FOLHA DE SP - 23/02
Na terça-feira, a estudante brasileira Emiliane Coimbra, 21, foi detida em Puerto Ayacucho, Venezuela. Passou a noite num quartel, foi indiciada e não pode deixar o município até ser julgada. Seu crime: portar um cartaz com os dizeres "Abaixo Maduro; abaixo a escassez e abaixo a violência".
A crer no comunicado oficial do Mercosul, divulgado no domingo passado, ela e milhares de outros manifestantes naquele país realizam "ações criminais" e "querem disseminar a intolerância e o ódio".
O texto não faz mais que ecoar palavras usadas pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, contra seus opositores. Apesar disso, o governo brasileiro o subscreveu, como se fosse um abaixo-assinado, e não um documento diplomático.
Há grande contraste com declarações de outros organismos regionais, como a Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos). Formada por 33 países, a entidade não demoniza os protestos e defende os direitos humanos, a "institucionalidade democrática, o respeito à lei e à informação fidedigna e veraz".
Logo se vê que o governo Dilma Rousseff não está interessado em se destacar como facilitador do diálogo no país vizinho, e menos ainda como freio à escalada autoritária de Maduro. Contenta-se com o apoio incondicional ao aliado.
Seria o caso de lembrar à diplomacia brasileira que vigora, no Mercosul, uma cláusula estabelecendo a plena vigência das instituições democráticas como condição para integração entre as partes.
Na Venezuela, contudo, Leopoldo López, um líder da oposição, é acusado de golpismo por fomentar atos contra Maduro; a sede de seu partido, Voluntad Popular, foi invadida pela polícia, e grupos paramilitares perseguem manifestantes e jornalistas nas ruas.
Tais abusos se desenrolam em meio a um blecaute informativo imposto pelo governo, que proibiu a transmissão de protestos e até expulsou o canal de TV CNN.
Anteontem, o International Crisis Group, que assessora entidades como ONU e União Europeia, exortou o Brasil a "ser mais ativo em insistir numa solução política".
Além da afinidade ideológica do PT com o chavismo, há um motivo pragmático para a cumplicidade do Planalto. A Venezuela tornou-se importante parceiro comercial do Brasil --o saldo com o vizinho caribenho em 2013, US$ 3,7 bilhões, foi maior do que o alcançado com a Argentina, US$ 3,2 bilhões.
Interesses dessa natureza, entretanto, não escondem as crescentes arbitrariedades de Nicolás Maduro. Ao manter alinhamento automático com a Venezuela, a diplomacia brasileira se apequena.
Na terça-feira, a estudante brasileira Emiliane Coimbra, 21, foi detida em Puerto Ayacucho, Venezuela. Passou a noite num quartel, foi indiciada e não pode deixar o município até ser julgada. Seu crime: portar um cartaz com os dizeres "Abaixo Maduro; abaixo a escassez e abaixo a violência".
A crer no comunicado oficial do Mercosul, divulgado no domingo passado, ela e milhares de outros manifestantes naquele país realizam "ações criminais" e "querem disseminar a intolerância e o ódio".
O texto não faz mais que ecoar palavras usadas pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, contra seus opositores. Apesar disso, o governo brasileiro o subscreveu, como se fosse um abaixo-assinado, e não um documento diplomático.
Há grande contraste com declarações de outros organismos regionais, como a Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos). Formada por 33 países, a entidade não demoniza os protestos e defende os direitos humanos, a "institucionalidade democrática, o respeito à lei e à informação fidedigna e veraz".
Logo se vê que o governo Dilma Rousseff não está interessado em se destacar como facilitador do diálogo no país vizinho, e menos ainda como freio à escalada autoritária de Maduro. Contenta-se com o apoio incondicional ao aliado.
Seria o caso de lembrar à diplomacia brasileira que vigora, no Mercosul, uma cláusula estabelecendo a plena vigência das instituições democráticas como condição para integração entre as partes.
Na Venezuela, contudo, Leopoldo López, um líder da oposição, é acusado de golpismo por fomentar atos contra Maduro; a sede de seu partido, Voluntad Popular, foi invadida pela polícia, e grupos paramilitares perseguem manifestantes e jornalistas nas ruas.
Tais abusos se desenrolam em meio a um blecaute informativo imposto pelo governo, que proibiu a transmissão de protestos e até expulsou o canal de TV CNN.
Anteontem, o International Crisis Group, que assessora entidades como ONU e União Europeia, exortou o Brasil a "ser mais ativo em insistir numa solução política".
Além da afinidade ideológica do PT com o chavismo, há um motivo pragmático para a cumplicidade do Planalto. A Venezuela tornou-se importante parceiro comercial do Brasil --o saldo com o vizinho caribenho em 2013, US$ 3,7 bilhões, foi maior do que o alcançado com a Argentina, US$ 3,2 bilhões.
Interesses dessa natureza, entretanto, não escondem as crescentes arbitrariedades de Nicolás Maduro. Ao manter alinhamento automático com a Venezuela, a diplomacia brasileira se apequena.