quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014 foi o ano em que a Constituição Federal mais recebeu emendas

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Publicado por Consultor Jurídico - 1 dia atrás
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Da expropriação das propriedades onde forem registrados casos de trabalho análogo à escravidão à prorrogação dos incentivos fiscais para a Zona Franca de Manaus, o Congresso Nacional aprovou, neste ano, oito emendas à Constituição Federal. Balanços dos trabalhos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal apontam: 2014 foi o ano que o texto da Carta Magna mais sofreu alterações.
As emendas aprovadas nesse ano vão do número 77 a 84. A que autoriza a expropriação das terras onde forem encontrados trabalhadores escravos é a 81. Apesar de ainda faltar a aprovação de uma lei que regulamente o novo comando constitucional, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), comemorou a medida.
"Essa é uma vitória cheia de significado para toda a sociedade brasileira. A violação ao direito ao trabalho digno impacta na capacidade da vítima de fazer escolhas segundo a sua livre determinação", afirmou.
Outra emenda constitucional aprovada que se destaca é a de número 80. O novo texto deu prazo de oito anos para a instalação da Defensoria Pública em todas as comarcas do Brasil. O comando constitucional também estabelece: o número de defensores públicos deve ser proporcional a população de cada região atendida.
O senador Romero Jucá (PMDB/RR) ressaltou a importância da emenda constitucional 80. "Queremos dar condição de dignidade à população brasileira. Temos que garantir Justiça à maioria da população do país que não pode pagar por advogados", destacou.
As demais emendas aprovadas são a que permite que médicos militares acumulem o exercício de cargo público civil na área de saúde (emenda 77); a que garante o pagamento de indenização única e no valor de R$ de 25 mil aos seringueiros que foram para a Amazônia na década de 1940 (78); e a que autoriza servidores e policiais militares dos ex-territórios do Amapá e Roraima a optarem por integrar o quadro da administração pública federal (79).
Também há a emenda que inclui a segurança viária entre as ações de segurança pública (82); a que prorroga por 50 anos os incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus (83); e aquela que eleva em 1% a parcela de arrecadação do IPI destinado ao fundo de participação dos municípios (84).
A primeira emenda à Constituição Federal foi feita em 1992, quatro anos após a promulgação do atual texto. As propostas para alterar a Carta Magna precisam ser aprovadas duas vezes por 3/5 dos deputados e senadores. Com informações da Rádio Senado.
Consultor Jurídico
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sábado, 20 de dezembro de 2014

