula Barreira é investigadora da Polícia Civil de São Paulo e tem um perfil no Instagram com cerca de 87 mil seguidores - @barreira no Instagram

Para a socióloga e pesquisadora do Nev (Núcleo de Estudos da Violência) Giane Silvestre os perfis são um reflexo da lógica militarizada de se fazer segurança pública, vendendo a ideia de que sua eficácia é baseada somente no enfrentamento, deixando de lado políticas preventivas.

"Talvez essa coisa bélica, essa coisa mais instrumentalizada seja um recurso usado para se legitimar enquanto operadoras de segurança pública dentro dessa ideia de que segurança pública tem que ser uma coisa militarizada", diz.

Para uniformizar o comportamento dos policiais civis nas redes sociais, o Conselho Nacional de Chefes de Polícia está criando um código de ética nacional e uma resolução exclusiva que fixará limites para o que podem ou não publicar.

À reportagem da Folha, a presidente do conselho, delegada Nadine Anflor, disse que "não tem como não ser feito" uma regulamentação que determine diretrizes nacionais, uma vez que todos os estados apresentaram problemas.

Por que mudamos de ano se não muda nada?, por Por Aram Aharonian , in Carta Maior

  

Sempre, desde pequeno, me pergunto por que mudamos de ano se nossa vida continua a mesma. Se acabaram a desigualdade e a injustiça e não pagaremos a odiosa dívida externa? Acabou a exploração neoliberal e agora defendemos o planeta e o clima? Ou será que Bolsonaro renunciou? A pandemia e os confinamentos acabaram? De jeito nenhum!

Dizem que o dia 31 de dezembro é o último do calendário gregoriano, o padrão de 365 dias (mais um no nos anos bissextos, como em como 2020) que governou o Ocidente desde que o calendário juliano foi descontinuado, em 1582. Sua passagem celebra o fim de um ciclo que marcou as contas do tempo para várias culturas e por milênios: uma revolução completa da Terra em torno de sua estrela, o sol.

Não há dúvida de que a data em que um ano começa e termina não é baseada na ciência, mas sim em uma convenção, um sistema “inventado”. Assumir que o ano termina à meia-noite do dia 31 de dezembro e começa no dia 1º de janeiro é uma construção social, definição que se deu em um momento da história.

O dia e o ano (conforme definido hoje) são baseados no movimento da Terra sobre si mesma e ao redor do Sol. Eles são os blocos de construção de um calendário solar. No entanto, o mês é uma unidade baseada no movimento da Lua e forma a base dos calendários lunares.

Como a base para medir um ano é o tempo que a Terra leva para girar em torno do Sol, a contagem do início e do término desse ciclo pode ocorrer, na prática, a qualquer momento. E desde que o imperador romano Júlio César o colocou em vigor, no ano de 46 a. C., o calendário juliano serviu para contar a passagem dos anos e da história da Europa, até o final do século XVI.

Mas, desde a Idade Média, vários astrônomos perceberam que essa forma de medir o tempo produzia um erro cumulativo de aproximadamente 11 minutos e 14 segundos a cada ano. E assim, em 1582, o Papa Gregório XIII promoveu a reforma do calendário, adotando o que usamos até hoje e introduzindoos bissextos para corrigir os erros de cálculo no calendário juliano.

A verdade é que não existe uma unidade de medida única, mas pelo menos quatro para contar o tempo que a Terra leva para circundar o Sol: o ano juliano ou calendário, o ano sideral, o ano trópico médio e o ano anomalístico. O juliano é uma convenção e é usado na astronomia como uma unidade de medida em que se considera que a Terra gira em torno do Sol em 365,25 dias.

O ano sideral é aquele que leva para a Terra fazer uma revolução do Sol em relação a um sistema de referência fixo. Nesse caso, toma-se como referência o grupo de estrelas fixas e esse ano tem uma duração de 365,25636. O trópico médio leva em consideração o comprimento da eclíptica do Sol, ou seja, a trajetória do Sol no céu em relação à Terra ao longo do ano, principalmente nos equinócios, que dura um pouco menos que o ano sideral, 365,242189 dias.

