terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O desabrochar da energia eólica


Do blog do Nassif
Coluna Econômica - 17/01/2012
2011 foi o ano da maturidade da energia eólica. Nos leilões de energia, firmou-se como a segunda energia mais barata, logo após a hidrelétrica. Substituiu as térmicas a gás, pelo fato dos projetos em curso já terem absorvido a produção nacional de gás até 2020. Mostrou-se mais competitiva que a biomassa e as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas). Neste caso, devido aos altos custos da construção civil, em um mercado aquecido.
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O principal avanço do setor foi o custo do capital, que caiu muito nos últimos anos. Quando foi lançado o Proinf (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), em 2002, o custo de capital era de R$ 6,4 milhões por MWh. Hoje em dia, está em R$ 3,4 milhões.
A principal razão dessa queda foram os ganhos tecnológicos decorrentes da experiência acumulada de 2004 para cá. O fator líquido de capacidade (quanto da capacidade instalada se converte em energia efetiva) saltou de 32% para 45%.
Contribuíram para isso, de um lado, a elevação das torres, que saltaram de 50 metros de altura para 108 metros, captando ventos mais fortes e constantes. Depois, avanços nos motores e nas hélices, a partir de tecnologia importada da aeronáutica, no perfil aerodinâmico da pá, na capacidade de retirar o máximo da força do vento e transformar o movimento da hélice em energia.
Mas o principal fator de diferença de preços entre Brasil e Europa é a qualidade dos ventos nacionais. E ainda há uma vantagem extra de que as energias eólica e hidráulica são complementares: quando chove muito, venta menos; e vice-versa. Assim, em tempos de estiagem há maior produção de energia eólica. Apenas Canadá e Noruega possuem essa característica.
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Houve contribuição, também, dos estudos meteorológicos.
Em 2001 foi publicado o primeiro Atlas Eólico Brasileiro. Mediram-se os ventos a uma altura de 45 metros. Este ano sairá a versão atualizada, mas aí medindo as correntes de vento a uma altitude de 100, 120 metros.
Os estudos estão sendo conduzidos pelo CEPEL (Centro de Pesquisa e Tecnologia de Eletricidade da Eletrobras) junto com o Coppe, trabalhando em estreito contato com o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas Aeropespaciais).
Provavelmente o potencial eólico medido será o triplo do Atlas 2001. Naquele, o potencial total era estimado em 143 GWh; no novo, em 300.
Além disso, descobriram-se potenciais de vento fora do litoral, especialmente no interior da Bahia, em uma faixa que se estende por Ceará e Piauí.
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A expansão do setor tem dois momentos cruciais. O primeiro, em 2004, quando surge o Proinf regulamentando lei de 2001, criada na época do racionamento. O segundo, quando a então Ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff, precisou regulamentar o setor. Foram necessários os primeiros incentivos para sinalizar os fabricantes de bens de capital, esperando colher os frutos no futuro.
Hoje em dia, praticamente todas as grandes empresas de energia elétrica investem em energia eólica. Também entraram no setor grupos não-tradicionais.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O PM genérico