Fazer dieta só serve para engordar mais ainda, diz nutricionista da USP


Eduardo Knapp/Folhapress
Pesquisadora e nutricionista francesa Sophie Deram que lancou livro que ensina a emagrecer abrindo mão de dietas
Pesquisadora e nutricionista francesa Sophie Deram que ensina, em livro, a emagrecer sem dietas
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Quer emagrecer? Pare de fazer dietas. É o que aconselha a nutricionista Sophie Deram, 50, francesa e naturalizada brasileira, em seu livro "O peso das dietas" (editora Sensus), lançado nesta semana em São Paulo.
Doutora em endocrinologia e pesquisadora da USP, ela é contra regimes restritivos. Baseia-se em estudos que demonstram que eles podem até funcionar no começo, mas cerca de 95% das pessoas voltam ao peso inicial.
Isso acontece, segundo ela, porque o cérebro entende essa mudança repentina na alimentação como um perigo e se adapta para reter mais gordura. "A dieta estraga o cérebro", diz ela. A seguir, trechos da sua entrevista à Folha.
*
Folha - Por que a sra. defende gordura e é contra as dietas?
Sophie Deram - Sempre achei sem noção essa guerra contra a gordura. Ela sempre fez parte da minha vida. Claro que sem exagero, mas, na França, comia manteiga de manhã, queijo, foie gras.
Quando me mudei para o Brasil, fui trabalhar com genética e obesidade infantil. Fiz doutorado e percebi que as crianças obesas, mesmo com a maior vontade do mundo, não conseguiam emagrecer quando tinham um problema de comportamento alimentar. O que me assustou foi ver que 95% das pacientes com transtorno alimentar tinham começado fazendo dieta. A dieta estraga o cérebro.
Como nutricionista, a sra. nunca prescreveu dietas?
Nunca consegui fazer isso. Como poderia para falar para alguém: "Amanhã, ao meio-dia, coma duas colheres de arroz". Quem sou eu para saber a fome que ela terá amanhã no almoço?
Fiz pesquisas de genética do transtorno alimentar, coordenando no Hospital das Clínicas o banco de DNA dos pacientes que têm transtornos alimentares. O que controla o nosso peso é o nosso cérebro. Ele controla nossas emoções, a fome, a saciedade. Às vezes, a gente come sem controlar, sem planejar.
O que acontece com o cérebro quando fazemos dieta?
Nós assustamos o cérebro. Ele reconhece a dieta como um perigo e desenvolve mecanismos de proteção. Cerca de 95% das pessoas que fazem dieta voltam a engordar, às vezes até mais.
Estudos com gêmeos idênticos mostram que o gêmeo que faz dieta é mais gordo do que o gêmeo que não fez. A ciência já demonstrou que fazer dieta engorda. E o que normalmente mandam o obeso fazer? Fechar a boca e malhar. São duas ações que aumentam o apetite.
As dietas têm risco em potencial de fazer a pessoa desenvolver transtornos alimentares. É claro que não acontecerá com todos. Aí entra a genética. Estudos mostraram que, se você tem determinado gene, há mais risco de desenvolver bulimia se fizer uma dieta. Esse gene está em 30% da população.
Mas dietas são passadas por médicos e nutricionistas...
Sim. Mas eles não conseguem mudar a cabeça. Isso é que foi ensinado pra gente. Eu aprendi que o peso é resultado daquilo que você come menos aquilo que você gasta. Não concordo com essa simplificação do peso. Claro que é importante não comer demais, não liberar tudo.
Quem fez muita dieta vai comer muito. É uma adaptação do cérebro. Quanto mais você faz dieta, mais apetite você vai ter. E esse aumento do apetite permanece por pelo menos um ano depois da dieta. Você vai engordar porque o corpo quer proteger você de uma próxima escassez.
Essas dietas que cortam carboidratos e contam calorias, são inúteis a longo prazo?
Inúteis eu nunca vou falar porque sou cientista. O que eu estou dizendo é que, fazer esse tipo de dieta te coloca em risco de engordar, de desenvolver transtorno alimentar. Isso é uma bomba, especialmente para os nossos jovens em crescimento. Mães que têm medo que a criança engorde tentam restringir [a comida]. Isso a leva comer escondido, mesmo sem fome ou a comer sem limite.
Como os pais devem agir?
O trabalho dos pais é oferecer comida de qualidade. Em casa, tenha uma rotina, cozinhe. Não precisa proibir doces, por exemplo, mas que o consumo seja ocasional. Não entupa seu filho de refrigerante no almoço, a melhor bebida que existe é água.
É a primeira coisa que eu negocio com as crianças: diminuir sucos e refrigerantes e beber mais água. Eles me olham e dizem: "Ahhh, vai ser horrível!" Depois voltam muito felizes pra me contar: "Eu consegui beber água".
É impressionante, mas tem crianças bebendo mais de um litro de suco por dia.
A questão é que, para muitos pais que trabalham fora, fica difícil essa rotina de cozinhar, fazer sucos naturais...
Não precisa cozinhar coisas complicadas. É possível fazer um jantar em 15, 20 minutos. O negócio é se organizar para não acontecer de chegar em casa cansado, com fome, e não ter nada na geladeira.
O que vai fazer? Vai pedir comida ou sair para comer um lanche rápido. Quanto mais você conseguir incluir alimentos da natureza, para quais o nosso corpo foi programado, melhor.
É comum alguns alimentos, serem demonizados e outros endeusados. Há interesses comerciais nesse jogo?
Não existe um alimento que vai salvar a sua vida. Nosso corpo precisa de variedade, de qualidade. Nosso cérebro está aqui procurando o melhor bem-estar possível. Mas se a gente o agride o tempo todo, ele precisa se defender ganhando gordura. A gordura nos salvava nas cavernas. Nosso cérebro pensa que gordura é proteção.
Gordura então faz bem?
Não estou dizendo para as pessoas se entupirem de gordura. Mas não deveríamos demonizá-la. Isso foi um dos maiores erros da nutrição. A gordura foi demonizada por estudos que associavam seu consumo a uma maior incidência de doenças cardiovasculares. Hoje a gente vê que foram estudos malfeitos.
A partir disso, o mundo começou uma guerra contra a gordura. E a indústria se adaptou a isso. Não acredito em conspirações da indústria. Ela precisa vender. E o que você coloca para substituir a gordura? Açúcar, carboidrato. O excesso de carboidrato aumenta o risco de doenças cardiovasculares.
Você acredita que as pessoas estejam com medo de comer?
Sim, as pessoas estão assustadas. Eu sempre digo: pare de pensar, não precisa ser uma nutricionista para comer bem. Volte a lembrar do seu avô. Ele não se pesava, comia café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar, e ele estava bem.
Mas no passado as pessoas eram mais ativas, não?
Acho que elas tinham menos estresse. Muitas pessoas fazem academia hoje e nem por isso estão mais magras. Você precisa ser ativo, andar a pé, de bicicleta. Para muitas pessoas, academia é uma tortura. Atividade física tem que ser prazerosa, não é para ser difícil e só ser feita se tiver muita força de vontade.
Qual o seu principal conselho para quem busca perder peso?
A pessoa precisa se perguntar por que quer perder peso. Se é porque acha que ser magro é mais bonito, deve pensar que isso pode ser contra a sua genética. Tenho pacientes que começaram dietas querendo perder três quilos e, 20 anos depois, estavam com 20 kg a mais.
Se for pra resolver um problema de saúde, resolva, mas vá atrás de saber o que fez você engordar. Faça as pazes com você. Esse é um exemplo fantástico aos nossos filhos para que eles não tenham que viver a guerra com a comida que a gente vive agora. 

