terça-feira, 1 de junho de 2021

Como seca histórica no Brasil traz risco de inflação e racionamento de energia, FSP

 O SNM (Sistema Nacional de Meteorologia) emitiu na sexta-feira (28) um alerta de emergência hídrica entre junho e setembro para cinco Estados —Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.

falta de chuvas é considerada crítica na região da bacia do rio Paraná, que concentra importantes usinas hidrelétricas, como Jupiá, Ilha Solteira, Porto Primavera e Itaipu.

O comunicado se soma a uma sequência de notícias que expõem uma das piores secas que o país já enfrentou, concentrada na região Centro-Sul.

Dados divulgados em abril pelo CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) apontaram que, entre setembro de 2020 e março deste ano, as hidrelétricas do país receberam o menor volume de chuvas em 91 anos.

A situação piorou em abril, conforme o Índice Integrado de Seca do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), com intensificação da seca em relação a março.

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área mais afetada no período estava localizada entre São Paulo, Mato Grosso do Sul, sul de Goiás e oeste de Minas Gerais. Nessa região, 248 municípios estavam em condições consideradas de seca extrema, uma categoria anterior ao pior da escala de cinco níveis, a seca excepcional.

CONTA DE LUZ MAIS CARA

O impacto mais direto desse quadro é no preço da energia elétrica.

"O Sudeste, onde a situação dos reservatórios é pior, responde por cerca de 70% da produção de energia hidrelétrica do país", destaca Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital Markets.

Com a menor oferta de energia a partir das hidrelétricas, o país precisa acionar usinas térmicas, cuja produção é muito mais cara —e mais poluente.

Nas contas de luz enviadas aos consumidores neste mês já aparece o acréscimo da bandeira vermelha patamar 1 acionada no início de maio pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

A perspectiva para os próximos meses não é de melhora —a cobrança pode ser ainda mais alta, caso a Aneel considere ser necessário adotar a bandeira vermelha patamar 2, a mais cara entre as quatro consideradas pela agência.

"Dadas as características dos reservatórios do Sudeste, é difícil que haja melhora no curto prazo", diz a economista.

A depender do regime de chuvas nos próximos meses, acrescenta Argenta, o quadro pode demandar "políticas governamentais específicas para contornar a situação".

"Um racionamento não está descartado", diz ela, emendando que uma medida como essa, contudo, geralmente está no fim da fila das opções avaliadas pelos gestores públicos por conta de seu elevado ônus político.

A lembrança da última vez que o país usou esse expediente segue viva na memória de muitos brasileiros. Em 2001, no penúltimo ano do governo Fernando Henrique Cardoso, o país sofreu uma série de apagões e teve de passar por um penoso racionamento.

Segundo o jornal Valor Econômico, que ouviu fontes do governo após reunião desta quinta (27) do Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico, considera-se a necessidade de criar um "comitê de crise" para pensar estratégias que possam afastar o risco de apagão. Nesse sentido, o governo trabalharia por ora com todos os cenários, inclusive o de racionamento.

SECA, ALTA DAS COMMODITIES E EFEITO DÓLAR

Os impactos econômicos da seca, contudo, vão muito além da energia elétrica.

De forma geral, a falta de chuvas tem provocado quebras de safra em importantes regiões produtoras de alimentos.

Com menor disponibilidade dos produtos, os preços sobem. A lista é longa: milho, açúcar, café, trigo, laranja, carne, ovo, leite e até combustíveis.

Na atual conjuntura, o efeito-seca é agravado por dois outros fatores. Com o aumento das cotações internacionais das commodities e o dólar caro, os produtores têm um incentivo maior para exportar. Vender para fora se torna financeiramente mais vantajoso.

Essa dinâmica reduz ainda mais a oferta dentro do país —e deixa mais cara a tarefa de colocar comida na mesa.

O gerente de consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, dá o exemplo ilustrativo do milho.

Enquanto a seca provocou uma quebra da segunda safra do cereal, reduzindo a expectativa inicial de produção de 86 milhões de toneladas para algo entre 65 milhões e 70 milhões de toneladas, a cotação na Bolsa de Chicago disparou nos últimos meses.

Essa equação reduziu substancialmente a oferta interna de milho.

"As indústrias vão ter que competir (pelos contratos)", diz ele.

O efeito da alta do milho é uma espécie de reação em cadeia, já que a maior parte da produção vira insumo na indústria de proteína animal. Assim, com as rações mais caras, a tendência é de aumento também nos preços da carne de porco e de frango.

Bellotti ressalta que, especialmente no caso do frango, muitas empresas têm absorvido os aumentos de custos porque não veem espaço para repassá-los aos consumidores, já que o país registra desemprego recorde e convive com uma versão bastante reduzida do auxílio emergencial.

A compressão das margens de lucros, entretanto, tem chegado ao limite. Assim, na avaliação do economista, ou os produtores vão repassar essa alta de custos ou vão segurar a oferta, de modo a empurrar os preços para cima. De um jeito ou de outro, o consumidor vai pagar mais caro.

A carne de boi também vai ficar mais cara. Além do milho, o preço interno da soja, outro ingrediente das rações, também tem subido. A seca afetou ainda o pasto em alguns Estados, levando os produtores a antecipar a oferta (ou seja, abater os animais antes do previsto), reduzindo a expectativa de oferta para os demais meses do ano.

O economista chama atenção para o caso do açúcar, que também gera uma espécie de efeito dominó.

A falta de chuvas entre fevereiro e abril atrasou o início da colheita da commodity e diminuiu a expectativa de produção. A alta das cotações da Bolsa de Nova York, por sua vez, estimulou as exportações. Resultado: o preço médio da saca de 50 quilos praticado dentro do país foi 40% maior do que o registrado em abril de 2020, de acordo com o Indicador do Açúcar Cristal do Cepea.