E, finalmente, o ano anomalístico sinaliza que a Terra, como os outros planetas, se move em reticências. Essa elipse às vezes torna o Sol cada vez mais distante da Terra. Mas há um ponto em que os dois estão mais próximos que nunca, o chamado periélio. E o ano anomalístico é o tempo decorrido entre duas passagens consecutivas da Terra através de seu periélio. Dura 365,2596 dias.

Isso tudo é muito preocupante. Mas talvez devêssemos valorizar que todo dia 31 de dezembro é a oportunidade de passá-lo com a família, com os amigos, na esperança de que desta vez, neste ano que se inicia, nossas esperanças floresçam.

Os escritores eo ano novo

Muitas promessas são feitas no Ano Novo, mas poucas são concretizadas. Para não ficar totalmente desmotivado, é altamente recomendável levar em consideração o pensamento desses escritores na noite de 31 de dezembro.

Por exemplo, Mark Twain publicou um artigo em 1863, dizendo que “este é o momento aceitável para tomar as boas resoluções habituais a cada ano. Na próxima semana, você poderá pavimentar o caminho para o inferno com eles, como sempre. Ontem, todo mundo fumou seu último cigarro, bebeu seu último gole e disse sua última grosseria. Hoje, somos o exemplo de uma comunidade perfeita”.

“O Ano Novo é uma tradição inofensiva, sem uso especial para ninguém, exceto como pretexto perfeito para beber promiscuamente, fazer gestos amigáveis %u20B%u20Be propostas tolas. Espero que o disfrutem com o conforto adequado para a grandeza da ocasião”, acrescentou.

De sua parte, G.K. Chesterton, comentou que “a meta do Ano Novo não deve ser a de ter um ano novo. Deveria ser para ter uma nova alma e um novo nariz, novos pés, novas costas, novas orelhas e novos olhos. A menos que esse homem em particular tenha feito resoluções de Ano Novo, não haverá propósito. A menos que um homem comece tudo do zero, ele não fará nada efetivo”.

Charles Bukowki, em seu poema “Palm Leaves” disse que “o fim do ano sempre me apavora… a vida não conhece os anos”. E Oscar Wilde apontou que “as boas resoluções são simplesmente cheques emitidos para um banco no qual não há conta”.

O poeta espanhol León Felipe lamentou: “que pena se esta nossa vida tivesse – esta nossa vida – mil anos de existência! Quem o tornaria tolerável até o fim? Quem aguentaria tudo sem protestar? Quem lê dez séculos de história e não a fecha vendo as mesmas coisas sempre com uma data diferente? Os mesmos homens, as mesmas guerras, os mesmos tiranos, as mesmas grilhões, os mesmos farsantes, as mesmas seitas e os mesmos, os mesmos poetas! Que pena que tudo é sempre assim, sempre da mesma forma! Que pena!”

Tomara

Mais perto de nós, Eduardo Galeano nos deixou seus “Desejos de Ano Novo”:

“– Tomara que sejamos dignos de uma esperança desesperada.

– Tomara que possamos ter a coragem de ficar sozinhos, e a valentia de arriscar estarmos juntos, porque de nada serve um dente fora da boca, ou um dedo fora da mão.

– Tomara que possamos ser desobedientes, toda vez que recebamos ordens que humilhem nossa consciência ou violem nosso bom senso.

– Tomara que possamos ser tão teimosos para continuar acreditando, contra todas as evidências, que a condição humana vale a pena, porque fomos maltratados, mas não estamos acabados.

– Tomara sejamos capazes de continuar trilhando os caminhos do vento, apesar das quedas, e das traições, e das derrotas, porque a história continua, muito além de nós, e quando ela diz adeus, está dizendo até logo.

– Tomara que possamos manter viva a certeza de que é possível ser compatriota e contemporâneo de quem vive animado pela vontade de justiça e pela vontade de beleza, nasça de onde nasça e viva quando viva, porque não há fronteiras nos mapas da alma e do tempo”.


Tomara. E para não abandonar as convenções ou os bons costumes, mas fazendo força para virar o omelete, Feliz Ano Novo… E a redobrar a esperança!”.

Aram Aharonian é jornalista e comunicador uruguaio, criador do canal TeleSur, presidente da Fundação para a Integração Latino- Americana (FILA) e diretor do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)