domingo, 27 de setembro de 2015

A Petrobras é do povo? - SACHA CALMON


CORREIO BRAZILIENSE - 27/09

A Petrobras é uma sociedade anônima? Nós somos donos dela? A Petrobras é dos acionistas nacionais e estrangeiros, de resto prejudicados pelo acionista majoritário, que detém o controle da estatal, ou seja, o governo de plantão, em nome do Brasil (uma burla). O acionista majoritário nos governos de Lula e Dilma saqueou a empresa. Nomearam presidentes, diretores e conselheiros ladravazes, que extorquiram empreiteiras e furtaram bilhões em superfaturamentos, comissões e negócios ruinosos para ajudar o PT, o PP e o PMDB. Está aí a Operação Lava-Jato a desvelar o maior escândalo de corrupção do mundo.

Afora isso, o acionista majoritário, sob Dilma, segurou o preço dos combustíveis por anos, dando cerca de R$ 90 bilhões de prejuízo (comprava por mais e vendia por menos) ao argumento de segurar a inflação. Erro total, pois, ao liberar os preços, o pique da inflação acabou por arruinar o país com virulento surto inflacionário. O mesmo ocorreu na Eletrobras. Agora, vejam quem mama nas tetas da Petrobras do povo. Em reportagem investigativa, André Ramalho e Cláudia Schiffner penetraram nos intestinos oleosos da Petrobras. A petrolífera tem 80 mil funcionários próprios, incluindo as áreas administrativa e operacional e subsidiárias e atividades no exterior.

A remuneração mensal média na estatal é de R$ 15 mil, segundo dados do relatório de sustentabilidade da empresa. Já os benefícios e gastos com aposentadoria e planos de saúde e pensão representam 32% das despesas com pessoal. "A lista de vantagens aos funcionários da empresa é ampla: inclui auxílio-creche e auxílio-ensino (que prevê ajuda de custos de 70% a 90% das despesas com pré-escola ao ensino médio dos filhos dos empregados); auxílio de 60% das despesas com ensino universitário dos filhos dos funcionários; custeio de 90% dos gastos com educação básica de empregados que desejem complementar seus estudos; programa de Assistência Médica Suplementar (a Petrobras cobre até 70% dos gastos dos empregados com saúde); benefício-farmácia (o beneficiário paga mensalmente de R$ 2,36 a R$ 14,17, em troca do custeio integral de medicamentos) e auxílio Cuidador da Pessoa Idosa (para beneficiários com mais de 60 anos e com capacidade funcional comprometida, no valor máximo de um salário mínimo).

A empresa cobre ainda glicofitas (segundo a qual a companhia concede até 100 glicofitas por mês para pacientes diabéticos); auxílio-almoço (superior a R$ 760); gratificação de Campo Terrestre de Produção (R$ 900), para os empregados administrativos que atuam em áreas remotas de exploração. No ano passado, foram concedidos R$ 1,2 bilhão em benefícios a trabalhadores, além dos custeios de R$ 3 bilhões com planos de saúde e R$ 3,2 bilhões com aposentadoria e planos de pensão. Despesas com pessoal são uma das principais fontes de gastos da estatal, ao lado de gastos com matéria-prima, bens e serviços e pagamento de participações governamentais.

Não obstante, os empregados, quase todos filiados à CUT e ao PT, não estão satisfeitos. Entraram em greve. O número de plataformas que aderiram à paralisação é maior do que a última greve, em 24 de julho, quando cerca de 25 unidades confirmaram apoio ao protesto do sindicato. A pauta dos petroleiros, entre outros pontos, pede o fim do programa de venda de ativos da companhia, sobretudo a preservação da BR Distribuidora e da Transpetro, além da manutenção dos investimentos da estatal e recuperação do efetivo da companhia, após as perdas com a implementação do programa de incentivo ao desligamento voluntário. Bendine, presidente da Petrobras, vem do Banco do Brasil, nunca trabalhou na iniciativa privada. Fazer acordo está sendo cogitado, se é que já não foi feito.

Que falta nos faz uma Margaret Thatcher. A privatização da Petrobras é imperativa. O Estado deve ter voz, voto e veto (golden share) no conselho, mas não influir nada na sua gestão. Mas o ideal mesmo seria a privatização de todas as estatais em quaisquer setores e o fortalecimento das empresas privadas de acordo com o art. 170 da Constituição da República, solenemente ignorado pelos políticos. O art. 170 é principio lógico, deve ser seguido. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; (...) VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; (...) X - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país.