GUARACY MINGARDI - O Estado de S.Paulo Aliás 15/jan/12
Quanto maior e mais antiga a instituição, mais difícil é sua evolução. O tempo transforma os costumes em tradição e depois em regra, e condiciona o recruta desde seu ingresso. Por isso as mudanças são normalmente lentas e necessitam de um empurrão externo.
Para promotores, a operação na cracolândia causou 'dor e sofrimento' desnecessários' - Nilton Fukuda/AE
Nilton Fukuda/AE
Para promotores, a operação na cracolândia causou 'dor e sofrimento' desnecessários'
A Polícia Militar de São Paulo é antiga, grande, e passou nos últimos 20 anos por uma série de mudanças. Parece, porém, que algumas delas não foram completamente assimiladas por todos os grupos internos. Acontecimentos recentes mostram que certos comportamentos persistem, apesar do empenho de alguns policiais. Dois exemplos, flagrados pela imprensa, sustentam essa tese.
Um foi o caso da agressão de um estudante da USP, filmado e transmitido em rede nacional, por um sargento sem condições de trabalhar nas ruas. Ainda mais em um local povoado por pessoas que normalmente se ressentem da presença da polícia. Quem acompanhou o noticiário dos últimos meses sabe da movimentação de alguns alunos da USP contra a presença da PM no câmpus.
O segundo exemplo é a operação na cracolândia batizada Ação Integrada Centro Legal, que, segundo o Ministério Público paulista, foi desastrosa. Os promotores informaram que vão instaurar inquérito civil para identificar os objetivos da ação e também verificar se houve excesso de violência. Segundo eles, a ação foi precipitada, sem coordenação com a Prefeitura, e usou muita violência, causando "dor e sofrimento" desnecessários.
Esses exemplos relatam situações muito diferentes e vão da questão local e do erro individual a ações "planejadas" e coletivas. E a explicação para cada um deles pode ser diferente, mas permanece o fato de que ocorreram num pequeno período de tempo. Portanto, vamos analisá-los, primeiro individualmente, depois em conjunto.
A agressão ao estudante pode ter sido motivada por stress, como alega o sargento. Apesar de a profissão ser mesmo estressante, existem dois fatores na vida dos policiais paulistas que também influem. Um é o baixo salário, que obriga soldados e suboficiais a trabalharem em dias alternados na PM e no "bico", de forma que passam semanas sem uma folga de verdade. Outro motivo do stress profissional é a ideia do "PM genérico", aquele que serve para tudo. É uma visão militar, que implica que todos devem exercer todas as funções, trabalhar em qualquer local e com qualquer público. A ideia da especialização ainda não tem muito espaço na instituição, e atinge poucas funções, principalmente de oficiais. Vendo a discussão entre ele e os estudantes, fica claro que o sargento não é adequado para trabalhar com uma "clientela" que contesta sua autoridade.
Já o confronto na cracolândia não pode ser creditado a um problema individual. Dezenas de policiais agiram na repressão aos "noias". A operação foi, de acordo com a Secretaria de Segurança, pensada, planejada e comandada do começo ao fim. E então, se houve falha, ela deve ter ocorrido na concepção, na execução ou mesmo nos dois extremos. Portanto, o erro foi institucional, independendo do stress dos soldados ou da inadequação de alguns deles para essa ação em particular.
À primeira vista, é difícil encontrar os fatores que liguem as duas falhas. Afinal, uma é individual e a outra, coletiva. O conhecimento da história da PM, aliado à lentidão das mudanças mencionada no início do artigo permite, porém, levantar duas hipóteses sobre o ocorrido.
Um antigo ditado, usado pelos policiais militares que ingressaram no tempo da ditadura militar, é que "paisano é bom, mas tem muito". Ele é fruto de uma ideia vigente na época, que separava a estrutura militar do restante, distanciava o soldado do cidadão comum. Essa visão foi se atenuando, mas nunca desapareceu totalmente. Apesar de a instituição estar mais próxima da sociedade do que há 20 anos, alguns grupos ainda não foram completamente aceitos pela ideologia militar. Em ambas as ações o confronto se deu com o "outro", pessoas de fora da instituição e que estão além dos parâmetros normais. Estudantes contestatórios e usuários de droga em situação miserável.
O segundo fator a ser considerado é menos sociológico e mais político. Logo depois da manifestação dos promotores o secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, saiu em defesa da operação na cracolândia. Disse que eles eram "oportunistas" e que os beneficiários da investigação do MP eram os traficantes. Essas palavras, aliadas às nomeações feitas por Ferreira Pinto nos cargos de comando, mostram que a velha guarda esta voltando à instituição. Se não são os antigos coronéis, já reformados, são aqueles que pensam como antigamente. Alias, o secretário, além de procurador de Justiça, é um ex-oficial da PM que ingressou na instituição durante o período mais duro da ditadura.
O coronel Camilo, atual comandante da PM, tem uma formação mais moderna e ideias mais progressistas, mas não é escolha do secretário. Infelizmente ele vai para a reforma em dois meses. Estamos torcendo pra que não assuma seu posto um desses "coronéis das antigas". O passado não volta e a evolução da PM não pode parar. 
* GUARACY MINGARDI  É DOUTOR EM CIÊNCIA POLÍTICA PELA USP, PESQUISADOR DA DIREITO/GV 

sábado, 14 de janeiro de 2012

Indústria global de biocombustível para de crescer

O crescimento da indústria de biocombustíveis cessou abruptamente, e a produção anual do ano passado caiu pela primeira vez em uma década devido a estreitas margens no Brasil e nos EUA, os maiores fornecedores no mundo.
A produção mundial de biocombustíveis caiu para 1,819 milhão de barris por dia, ante 1,822 milhão de barris por dia em 2010. A queda encerra uma década de contínuo crescimento na produção de biocombustíveis, conforme dados da Agência Internacional de Energia (AIE).
A rápida expansão da indústria de biocombustíveis nos últimos 10 anos tem sido controvertida, pois converte culturas alimentares, como óleo de milho, de palma, açúcar e trigo em combustíveis. Posições contrárias criticam a indústria por contribuir para o aumento dos preços das commodities agrícolas, uma acusação fortemente negada pelas empresas de biocombustíveis.
A desaceleração coincide com um momento em que Washington põe fim a um incentivo tributário de 30 anos ao setor. No primeiro dia de 2012, o governo americano eliminou um crédito tributário que lhe custava cerca de US$ 6 bilhões e uma tarifa que ajudou a estimular o desenvolvimento da indústria doméstica de biocombustíveis.
Analistas e executivos disseram que o declínio na produção terá ramificações importantes para mercados e produtores de commodities energéticas e alimentícias.
A produção mundial de biocombustíveis tem a mesma dimensão que a produção petrolífera de alguns dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), tornando-se uma engrenagem crucial no fornecimento de energia do mundo, contribuindo para formar os preços do petróleo bruto. "Quanto menos biocombustível temos, mais gasolina necessitamos", disse Amrita Sen, analista de petróleo do Barclays Capital.
O crescimento mais lento poderá aliviar as pressões sobre os preços dos alimentos, particularmente nos EUA, onde a indústria do etanol consome cerca de 40% do milho do país, e no Brasil, onde se consome cana-de-açúcar.
Embora a queda na produção tenda a ser revertida neste ano, executivos e analistas acreditam que o crescimento da oferta nos próximos cinco anos será significativamente mais lento do que no passado.
A desaceleração acontece num momento em que empresas brasileiras e americanas enfrentam estreitas margens por causa da alta do milho e da cana e devido a subinvestimentos. A China, que estava desenvolvendo uma grande indústria doméstica, reduziu seus objetivos iniciais devido a preocupações com a alta dos preços dos alimentos.
As refinarias de petróleo, sob pressão de estreitas margens, poderão se beneficiar da menor produção de biocombustíveis e de maior demanda por gasolina e diesel, ao passo que empresas de biocombustíveis, como os grupos Poet (EUA) e Cosan (Brasil) poderão sofrer consequências (Valor, 11/1/12)