Amor múltipla escolha

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Amor múltipla escolha

MARCELO RUBENS PAIVA*
30 Novembro 2013 | 16h 06

Luluzinhas do mundo todo: larguem o aplicativo Lulu! Não há romance disponível para download

Ame aquele calado que, a sós, diz coisas lindas. Ame aquele desengonçado que, no escuro, encaixa e desconcerta. Ou aquele desarrumado que embaralha a sua vida. Que tal o deselegante que te trata como ninguém ousou? Tente aquele ali, de quem menos se espera. Nos defeitinhos dele é que está a graça.
Se amor é uma ilusão, se lambuze. Deixe ele vir. Deixe ele surpreender e transformar. Não existe fórmula, sabor certo: o sabor do dia. Não existe algoritmo que traga a perfeição. Não existe perfeição. Arrisquem. Luluzinhas do mundo todo, iludam-se! Sejam empreendedoras na vida e no coração.
Que bonitinho, ele tem alergia, ele anda engraçado, ele não gosta de dirigir, ele largou o emprego pra ir de bike até a Patagônia, ele não quer dinheiro, quer sossego, ele tem sonhos estranhos, tem defeitos, pesadelos, problemas! Qual o problema em ter alguém com problemas? Você não ama ninguém se não ama também os problemas de alguém.
Mas a desgraça do tempo. Quem quer perdê-lo? Nada de investimento de risco. Querem a coisa certa. Querem pra já. Querem o amor matemático, o amor algoritmo. Não tem aplicativo para trazer um táxi? Que tenha para o amor.
Num jantar, uma amiga não comia. Engolia ansiosa, pois seu "ficante" não confirmava se a encontraria mais tarde. A impaciência se tornava irritação, que se transformava numa perigosa e destrutiva rejeição. Mulheres e rejeição. Dinamite e detonador. Fogo e oxigênio. Pagamos a conta. Nada do barbado responder. A amiga não queria sobrar num sábado à noite. A rejeição tem que ser bloqueada! Vacina. Sacou seu celular e, na calçada, antes do manobrista trazer o carro, disse: "Ainda bem que tenho meu Lulu".
Lulu é o aplicativo da onda. Acham que é o tiro certeiro. Certeiro é tudo o que o amor não é. Com o Lulu, garotas avaliam rapazes e passam a dica para a frente. Lulu é o papo do banheiro em escala múltipla virtual. Garotas avaliam a partir de questões de múltipla escolha. Lulu deixa as garotas anônimas, os rapazes, não! Eles são examinados e qualificados por amigas e desconhecidas, sem o julgamento de embargos infringentes, sem o exercício de defesa, sem o direito à dúvida. As garotas listam as melhores e piores qualidades. Calma. Se eles não querem receber avaliações, podem enviar um e-mail para iwantout@lulu.com e pedir a remoção do perfil. Justo?
Elas, em busca do compreensível, carinhoso, bom de cama, divertido garotão disponível na região. Em busca do aplicativo que traga alguém. Ou pelo menos que avise antes se o produto vem com defeitos. Defeitos eleitos por outras? Não faz sentido. E mulheres seguem conselhos das concorrentes? O amor é como um trem fantasma. Dá sustos. Dá medo. O mundo feminino tende ao competitivo. E mulher quer ver para crer.
As mulheres enlouqueceram, ou estão apenas exercendo o direito de ranquear os homens, no aplicativo sensação, que poderia ser descrito como uma mega e interativa conversa de meninas?
As mulheres estão no seu tempo. Inventaram um modo de analisar homens. Ideia da jamaicana Alexandra Chong, advogada que afirma: a rede privada serve para garotas expressarem e dividirem suas opiniões de forma aberta e honesta. Sobre o quê? Lógico, sobre o que mais? "Criamos Lulu para encorajar garotas a falar e tomar decisões inteligentes em tópicos que abordam relacionamentos, beleza e saúde."
Teve a ideia no dia seguinte ao Dia dos Namorados (Valentine’s Day), tomando um lanche com as amigas e falando sem censura sobre homens. Sacou que bastava um deles se sentar com elas para o assunto mudar.
Lançado em fevereiro, o aplicativo virou líder de downloads na App Store brasileira. Talvez sirva para dar boas risadas. Continuo duvidando se uma mulher leva em consideração o que outras, especialmente ex-namoradas, avaliam. A curiosidade feminina não é uma característica, é uma necessidade.
O app permite que elas deem notas aos pretês, amigos, ficantes e, atenção, ex-namorados, ex-pretês e ex-ficantes. Então, entramos no perigoso pântano da fúria de uma mulher recusada. Lulu será impreciso como o amor.
A nota é baixa para quem já foi flagrado com um Croc. Mesmo se for um príncipe em sandália de plástico de gosto duvidoso? Com hashtags, votam e demonstram que a curiosidade feminina é fofa, ampla e sacana: #TrêsPernas, #ÉFelizTodoDia, #CozinheiroDeMãoCheia, #RespeitaAsMulheres, #HomemDeUmaMulherSó, #FazRirAtéChorar, #SafadoNaMedidaCerta, #PiorMassagemDoMundo, #MaisPopQueOPapa, seja lá o que isso significa, são alguns dos quesitos que podem ser escolhidos.
Através de alguns hashtags, dá para traçar perfil das garotas, apesar do anonimato. #DeixaAsInimigasComInveja é assustador.
O número de visualizações no Brasil passou dos 100 milhões. Nos EUA, dos 200 milhões, e está no celular de uma em cada quatro universitárias. Alexandra, sobre o lançamento da versão brasileira, descobriu que o Brasil é "louco pelo social."
Mas cuidado, garotas. Criadoras e usuárias do Lulu podem responder na Justiça por injúria (pena de um a seis meses de detenção) e difamação (três meses a um ano de detenção, além de pena pecuniária). Quem lembra é Luis Felipe Freire, presidente da Comissão de Direito Eletrônico e Crimes Eletrônicos da OAB de Minas Gerais, que diz que crime cometido na internet é passível de localização, apesar das participações serem anônimas, e quem está avaliando pode ser responsabilizada, se os comentários forem injuriosos.
Vale o risco, Lulus? Ou arrisquem como sempre e apostem num amor imprevisível? Ele só sobrevive com adversidades.
* MARCELO RUBENS PAIVA É ESCRITOR, COLUNISTA DO 'ESTADO' E AUTOR DE FELIZ ANO VELHO (OBJETIVA, 1981) E AS VERDADES QUE ELA NÃO DIZ (FOZ EDITORA, 2012), ENTRE OUTROS

