sábado, 12 de abril de 2014

Starbucks alega inviabilidade econômica para deixar de reciclar copo de papel


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Copos da Starbucks são revestidos em plástico para evitar que vazem, e esse plástico deve ser removido antes de poder transformar os copos em papel novo
Foto: SeongJoon Cho/Bloomberg
Quando você joga fora aquele copo de papel branco usado na lixeira do lado da porta de um Starbucks, você fez sua parte para salvar o planeta? Durante muito tempo, a Starbucks esperou que você pensasse assim.
Afinal de contas, não há melhor forma de atrair uma clientela próspera e com consciência ecológica do que convencer os clientes de que seu produto descartável é “renovável”. Então, em 2008 a empresa de café anunciou que até 2015 ofereceria reciclagem em todas as divisões operadas por ela.
Parecia o mínimo que a Starbucks – que vende 4 bilhões de copos descartáveis por ano – podia fazer. O gigante do café possui os meios financeiros para instalar lixeiras de reciclagem com chapas de metal dourado em todas as suas lojas se quiser.
Contudo, na semana passada, a Starbucks disse no seu Relatório de Responsabilidade Global de 2013 que não cumpriria com suas metas de reciclagem em 2015 – se é que alguma vez conseguirá. Aliás, a cinco anos do começo do programa, a empresa tinha conseguido implementar a reciclagem para clientes em somente 39 por cento das lojas operadas por ela.
O melhor resultado poderia ser a discussão iniciada inadvertidamente pela Starbucks quando desistiu da possibilidade de reciclar em todas as suas lojas.
O que deu errado? O fracasso é menos pela falta de compromisso da Starbucks do que pela crença quase totêmica de que simplesmente porque algo pode ser reciclado isso significa que pode ser reciclado economicamente. Em outras palavras: boas intenções não transformam copos usados da Starbucks em novos – são as intenções de lucro que fazem isso. E por enquanto, não há dinheiro nisso.
Primeiro, os copos da Starbucks são revestidos em plástico para evitar que vazem, e esse plástico deve ser removido antes de poder transformar os copos em papel novo. Na verdade, há tecnologia para remover esse revestimento. Mas os recicladores só se incomodarão se tiverem suficientes copos para justificarem a realização do processo de forma regular.
Paradoxalmente, o problema é que os clientes da Starbucks não jogam fora suficientes copos para tornar a reciclagem uma opção viável. Em 2010, por exemplo, a Starbucks iniciou um programa piloto no qual compilou três toneladas de copos de 170 lojas na área de Toronto e as enviou para reciclagem nos EUA.
Esse volume – três toneladas! – pode até parecer muito, mas na verdade equivale a uma fatia das 51,5 milhões de toneladas de papel e papelão reciclável recuperados nos EUA naquele ano.
Quantidade insuficiente
John Mulcahy, vice-presidente de estratégia e efetividade de categorias na Georgia-Pacific LLC, com sede em Atlanta, disse ao jornal Boston Globe em 2011 que o papel em todos os copos da Starbucks usados em um ano equivale a menos de uma semana de produção em uma das usinas de papel da sua empresa.
Para uma empresa como a Georgia-Pacific, reciclar copos da Starbucks não é negócio; é um projeto em teste que vale a pena fazer por relações públicas, e talvez para o dia em que a Starbucks e outros restaurantes juntarem seus copos de papel de uma forma que os torne atrativos como perspectiva comercial.
É claro, há um valor simbólico em um copo reciclado da Starbucks, e é por isso que a empresa se preocupa tanto com essa questão. Mas se, como parece provável, não estiver disponível uma solução econômica para a reciclagem, o que a Starbucks deveria fazer com todos esses copos brancos?
Meta em xeque
A adubação mantém os copos fora dos aterros, mas gera gases estufa e destrói o valor de reciclagem contido nas fibras do copo. Os copos reutilizáveis são uma ideia legal, mas uma que os consumidores simplesmente não aceitam. Em 2008, por exemplo, a companhia estabeleceu a meta de servir 25 por cento de todas as bebidas em copos pessoais e reutilizáveis até 2015.
Em 2011, ela serviu somente 1,9 por cento em copos pessoais, e reduziu a meta para 2015 até 5 por cento, apesar de disponibilizar de copos de baixo custo (que têm seus próprios problemas de reciclagem).
Na verdade, o melhor resultado poderia ser a discussão iniciada inadvertidamente pela Starbucks quando desistiu da possibilidade de reciclar em todas as suas lojas.
“A reciclagem parece uma iniciativa simples e direta”, admitiu a empresa em um comunicado publicado na quarta-feira passada. “Mas na verdade é muito desafiador”. Se for possível fazer com que os consumidores entendam como a companhia chegou a esse entendimento humilhante, então talvez eles possam parar de comprar e jogar fora tantos copos de papel.
(Via Bloomberg)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Sabemos o que fazer, mas quase nada fazemos


