segunda-feira, 21 de abril de 2014

Lazer para jovem é gratuito, em casa ou ao ar livre


Pesquisa obtida pelo 'Estado' mostra que eles gostam de parques e shoppings e vão pouco a teatro e cinema; principal desejo é viajar

20 de abril de 2014 | 2h 02

Rafael Moraes Moura - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Pesquisa da Secretaria-Geral da Presidência da República, obtida com exclusividade pelo Estado, aponta que as atividades de lazer e cultura mais populares entre os jovens de 15 a 29 anos são aquelas que não envolvem custos, como passeios em parques ou shoppings, idas a festas em casa de conhecidos e comparecimento a missas e cultos religiosos. Cinema, teatro e espetáculo musical são passeios realizados em proporção muito menor.
Joana D´arc, como maioria dos jovens, gostaria de viajar; hoje vai mais no parque - Márcio Fernandes / Estadão
Márcio Fernandes / Estadão
Joana D´arc, como maioria dos jovens, gostaria de viajar; hoje vai mais no parque
A forma mais popular de lazer fora de casa é o passeio em parques e praças - atividade realizada por 61% dos entrevistados. Logo depois, aparecem festas na casa de amigos (55%), seguidas por missas ou cultos religiosos (54%), bar com amigos (41%) e passeios em shopping centers (40%). Apenas 19% dos jovens afirmaram ter frequentado cinema nos 30 dias anteriores à pesquisa, índice que despenca para 4% quando se trata de ida ao teatro.
Em relação à frequência em atividades de lazer e cultura pelo menos uma vez na vida, os dados são igualmente alarmantes: 84% dos jovens brasileiros nunca compareceram a um concerto de música clássica, 65% jamais foram ao teatro e 59% nunca estiveram em uma biblioteca fora da escola.
Nos fins de semana, 79% dos jovens realizam atividades de lazer fora de casa, índice significativamente superior ao daqueles que optam por fazer algo em casa (44%), por praticar esportes (22%), por visitar parentes (14%) e por atividades religiosas (11%).
Foram ouvidos no ano passado 1.100 jovens de todos os estratos sociais para a pesquisa, cuja margem de erro é de 3 pontos porcentuais. O objetivo do estudo da Secretaria-Geral da Presidência é fornecer subsídio ao governo federal para implementar políticas públicas de juventude.
"Os jovens têm muita vontade de passear e fazem aquilo que não custa nada como forma de se divertir nos fins de semana, alargar os horizontes e viver experiências que os tirem do universo mais restrito da casa", diz a socióloga Helena Wendel Abramo, coordenadora de Políticas Setoriais da Secretaria Nacional de Juventude, da Secretaria-Geral.
Cinema. A atividade com maior disparidade entre os grupos sociais é o cinema, observa a socióloga. Entre o segmento mais pobre, 49% dos jovens já foram a uma sala de cinema, índice que sobe para 78% no universo de jovens de classe média e para 93% entre os mais ricos.
A pesquisa considera a renda per capita para definir a faixa em que o jovem se encontra: os mais pobres têm renda familiar per capita de até R$ 290 mensais; classe média de R$ 290 a R$ 1.018; e os mais ricos, acima deste valor.
Os pesquisadores também questionaram os jovens sobre o que gostariam de fazer nas horas livres, caso não tivessem de se preocupar com tempo nem com dinheiro. Para 59% dos entrevistados, a resposta - espontânea e única - foi "viajar", mais do que o dobro (26%) daqueles que optaram por atividades de lazer e entretenimento. No entanto, para 61% dos jovens, a falta de dinheiro é a razão que os impedem de fazer o que gostariam.
Limitações. Moradora de Pirituba, na zona norte de São Paulo, a estudante de Publicidade Joana D'arc da Silva, de 18 anos, é exemplo desses jovens que gostariam de visitar novos lugares. "Adoraria ir para Inglaterra, Estados Unidos ou Canadá", disse a universitária. Enquanto falta tempo e dinheiro para realizar seus sonhos, ela costuma sempre frequentar o Parque Villa-Lobos, na zona oeste, como um dos destinos preferidos para curtir momentos de lazer.
Anteontem, ela estava acompanhada da mãe e de uma amiga da faculdade. Estenderam uma toalha na grama do parque e aproveitaram o dia de céu aberto. "Sempre que dá, eu venho com meus amigos ou com a minha família. A gente fica na sombra, dando risada. É muito bom", disse Joana.
De noite, a atividade de lazer mais frequente da estudante é a reunião de amigos na própria casa, que ficou carinhosamente conhecida como a "casa da mãe da Joana". Sua mãe, Rosângela Dorini, fotógrafa e maquiadora, de 39 anos, aprova as "festinhas" dos amigos da filha. "Sempre fiz questão de que eles estivessem na minha casa. É uma forma de estar a par e participar da vida dos filhos", disse.
Joana também gosta de teatro e cinema, mas, ultimamente, não tem ido muito. "Cinema acaba sendo bem caro porque você sempre quer comer alguma coisa depois, ou seja, não é só o filme em si."
A estudante de Publicidade faz parte de uma minoria de jovens que já foi ao teatro, a exposições de fotografia e a concertos de música clássica, mas nunca viu, por exemplo, um jogo de futebol no estádio. "Eu não curto muito futebol", explica. / COLABOROU LAURA MAIA DE CASTRO