Espanha aprova lei contra protestos no país e fecha cerco à imigração (pauta Campos Machado)

Popicinio
Para os próprios cidadãos espanhóis, recairão pesadas multas caso decidam realizar protestos, manifestações e escrachos
17/12/2014
Raphael Tsavkko Garcia
de Bilbao (País Basco)
O Parlamento espanhol aprovou no último dia 11 de dezembro, por 181 vo­tos a 141 (o neo-Franquista Partido Po­pular ou PP possui maioria absoluta e contou ainda com os votos dos minoritá­rios UPN que representa a Comunidade de Navarra e PAR, de Aragão), a chama­da Lei de Segurança Cidadã (Ley de Se­guridad Ciudadana) que causou imen­sa controvérsia ao longo de seu debate e que poderá ter consequências graves ao criminalizar manifestações populares e permitir a expulsão sumária de imigran­tes ilegais nos enclaves de Ceuta e Melilla (rodeados pelo Marrocos).
Segundo o texto aprovado, as forças de segurança espanhola podem devolver ao Marrocos imigrantes ilegais pegos ten­tando atravessar a fronteira (as altas gra­des que separam as duas cidades do res­to do continente); e a redação aprovada ainda abre brechas para ações violentas por parte da Espanha contra imigrantes que tentem cruzar a fronteira, pois, re­za o texto, “os estrangeiros que sejam de­tectados na linha fronteiriça [...] poderão ser rechaçados a fim de impedir sua en­trada ilegal na Espanha”. Como se dará esse “rechaço” é uma grande incógnita e motivo de muito temor.
Para os próprios cidadãos espanhóis, recairão pesadas multas caso decidam realizar protestos, manifestações e escra­chos. Multas mais pesadas do que as pa­gas por motoristas bêbados ou membros do PP ou da Casa real envolvidos em ca­sos de corrupção.
Fotos e filmagens
De acordo com o texto aprovado, se­rá proibido mesmo gravar ou fotografar policiais atacando ou violentando cida­dãos, seja um caso isolado ou ações co­letivas contra multidões. Além disso, “as denúncias, atestados ou atas formuladas por agentes da autoridade em exercício de suas funções que tenham presenciado os fatos [...] constituirão base suficiente para adotar a resolução que proceda, sal­vo prova em contrário”, ou seja, qualquer cidadão acusado falsamente por um po­licial de cometer um crime – ou de desa­catá-lo – terá de provar não ter cometi­do tal infração, o que inverte a lógica bá­sica do direito de que o ônus da prova re­cai sobre quem acusa.
Na Espanha do Partido Popular a pala­vra de um policial vale mais do que as ba­ses fundamentais do direito. E quem ou­sar registrar casos de abuso policial será culpado e multado – e não o agressor. É a impunidade total chancelada pelo Con­gresso espanhol.
Há espaço ainda para, na lei, confron­tar a Constituição. Os organizadores de protestos que não tenham comunicado previamente às autoridades poderão pa­gar multas de até 600 mil euros caso o local escolhido para o protesto exerça al­gum “serviço básico para a comunidade”, em outras palavras, qualquer protesto dentro de uma universidade, em frente a um tribunal ou mesmo em frente ao Con­gresso ou governos regionais se enqua­draria na definição de “instalação em que se prestam serviços básicos”. Em apenas uma canetada, os protestos na Espanha foram basicamente proibidos.
Mas para evitar qualquer problema de interpretação, a lei prevê multa de 30 mil euros para quem protestar em frente ao Congresso. Caso alguém resolva protes­tar e se sentar na calçada de casa contra a medida, também poderá ser multado em 30 mil euros. Protestos pacíficos mui­to comuns na Espanha, como se sentar em locais públicos e se recusar a se mo­ver, são passíveis de multa e se um poli­cial ao te retirar do local o agredir ou fe­rir não incorrerá em qualquer penalida­de. Na Espanha, Gandhi teria ficado po­bre antes de conseguir qualquer um de seus objetivos.
Despejos
O PP também pensou nos bancos, seus grandes aliados, e impõe uma multa de 30 mil euros a quem impedir desahu­cios, ou seja, que pessoas sejam expulsas de suas casas e jogadas na rua pela po­lícia por terem contraído dívidas em ge­ral com bancos – muitos deles “resgata­dos” da falência com dinheiro público. A lei também contempla multas de até 30 mil euros para quem for pego com um cigarro de maconha no bolso, já que a nova lei considera a posse e o consumo de drogas – independentemente de qual ou da quantidade – como uma falta mui­to grave. Gravíssimo, porém, é o de levar adiante eventos – como concertos musi­cais, atos políticos, debates públicos, etc – considerados ilegais. A multa sai por até 600 mil euros.
No País Basco protestos e atividades populares são constantemente suspen­sas pela Justiça como tentativa de inti­midação e, muitas vezes, são realizadas da mesma forma. A lei cai como uma lu­va na ampliação da repressão à popula­ção basca.
Por fim, para evitar que sobre qualquer espaço para um protesto, nada de se pen­durar também em uma estátua – já que assim você não impede o trânsito, não olha torto para um policial, não o desaca­ta com seu cheiro e nem fica perto de áre­as que prestam serviço público –, a multa pode chegar aos 30 mil euros.
É bom lembrar que qualquer tipo de desacato a um policial ou qualquer au­toridade também gera pesada multa, ou seja, na Espanha de 2014, é proibi­do protestar e reclamar também des­ta proibição, senão o Estado lhe tomará todos os pertences.
Lei da Mordaça
Todos os partidos presentes no Con­gresso espanhol protestaram contra a aprovação da lei, mas o fato de o PP pos­suir a maioria absoluta tornou os pro­testos inócuos. Alguns deputados chega­ram a protestar colocando vendas sobre suas bocas para denunciar o que muitos têm chamado de Lei da Mordaça (Ley da Mordaza, no original), mas pouco pude­ram fazer diante da esmagadora maio­ria que o Partido Popular possui no Con­gresso.
Segundo o porta-voz do PP na Comis­são de Interior, Conrado Escobar, “as manifestações serão mais livres, por­que estarão protegidas dos mais violen­tos”. Sem dúvida uma verdade, já que, de acordo com a lei, manifestações em geral não terão como acontecer de forma algu­ma sob pena de levar seus organizadores e participantes à falência.
A lei segue agora para o Senado espa­nhol, onde o PP também possui maioria absoluta.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Opinião - Hidroanel metropolitano: uma solução possível para os problemas ambientais, hídricos e de transporte da região metropolitana