Essa dinâmica tem impacto direto sobre o preço do etanol —tanto o anidro, que é misturado à gasolina, quanto o hidratado, usado para abastecer os motores movidos a álcool.

Bellotti avalia que o aumento pode chegar a tornar a gasolina mais vantajosa que o álcool em algum momento neste ano. Pela regra dos 70%, quando o preço do álcool for superior a 70% do valor da gasolina, financeiramente compensa mais abastecer com este último.

Um cenário deste tipo ajudaria a elevar a demanda por gasolina, que já tem os preços pressionados por conta da alta do dólar e da cotação do petróleo.

Todos esses efeitos vão aparecer nos índices de inflação nos próximos meses, concentrados nos grupos habitação e alimentação no domicílio. Este último responde por quase 20% do IPCA (ndice de Preços ao Consumidor Amplo), o índice de inflação oficial do país.

Aliados de Doria vão insistir em voto direto nas prévias do PSDB, mas tucanos preevem nova derrota, FSP

 Mesmo após a comissão de prévias do PSDB propor dar mais peso a quem tem mandato, o que contraria João Doria (PSDB), aliados do governador de São Paulo insistem no voto direto. O texto ainda precisa ser aprovado pela executiva nacional em reunião marcada para o dia 8.

“Continuamos defendendo o voto universal por entendermos que é o justo. Tem espaço para discussão na executiva, que vai buscar uma convergência”, diz Marco Vinholi, secretário de Doria e presidente do PSDB-SP. "

O tesoureiro da sigla, Cesar Gontijo, aliado do governador, afirma que irá propor na reunião o voto com pesos iguais. "Vou propor, sim, que filiados tenham pesos iguais. Uma prévia com todos os filiados, para retratar a vontade dos eleitores. Eu sou, dentro da executiva, um representante da militância", diz.

Dirigentes do partido afirmam, porém, que a tendência é que a versão final das regras das prévias mantenha a diferença de peso entre militantes e políticos. O último embate na executiva, sobre expulsar Aécio Neves (MG), Doria perdeu de 30 a 4.

Um tsunami se aproxima, FSP

 No dia 24 de março publicamos, neste mesmo espaço, o artigo “Salvação do SUS requer 30 dias de lockdown rígido”. Lamentavelmente, não tivemos lockdowns regionais ou nacionais em abril. Apesar dos esforços da sociedade civil, como o movimento #AbrilPelaVida, o que vivemos foi a maior tragédia da história brasileira. Foram em média 2.781 mortes diárias e 83.435 mortos apenas em abril —40% mais óbitos por Covid-19 em abril do que em março. É como se tivéssemos 7,4 aviões caindo todos os dias durante um mês inteiro.

Abril era uma tragédia anunciada, mas maio não. Em 24 de março, estimávamos que a vacinação seria capaz de reduzir os óbitos para menos de 1.000 por dia em maio. Por que esse cenário não se concretizou? São duas as explicações, que levantam preocupações para os próximos meses.

Primeiro, temos um número altíssimo de contaminados pela Covid-19, maior do que era razoável estimar em 24 de março. Tanto em abril quanto em maio, não adotamos medidas restritivas na escala necessária e reabrimos serviços não essenciais de forma precipitada em muitas localidades, sequer acompanhados de medidas de contenção, como testagem em massa e isolamento de contatos. O resultado é que nossa curva de casos demora mais a cair —e, portanto, a de óbitos também.

Segundo motivo: estamos vendo o vírus se espalhando mais rapidamente que a vacina. Além da velocidade da imunização em si, há outros fatores. Cerca de 5 milhões de brasileiros não apareceram para a segunda dose, por exemplo. Este grupo, caso esteja se sentindo protegido, incorre em erro gravíssimo, uma vez que são necessárias duas doses para alcançar a imunidade.

E a tendência é piorar antes de melhorar. Painel recém-lançado por Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e Vital Strategies, com dados de sintomas e comportamentos de usuários do Facebook, indica que um tsunami se aproxima.

Esses dados apresentaram excelente poder preditivo no passado, tendo indicado o pico de sintomas em 15 de março e, logo depois, vimos o pico de casos em 29 de março. Estes dados agora apontam que, em algumas semanas, deveremos observar um aumento ainda maior de casos e internações por Covid-19. Se imaginarmos um crescimento da mesma magnitude já observada no indicador do Facebook, chegaríamos a um valor de mais de 115 mil novos casos na média móvel de sete dias, algo sem precedentes.

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Sabemos que há uma fadiga generalizada da pandemia —entre indivíduos e governos—, mas não é hora de relaxar. Iniciativas interfederativas devem estar no horizonte imediato: testagem em massa, fechamento de atividades não essenciais, distribuição de máscaras PFF2 a grupos mais expostos, imposição de barreiras sanitárias, campanhas de comunicação. E, claro, acelerar ao máximo a vacinação.

Uma terceira onda se aproxima rapidamente. Agora estamos falando de uma pandemia que em outros países já se mostra contida, com uma ferramenta de imunização que se provou útil. Temos um sistema de saúde pública capilarizado, um Programa Nacional de Imunização que é referência mundial, a Estratégia de Saúde da Família e um grande contingente de agentes comunitários. A nossa pergunta é somente uma: quando o Brasil usará este potencial? Até agora, estamos apenas esperando o tsunami chegar.

João Abreu
Diretor-executivo da ImpulsoGov

Marco Brancher
Coordenador de dados da ImpulsoGov

Marcia Castro
Professora da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard (EUA)

Carlos Lula
Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)