*Advogado, coordenador da especialização em direito tributário das Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e da UFRJ

sábado, 26 de setembro de 2015

Relatos selvagens das praias cariocas, Xico Sá

Homem imobiliza suspeito de assalto em praia do Rio, no dia 20 de setembro, mas banhistas reagem. / MARCELO CARNAVAL (AG. O GLOBO)
Tem morador da cidade do Rio de Janeiro, ainda sob o pânico dos arrastões, torcendo para que não dê praia neste final de semana... No que me faz lembrar, por associação automática, no título do best-seller O Sol é para todos, de Harper Lee, sobre injustiça, racismo, separatismo etc.
Não adianta tapar o sol com a peneira, o sol por testemunha, o sol também se levanta... Sigo viajando nos títulos dos livros que tentam explicar o mundo e as particularidades.
Donde o cobrador, no sentido do conto homônimo de Rubem Fonseca publicado em 1979, é um sujeito que toca o terror na cidade do Rio de Janeiro com a cólera de quem busca tudo que lhe devem na vida. Não cobra no varejo; sim pelo conjunto da obra. Ele parece cobrar, além muito além de grana e quinquilharias consumistas, atenção, afeto, amor, sexo...
Ele, o bruto, cobra que lhe arranque um dos últimos dentes da boca, cobra caro a ira que tem da madame da zona sul, ele não suporta o playboy que sai para jogar tênis todo de branco, ele dá porrada em um mendigo cego cujo tilintar das moedas na cuia de alumínio o faz perder a paciência...
“Não sou homem porra nenhuma, digo suavemente, sou o Cobrador.” Ele explode diante de um executivo que, para aliviar a barra pesada, apela para um sentimento humano tipo “homem que é homem...”
Assim, ele descreve este mesmo devedor da sociedade: “(...) deslumbrado de coluna social, comprista, eleitor da Arena, católico, cursilhista, patriota, mordomista e bocalivrista, os filhos estudando na PUC, a mulher transando decoração de interiores e sócia de butique.”
E segue com uma vida a cobrar, nesta obra-prima que antecipa, em crueldade, o recente filme argentino Relatos Selvagens: “Tão me devendo colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de mortadela no botequim da rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de futebol”, enumera o homem revoltado. “Eu não pago mais nada, cansei de pagar!, gritei para ele, agora eu só cobro!”
Papai Noel que se cuide no Natal. O cobrador jura que irá acertar as contas. O bom velhinho é um dos seus maiores devedores.
“A rua cheia de gente. Digo, dentro da minha cabeça, e às vezes para fora, está todo mundo me devendo! Estão me devendo comida, buceta, cobertor, sapato, casa, automóvel, relógio, dentes, estão me devendo.”

Feios, sujos e malvados

O eterno retorno dos arrastões nas praias cariocas me fez lembrar uma multiplicação, em versão infanto-juvenil, dos cobradores de Rubem Fonseca. Como os gremlins do cinema americano, eles se multiplicaram nas areias e calçadas de Ipanema e Copacabana. Cesse tudo que a Bossa Nova canta, o barquinho vira, o pancadão do funk se alevanta.
Os novos cobradores não pouparam ninguém do alvoroço. Nem moradores de rua e muitos menos os passageiros de morros e arrabaldes que chegaram às praias nos mesmos ônibus. Não é umacobrança obrigatoriamente de classe. É um redemoinho dos “feios, sujos e malvados” –vide o filme italiano de Ettore Scola, da mesma época de O cobrador brasileiro– que assusta os moradores da zona sul pelo menos há três décadas.
Os cobradores, personagens literários ou não, sabem que ninguém baterá nem uma lata por eles em uma geografia carioca altamente paneleira
Repare na reportagem que publicava no dia 04 /11/1984, noJornal do Brasil, o cronista Joaquim Ferreira dos Santos:
“Ipanema, essa senhora cada vez mais gorda e poluída, reclama de novas estrias e dentes cariados em seu corpanzil: agora é culpa dos ônibus Padron, a linha 461 que, há um mês, traz suburbanos para seu "paraíso", numa viagem de apenas 20 minutos, via Rebouças. É o que dizem seus moradores, inconformados. Ouçam só: ´Que gente feia, hein?!´ (Ronald Mocdes, artista plástico, morador da Garcia D'Ávila, bem em frente ao ponto do ônibus).”
Os novos cobradores apresentam mais uma vez uma velha dívida. Não que haja assim um movimento organizado como os crimes da política oficial. Tampouco uma chantagem de peemedebistas loucos para vampirizar o Ministério da Saúde e o país, sob o olhar complacente de uma presidenta que sangra em público –como prometeram os caciques do PSDB.