18/12/2014 10:31


João Caramez*, no DO


Com a crise hídrica que tem afetado grande parte do território brasileiro, especialmente o Estado de São Paulo, estamos finalmente constatando que é preciso olhar a água como o bem precioso que é, e cuidar com mais zelo do meio ambiente, pois as ameaças climáticas que pareciam estar muito distantes estão presentes aqui e agora.

O recente alerta lançado pelo Painel do Clima da ONU foi bastante enfático ao afirmar que, caso não haja diminuição das emissões de carbono nesta década, o planeta ficará dois graus mais quente, com impactos irreversíveis no clima e na redução de oferta de água, comida e moradia.

E o que temos feito para evitar que isso aconteça? Com certeza, pouco, haja vista o estarrecedor aumento do desmatamento da Amazônia que, segundo o pesquisador Antônio Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre, concorre para a falta de água nas regiões mais populosas do país, incluindo o Sudeste. Para ele, a diminuição da quantidade de árvores no bioma impede o fluxo de umidade entre o Norte e o Sul do país. Portanto, está mais do que na hora de envidarmos todos os esforços antes que seja tarde demais.

É preciso que o governo e a sociedade se unam para conter os avanços da degradação e enfrentar alguns dos desafios que temos pela frente para a efetiva diminuição das emissões de CO2 e a implementação de uma gestão integrada dos múltiplos usos da água. É nesse contexto que se insere a mudança da nossa matriz de transporte com o incremento da hidrovia.

Embora a energia brasileira seja predominantemente proveniente das hidrelétricas, não se conseguiu, a nível federal, compatibilizar energia limpa e transporte, diferentemente do que foi feito em São Paulo, graças aos investimentos do Governo do Estado na Hidrovia Tietê-Paraná, que permitiu a construção de barragens com eclusas, viabilizando a navegação fluvial.

Hoje, o trecho paulista tem mais de 800 km de vias navegáveis perfazendo 2.400 km até Goiás e Minas Gerais, ao norte, e Mato Grosso do Sul, Paraná e Paraguai, ao sul. Trata-se de uma excelente rota para o escoamento dos produtos brasileiros, cujo aproveitamento será fomentado com os novos investimentos para sua extensão e com o transporte do etanol.

Mas é na região metropolitana de São Paulo, onde há grande disputa pelo espaço viário, com grandes problemas de mobilidade e de logística, que a hidrovia também pode desempenhar um papel de destaque. Com os rios Tietê e Pinheiros e as represas Billings e Taiaçupeba, São Paulo é quase uma ilha, sendo possível, com algumas obras, viabilizar 170 km de hidrovias urbanas, para o transporte de cargas e passageiros. Configura-se, assim, com esse hidroanel e o sistema rodoviário do rodoanel e ferroviário do ferroanel, um sistema viário estratégico na Região Metropolitana de São Paulo, com três pontos de intersecção.

Vale destacar que só nessa região, temos uma frota de cerca de 11 milhões de veículos, com inúmeros pontos de congestionamentos, que causam grande stress para todos os usuários e grande volume de poluentes, que contribuem para o efeito estufa. São mais de 400 mil viagens realizadas por caminhões pesados na região para transportar anualmente mais de um bilhão de toneladas de cargas, além daqueles que cruzam a cidade para outros destinos.