11 de abril de 2014 | 2h 06

WASHINGTON NOVAES - O Estado de S.Paulo
Só pode ser bem-vinda a notícia de que o Departamento de Zoneamento Territorial do Ministério do Meio Ambiente está preparando um diagnóstico para o Cerrado e uma proposta de estratégia para esse bioma (Ministério do Meio Ambiente, 31/3). O Cerrado já perdeu mais de 50% de sua vegetação e, segundo estimativa de estudiosos, mais de metade da água acumulada no subsolo e que gera 14% dos fluxos para as três grandes bacias nacionais - a amazônica, a do Paraná e a do São Francisco. E pode perder mais, dizem técnicos, com a expansão da fronteira agropecuária, pressionada pela maior exportação de commodities, pelo aumento do consumo interno e pela expansão dos agrocombustíveis. Tudo isso resulta em ampliação do uso da terra e das taxas de desmatamento.
Pela mesma razão, é preciso que a sociedade esteja atenta para o que acontecerá no Senado na discussão de parecer do senador Blairo Maggi ao projeto de lei da Política de Gestão e Proteção do Bioma Pantanal - outra área já diante de agressões em curso e da possibilidade de que se permita ali a substituição de áreas preservadas por pastagens cultivadas, da possível supressão de reservas legais e dos efeitos danosos sobre os recursos hídricos. O Pantanal é um privilégio brasileiro, fundamental para o clima e a conservação da biodiversidade.
O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado há poucos dias (Estado, 30/3), alerta exatamente para a vulnerabilidade de espécies terrestres e aquáticas, o risco de que tenham de migrar ou se extingam diante dos impactos do clima. E menciona especificamente a Amazônia brasileira, mas não apenas ela, embora lembre que no espaço amazônico estão estocados 90 bilhões de toneladas de carbono (na seca de 2005 foram liberados 5 bilhões de toneladas).
Outros estudos estão apontando para os impactos do clima nas populações de polinizadores, principalmente abelhas, das quais depende cerca de 10% da produção agrícola mundial, perto de US$ 212 bilhões anuais (30/3). Os polinizadores estão sendo afetados principalmente pelas mudanças no uso da terra, secas, inundações. Áreas particularmente atingidas são as de produção de verduras e frutas. E a perda da biodiversidade originária - estudo da Natura (17/3) - pode ser muito problemática, já que um hectare de palmeiras de dendê produz 200% mais óleo de palma do que um hectare de sistema agroflorestal. No mundo todo, afirma o economista indiano Pavan Sukhdev, o custo da perda da biodiversidade pode chegar a US$ 4,5 trilhões por ano.
Os dramas do clima e cenários soturnos não são para o fim do século, estão acontecendo agora em todos os continentes e oceanos - lembra texto de Giovana Girardi neste jornal (29/3). E podem desacelerar o crescimento econômico, dificultar a redução da pobreza e a segurança alimentar. O cientista José A. Marengo enfatiza a necessidade de correr com programas de adaptação - mas deixando claro que não há uma fórmula única, depende de cada lugar, de seus problemas e possibilidades específicas. Todavia já são evidentes os riscos de savanização de várias áreas.
O conservador e prudente jornal britânico The Guardian chega a discorrer sobre estudo do Centro Espacial Goddard, da Nasa, segundo o qual "a civilização industrial global pode entrar em colapso nas próximas décadas" por causa do "consumo insustentável de recursos e da distribuição desigual da renda" - cada vez maior. Não seria a primeira vez na História do mundo, observa o jornal, citando o desaparecimento de civilizações como as de Roma e da Mesopotâmia. Tecnologia, apenas, não resolverá. O desfecho, contudo, não é inevitável, "dependerá de políticas adequadas" (14/3).
Uma dessas políticas terá como missão encontrar formatos adequados para expandir em 60% a produção global de alimentos até 2050 sem ampliar os problemas da água (a agricultura já usa 70% do total), da desertificação (mais 60 mil km2 por ano), do consumo de recursos naturais acima (pelo menos 30%) da capacidade de reposição. Em outra área, diz o World Economic Forum que serão necessários investimentos anuais de US$ 6 trilhões, ao longo de quase duas décadas, para estabelecer uma "economia de baixo carbono". Mas como se fará para eliminar, por exemplo, o subsídio ao consumo de combustíveis fósseis - petróleo, principalmente -, uma das fontes mais poluidoras?
Diz o governo brasileiro que em 2010 a redução do desmatamento no Brasil produziu uma queda de emissões maior que a do total dos países desenvolvidos. Isso foi consequência dos esforços para reduzir o pico do desmatamento na Amazônia. Porém ainda não chegamos a reduções mais fortes em outras áreas (transportes, indústria e agricultura, principalmente).
Um dos problemas está exatamente na falta de avanços na implantação do novo Código Florestal. E uma das questões mais fortes está em que, dois anos depois da nova legislação, ainda não se implementou o Cadastro Ambiental Rural (jornal Valor Econômico, 27/3), que permitiria identificar em cada propriedade áreas de preservação obrigatória da vegetação, reservas legais e desobediências à lei. Os decretos de regulamentação do novo código também estão parados. E com tudo isso, como afirmou o Valor, "o Código Florestal continua no papel", embora haja 5,4 milhões de imóveis rurais no País.
Paralelamente, as unidades federais administradas pelo Instituto Chico Mendes não têm dinheiro para nada. O Brasil, segundo as Universidades Yale e de Columbia, está em 71.º lugar entre 178 países em termos de "ameaças à natureza" e proteção à saúde humana (Instituto Carbono Brasil, 29/1).
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, espera que os países cheguem a um acordo sobre o clima em setembro, mas não há nada concreto à vista. E o experiente Nicholas Stern, consultor do Reino Unido, alerta: "Sabemos o que está acontecendo. Mas nada fazemos" (UN News, 21/3).
JORNALISTA
E-MAIL: WLRNOVAES@UOL.COM.BR