O sequestro da Primavera

Os moleques, entre um jacaré e outro nas ondas do Arpoador, arrepiam com o sol por testemunha. No derradeiro final de semana conseguiram sequestrar a Primavera e fazer o Rio saltar direto para o veraneio dos Trópicos.
Eles cobram com paus e pedras. Em alguns momentos parecem se divertir, perversamente, com o pânico no balneário; há também um quê de aventura e adrenalina nas galeras, como no sujeito solitário de Rubem Fonseca –pelo menos até encontrar a Ana, amante e cúmplice.
Estão devendo tudo à esta molecada, inclusive explicações sobre as mortes de meninos como eles, abatidos pela polícia como bichos. A última vítima foi enterrada nesta quinta, 24 de setembro, sob protesto no Cemitério do Caju: Herinaldo Vinícius de Santana, 11 anos, assassinado com um tiro na cabeça na zona norte do Rio. Aqui se deve, aqui não se paga a esse tipo de gente. Os cobradores, personagens literários ou não, sabem que ninguém baterá nem uma lata por eles em uma geografia carioca altamente paneleira.
São os estranhos e proibidões no paraíso.
Tem uma turma aqui na vizinhança da minha casa, ai de tiCopacabana, torcendo para que não dê praia neste final de semana. Tem outro grupo, conforme se vê nas redes sociais e no zunzunzumdo bairro, se preparando para reagir aos “invasores bárbaros”, como já ocorreu em algumas ocasiões.
Resta samplear, ingenuamente, o compositor Nelson Cavaquinho: “É o juízo final/ A história do bem e do mal/Quero ter olhos pra ver/ A maldade desaparecer... // O sol (...)”
Xico Sá, escritor, é comentarista do programa Papo de Segunda (GNT) e autor do romance Big Jato (ed. Companhia das Letras), entre outros livros.

IMPEACHMENT SEM FATOS AGRIDE A SOBERANIA POPULAR, Por Paulo Teixeira

Não vai ter golpe
Querida amiga, querido amigo:

     Conceitos jurídicos muitas vezes são fluidos, indeterminados, gerando, portanto, certa margem de discricionariedade para quem os interpreta. Essa órbita discricionária, porém, não pode em qualquer hipótese traduzir uma espécie de “aleluia jurídico”, permitindo ao exegeta extrair desses conceitos o que bem lhes aprouver, acomodando-os às demandas do momento. Zonas de certeza, positiva ou negativa, são sempre limites interpretativos que não podem ser rompidos.
     Um desses conceitos fluidos é o de “crime de responsabilidade”, acomodado nos artigos 52 e 85 da Constituição Federal como fato gerador do impeachment de autoridades, dentre as quais o Presidente ou a Presidenta da República.
     O impeachment nasceu na Inglaterra, consubstanciando, à época, em um processo parlamentar voltado à responsabilização política e criminal de altas autoridades públicas. Ao longo dos anos, contudo, dentro dos padrões próprios de uma ordem jurídica estribada no direito costumeiro, foi substituído pela moção de desconfiança e caiu em desuso. Ressurgiu nos Estados Unidos da América, com o advento da Constituição de 1787, a qual, contudo, separou a responsabilidade política da criminal: esta a cargo de processos judiciais, aquela a cargo de processos parlamentares.
     O Brasil, como se vê, é herdeiro dessa tradição. Assim, um intérprete afoito e pouco afeito às práticas democráticas iniciadas com o Estado de Direito criado pela Constituição de 1988 poderia sacar a conclusão: se o processo é parlamentar, não há limites, não há regras, não existem condições. Nada mais enganoso.
     Conceitos fluidos não atribuem àqueles que o operam poder nenhum que se sobreponha à Constituição. E esta, ao abordar crimes de responsabilidade, desfiou um rol de hipóteses motivadoras, as quais, por sua vez, só podem ser consideradas à luz das demais cláusulas constitucionais, como, entre outras, o devido processo legal.
     Explica-se. Os que cogitam a possibilidade de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff o fazem amparados nas causas constantes dos incisos V, VI e VII, do art. 85 da Constituição Federal, a saber:
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
     Os conceitos incorporados pelas cláusulas constitucionais em apreço já não são tão vagos assim, ou seja, possuem uma carga semântica que lhes denota claramente o conteúdo. Probidade administrativa, a primeira delas, só pode significar a violação a um dos dispositivos da lei 8.429/92, que trata das “sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências”. Ora, a Presidenta da República não foi, nem está sendo, sequer investigada pela prática de atos da espécie. Em outras palavras, não há, para o Direito, nem cogitação dessa possibilidade.
     A hipótese do precitado inciso VI, da lei orçamentária, diz respeito às contas públicas, sendo certo que o art. 70 da Constituição prescreve que “a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional”, com auxílio do Tribunal de Contas. É bem de se ver: o Congresso Nacional não julgou as contas da Presidenta da República, em nenhum de seus exercícios, tornando, ainda uma vez, incogitável a possibilidade de impeachment com arrimo em tal previsão. Ademais, o sistema de controle de contas é amplo, contemplando diferentes possibilidades, como a sustação de contratos e a imputação de débitos, entre outras. Só uma coleção de condenações dessa natureza poderia render possibilidade de uma medida excepcional como o impeachment. É bom lembrar, a Presidenta Dilma Rousseff não foi condenada ou processada uma vez sequer.
     A derradeira hipótese, de cumprimento das leis e decisões judiciais, abriga duas possibilidades. A primeira, de cumprimento das leis, que, à evidência, suporia, no mínimo, um processo judicial transitado em julgado em que se apontasse uma conduta presidencial eivada de ilegalidade. Esse processo não existe. A segunda, de cumprimento das decisões judiciais, pressuporia a condenação por um crime de desobediência a uma ordem judicial. Isso tampouco existe ou existiu.
     O mandato político decorre de uma investidura popular, abrigada sob os influxos da previsão do parágrafo único do art. 1º da nossa Constituição, segundo o qual “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
     O impeachment tem, assim, caráter excepcionalíssimo, fazendo com que suas causas motivadoras devam sempre ser interpretadas restritivamente. Buscar o impeachment sem que haja fatos — não os produzidos midiaticamente, mas os demonstrados judicialmente — implica agressão grotesca ao princípio fundante do Estado de Direito, o da soberania popular.