É evidente que esse grande movimento de carga, retrato do dinamismo de São Paulo, requer outras vias para o seu escoamento, para não interferir tanto no dia a dia dos cidadãos e na qualidade ambiental. Por isso, defendo o hidroanel metropolitano, que além dos ganhos de logística, propiciará uma grande vantagem ambiental e para o abastecimento, com o aumento da quantidade de água na Billings e a conseqüente ampliação da captação de água pela SABESP. Além disso, com maior fluxo de água, decorrente da interligação dos cursos d"água, o hidroanel contribuirá para o saneamento dos rios paulistanos, permitindo levar água de melhor qualidade a toda a população.

Um importante passo para essa conquista já foi dado pelo governo de São Paulo, com a construção da eclusa da barragem da Penha, cuja conclusão está prevista para setembro de 2015. Esta obra que possibilitará a extensão da hidrovia em mais 14 km é a primeira obra do hidroanel, que permitirá o transporte fluvial entre os rios Tietê e Pinheiros.

Por outro lado, a mera construção do canal já gerará uma capacidade de armazenagem de três milhões e meio de metros cúbicos de água, que poderá chegar a 10 milhões, viabilizando um grande piscinão como uma solução parcial para conter enchentes.

Para que o hidroanel seja uma realidade há necessidade de construção de mais 20 eclusas, além de outras obras, a um custo estimado de R$ 4 bilhões, de acordo com o projeto elaborado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. O custo financeiro é alto e exige uma parceria dos governos federal, estadual e municipal para a sua realização ao longo dos próximos 20 anos.

Todavia, levando-se em conta as graves consequências de um clima fora do controle, certamente o custo de fazer o hidroanel será bem menor do que o de não fazer, ganhando com isso o nosso sistema de transporte, o meio ambiente e o controle hídrico.



* JOÃO CARAMEZ, 63, é deputado estadual pelo PSDB-SP, presidente da Comissão de Transportes e Comunicações e coordenador da Frente Parlamentar das Hidrovias da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Foi chefe da Casa Civil de São Paulo do Governo Mário Covas (2000/2001)


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A internet não esquece

Demi Getschko


O que nos cerca muda rapidamente e nem sempre nos damos conta disso. Nos velhos tempos, por exemplo, se alguém recebia uma carta de que não gostava ou que o ofendia, podia rasgá-la ou queimá-la e ela desapareceria para sempre, sem vestígios. Hoje, com os meios baratos e quase infinitos de armazenamento eletrônico de informações, pode ser impossível nos livrarmos de um simples e-mail.
Claro que podemos apagar a mensagem que nos incomodou, mas é pouco provável que ela, de fato, suma definitivamente. Para manter a confiabilidade e garantia contra erros involuntários dos clientes, os provedores sérios de correio eletrônico guardam cópias – os “backups” – que, queiramos ou não, podem preservar coisas à nossa revelia. E sem falar do que nós mesmos colocamos impensadamente na rede e, mais tarde, concluímos que foi uma bobagem ter feito aquilo. Ah, se arrependimento matasse… Como Turiddu diz a Santuzza na ópera Cavalleria Rusticana, depois de uma acalorada discussão, “pentirsi è vano dopo l’offesa”, ou seja, é inútil penitenciar-se depois de cometer uma ofensa.
Assim, o que é colocado na internet pode tornar-se irremovível na prática: ou os próprios sistemas de armazenamento irão guardá-lo ou, se causou algum impacto bom ou mau entre os usuários, alguém terá tirado uma cópia. A conclusão é fácil de dar e difícil de cumprir, como todos os bons conselhos: não devemos colocar nada em rede aberta de que possamos nos arrepender mais tarde. Mas quem resiste à tentação de replicar algo interessante que leu, mesmo sem ter nenhuma certeza de que seja um fato real e não uma simples invenção de alguém? Minha avó usava uma expressão grega para coisas que fazemos impulsivamente e depois não mais podemos desfazer. Dizia: “pronto! caiu o açúcar na água”. Se jogarmos uma colher de açúcar num tanque de água, por mais que filtremos não conseguiremos removê-lo: sempre algo sobrará diluído lá no meio.
Essa característica da rede compromete também a eficácia de um eventual direito que se postula hoje: o direito ao esquecimento. Um parêntese aqui: como engenheiro, tenho sérias dúvidas lógicas de como poderíamos ter direito sobre algo que não está em nosso controle. Eu, certamente, tenho direito de esquecer – e certamente esquecerei – coisas que estão em minha memória, mas não imagino como ter direito a que você esqueça coisas que estão na sua memória. Mesmo que esse “sua” se refira à internet.
Bem, supondo que esse direito exista, líquido e certo, não há como magicamente apagar todas as referências a algo na rede. Mesmo que os buscadores recebam ordens para ignorar o tal conteúdo e não indexá-lo, em algum lugar estará armazenado, pronto para sair à luz num momento futuro.
Hoje, quando floresce o narcisismo e o individualismo, popula-se a rede com autofotografias nas mais variadas situações, às vezes para documentar, muitas vezes só para satisfazer o ego. O demônio, pela boca de Al Pacino no filme Advogado do Diabo, afirma categoricamente: “vaidade é meu pecado preferido”. A internet não esquece, e aí é que mora o perigo.
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Luciano Martins Costa: O que esconde o bombardeio da Petrobras pela mídia?

