Claudia Izique | Agência FAPESP – O Estado de São Paulo vai adotar iniciativa inovadora para conectar a ciência e a pesquisa com as necessidades de governo. Secretarias de Estado deverão contar com um cientista que assumirá a tarefa de buscar a melhor resposta que a ciência possa oferecer à atividade daquele órgão.
O anúncio foi feito pelo vice-governador do Estado de São Paulo, Márcio França, na cerimônia de abertura do Fórum Nacional do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), na quinta-feira (27/08), e que encerra hoje (28/08) em São Paulo.
A proposta resultou de análise feita durante visita do secretário à FAPESP em 25 de março. Na ocasião o presidente da Fundação, Celso Lafer, lembrou a experiência de outros países, como Reino Unido e Israel, que têm em seu organograma de governo essa função. Lafer lembrou ainda que o Departamento de Estado americano tem também um cientista incumbido de avaliar o impacto e a utilidade da pesquisa e do conhecimento para a ação diplomática.
O vice-governador levou a ideia ao governador Geraldo Alckmin, que viu nela um caminho para tornar o Estado de São Paulo ainda mais eficiente. A figura do cientista-chefe, em São Paulo, será responsável pela interlocução entre administradores públicos, universidades e agências de fomento.
A proposta está agora em fase de detalhamento “A Fundação vai trabalhar com esses cientistas-chefe e apoiar projetos de pesquisa que colaborem com soluções para o governo de São Paulo”, adiantou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
“Queremos aproximar o governo da FAPESP”, afirmou Márcio França, enfatizando que a aproximação da academia e a política é crucial para o desenvolvimento da ciência articulada com o desenvolvimento econômico e social do estado e do país.
Os cientistas-chefe, de acordo com Brito Cruz, poderão tornar mais efetivo o uso de resultados de pesquisa, propor a articulação de projetos já existentes e sugerir novos projetos e programas de pesquisa que enderecem questões afeitas à sua secretaria. “Devem também ouvir a comunidade de pesquisa por meio de workshops e simpósios, além de articular a apresentação de projetos de pesquisa da FAPESP na linha de Apoio à Pesquisa sobre Políticas Públicas”, enfatizou Brito Cruz.
“A intenção é levar a ciência a contribuir para o governo. Durante tanto tempo se falou em interação entre a universidade e a empresa. A interação da universidade com o governo é igualmente meritória. A ciência e os cientistas podem ajudar a empresa e o governo a serem melhores.”
O Fórum Confap reúne na FAPESP lideranças de 26 Fundações de Amparo à Pesquisa de todo o país e a cerimônia de abertura contou com a presença do ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo; do vice-governador de São Paulo e Secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Márcio França; do presidente da FAPESP, Celso Lafer, e do futuro presidente da Fundação – já designado – José Goldemberg; do presidente do Confap, Sérgio Gargioni; do presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis e o diretor administrativo da FAPESP, Joaquim José de Camargo Engler, entre outros.
Internacionalização da pesquisa
Em sua fala, o presidente da FAPESP, Celso Lafer, destacou a participação da FAPESP no processo de fortalecimento e consolidação dos sistemas estaduais de pesquisa. “Para a FAPESP, sempre foi claro que o fortalecimento da pesquisa paulista e brasileira passa pelo fortalecimento dos sistemas estaduais e nacional de ciência e tecnologia e da articulação entre eles.”
Esse fortalecimento, acrescentou, se traduz também na colaboração entre as FAPs. “As FAPs contribuem para a institucionalização do que qualificaria de federalismo cooperativo em matéria de ciência, tecnologia, pesquisa e inovação. Elas, por meio do Confap, vêm estimulando a coordenação de esforços para o desenvolvimento de formas pelas quais, por meio do conhecimento, nosso país seja capaz de lidar com seus desafios”, afirmou Lafer.
Um dos temas centrais da agenda do Fórum Nacional do Confap são os programas de parcerias internacionais. As 26 FAPs têm acordos de parceria com diversos países e regiões. Um dos principais parceiros é o Reino Unido e o Fundo Newton é a parceria internacional mais importante. O programa foi lançado em 2014 com o objetivo de promover o desenvolvimento social e econômico por meio da inovação e prevê aportes de até £ 27 milhões entre 2014 e 2017, em pessoas (mobilidade e intercâmbio de pesquisadores), pesquisa e inovação. O primeiro acordo para uma chamada relacionada ao quesito inovação será em setembro, tendo como parceiro o Senai e o objetivo de capacitar agentes.
Até agora, o Fundo Newton já apoiou – por intermédio do Confap e da FAPESP – 1.200 pesquisadores brasileiros, promoveu a realização de 15 workshops e resultou em investimentos totais em pesquisa de £ 6 milhões. O Fundo tem presença em 15 países, entre eles o Brasil, que recebe um volume de recursos só inferior à China e Índia. Sérgio Luiz Gargioni, presidente do Confap e da Fundação de Amparo à Pesquisa e à Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC), anunciou, durante o Fórum, a reativação da FAP de Tocantins.
Editais FAPESP e Finep
O ministro Aldo Rebelo sugeriu que a FAPESP, Finep e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) deveriam adotar “ações de cooperação mais profundas e duradoras” entre si e com as demais FAPs. “Com o apoio da FAPESP queremos apoiar o espírito inovador em todo o país e fortalecer o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia que deve ter uma base forte nos Estados”, afirmou o ministro.
Algumas parcerias com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) já estão em curso. No Fórum do Confap, Brito Cruz anunciou três novas chamadas de propostas da FAPESP em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), num total de R$ 80 milhões, para a pesquisa na área de manufatura avançada, inovação tecnológica e qualificação de fornecedores para o projeto Sirius.
Brito Cruz também anunciou um quarto edital, em parceria com Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Comitê Gestor da Internet (CGI), por meio do qual os recursos arrecadados com o registro de domínio feito pela FAPESP entre 1998 e 2005 serão destinados ao financiamento de pesquisas relacionadas à internet propostas por pesquisadores de qualquer lugar do país.
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