Paulo Teixeira

Em agosto e no acumulado o Estado de São Paulo aponta o menor número de homicídios da série história

Nos oito primeiros meses de 2015 houve redução do número de homicídios em todas as regiões do Estado: Capital (8,77%), Grande São Paulo (15,86%) e Interior (9,55%).
Em Agosto, a redução de 20,24% no índice de homicídios na Capital permitiu ao Estado de São Paulo, apesar do aumento de 12,35% na Grande São Paulo e 3,75% no Interior, encerrar o mês com a redução de 0,31% e com o menor número de homicídios em um mês de agosto, desde 2001, quando teve início a série histórica.
Essa redução confirmou a tendência de queda ocorrida em todos os meses de 2015 e nas diversas regiões do Estado. No período, houve a diminuição de 10,94% nos homicídios do Estado, correspondente a 311 ocorrência a menos, pois passaram de 2.842 para 2.531, consolidando o número de ocorrências de homicídios nos oito primeiros meses de 2015, como o mais baixo da série histórica, iniciada em 2001.
Nos 8 primeiros meses de 2015, igualmente, houve redução do número de homicídios em todas as regiões do Estado: Capital (8,77%), Grande São Paulo (15,86%) e Interior (9,55%).
Pela primeira vez na série histórica o número total de ocorrências – 2.531 – ficou abaixo de 2.600, tendo como média de homicídios dolosos por mês, em 2015, o total de 316,38 ocorrências. Também é a primeira vez na história que a média mensal para o período fica abaixo de 320.  As menores médias anteriores foram 343,75 em 2011 e 355,25 em 2014.
Manteve-se a menor taxa de homicídios dolosos da história do Estado: 9,25 casos por grupo de 100 mil habitantes. Na Capital, obteve-se o recorde da série histórica, com 9,22 casos por 100 mil habitantes. O índice está abaixo do limite considerado endêmico pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 10 homicídios dolosos a cada 100 mil pessoas que vivem em determinado local.
Capital obteve índice recorde de 9,22 homicídios por 100 mil habitantes
A maior cidade da América Latina apresentou queda de 20,24% em agosto no indicador, atingindo o índice de 9,22 ocorrências por 100 mil habitantes. É a menor taxa obtida na série história, desde 2001.
Em agosto passado, houve 67 registros, ante 84 do mesmo período de 2014. É também a primeira vez que o número de ocorrências fica abaixo de 70 casos, sendo o menor da série histórica.
De janeiro a agosto, os homicídios tiveram queda de 8,77%, na Capital. A quantidade de ocorrências passou de 730 para 666 na comparação com os mesmos oito meses do ano passado. São 64 casos a menos, atingindo o patamar de menor número de homicídios desde o início da série histórica.
Grande São Paulo obteve o menor número de homicídios nos oito primeiros meses do ano, recorde desde o início da série histórica 
A região metropolitana de São Paulo lidera a redução de homicídios entre as diversas regiões do Estado. No acumulado dos oito primeiros meses de 2015 a redução foi de 15,86%, apesar do aumento de 12,35% no índice de homicídios em agosto, com o acréscimo de 10 ocorrências, passando de 81 para 91.
O período de janeiro a agosto teve 605 casos, ante 719 dos mesmos oito meses de 2014, com a redução de 114 casos.
Essa redução fez com que a Grande São Paulo atingisse o mais baixo número total de ocorrências da série histórica para o período dos oito primeiros meses do ano.
No Interior a taxa foi de 8,69 homicídios por 100 mil habitantes
No Interior do Estado os homicídios dolosos tiveram redução de 9,55% no período acumulado de janeiro a agosto de 2015, apesar do aumento de seis casos no mês de Agosto (3,75%). 
As ocorrências passaram de 1.393 para 1.260 – 133 a menos. É o segundo menor número da série histórica para a região, atrás apenas de 2008, quando foram registradas 1.163 ocorrências.
A taxa de homicídios no Interior foi de 8,69 por 100 mil habitantes nos últimos 12 meses (setembro de 2014 a agosto de 2015), também abaixo do limite considerado endêmico pela OMS.

O dólar a R$ 4 em Outubro de 2002 equivale a um dólar de R$ 6,86 hoje


Refazendo os cálculos usando índices de preço ao consumidor.

