segunda-feira, 15 de abril de 2013

Outrora ágil, Petrobras personifica a lentidão da economia brasileira



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SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES"
The New York TimesMeia década se passou desde que os brasileiros comemoraram a descoberta de uma enorme quantidade de petróleo em campos marinhos profundos pela companhia de petróleo nacional, a Petrobras, situando o país em condições de chegar à primeira fila dos produtores globais.
Hoje, outro tipo de choque energético está sendo observado: a empresa, conhecida por seu poderio, está perdendo a corrida para acompanhar as crescentes demandas do país.
Constrangida por uma exigência nacionalista de comprar navios, plataformas e outros equipamentos de companhias brasileiras letárgicas, a gigante do petróleo enfrenta uma dívida disparada, grandes projetos emperrados e campos mais antigos que, outrora pródigos, produzem menos petróleo.
O tesouro submarino ao seu alcance também permanece terrivelmente complexo de explorar.
Hoje, em vez de simbolizar a ascensão do Brasil como potência global, a Petrobras personifica a lentidão da própria economia nacional, que, depois de avançar 7,5% em 2010, desacelerou para menos de 1% no ano passado.
Até recentemente, a Petrobras só perdia em valor de mercado para a ExxonMobil entre as companhias energéticas negociadas em Bolsa. Hoje, ela vale menos que a companhia de petróleo da Colômbia.
Essa queda acentuou um debate cada vez mais amargo no país sobre as tentativas da presidente Dilma Rousseff de usar a Petrobras para proteger a população brasileira da desaceleração econômica do país.
"A Petrobras já foi considerada indestrutível, mas esse não é mais o caso", disse Adriano Pires, consultor de energia no Brasil. "Hoje, a Petrobras é um instrumento de política econômica de curto prazo e é usada para proteger a indústria doméstica da concorrência e combater a inflação."
Rousseff, como seu antecessor e mentor político, Luiz Inácio Lula da Silva, contou com as companhias estatais para criar empregos e impulsionar a economia.
Em consequência, afirmam a presidente e seus principais assessores, o desemprego permanece em níveis historicamente baixos, uma abordagem de gestão econômica que contrasta acentuadamente com a usada na Europa e nos Estados Unidos.
A Petrobras está construindo novas refinarias, buscando petróleo em alto-mar e comprando a maior parte de seu equipamento de companhias brasileiras, as quais criaram dezenas de milhares de empregos para manter o baixo desemprego no Brasil, em cerca de 5,4%.
Mas os críticos apontam os problemas óbvios da empresa, incluindo seus projetos atrasados e uma incapacidade de satisfazer a sede de petróleo do país.
Depois que o Brasil descobriu petróleo em alto-mar, em 2007, o governo pressionou para colocar a Petrobras firmemente no controle das novas áreas, uma medida que, segundo os críticos, poderá pressionar a companhia ainda mais.
Foi um afastamento marcante da postura dos anos 1990, quando as autoridades puseram fim ao monopólio da Petrobras como parte de uma reestruturação radical da economia. A empresa permaneceu sob o controle do Estado, mas foi exposta às forças de mercado, emergindo como um híbrido e competindo agilmente com companhias estrangeiras.
Hoje a Petrobras parece muito menos dinâmica. Em 2012, sua produção caiu 2%, o primeiro declínio em vários anos. Ao mesmo tempo, a indústria energética internacional também está mudando para a extração de petróleo e gás natural de formações de xisto, em terra firme.
A demanda do Brasil por gasolina subiu cerca de 20% em 2012, refletindo o êxito da indústria automobilística.
A Petrobras ainda não tem refinarias suficientes para processar o petróleo cru, o que a obriga a comprar gasolina no exterior. Ela perde dinheiro nessas aquisições porque o governo mantém os preços internos do combustível relativamente baixos, para conter a inflação.
Há também os atrasos nas refinarias em construção. Um complexo no Estado de Pernambuco foi concebido em 2005 como uma maneira de o Brasil forjar laços mais estreitos com a Venezuela, rica em petróleo. Oito anos depois, a Venezuela ainda não investiu no projeto, que enfrentou vários atrasos.
Mas a Petrobras continua rentável. Graça Foster, presidente-executiva da companhia, disse que a produção de petróleo deverá permanecer estável neste ano ou talvez até voltar a cair ligeiramente. Mas, segundo ela, a produção dos novos campos marinhos alcançou 300 mil barris por dia.
Até 2020, a empresa espera duplicar a produção total, para 4,2 milhões de barris por dia.

