domingo, 6 de dezembro de 2020

Morre aos 80 anos Tabaré Vázquez, 1º presidente de esquerda da história do Uruguai, FSP

 Sylvia Colombo

BUENOS AIRES

Morreu na madrugada deste domingo (6), de câncer no pulmão, o ex-presidente do Uruguai por dois mandatos, Tabaré Vázquez. Ele tinha 80 anos. Desde que recebera a notícia de que a doença havia se espalhado para outros órgãos, há algumas semanas, ele passou a se despedir de amigos, familiares e colegas da política.

A chegada do médico oncologista à Presidência, em 2005, representou o fim do domínio dos dois partidos mais tradicionais do Uruguai, Colorado e Blanco, hoje mais afinados com a centro-direita.

Ex-presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, morreu na madrugada deste domingo (6) - AFP

Segundo publicação no Twitter de Álvaro Vázquez, filho do ex-presidente, o líder morreu em casa, acompanhado de sua família. "Queremos agradecer a todos os uruguaios pelo amor recebido por ele ao longo de tantos anos", diz a mensagem.

A coalizão Frente Ampla também se manifestou sobre a morte nas redes sociais. "É com grande pesar que informamos a morte de nosso presidente, Tabaré Vázquez. Seu exemplo de integridade política e compromisso inabalável com nosso país e com o povo nos levará a continuar seu legado", escreveu.

Luis Lacalle Pou, atual presidente do Uruguai, lamentou a morte de Vázquez no Twitter. "Ele enfrentou sua última batalha com coragem e serenidade. Tivemos diálogos pessoal e político que valorizo ​​e me lembrarei. Ele serviu seu país e, com seu esforço, obteve importantes conquistas. Ele era o presidente dos uruguaios. O país está de luto", escreveu.

Em comunicado, a família de Vázquez disse que, por causa dos protocolos de segurança na pandemia do coronavírus, não haverá velório, apenas uma cerimônia reservada a seus filhos e netos.

Na tarde deste domingo, um cortejo fúnebre partirá da Esplanada da Administração Municipal de Montevidéu, no centro da capital, para o Cemitério La Teja, bairro do ex-presidente, onde ele será sepultado.

“Pedimos à população para nos acompanhar nesses atos por meio da cobertura jornalística”, disseram os familiares.

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Também solicitaram aos que optarem por participar da procissão que evitem multidões, mantendo o distanciamento, usando máscaras faciais e tomando todas as medidas sanitárias estabelecidas pelas autoridades competentes.

Vázquez, do Partido Socialista, integrante da Frente Ampla —aliança de centro-esquerda que inclui de sociais democratas até remanescentes dos guerrilheiros tupamaros—, foi o primeiro presidente de esquerda da história do Uruguai e responsável por implementar as políticas que tiraram o país da grave crise econômica na qual se encontrava, reflexo da crise argentina de 2000 e 2001.

Seu primeiro mandato, entre 2005 e 2010, lançou as bases de um modelo que faria com que o Uruguai tivesse crescimento sustentado do PIB por 15 anos. Além de se beneficiar do "boom das commodities", o governo de Vázquez fez investimentos em infraestrutura, energia renovável, serviços e turismo.

Foi sucedido por José "Pepe" Mujica, que, por sua vez, levou adiante o plano de modernização do país, com legislações que garantiram direitos civis. Vázquez, porém, era diferente do sucessor em muitos aspectos.

Enquanto o primeiro se esforçou para que a lei de anistia fosse derrubada, e julgamentos relacionados à repressão no regime militar (1973-1985), realizados, Mujica foi contra. Já "Pepe" liderou a aprovação das legislações pró-aborto e da regulamentação de produção e venda de maconha.

Vázquez, médico e católico, era contra ambas as pautas. Uma vez aprovadas pelo Congresso, no entanto, não trabalhou para revogá-las. Ao contrário, garantiu que as regras fossem aplicadas. "Sou um legalista", dizia ele a quem perguntava a ele se a postura não era uma contradição.

Em seus mandatos, houve elevado gasto social acompanhado de alta nos impostos, o que causou certa insatisfação. Na segunda gestão, entre 2015 e 2020, seus níveis de popularidade caíram, embora tenha terminado a primeira com mais de 80% de aprovação popular.

Com a Frente Ampla, o Uruguai se abriu mais a investimentos estrangeiros e, com seus principais parceiros, Brasil e Argentina, em crise, diversificou os sócios comerciais. Passou a exportar matérias-primas em maior volume a países asiáticos.

Entre 2001 e 2018, as exportações do Uruguai para os dois vizinhos caíram de 37% a 19%.

No final do segundo mandato de Vázquez, 65% da população do Uruguai fazia parte da classe média. A pobreza caiu de 32,5% da população em 2005 para 8% em 2019, de acordo com dados do governo.