Publicado por Thiago Venco - 3 dias atrás
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Para esclarecer um cálculo que não é tão evidente para leigos, ainda que as contas sejam simples: em Outubro de 2002 o dólar chegou a R$ 4. Mas corrigida a inflação do dólar, segundo o calculador do Departamento de Trabalho dos EUA, por um índice de preços ao consumidor, o valor atualizado seria de USD 1,32.
O dlar a R4 em Outubro de 2002 equivale a um dlar de R686 hoje
Já o Real, usando a calculadora do Banco Central do Brasil, ajustado pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor), os R$4,00 de Outubro de 2002 valeriam R$9,06.
O dlar a R4 em Outubro de 2002 equivale a um dlar de R686 hoje
Portanto, se fizermos a comparação destas cotações atualizadas pela inflação, temos o resultado:
Se dividirmos (R$ 9,06 / USD 1,32), 1 dólar = R$ 6,86.
Ou seja, ainda que o cenário atual seja alarmante, é preciso esclarecer que a comparação do valor bruto não é adequada.

Nancy Andrighi: Juridicamente não há como proibir Uber


De acordo com a ministra, projetos de lei que pretendam proibir apps como da Uber são incompatíveis com o CC, o marco civil da internet e a lei 12.529.

Publicado por Camila Vaz - 1 dia atrás
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Nancy Andrighi Juridicamente no h como proibir Uber
"Todas as leis municipais, estaduais ou distritais que venham a proibir o uso de aplicativos de intermediação para consumidores e motoristas proprietários de veículo firmem entre si contrato de transporte individual padecem de grave vício de inconstitucionalidade."
A declaração é da ministra Nancy Andrighi, do STJ, em palestra na tarde de hoje no II Congresso Brasileiro de Internet.
De acordo com a ministra, projetos de lei que pretendam proibir apps como da Uber são incompatíveis com o CC, o marco civil da internet e a lei 12.529.
"A lei 12.468 regulamenta apenas a profissão de taxista, mas não a de motorista particular nem contrato de transporte privado individual. No transporte privado individual impera a autonomia da vontade do motorista, que tem o direito de aceitar e firmar o contrato com o consumidor de acordo com sua conveniência."
Segundo a corregedora nacional de Justiça, aplicativos como a Uber são instrumentos digitais de intermediação de contratos de locação de veículos com motorista. “As leis Federais não regulam os aplicativos de internet, pelos quais os motoristas particulares e consumidores firmam entre si o contrato.”
"Juridicamente não há como proibir tais aplicativos com base nessas leis que são diariamente invocadas. Não vi, até o momento, qualquer notícia do que os maiores interessados têm a dizer sobre a questão. A discussão sobre a proibição ou não de aplicativos de intermediação de contratos de transporte não pode ser pautada exclusivamente por pressão política de certas categorias profissionais como tem sido feito, mas sim no interesse dos consumidores privados de transporte individual. É interesse do consumidor, e deveria ser do Estado, que a livre concorrência seja fomentada e jamais restringida. Os consumidores devem ser os primeiros a ser ouvidos quando o Estado pretende proibir qualquer atividade econômica lícita. Todos devemos ficar atentos aos ventos da modernidade, porque só eles nos levam para o sucesso e a paz social."
Fonte: Migalhas

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Gilmar Mendes: nas Repúblicas ninguém está acima da lei


