terça-feira, 3 de julho de 2012

musicão do Gil, redescoberta numa tarde de trânsito em SP


Sandra

Gilberto Gil

Maria Aparecida, porque apareceu na vida
Maria Sebastiana, porque Deus fez tão bonita
Maria de Lourdes
Porque me pediu uma canção pra ela
Carmensita, porque ela sussurou: "Seja bem-vindo"
(No meu ouvido)
Na primeira noite quando nós chegamos no hospício
E Lair, Lair
Porque quis me ver e foi lá no hospício
Salete fez chafé, que é um chá de café que eu gosto
E naquela semana tomar chafé foi um vício
Andréia na estréia
No segundo dia, meus laços de fita
Cíntia, porque, embora choque, rosa é cor bonita
E Ana, porque parece uma cigana da ilha
Dulcina, porque
É santa, é uma santa e me beijou na boca
Azul, porque azul é cor, e cor é feminina
Eu sou tão inseguro porque o muro é muito alto
E pra dar o salto
Me amarro na torre no alto da montanha
Amarradão na torre dá pra ir pro mundo inteiro
E onde quer que eu vá no mundo, vejo a minha torre
É só balançar
Que a corda me leva de volta pra ela:
Oh, Sandra

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A longa história da cárie



28 de junho de 2012 | 3h 09
Fernando Reinach
Muita coisa melhorou na vida do Homo sapiens nos últimos 20 mil anos, mas uma piorou: a quantidade de cáries. É o que concluiu um grupo de dentistas, antropólogos e arqueólogos.
Saber se diabete ou hipertensão eram frequentes na Idade da Pedra Lascada é praticamente impossível. Esqueletos, ruínas e artefatos são tudo de que dispomos para entender como era a vida de nossos ancestrais.
Algumas vezes encontramos ossos quebrados e marcas de pancadas nos crânios, o que permite avaliar o nível de violência ou os acidentes do no dia a dia. Mas talvez nunca venhamos a saber a incidência de doenças metabólicas ou a prevalência da obesidade.
Mas, se essa ignorância incomoda os médicos, os dentistas têm mais sorte. A quantidade de fósseis de crânios humanos é enorme. Muitos se dedicam a verificar o estado dos dentes de nossos antepassados, correlacionando seus achados com a época em que viveram, seus hábitos alimentares e a idade de cada um.
Nossos parentes distantes, os macacos, dificilmente apresentam cáries durante a maior parte de sua vida. Elas e outras doenças dentárias só aparecem no final da vida e são sinal de envelhecimento.
O que sabemos dos dentes de nossos ancestrais mais antigos vem do exame de crânios de humanos que viveram antes do desenvolvimento da agricultura. Examinando mais de mil crânios dessa época, foi constatada pelo menos uma cárie em só 2% dos indivíduos. Eram coletores e caçadores, comiam raízes, frutos, sementes duras e um pouco de carne.
O estado dental começou a piorar há 13 mil anos, no Neolítico, quando surgiu a agricultura. Nessa amostra de crânios, 9% deles possuíam uma cárie. Nessa época o consumo de grãos moídos, ricos em carboidratos, começou a fazer parte da dieta humana. Muito depois, tanto no Egito (há 3,3 mil anos) quanto nos crânios de aborígenes australianos (há uns 70 anos), a quantidade de cáries era próxima a 2%, mas esses povos não haviam adotado completamente a dieta rica em grãos típica das civilizações que adotaram a agricultura.
Açúcar. Nas populações europeias, há até 4 mil anos, a quantidade de crânios com cáries era de 10%. Há cerca de 2,3 mil anos, Alexandre, o Grande, trouxe o açúcar à Grécia. A quantidade de cáries aumentou lá, em Roma e depois em toda a Europa durante a Idade Média. O mesmo ocorreu na Inglaterra, quando, após a conquista das Índias, os navios trouxeram grandes quantidades de açúcar. O imposto sobre o açúcar foi reduzido em 1874 e o consumo explodiu. A partir desse momento, mais de 90% dos crânios ingleses possuem múltiplas cáries em quase todos os dentes.
Nessa época a alta incidência de problemas dentários fez com que as pessoas passassem a limpar os dentes: surgiram escovas, pastas, dentistas. Essa nova tecnologia estancou a incidência de cáries, que estabilizou em nível alto (50% a 90% das pessoas com cáries) na a Europa até meados do século 20. Em 1970, foi introduzido o flúor na água, o que melhorou um pouco a situação. Agora, no início do século 21, pela primeira vez a incidência está aumentando novamente.
A introdução de carboidratos purificados (amido) e solúveis (açúcar) em nossa dieta é provavelmente o grande culpado pelas cáries. Esse estudo é um bom exemplo de como a evolução tecnológica da humanidade é muito mais rápida que a biológica.
Nossa espécie viveu por milhões de anos comendo raízes, frutas, grãos e carne. Sobreviveram os indivíduos com dentes que resistiam nesse ambiente, mesmo sem higiene bucal. Mas o homem descobriu a agricultura e, com ela, carboidratos fáceis e baratos. E começou a consumi-los, apesar de seus dentes não estarem adaptados. Os dentes passaram a apodrecer rapidamente, o que deveria ter pressionado a população a comer menos destes alimentos. Mas novas tecnologias, como a escova e a dentadura, livraram-nos da pressão seletiva, a força maior da evolução.
A lição é simples: qual a melhor dieta para o ser humano? Aquela para a qual fomos selecionados durante milhões de anos, a dos que viveram antes da descoberta da agricultura.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Índice mostra São Paulo com padrão de consumo insustentável


