sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Empresas ameaçam ir à Justiça contra novo marco do setor de gás. FSP


Vanderlei Almeida - 25.mar.2010/AFP
ORG XMIT: 013001_1.tif Operário em terminal de gás da Petrobras instalado em Itabuna (BA), integrante do Gasene (Gasoduto Sudeste-Nordeste). *** A technician of the Brazilian state oil company Petrobras works on a machine at the station of the GASENE natural gas pipeline (Southeast Northeast Interconnection Gas Pipeline) in Itabuna, Bahia, in northeastern Brazil, on March 25, 2010. The terminal, which receives gas from Bolivia and southeastern Brazil, and will distribute the fuel source to the northeastern regions of Brazil, will be inaugurated on March 26 by President Luiz Inacio Lula da Silva. AFP PHOTO/VANDERLEI ALMEIDA
Operário em terminal de gás da Petrobras em Itabuna (BA), parte do Gasoduto Sudeste-Nordeste
Depois de mais de um ano de negociações, o governo concluiu o texto do novo marco do setor de gás natural e trabalha para aprovar as mudanças no Congresso até o fim do ano. O resultado, porém, desagradou parte das empresas do setor, que ameaçam ir à Justiça.
A possibilidade de conflito é admitida pela própria ANP (agência regulatória do setor). Em entrevista após sua posse nesta quinta (19), o diretor da agência Cesário Cecchi, especialista no setor, disse ver "potencial de judicialização um pouco elevado".
As críticas são mais fortes entre as distribuidoras estaduais de gás canalizado, uma vez que o texto transfere para a ANP a atribuição de regular o mercado livre de gás natural, hoje nas mãos dos Estados. O segmento tem o poder de mobilizar bancadas contra a proposta.
A revisão do marco regulatório é parte de uma série de mudanças legislativas propostas pelo Ministério de Minas e Energia desde o início do governo Temer e tem como objetivo adequar as regras à redução da presença da Petrobras no setor.
O novo marco vai substituir a Lei do Gás, aprovada em 2009. O ministério defende que as mudanças vão garantir a atração de investidores privados para o setor e prevê investimentos de R$ 50 bilhões até 2030.
O texto, ao qual a Folha teve acesso, foi apresentado ao setor na segunda (16). O relator do projeto de lei será o deputado Marcus Vicente (PP-ES), que estipulou o dia 25 de outubro como prazo final para contribuições do mercado.
O projeto altera o modelo de contratos de compra e venda de gás natural no país, para permitir que uma empresa retire o combustível em qualquer ponto do país, independente do ponto de entrada. Dessa forma, produtores de gás no Rio, por exemplo, podem vender o produto no Sul ou no Nordeste.
É um modelo semelhante ao do setor elétrico, no qual a diversidade de vendedores e compradores é maior. No gás, até agora, a Petrobras é a única vendedora.
O governo desistiu de criar um operador nacional do mercado de gás, nos moldes do setor elétrico, optando pela implantação de gestores regionais dos gasodutos.
A avaliação é que, durante um período de transição, os três grandes operadores de gasodutos do país terão condições de cumprir o papel.
O projeto de lei define ainda a atividade de estocagem de gás em reservatórios de petróleo abandonados, que funcionariam como os lagos das hidrelétricas, para regular o mercado em tempos de maior consumo para suprir eventuais problemas na produção ou importação.
Para as distribuidoras de gás canalizado, porém, o projeto é inconstitucional. "Em todos os mercados que foram abertos no mundo, os governos estipularam um período de transição", argumenta Augusto Salomon, presidente da Abegás, associação que reúne as empresas do setor.
As empresas alegam ainda que o texto pode aumentar os preços do gás, ao permitir que grandes clientes paguem tarifas menores pelo uso de dutos dedicados, ao invés de compartilhar os custos da rede com outros consumidores.
Produtores de gás, incluindo a Petrobras, e empresas interessadas em chegar ao mercado brasileiro, porém, estão de acordo com a proposta.
"Tem alguns pontos para serem ajustados, mas, no geral, é o consenso do mercado", afirmou Emmanuel Delfosse, diretor de gás da francesa Engie, apontada como interessada em ativos de transporte e distribuição de gás no país. 