Publicado por Luiz Flávio Gomes - 1 dia atrás
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Particularmente quem é do mundo jurídico sabe muito bem o quanto que o Brasil precisa de constitucionalistas brilhantes como Gilmar Mendes. Ao mesmo tempo, o quanto ele nos decepciona quando nega os fundamentos da República colocando-se acima da lei e corroendo ainda mais a já complicada relação do brasileiro com o império do direito.
Se nas democracias, para se assegurar a transparência, são muito bem-vindas todas as atividades, críticas e movimentos opositores (democracia sem oposição e sem mídia vira ditadura), com muito maior razão há espaço para eles em mafiocracias infames como a brasileira. Mafiocracia é a soma da cleptocracia (governo de ladrões) com a corporacracia (governo das corporações econômicas e financeiras).
A oposição (desabridamente) política exercida pelo ministro da Suprema Corte contra o governo reconhecidamente corrupto no poder tem seu lado positivo ou até festivo (não se pode negar), mas entre as pessoas mais esclarecidas se sabe o quanto a exteriorização de uma ideologia, de um pensamento político-partidário ou de um preconceito, por um juiz, se torna gravemente pernicioso para o fortalecimento das instituições. A liberdade de expressão é institucionalmente autofágica quando os juízes falam o que, juridicamente, não podem falar.
Sabe-se que “gritar sempre com os demais é o único modo de estar seguro” (George Orwell). Ocorre que o Código de Ética da Magistratura, espelhado na Resolução 60, de 2008, do Conselho Nacional de Justiça, já no seu artigo 1º diz que “os juízes devem portar-se com imparcialidade, cortesia, diligência, integridade, dignidade, honra, prudência e decoro”.
Dizer que a história de cada um, por mais singular que seja, lhe confere o direito a ter direitos diferenciados, significa arguir um direito à desigualdade de direitos, um direito a ter privilégios. Numa República, nem sequer os ministros da Corte Máxima possuem o direito de não respeitar seus deveres funcionais. Ainda que bem intencionado, nenhum juiz tem o direito de ignorar as regras elementares da sua excelsa e insigne profissão.
Nas turvas ondas da Operação Lava Jato brotam personagens todos os dias, que bem ilustram o que o autor do livro Arte de furtar chama de “covil de ladrões” (p. 53). Alguns talvez ainda não tenham sido bem identificados, ao menos perante o grande público.
A Paulo Roberto Costa, por exemplo, pelo seu pioneirismo (na Lava Jato), não há como deixar de outorgar o título de Delator-Geral da República. Youssef seria um tipo de Sub-Delator-Geral da República (embora relevante, veio depois).
É nesse emaranhado de “ladrões e bandoleiros da República” (como diz Celso de Mello) que entra a irresignação e indignação de Gilmar Mendes, que passará para a história com muitas insígnias e honrarias (ministro, professor, doutrinador de escol etc.), mas nenhuma, talvez, será mais valorada (ou questionada) que a sua função, abertamente político-partidária, de pregnante Opositor-Geral da República, que em nada o deslustraria, muito pelo contrário, sobretudo quando se sabe do grau de mediocridade dos opositores existentes (em regra), não fosse sua qualidade de magistrado, que vai julgar muitos dos senhores patrimonialistas que contam com foro privilegiado: de qualquer juiz seria de se esperar, segundo os cânones vigentes, imparcialidade, vedação de prejulgamentos, prudência, equilíbrio e serenidade.
Loman (Lei Orgânica da Magistratura - Lei Complementar nº 35, de 1979) estabelece, com efeito, no artigo 36, inciso III, que não é licito aos juízes "manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos ou em obras técnicas ou no exercício do magistério".
Ignorando completamente os seus deveres funcionais, Gilmar Mendes disse: “O que foi revelado na Petrobras é que os prejuízos envolvendo corrupção eram de R$ 6 bilhões, dos quais R$ 4 bilhões devem ter ido para o sistema político, e R$ 2 bilhões devem ter ido para o PT. Isso não tem nada a ver com campanha política especificamente” (Valor 16/9/15: A8).
Sugere-se o tópico (o lugar-comum) de que o dinheiro das propinas na Petrobras foi para o PT (“exclusivamente para o PT”) assim como para os bolsos de alguns discípulos de Mercúrio, o “Deus das ladroíces”.
Toda população já sabe desse “malfeito”, mas quando isso é dito por um magistrado que vai julgar a mesma causa gera espanto e desapontamento, porque retira as vendas dos olhos da Justiça, cuja deusa, de repente, tem 100 kilos de ouro num dos pratos da balança, contra 10 no outro.
Deusa, ademais, que somente se desvenda para ver surrupio num único partido, ignorando as podridões em praticamente todos eles assim como as incontáveis delações que falam em R$ 10 milhões para Sérgio Guerra (PSDB), R$ 20 milhões para Eduardo Campos (PSB), R$ 500 mil para Aloysio Nunes (PSDB), R$ 250 mil para Mercadante (PT), milhões para o PMDB (Renan, Cunha, Jucá, Edson Lobão etc.), milhões para o PP etc.
Ajustar nossas obrigações com a justiça (se diz no livro Arte de furtar, p. 52) “depende de uma balança muito sutil, que tem o fiel muito ligeiro; e, como ninguém a traz na mão, tudo vai a esmo e a cobiça [assim como a tendenciosidade] pende para si mais que para os outros”.
No magistrado se torna censurável o prejulgamento (a emoção) quando ele assume o lugar do comedimento, da distância (Kant diria: da razão). Se o juiz não quer gerar desconfiança na população, ele deve “falar apenas nos autos”.
Somos todos animais loquazes, mas a loquacidade (particularmente a midiática), assim como a verbosidade, não cai bem a um juiz, que tem a obrigação jurídica de autocontenção e discrição. Quem julga a liberdade e o patrimônio alheios não tem direito a excentricidades, ainda que atue em nome de uma boa causa, que consiste em denunciar a estrutura da mafiocracia brasileira, fruto indecoroso de um grande “conluio de delinquentes” (como disse o ministro Celso de Mello), ou seja, de uma cleptocracia + uma corporacracia.
Todo prejulgamento inviabiliza a participação do juiz na causa implicada, por revelar tendenciosidade em favor de uma das partes (CPC, art. 135V). As posturas extravagantes ou ideologicamente matizadas dos juízes “são repudiadas pela comunidade jurídica, bem assim pela opinião pública esclarecida, que enxerga nelas um grave risco à democracia” (Lewandowski, Folha: 13/9/15: A3).
Eu fui juiz quinze anos e sabemos bem que a Loman diz a todos os magistrados o seguinte: não seja exibido. Afinal, “Não é o apito que põe o trem em movimento” (H. Jackson Brown).

terça-feira, 22 de setembro de 2015

"Como continuar petista?", por Tati Bernardi


Folha de São Paulo


Nasci numa família petista. Acho que já escrevi isso antes, mas é uma lembrança muito forte: eu morava no Tatuapé, de frente para a fábrica de eletrodomésticos Philco, e o Lula comandava as greves lá. Eu acordava com ele berrando, irritada, mas minha mãe me mandava ter respeito pelo homem que mudaria o país. 