Estudo da WWF e da consultoria Ecossistemas revela que paulistano tem estilo de vida predador ao planeta e distante do modelo sustentável

27 de junho de 2012 | 6h 00
Clarissa Thomé, do Rio
Se todos tivessem estilo de vida paulistano, seriam necessários 2,5 planetas para sustentar consumo - Gisele Tamamar/AE
Gisele Tamamar/AE
Se todos tivessem estilo de vida paulistano, seriam necessários 2,5 planetas para sustentar consumo
 Uma das conclusões da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável encerrada na semana passada, é de que o mundo precisa alterar radicalmente seus índices de consumo para lidar com o esgotamento dos recursos naturais do planeta. Um levantamento divulgado durante a Rio+20 mostrou que a lição precisa ser feita aqui mesmo em casa: de acordo com o estudo, se todos os 7 bilhões de habitantes da Terra tivessem o mesmo estilo de vida do paulistano, seriam necessários 2,5 planetas para sustentar esse padrão de consumo. Levando em conta todo o Estado de São Paulo, onde o padrão é menor do que na capital, ainda haveria necessidade de dois planetas. 

Esse é o cálculo da pegada ecológica, índice que mede o impacto do estilo de vida sobre os recursos naturais. Ou seja: o rastro deixado pelos seres humanos no lugar onde vivem. Quanto mais rica é a família, maior é a pegada. O estudo foi feito pela organização não governamental da WWF e pela consultoria Ecossistemas, com o apoio da Prefeitura e do governo do Estado de São Paulo.
A pegada ecológica é a área que seria necessária para garantir determinado padrão de vida. O paulistano precisa de 4,38 hectares. Já o paulista, 3,52 hectares. Isso é considerado muito, uma vez que o planeta tem a oferecer apenas 1,8 hectare por pessoa. 

Para chegar a esse número, são levadas em consideração informações como emissões de CO2, hábito de comer carne, moradia, lazer e consumo. “Conhecer a pegada não resolve todos os problemas ambientais, mas é um indicador importante do monitoramento dos recursos naturais. Depois do cálculo tem de haver mobilizações para que o consumo seja mais racional e depois iniciar a fase de compensação”, alertou Michael Becker, coordenador do estudo. 

Faixa. No Brasil, a WWF já havia feito o cálculo da pegada ecológica, mas só em Campo Grande (MS). Lá, o valor é de 3,14 hectares. Em São Paulo, pela primeira vez, foi analisada a pegada de acordo com a faixa de rendimento familiar. Para famílias do Estado de São Paulo que ganham até dois salários mínimos, é preciso uma área de 1,8 hectare por pessoa (o que equivale ao índice verificado em Gana, um dos países mais pobres do mundo). 
Entre as que têm rendimento de mais de 25 salários mínimos, a área chega a 11,5 hectares por pessoa –próximo do nível registrado pelo líder do ranking, os Emirados Árabes (10,68). 

Para Fabrício de Campos, diretor executivo da Ecossistemas, o brasileiro tem de estar atento ao tipo de alimento que ingere. O consumo de carne vermelha tem grande impacto na pegada ecológica, por conta da área utilizada para a criação do gado. Isso também ocorre com o tabaco, que é cultivado em amplas zonas agrícolas. A emissão de CO2 não tem tanto peso, porque o Brasil tem matriz elétrica bastante limpa. No País, a pecuária e a agricultura são os fatores que mais contribuem para a pressão exercida sobre recursos naturais no País. A criação de gado representa 0,95 hectare dessa pegada – bem acima da média mundial (0,21). Essa pressão ocorre por conta da baixa produtividade. Já a agricultura foi responsável por 0,8 hectare, quando a média dos outros países é de 0,59. 

Pelos cálculos da WWF, o planeta leva um ano e meio para renovar recursos consumidos e absorver o CO2 produzido durante um ano – o mundo consome 50% a mais do que a sua capacidade.