Desconfiança nos políticos aumenta, diz pesquisa Ipsos




Entre as nove instituições avaliadas, apenas as Forças Armadas e a PF obtiveram índices de confiança maior do que o de desconfiança




Marianna Holanda , O Estado de S.Paulo
20 Outubro 2017 | 05h00
A um ano das eleições, os políticos continuam no patamar mais alto de desconfiança entre os brasileiros, segundo levantamento mais recente do Ipsos. De acordo com o estudo, 93% não confiam nos políticos em geral e 90% não confiam no presidente da República. Ao mesmo tempo, as instituições mais confiáveis para os entrevistados são as Forças Armadas (66%) e a Polícia Federal (64%). 
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 19, no lançamento de uma publicação do Ipsos intitulada Brasil 2018: Caiu a Máscara. Para o levantamento, foram entrevistados 1,2 mil pessoas, em 72 municípios, entre os dias 1.º e 14 de julho deste ano. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos porcentuais.

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O cientista social Danilo Cersosimo é diretor da Ipsos Public Affairs Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADÃO
O estudo apontou que 86% dos entrevistados disseram concordar, parcialmente ou totalmente, com a frase: “Os partidos e políticos tradicionais não se preocupam com pessoas como eu”. “Há uma desconfiança generalizada nas instituições em um contexto de crise econômica e vácuo de lideranças”, explicou Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs.
Ele avaliou que a maioria dos entrevistados considera que os militares e os policiais federais são os personagens que vão resolver os problemas sem grandes rituais. “Em um momento de crise moral no País, são as forças armadas e a polícia que têm esse capital de imagem do ponto de vista de serem instituições intocáveis, mais puras”, afirmou. 
Líderes da confiança dos brasileiros, as Forças Armadas e a PF, também, representam, para os entrevistados, o “moralismo e conservadorismo”, observou o diretor da Ipsos Public Affairs. “As pessoas as apoiam por isso, porque acham que elas podem corrigir o sistema falido”, afirmou Cersosimo.
Entre as nove instituições avaliadas, apenas as Forças Armadas e a PF obtiveram índices de confiança maior do que o de desconfiança. Em relação às demais – Polícia Militar, Ministério Público, Supremo Tribunal Federal, Justiça, Congresso, presidente da República e políticos em geral – mais de 50% dos entrevistados disseram não confiar. “A confiança foi sendo perdida por etapas. Primeiro, naqueles que representam, depois na Justiça. O entendimento é de que a Justiça não é para todos, é lenta e não é para o pobre”, disse Cersosimo.
Intervenção. O diretor ressaltou, contudo, que o alto índice de confiança nas Forças Armadas não necessariamente significa apoio a uma intervenção militar. “Não foi essa a pergunta feita (sobre intervenção). Mas, apesar de não ter números neste momento, acredito que é uma pequena parcela desse total”, disse.
Ao Estado, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, avaliou que os pedidos de intervenção militar surgem a partir da perda de credibilidade da política representativa. “A política tradicional, representativa e democrática, está em declínio, então aumentam as outras expectativas”, disse o ministro. 
“Intervenção militar para quê? Para resolver o problema da Previdência? Dos juros? O desemprego? E a corrupção? Ela está sendo enfrentada. Você tem empresários na cadeia, ex-ministros, deputado, todos estão tendo de acertar contas com a Justiça”, afirmou Jungmann.
Revolta. Os brasileiros que vão às urnas no próximo ano escolher presidente da República, governadores de Estado, senadores e deputados federais e estaduais estão de mau humor. Segundo a pesquisa, o eleitor vê com revolta (34%) e preocupação (56%) o futuro do País. 
A mesma pergunta foi feita em agosto do ano passado, no mês em que o Senado confirmou o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff. À época, os sentimentos que prevaleciam eram os mesmos, mas, enquanto a preocupação continuou estável (à época era de 55%), a revolta aumentou 14 pontos porcentuais.
Além disso, o otimismo em relação ao futuro caiu de 14% para 6% após o presidente Michel Temer assumir o Palácio do Planalto. Apesar de não ter sido avaliado nesta pesquisa, em um estudo divulgado pelo Ipsos em setembro, o peemedebista tinha 94% de rejeição.
“Se isso (o sentimento de revolta e preocupação) não arrefecer nos próximos meses, é a tempestade perfeita para um discurso mais reacionário e extremista”, afirmou o diretor da Ipsos Public Affairs.
Líder forte. Outra conclusão do estudo é de que os brasileiros têm uma “carência” por um líder forte. Entre os entrevistados na pesquisa, 90% disseram concordar, total ou parcialmente, com a seguinte afirmação: “Para consertar o Brasil, precisamos de um líder forte disposto a infringir as regras”. / COLABOROU VITOR MARQUES 