Os jornais fazem um retrato tenebroso da situação em que se encontra a Petrobras, um mês depois de revelada a extensão das negociatas que envolveram políticos, dirigentes da estatal e grandes empreiteiras que fazem parte de sua constelação de negócios. Os números são tão grandiosos que o leitor é incapaz de imaginar o volume de dinheiro desviado em negócios superfaturados.
O resultado é que, quanto mais atenção coloca no noticiário, menos capaz fica o cidadão de abranger todo o contexto. Na terça-feira (16/12), porém, surge uma ponta da meada que permite entender a lógica da imprensa: com seu valor reduzido seguidamente por conta do escândalo, sob ameaça de ações judiciais nos Estados Unidos e no Brasil, e ainda sob risco de ver seus principais fornecedores serem condenados e proscritos, analistas começam a afirmar que a estatal estaria impossibilitada de seguir explorando a reserva de pré-sal (ver aqui e aqui).
Como se sabe, os 149 mil km2 da província do pré-sal apresentam uma taxa de produtividade muito acima da média mundial e já são a fonte de quase 30% de todo o óleo extraído pela empresa. Feita a projeção de crescimento dos atuais 550 mil barris por dia em 25 poços produtores, daqui a três anos, com quase 40 poços ativos, o pré-sal deverá suprir 52% da oferta de petróleo no Brasil.
Num cenário em que o preço internacional do óleo cai abruptamente, cresce o valor estratégico da empresa brasileira justamente pelo fato de estar próxima de dar ao Brasil a oitava maior reserva do mundo, com 50 milhões de barris ou mais, qualificando o país como protagonista no setor.
Qual era a vantagem estratégica da Petrobras em relação às demais gigantes do setor? Exatamente o fato de possuir suas principais áreas de exploração em uma região sem conflitos militares, sem instabilidade política e plenamente conformada às normas e regulações internacionais. Até mesmo os riscos ambientais alardeados na década passada, quando foi anunciada a decisão de explorar as reservas de alta profundidade, foram desmentidos com o tempo.
O escândalo envolvendo a empresa a torna vulnerável a ataques de todos os tipos, mas principalmente abre caminho para as forças que têm interesse em alterar o marco regulatório do pré-sal.
Interesses poderosos
Há corrupção nos negócios da Petrobras? Certamente, muito do que tem sido noticiado nos últimos meses acabará sendo comprovado, mas há um aspecto que não vem sendo considerado pela imprensa: a corrupção é parte do processo de gestão do setor petrolífero em todo o mundo e, no caso presente, a estatal brasileira se encontra no papel de vítima. Portanto, há uma distorção no noticiário que esconde muito mais do que o propósito de expor a relação deletéria entre negócios e política.
Embora os contratos de partilha do óleo de grande profundidade sejam geridos pela empresa Pré-Sal Petróleo S.A, criada como subsidiária da Petrobras para executar o novo marco regulatório, a operadora do sistema é a Petrobras. Cabe à estatal criada por Getúlio Vargas o ônus do processo de depuração que está em curso com as investigações que ocupam diariamente as manchetes dos jornais. Embora a maior parte dos danos seja debitada na aliança que governa o país desde 2003, principalmente ao Partido dos Trabalhadores, é o modelo do negócio que corre risco.
É pouco conhecido o fato de que a Petrobras não se tornou uma estatal com o novo marco regulatório: apenas 33% do capital pertencem ao Estado, e 67% estão em mãos privadas. O que mantém o controle da empresa em mãos do Estado é o fato de que este controla metade mais uma do total de ações com direito a voto, o que preserva a Petrobras como sociedade de economia mista.
Não é, então, a condição legal da empresa que pode mover interesses poderosos, mas o sistema de exploração do pré-sal: pelo modelo antigo, de concessão, as companhias concessionárias podiam fraudar facilmente os custos de extração, reduzindo a parcela a ser paga tanto em royalties ao Tesouro quanto em barris de petróleo a serem entregues ao sistema de refino e distribuição. O modelo de partilha, criado pelo novo marco regulatório de 2009, mantém sob controle mais rigoroso o usufruto dessa riqueza natural por parte do Brasil.
O bombardeio constante e diário de notícias sobre a corrupção esconde outros aspectos desse jogo.
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É a geopolítica, estúpido!, por Miguel do Rosário