Quando o Lula foi eleito pela primeira vez e subiu a rampinha pra abraçar o Fernando Henrique, lembro da minha mãe no meio da sala, chorando mais do que quando eu voei da bicicleta, quebrei a clavícula e fiquei desacordada por longos segundos.

Sempre votei em todos eles: Suplicy, Marta, Mercadante, Lula, Dilma, Haddad. Mas de uns dois anos pra cá, minha família fez como a Marta: me abandonou, pegou horror ao partido. Se tornaram magoados vingativos. Os xingamentos vão de pinguço ladrão a escória da humanidade. Ela virou a típica senhorinha reaça das redes sociais, postando "Revoltados On Line", ajudando a viralizar vídeos terríveis de ministros sendo vaiados acompanhados de suas famílias. Senti um soprinho de esperança em recuperar meus pais quando num almoço o tema foi difamar o Cunha. Mas, no cafezinho, eles voltaram com força total, mostrando um clipezinho musicalizado da Dilma saudando a mandioca. E o milho também.

Fiquei sozinha nessa. Segui defendendo a ciclovia. Mesmo aturando 80% dos meus amigos falando que na periferia o Haddad deixou a desejar, que a faixa termina em lugar nenhum, que é malfeita, que antes a cidade deveria dar segurança pras pessoas andarem de bicicleta, que quem mandou comprar carro pra aquecer a economia foi o próprio PT. Que ciclovia é coisa pra agradar os alunos "de esquerda, mas com dinheiro" dele, que moram no centro expandido. 

Perdi uma quantidade enorme de amigos (que nunca fiz) quando comemorei a reeleição da Dilma. Tudo bem que fui meio sem noção e escrevi "Chupa Itaim" e "pega no meu pau Vila Nova Conceição" no Facebook. Muitos outros, esses sim importantes, me deram apenas "hide" e avisaram por inbox: "Quando você se curar dessa doença maligna chamada ignorância política, voltamos a falar". Não se "cura" com facilidade algo que se aprendeu a amar na infância. Sigo me agarrando aos poucos amigos que acreditam. Lendo os poucos articulistas que acreditam. Pedindo a um amigo que trabalha com o Haddad que me coloque em contato com ele, pra que eu possa conversar mais, entender mais, e não perder a fé. Mas a cada dia, um bom combatente entrega os pontos. Ligo para um colega escritor intelectual de esquerda e ele me aconselha: "Não escreve sobre isso não, tá feia a coisa, eu não acredito mais".

Está cada dia mais difícil responder "mas tanto foi feito pelos pobres" a cada 765 motivos para deixar de ser petista. Zé Dirceu armou o maior esquema de propina da história e mesmo depois de ser pego, armou de novo! Mas tanto foi feito pelos pobres! Os discursos da Dilma nunca falam com clareza sobre pedaladas fiscais e Petrolão! Mas tanto foi feito pelos pobres! Daí tento "mas nunca em um governo se colocou tanto bandido na cadeia! É a democracia!". Mas Dilma foi uma péssima gestora, olha como está o dólar, a inflação, o desemprego, os cortes na educação, na saúde, na grana dos aposentados! Mas nunca em um governo se colocou tanto bandido...Mas os bandidos estavam mancomunados com o PT ou, em grande parte, ERAM do PT. Mas nunca em... É... Veja bem... Que tristeza tudo isso.

"Um verdadeiro deserto para atravessar", por José Roberto Mendonça de Barros

Leia Mais:http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,lugar-de-honra,1684227