Anatomia de uma maracutaia - ELIO GASPARI


FOLHA DE SP - 20/04
Os planos de saúde queriam o céu: descumpririam o que contrataram e a multa de R$ 4.000 sairia por R$ 40

A doutora Dilma Rousseff ganhou um presente. A Câmara e o Senado puseram a bola na marca do pênalti, para que ela vete o dispositivo da medida provisória 627, que alivia as multas devidas pelos planos de saúde que negam aos clientes o atendimento contratado. Enfiaram num texto que tratava de outros assuntos uma nova sistemática para a cobranças dessas penalidades. É o Pró-Delinquente. Se uma operadora nega ao freguês um procedimento médico, ele se queixa à Agência Nacional de Saúde e tem seu direito reconhecido, a empresa deve pagar uma multa de R$ 2.000. Se essa mesma empresa nega dez procedimentos, pagará R$ 20 mil. Com a mudança, se o plano de saúde negar de 2 a 50 procedimentos, pagará duas multas (R$ 4.000, em vez de até R$ 100 mil). Daí em diante, haverá uma escala. Quanto pior o serviço da operadora, menor será a multa. A empresa que estivesse espetada com mais de mil multas, pagaria apenas o equivalente a 20. Incentivando a infração, se um plano nega dois procedimentos, paga R$ 4.000. Se nega mil procedimentos, paga R$ 40 por infração.

O Pró-Delinquente foi um dos 523 contrabandos enfiados na MP 627. Como emenda parlamentar não é o vírus da gripe, que vem no ar, alguém a pôs no texto. O relator da medida provisória foi o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele chegou a defender o dispositivo durante a votação pela Câmara. Dias depois, recuou, explicando-se: a mágica foi discutida com os ministérios da Saúde e da Fazenda, bem como com a Casa Civil da Presidência. Como esses prédios não falam, faltou dizer com quem discutiu o assunto. Além de Cunha, o relator da MP, não há registro de outro parlamentar patrocinando a iniciativa.

A mágica foi aprovada na Câmara com o beneplácito das lideranças do governo e da oposição. Remetida ao Senado, aconteceu a mesma coisa. Tantos são os interesses embutidos na MP que os senadores preferiram apressar a tramitação, esperando que a doutora Dilma vete o Pró-Delinquente.

Criou-se um novo absurdo. Os senadores abdicaram da prerrogativa republicana do consentimento. Se o Senado aprova um projeto esperando que o Executivo vete a maluquice, fica a pergunta: para que serve o Senado, cujos doutores têm assistência médica gratuita?

Quando a doutora Dilma vetar o Pró-Delinquente (se vetar) ficará no heroico papel de defensora da Viúva, dos pobres e dos oprimidos, mesmo sabendo-se que seu governo e sua base aliada permitiram que o contrabando fosse colocado na medida provisória e aprovado no Congresso.

A PIOR TACADA

A Comissão de Valores Mobiliários encaminhou à Polícia Federal o inquérito que trata de tráfico de informações com operações das empresas de Eike Batista nas Bolsas de Valores.