Consciência plena aguça concentração e abre a mente


ALINA TUGEND
DO "NEW YORK TIMES"

The New York TimesComo a maioria das pessoas, eu tenho minha porção de tensão e ansiedade e fico feliz ao encontrar maneiras de enfrentá-las que não envolvam drogas ilegais.
Por isso, quando o termo "consciência plena" começou a surgir em todo lugar, fiquei intrigada.
Exames de imagens mostram que a consciência plena pode mudar o modo como nosso cérebro funciona. Ela nos ajuda a melhorar a tensão, a reduzir os hormônios do estresse e até na nossa recuperação quando lidamos com informações negativas.
Mas, como sou cética, perguntei-me se o assunto não estava sendo superestimado como uma panaceia simples, segura e que não envolve substâncias pesadas.
Primeiro, tive de descobrir o que é exatamente a "consciência plena". Eu tinha a impressão de que ela andava de mãos dadas com a meditação, mas descobri que ela é mais do que isso.
Prestar atenção no presente intencionalmente e sem julgamento é a maneira como Janice Marturano explica o fenômeno. Ela foi vice-advogada-geral e vice-presidente de responsabilidade pública da General Mills e ajudou a iniciar seu Fórum de Liderança Consciente em 2004. Saiu da empresa alguns anos atrás para iniciar o Instituto para a Liderança Consciente, sem fins lucrativos.
O que a consciência plena não tem a ver, disse Marturano, é com apenas reduzir o estresse. Ou com esvaziar nossas mentes de todos os pensamentos. Ou com religião. "As pessoas têm a sensação de que a consciência plena é algo que elas podem fazer se concentrando em uma uva passa durante cinco minutos", disse Michael Baime, diretor do Programa Penn para Consciência Plena no Sistema de Saúde da Universidade da Pensilvânia. "Isso é prática consciente, mas exige mais que isso."
Então aqui está o que eu aprendi sobre as técnicas básicas. Primeiro, encontre um lugar tranquilo para concentrar sua atenção -em sua respiração ou talvez em um objeto. Não é a respiração profunda, mas sim experimentar "quando o ar entra e quando sai", disse Marturano.
"Sinta a caixa torácica se estender sem que você faça nada. Consegue perceber como a mente pega uma carona e a reorienta? Essa reorientação é o exercício."
Talvez você comece com dez minutos e aumente seu tempo até meia hora ou 40 minutos por dia. Mas isso é apenas parte da prática total. Também há algo que Marturano chama de "pausas propositais".
Por exemplo, decidir que, em vez de pensar na próxima reunião enquanto escova os dentes, você se concentrará no sabor da pasta de dentes, na escova e na água. Eventualmente, expanda esse "estar no momento" para outras partes da sua vida.
A ideia é que, com o tempo, você se sinta mais concentrado e mais conectado consigo mesmo e com os outros. Parece simples, mas não é, porque vai muito contra o modo como a maioria das pessoas pensa e age. Nós queremos fazer coisas, identificar e resolver problemas. Esse é o oposto da consciência plena.
"Do modo como é apresentado na mídia, as pessoas começam a achar que é uma pílula mágica", disse Christy Matta, autora do livro "The Stress Response" [A reação do estresse].
Segundo Matta, "leva tempo e prática constante para experimentar os benefícios da consciência plena".
Ela disse que se você entra na prática com a ideia de reduzir o estresse, está trabalhando contra o que tenta alcançar, porque está dirigido para um objetivo.
Enquanto ter consciência de seus sentimentos pode ser bom quando você bebe uma deliciosa xícara de chá ou relaxa em um jardim, disse Matta, parte da consciência plena também são sentimentos desconfortáveis -não tentar modificá-los ou julgá-los, mas ter consciência deles. Isso pode não ser tão agradável.
Ela e outras pessoas descobriram que praticar a consciência plena pode aumentar a atenção e o enfoque e ajudar crianças a reagir ao estresse de maneira mais calma. "Mas isso também precisa fazer parte do aprendizado de técnicas emocionais e sociais concretas", disse.
Embora possa ajudar contra a ansiedade e a depressão, você talvez precise ampliá-la com outras terapias ou medicação, disse Matta. Todo mundo com quem eu falei disse que você precisa fazer um curso e talvez um retiro para experimentar plenamente e obter o valor da consciência plena.
Eu percebi que as pessoas com quem falei tendiam a dar cursos, por isso talvez elas sejam um pouco tendenciosas.
Agora que eu sei mais sobre o potencial e os limites da consciência plena, posso vê-la como uma opção. Posso entender por que outras pessoas são atraídas para ela, já que vivemos em um mundo tão fraturado e sobrecarregado de informação.
Nós olhamos tão à frente em busca da próxima coisa que virá que não vemos o que está acontecendo no presente.
A consciência plena pode não ser a resposta para todos os males. Mas pode responder a alguns. Para mim, isso já basta.