O Estado de São Paulo


Ao final do primeiro semestre, não existem mais dúvidas de que temos um governo precocemente enfraquecido e uma economia em franca recessão. Ainda não chegamos ao fundo do poço e o desemprego deve se elevar até o final do ano. 
Na verdade, o que está por trás de tudo é a implosão de duas grandes apostas, interconectadas: 
– A tentativa de hegemonia e eternização no poder de um grupo político que comanda o País desde 2003. 
– A tentativa de fazer com que o Estado dominasse e conduzisse, em aliança com certos grupos campeões, todas as fontes de crescimento da economia. 
A implosão dessas apostas foi espetacular: afinal, como diz a sabedoria popular, quanto maior a escada, maior é o tombo. Ao final de 2014, ficou evidente o desastre macroeconômico, expresso na inflação elevada (a despeito dos grandes esforços de repressão do câmbio e de itens relevantes, como a gasolina e a energia elétrica), no déficit externo em conta corrente (que cresceu para US$ 105 bilhões em 2014, na nova metodologia do Banco Central), na elevação dos juros (que foram de 10,50% em janeiro de 2014 para 12,25% em janeiro deste ano), na piora fiscal (o déficit nominal subiu de 2,6% do PIB em 2011 para 6,2% no ano passado) e na desaceleração do crescimento até a recessão atual. 
Há também o maior desastre microeconômico dos últimos tempos: existem grandes problemas nos setores elétrico, de etanol, na Petrobrás e seus fornecedores, em todos os componentes da construção civil (residencial, comercial, industrial e construção pesada), nos bens de capital e na indústria em geral.
Aliás, o Brasil fez de tudo nos últimos anos em matéria de política industrial: protecionismo, exigências de conteúdo nacional, margens de preferência em compras públicas, crédito subsidiado, incentivos fiscais, etc. 
Entretanto, nunca a indústria representou tão pouco frente ao PIB: algo como 11% em 2014. Está aí algo que deve ser explicado ao distinto público, naturalmente, sem colocar a culpa na crise internacional. 
Teremos um deserto para atravessar, que vai durar pelo menos dois anos. Projetamos queda do PIB de 2,1% e de 0,6% em 2015 e 2016, respectivamente, devendo ser destacado que esses números têm viés de baixa.
Do ponto de vista das empresas, o grande desafio é como atravessar este deserto sem destruir o seu futuro. Até porque, quando voltarmos a crescer, eventualmente a partir de 2017, o modelo de crescimento terá de ser bem diferente do passado. 
No curto prazo, a receita é a usual: defender a liquidez, reduzir custos (como o que está acontecendo na questão do aluguel, cujos contratos estão sendo revisados fortemente para menos, tendo em vista a imensa oferta de lojas, escritórios e galpões fechados, todos na busca de novos inquilinos) e observar os ajustes da sua demanda, tanto para encolher a produção como para aproveitar nichos e novas oportunidades
Por exemplo, os consumidores estão adiando compras de itens caros e que exigem tomada de crédito, como é o caso de carros e imóveis. Entretanto, isso abre oportunidades para a venda de itens do lar, uma espécie de compensação para as famílias que ficarão mais tempo em casa. 
Acredito que as empresas têm de dar atenção, nesta travessia, a quatro elementos chave na reorganização da economia:
1) Uma das poucas coisas inequívocas quanto ao futuro é que o real vai continuar se desvalorizando nos próximos meses. Daí porque será necessário retomar ou reforçar as linhas de exportação e investimentos complementares na internacionalização das empresas (escritórios de representação, centros de distribuição, etc). Na mesma linha, será preciso aproveitar a maior competitividade da produção nacional com as importações e as eventuais oportunidades de nacionalização de produtos e componentes, que se tornaram caros demais quando trazidos do exterior.
2) É indispensável um grande esforço na direção das melhores práticas e de redução de custos. Será preciso também fazer uma revisão na política de crédito para clientes e fornecedores. Finalmente, nesta nova fase do País, é imperioso elevar a produtividade e passar a inovar de fato. A propósito, a comparação com a experiência exitosa do agronegócio, sobre a qual tenho escrito frequentemente, é algo a ser copiado. 
3) Haverá necessariamente consolidação na maioria dos setores, nos quais empresas com balanço forte irão adquirir bons ativos, pertencentes a companhias em dificuldades a bons preços. 
4) É indispensável diminuir a dependência de favores fiscais e de créditos subsidiados, uma vez que está evidente para todos o total esgotamento das possibilidades do Tesouro Nacional, pelo menos nos próximos anos. Muitos modelos de negócios terão de ser rapidamente reajustados a este respeito. 
******************
A redução das metas fiscais para este ano e os próximos não foi surpresa. Inesperada foi sua magnitude, muito maior que o imaginado. Assim, o ajuste mesmo foi relegado para os últimos dois anos do governo. 
Não é, pois, de surpreender a forte reação dos mercados. O medo de perder o grau de investimento voltou a ser bem concreto. 
Cada dia está mais claro que não cresceremos sem reformas e avanços mais profundos em três áreas: 
1) As despesas públicas correntes crescem sempre mais do que a receita. Enquanto deu, a elevação de impostos fechou as contas. Agora, é impossível seguir adiante sem reformas mais profundas em regras do gasto público, especialmente em itens como a previdência. 
2) Há muito tempo os custos de produção sobem de forma independente da atividade econômica, por conta de burocracia, impostos, logística e custo direto e indireto da mão de obra, sem grandes ganhos de produtividade que possam fazer uma compensação. Ou isto é revertido ou os investimentos e o crescimento não voltarão. 
3) Nosso sistema educacional é lamentavelmente fraco, embora os gastos com o mesmo estejam no padrão internacional em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Ou isto é revertido além dos discursos ou não teremos chances no mundo do conhecimento.
O resto são apenas paisagens.
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