Quando a OGX parecia ser uma fábrica de milionários, Eike, o homem mais rico do Brasil, foi a um jantar em Miami, na casa do milionário Jeffrey Soffer, marido da modelo Elle MacPherson. Lá, conversando com Alex Rodriguez, que estava com sua mulher, Cameron Diaz, disse-lhe que nos próximos dias sua empresa anunciaria fantásticas descobertas de petróleo. Alex, o melhor jogador de beisebol dos dias de hoje, sacou o telefone, foi para um canto e conversou com seu corretor.

Trouxe de volta o recado do operador: "Ele disse para eu

esquecer essa história e não voltar a mencioná-la, porque se o fizesse, iríamos os dois para a cadeia".

Grande corretor. Alex Rodriguez esteve a um passo da pior tacada de sua vida. Cada dólar que tivesse posto na OGX valeria hoje um centavo.

PT

Pela primeira vez desde 2005, quando surgiu o escândalo do mensalão, o PT enfrenta uma divisão perigosa.

De um lado, a turma do "partir para cima", defendendo qualquer companheiro, em qualquer situação, liderada pelo deputado Cândido Vaccarezza. De outro, o grupo que prefere jogar alguma carga ao mar. Nele, fica o presidente do partido, Rui Falcão.

Falta pouco para que se possa dizer que a nação petista tem dois blocos: um com alguma ideologia e algum fisiologismo; outro, só com fisiologismo.

ARITMÉTICA

As últimas pesquisas são insuficientes para que se preveja o resultado da próxima eleição, mas uma mesma conclusão atravessa todos os números: o PT está sem puxador de votos.

Um mau desempenho da doutora Dilma afetará todo o partido.

*COBRAS DA PF *

O andar de cima da Polícia Federal, como o Itamaraty, é um ninho de cobras que alimentam inconfidências sobre promoções e remoções.

O último assunto desse ofidiário são as transferências ocorridas nos quadros da Polícia Federal do Paraná, onde rolam as investigações sobre as atividades do doleiro Alberto Youssef e suas conexões no triângulo dos três pês: PT, PP e Petrobras.

TROPA NA COPA

O Planalto está com transtorno bipolar quando lida com a Copa. Como diria a doutora Dilma, "no que se refere" aos seus discursos, ela anuncia que não vai tolerar desordens e que as Forças Armadas serão mobilizadas para garantir a ordem. Conversa de comissário de polícia.

No que se refere à marquetagem, contrata agências de publicidade para adocicar o evento.

Presidente zangado, o Brasil já teve um, o general João Figueiredo (1979-1985). Deu no que deu.

*GARCÍA MÁRQUEZ *

Para a memória de Gabriel García Márquez:

Havia um jantar em Havana e Fidel Castro, um retardatário imperial e compulsivo, chegou atrasado. Faltava Gabriel García Márquez. Quando ele chegou, o Comandante alfinetou-o:

-As pessoas mais importantes sempre são as últimas a chegar.

-Por isso, e também porque vim de longe. Respondeu o escritor.

UMA LIÇÃO QUE VEM DA CHINA

O doutor Eduardo Cunha, relator da MP 627, fez uma breve "villegiatura" pela China. Teve a oportunidade de conhecer a inovação que o presidente Xi Jinping introduziu na política do Império do Meio. Convivendo numa cleptocracia na qual há espertalhões amigos e inimigos, ele parece ter mudado o padrão de combate aos larápios. Há dois anos ele afastou o czar da segurança chinesa (Zhou Yongkang, mas não adianta tentar memorizar esse nome). Desde então, dedica-se a desmantelar seu aparelho. Na semana passada, prendeu pelo menos dois mandarins, mas a novidade está em outra ponta. Em vez de sair prendendo, o companheiro avança sobre o patrimônio dos comissários. Com todas as ressalvas que devem acompanhar detalhes da política interna chinesa, já teriam sido confiscados US$ 14,5 bilhões de 300 amigos e protegidos do comissário. Antes de ir para o aparelho de segurança, ele fez fama na burocracia do petróleo. Condenar ladrão a viver como pobre talvez seja mais prático do que mantê-lo na cadeia.

PETROBRÁS: A CASA DO ESPANTO