domingo, 14 de abril de 2013

Arenas para Copa do Mundo de 2014 que quase ninguém quer administrar



Estádios de Manaus, Cuiabá, Natal e Brasília terão dificuldades para encontrar gestores

14 de abril de 2013 | 8h 15
Almir Leite - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Quando estiver em plena operação, o Maracanã vai ter uma receita de R$ 154 milhões por ano. A estimativa, considerada conservadora por analistas desse novo mercado, foi feita pelo governo do Estado do Rio de Janeiro e atraiu seis empresas que na quinta-feira, divididas em dois consórcios, apresentaram propostas para gerir a arena por 35 anos, em tumultuado processo de licitação. Mas há arenas que estão sendo construídas para a Copa do Mundo de 2014 que poderão ter dificuldades para encontrar quem as administre.
A possibilidade de estádios como a Arena Amazônia, em Manaus, a Arena Pantanal, em Cuiabá, e o Mané Garrincha, em Brasília, terem dificuldade para encontrar gestores interessados é levantada por analistas do mercado de administração de arenas. "Para atrair interesse uma arena precisa apresentar perspectivas de uso constante e de atividades sólidas financeiramente. Senão fica complicado’’, diz um deles, o consultor de gestão esportiva Amir Somoggi.
Ele não cita explicitamente nenhuma arena, mas vários estudos foram feitos nos últimos anos indicando que os estádios de Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal (a Arena das Dunas) se transformarão em elefantes brancos após a Copa. Essa perspectiva atrapalha os negócios. E a expressão tem irritado o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que a rebate com veemência.
"Eu não partilho da tese de que parte dos estádios se tornará elefantes brancos’’, disse Aldo durante a semana. "O Brasil passa por um processo de modernização do nosso futebol. Manaus e Cuiabá, que estão sendo olhadas com maior desconfiança, talvez pelo desconhecimento e pela distância, também justificam a construção dessas arenas’’, acrescentou.
Os "ameaçados’’, porém, se mostram menos indignados do que o ministro e não concordam com quem entende que será difícil encontrar administradores para suas arenas. "Ninguém faz investimento sem estudo econômico, é isso o que vale’’, diz Maurício Guimarães, o secretário extraordinário da Copa no Mato Grosso.
Ele garante já ter sido procurado por várias empresas interessadas na gestão da Arena Pantanal. "Se tem interessados, é porque tem possibilidade de retorno’’, defende o secretário.
Mas admite que ainda não há definição sobre o modelo a ser utilizado para a administração do estádio cuiabano e nem como será feita a escolha. "Estamos estudando isso, se faremos concessão, se a administração será por meio de PPP (parceria público-privada) ou se criaremos uma empresa para esse fim’’, afirmou Guimarães. "O que posso garantir é que a arena será entregue em outubro e vai estar com administrador.’’
A Arena Amazônia também não tem definição sobre quem será o administrador. "Vamos contratar uma empresa de consultoria para avaliar o melhor formato de concessão’’, informou Miguel Capobiango, responsável pela Secopa do Amazonas.
Assim como seu colega do Mato Grosso, ele garante já ter interessados. "Muitas empresas dessa área já fizeram estudos do mercado local’’, assegura Miguel. O secretário afirma que as arenas da Copa das Confederações que já terão seus administradores definidos por ocasião da competição servirão como parâmetro para o modelo de negócios a ser adotado pelos amazonenses.
Os responsáveis pelas arenas de Cuiabá e Manaus admitem que o futebol local não atrai público, mas acreditam que outras eventos, como shows e atividades culturais e corporativas, tornarão os empreendimentos autossustentáveis.
O consultor Amir Somoggi diz que pode não ser bem assim. "Uma arena não pode viver de fontes alternativas. O caso do Arsenal inglês é um exemplo disso. A arena deles (Emirates Stadium) tem 80% de suas receitas anuais garantidas por 28 jogos do Arsenal, cada um com 60 mil pessoas presentes.’’
DEFINIÇÃO 
Também "candidata’’ a se tornar elefante branco, de acordo com vários estudos, a Arena das Dunas será administrada pelo governo do Rio Grande do Norte e pela Construtora OAS. O governo já divulgou que os lucros, se existirem, serão divididos em partes iguais. Os responsáveis pelo Mané Garrincha, em Brasília, ainda não definiram a quem será dada a concessão da arena.