Vázquez nasceu e cresceu no bairro portuário de La Teja, de classe média baixa, e era torcedor do Progreso, clube local de futebol no qual seu avô jogou e do qual seria presidente entre 1979 e 1989.

Durante uma visita realizada pela Folha ao bairro, às vésperas das eleições de 2014, vizinhos afirmavam que ele ainda visitava a região e os amigos de infância. Ali foi, inclusive, seu endereço eleitoral, e a cada pleito, após votar no clube Arbolito, visitava uma de suas irmãs, que vivia ao lado.

O ex-presidente era o quarto filho de um trabalhador da indústria do petróleo. Bom aluno, ganhou uma bolsa para estudar medicina em Paris. Tornar-se oncologista, dizia ele, era um desejo, já que o câncer matou seus pais. Durante o primeiro mandato, tentou manter a rotina no consultório, um dos mais procurados do Uruguai, e o fez durante um período, até que as tarefas presidenciais o impediram.

No cargo, levou adiante várias campanhas contra o tabaco e chegou a falar, em uma de suas intervenções na reunião anual da ONU, sobre os males dos cigarros. Era uma de suas principais bandeiras. Uma trágica ironia que, mesmo sem nunca ter fumado, seria vítima de um câncer no pulmão.

Vázquez foi casado com María Auxiliadora Delgado, com quem teve cinco filhos, um deles adotado. A morte da esposa, no ano passado, deixou-o muito abalado.

O líder uruguaio valorizava muito a institucionalidade. Já doente e bastante debilitado, votou nas últimas eleições e declarou que "tudo o que queria era sobreviver para poder passar a faixa ao sucessor".

Tratou o adversário da Frente Ampla no pleito, Lacalle Pou, com bastante cordialidade, e a transição foi respeitosa e tranquila. Os dois chegaram a viajar juntos para a posse do argentino Alberto Fernández, realizada antes de Lacalle Pou assumir o cargo. Vázquez caminhava com dificuldade, apoiado no então presidente eleito. O atual presidente, por sua vez, tratou o antecessor com enorme respeito no dia em que chegou formalmente à Presidência, em março de 2020.

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Elio Gaspari Vacinação começa em janeiro em SP, a menos que Pazuello e Bolsonaro queiram atrapalhar, FSP

 5.dez.2020 às 23h15

Madame Natasha não perde entrevistas do general Eduardo Pazuello e admira os momentos em que ele fica calado. Outro dia, falando a parlamentares, o ministro da Saúde incomodou a senhora quando disse coisas assim:

“Se o processo eleitoral nas cidades, com todas as aglomerações e eventos, não causa nenhum tipo de aumento da contaminação, então não falem mais em afastamento social.”

O ministro da Saúde Eduardo Pazuello participa de cerimônia no auditório do Ministério da Saúde - Pedro Ladeira/Folhapress

“Precisamos compreender de uma vez por todas que nós só aplicaremos vacinas no Brasil registradas na Anvisa.”

Com décadas de serviço nos quartéis, o general Pazuello aprendeu a falar como comandante. Como ministro da Saúde deveria aprender que não manda nas suas audiências. Dizer a quem quer que seja que não deve mais falar em afastamento social é uma indelicadeza, se não for uma bobagem. Quando ele diz que “precisamos compreender de uma vez por todas” que o governo só patrocinará vacinas aprovadas pela Anvisa, diz uma platitude. O problema é outro: Cadê a vacina federal?

Natasha recomenda gentilmente ao general entender que seu desempenho terá uma avaliação cronológica. A vacina chegará a diversos países em janeiro, inclusive à Inglaterra e ao México, cujos governos foram negacionistas. Pazuello não sabe precisar o mês do início da vacinação no Brasil e acha razoável que metade da população de Pindorama só consiga ser imunizada no segundo semestre do ano que vem. Em São Paulo a vacinação vai começar em janeiro, a menos que Pazuello e Bolsonaro queiram atrapalhar, metendo-se numa ridícula Revolta da Vacina 2.0. Quando Natasha era uma mocinha e os generais se metiam onde não deviam, ela teve que ir a Montevideo para ver o filme “Último Tango em Paris”. (Achou-o muito chato.)

Natasha morre de medo de ter que viajar ao exterior para ser vacinada.

KERRY E OS AGROTROGLODITAS

A nomeação do ex-senador John Kerry para a posição de czar da política de meio ambiente do governo de Joe Biden deve acender um sinal de alerta no Planalto.

Ex-secretário de Estado, Kerry não conhece agrotrogloditas, mas tem boas relações com alguns ambientalistas brasileiros.

Seria útil que os çábios do bolsonarismo parassem de pressionar empresas multinacionais que pararam de comprar soja plantada em áreas de conflito ambiental. As filiais comunicam essas pressões às suas matrizes.