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

José Roberto de Toledo- Democracia em queda- OESP

No outono deste ano, o Brasil já era o 38.º entre 38 dos maiores países do mundo cuja população tinha menos entusiasmo pela democracia representativa. Só 8% dos brasileiros diziam à época que um governo formado por representantes eleitos era “muito bom”. Isso foi antes da delação da JBS e seus grampos escandalosos, antes de a Câmara rejeitar a denúncia que permitiria investigar Temer e antes de o Senado safar Aécio.
A pesquisa sobre o apoio à democracia no mundo foi comandada pelo “fact tank” norte-americano Pew Research Center. No Brasil, as entrevistas foram feitas pelo Ibope, que aplicou o mesmo questionário e metodologia empregados nos outros 37 países. A divulgação mundial foi esta semana e, por comparação, a democracia brasileira saiu mal na foto. Bem desaprumada.
Nos EUA, mesmo sob Trump, 48% consideram a democracia representativa como uma forma de governo “muito boa”. Na Alemanha, 46%. Na Índia, 44%. Na Argentina, 32%. No Brasil, 8%. Não é que a maioria dos brasileiros desaprove a democracia representativa: outros 51% acham-na “um tanto boa”. Na soma, as avaliações positivas chegam a uma maioria absoluta de 59%. 
Mesmo assim, o Brasil fica apenas em 33.º lugar nesse ranking. Empata, na margem de erro, com México, Chile e Peru, e só fica à frente mesmo de Colômbia e Tunísia. Em comparação à média mundial (78% de avaliações positivas), os brasileiros ficaram 19 pontos abaixo no apoio a um governo por representantes eleitos, e praticamente se equipararam à média latino-americana (58%).
Isso significa que o Brasil prefere governos autoritários? Não. A taxa de avaliações positivas ao governo de um caudilho ou a uma ditadura militar são inferiores às do governo democrático.
Uma parcela bem menor de brasileiros, 27%, avaliou como positivo um governo conduzido por um líder forte sem a influência do Congresso ou dos tribunais. O resultado coloca o Brasil praticamente na média mundial (26%) do caudilhismo.
A hipótese de um governo comandado pelos militares, porém, tem apoio mais alto do que na média dos outros países pesquisados: 31% dos brasileiros consideram essa uma forma de governo “um tanto boa”, e 7%, “muito boa”, num total de 38% de opiniões positivas, contra 55% de opiniões negativas. Os 38% simpáticos ao governo militar estão 14 pontos acima da média global e colocam o Brasil em 12.º lugar no ranking do militarismo.
É um resultado a se prestar muita atenção a um ano de uma eleição presidencial que tem um militar reformado e defensor da ditadura em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
O estudo do Pew Research dá pistas de por que o apoio a governos autoritários está crescendo no Brasil. O principal deles é a rápida deterioração da opinião dos brasileiros sobre como a democracia está funcionando no País. Nada menos do que 66%, ou dois em cada três brasileiros, dizem que estão muito (10%) ou um tanto insatisfeitos (56%). E esse é um fenômeno recente. 
No outono de 2013, antes das manifestações de junho, apenas 28% dos brasileiros se diziam pouco ou muito insatisfeitos com a maneira como a democracia estava funcionando no País. É sinal de que não se trata de uma reprovação ao sistema democrático em si, mas a como ele vem sendo manipulado pela classe política.
Diante desse diagnóstico, episódios como a submissão do Supremo Tribunal Federal à vontade política dos senadores tendem a aprofundar a crise de representatividade que faz a população questionar o funcionamento da democracia no Brasil. Aquilo que hoje parece uma vitória para os políticos em geral é, de fato, um tiro no pé de uma classe que depende do voto para existir.
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