Furnas pressiona saída de sócio privado na usina Três Irmãos


GPI Investimentos e Participações estaria sendo investigada pelo TCU por suposta ligação na operação Lava Jato

11 de abril de 2014 | 2h 04

LU AIKO OTTA, JOÃO VILLAVERDE / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O Tribunal de Contas da União (TCU) poderá investigar o sócio privado de Furnas na Hidrelétrica de Três Irmãos, disse ao Estado o ministro José Jorge. Embora no momento o TCU esteja examinando outra questão complicada da concessão - o que fazer com as eclusas e o canal da usina -, existem dúvidas sobre o processo porque uma das empresas do consórcio aparece nos documentos apreendidos pela operação Lava Jato da Polícia Federal. Isso poderá ser analisado numa próxima etapa.
Conforme informou o Estado na terça-feira, a GPI Investimentos e Participações figura numa promessa de compra e venda do laboratório Labogen, em associação com uma suposta empresa de fachada do doleiro Alberto Youssef, a Quality. Ela também é mencionada em e-mails interceptados na operação. A empresa confirma a existência do documento de venda e informa que construiu a estrutura física da Labogen. Porém, nega ser sócia do laboratório.
A GPI é a principal cotista do Fundo Constantinopla que, por sua vez, é o sócio de Furnas no consórcio que levou a usina de Três Irmãos. É presidida por Pedro Paulo Leoni Ramos, que foi secretário de Assuntos Estratégicos no governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992). Outros três cotistas do Constantinopla também pertencem ao grupo de Leoni Ramos: Goldenbank, Darjan e Cialo. O outro integrante é a gestora de recursos Cypress.
Pressão. A repercussão negativa da sociedade com esse grupo estaria levando Furnas a pressioná-los a deixar o negócio de Três Irmãos, segundo fontes de mercado. "Eles (Furnas) querem limpar a área, não tenha dúvidas", disse um especialista.
Circulava ontem no mercado e no governo a informação de que a estatal já estaria à procura de um novo sócio. É um dado que coincide com a informação dada pela própria estatal ao Estado, anteontem, pela qual cotistas estariam deixando o Constantinopla. Eles negam.
A Cypress disse que não está deixando a sociedade. A GPI informou que aguarda o posicionamento do TCU quanto às eclusas e o canal para tomar uma decisão.
A possibilidade de a concessão abranger essas estruturas de navegação, como parece ser a tendência da corte de contas, vai elevar os investimentos necessários e reduzir a rentabilidade. Por isso, os integrantes do consórcio acompanham o debate com preocupação.
Dúvida. O governo federal leiloou apenas a parte de geração, e ficou a dúvida sobre quem ficaria com as eclusas e o canal. A discussão não é simples e há dúvidas até sobre quem é o dono: o Estado de São Paulo ou a União.
Na prática, porém, isso não traz prejuízos. "Do ponto de vista do sistema elétrico, essa discussão não afeta em nada", disse o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor Nivalde de Castro. Ele explicou que, caso o atraso seja muito grande, Furnas pode assumir a operação da usina, hoje sob responsabilidade das Centrais Elétricas d e São Paulo (Cesp).
Na sua avaliação, a polêmica sobre eclusas e canal é "irrelevante" do ponto de vista técnico. "O imbróglio é político e jurídico", disse. Ele entende que as estruturas pertencem ao governo federal.