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Agora as coisas estão mais claras!
Enquanto a mídia brasileira, sórdida como sempre, tenta faturar politicamente com o declínio das ações da Petrobrás, a imprensa internacional começa a desvendar o que está por trás da brutal queda nas cotações de petróleo.
Duas matérias na Reuters nos dão uma ideia do que está acontecendo.
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Antes, duas notícias boas.
1) As ações da Petrobrás pararam de cair. Na Bovespa, devem fechar nesta terça 16 acima de R$ 9,4, com alta entre 2% e 4%.
2) Na bolsa de NY, os papeis da Petrobrás também estão terminando o pregão em alta, valendo US$ 6,39. Ontem, haviam fechado em $6,26.
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As duas notícias da Reuters são as seguintes.
Uma fala sobre a violenta desvalorização do rublo, moeda russa, causada pelo declínio dos preços do petróleo.
Outra fala sobre a estratégia da Arábia Saudita, aliada dos EUA, de usar o petróleo para atingir a Rússia e o Irã, ambos sofrendo sanções econômicas da ONU e ambos fortemente dependentes do petróleo.
A Arábia Saudita, regida por sunitas, é inimiga mortal do Irã, controlado por xiitas, e quer reduzir a influência dos aiatolás na região.
Da leitura das análises acima, conclui-se facilmente que os EUA estão por trás da tática, visando dois objetivos:
1) Vergar o governo russo, ou mesmo derrubar sua principal liderança, Putin, que venceu uma guerra fria (ou nem tão fria assim) na Ucrânia, motivo pelo qual sofre sanções; apoiou a Síria; e fornece tecnologia nuclear ao Irã.
2) Derrubar o regime iraniano, cuja economia, já fragilizada pelas sanções, depende mais do que nunca de preços do petróleo acima de US$ 100. Os EUA são inimigos mortais do Irã, por constituírem o último produtor de petróleo no oriente médio não alinhado ao império, e com planos de desenvolver tecnologia nuclear.
A Petrobrás é uma vítima colateral do processo (ou nem tão colateral assim, como veremos a seguir).
Sua situação agrava-se, naturalmente, pelos bombardeios internos causados pela operação Lava Jato.
Os EUA vivem uma situação energética temporariamente confortável, por causa da nova tecnologia que lhe permite explorar o petróleo de xisto. E também porque a economia americana, ainda deficitária em petróleo, não perde com a queda nos preços do combustível. Ao contrário, a medida ajuda a baixar o custo de vida dos americanos.
Sem contar a possibilidade, algo conspiratória, dos EUA também estarem interessados em baixar a bola do governo brasileiro, que acaba de realizar três grandes operações militares: a compra dos caças suecos, num processo que transferirá tecnologia para o Brasil produzir seus próprios caças; o avanço da construção do nosso primeiro submarino nuclear; e o lançamento bem sucedido de um satélite em conjunto com a China.
A nova direita americana, paranoica e aberta aos delírios do Tea Party, deve temer que um governo forte e nacionalista no Brasil possa enveredar-se em aventuras “bolivarianas”. Debilitar a Petrobrás, e, por consequência, o poder de fogo do governo recém-eleito, viria bem a calhar ao Tio Sam. Até porque facilitaria a introdução de argumentos em prol da privatização do pré-sal.
Não podemos esquecer que a NSA espionou a Petrobrás e a presidenta Dilma.
Com uma operação assim, os EUA matam três coelhos com uma só porrada.
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A economia brasileira, todavia, não é, nem de longe, tão dependente do petróleo como Rússia ou Irã.
A queda no preço do barril apenas leva a Petrobrás a postergar investimentos, enxugar custos, estabelecer prioridades, aguardando a poeira assentar, e as coisas se normalizarem.
Como o Brasil, assim como os EUA, ainda consome mais do que produz, a queda nos preços do petróleo ajuda a derrubar a inflação.
A Petrobrás, por sua vez, tem a vantagem de ser a principal revendedora de refinados no país, um negócio que se beneficia dos preços baixos do barril.
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Conclusão: a queda no preço do petróleo e, por consequência, no valor das ações da Petrobrás, tem motivos geopolíticos muito mais profundos do que um escândalo de corrupção, o qual está sendo investigado e punido.
A Petrobrás resistirá, e sairá da crise ainda mais forte, porque mais enxuta e mais experiente.
A economia brasileira, por sua vez, enfrentará a crise com relativa facilidade, em virtude de sua enorme diversificação.
A guerra entre Obama e Putin nos afeta, claro, mas a economia brasileira saberá se ajustar rapidamente às novas variáveis.
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Dar cabo, por Antonio Prata


14/12/2014  02h00
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Aos oito anos de idade, descobri que o ser humano não prestava. Estava no banco de trás do carro, descendo a 23 de Maio, li "Abaixo a ditadura!" num muro e perguntei pro meu pai o que significava aquilo. Meu pai, cuja particularíssima pedagogia baseava-se no princípio de que as crianças deviam ser tratadas como os adultos, sem filtros, me deu uma resposta bem detalhada.

Meia hora mais tarde, tendo passado pelos porões do Doi-Codi, pelo pau de arara, pela coroa de Cristo, pela cadeira do dragão e por minha prima Julieta, aos 20 anos, sendo violentada com um cabo de vassoura e um fio desencapado na ponta, cheguei, lívido, em casa.

Durante a ditadura, milhares de brasileiros sofreram horrores semelhantes aos da minha prima. Centenas não sobreviveram. O relatório da Comissão Nacional da Verdade, publicado na última quarta (10), traz o assunto novamente à tona. Felizmente, pois apesar de essas histórias serem há muito conhecidas e documentadas, apesar de boa parte de seus responsáveis estarem vivos, há quem ache que o melhor é deixar tudo pra trás.

"Eram outros tempos", "O mundo estava polarizado", dizem os que querem minimizar cabos de vassoura com fios desencapados. Verdade, o mundo estava polarizado, e o Brasil também, mas o embate ocorria dentro do campo democrático. Então veio o golpe de 64 e aqueles que temiam por aqui uma improvável Cuba de Fidel nos impuseram a certeza de uma Nicarágua dos Somoza, um Haiti de Papa e Baby Doc, uma República Dominicana de Trujillo.

"Ninguém ali era santo", "A luta armada não queria restituir a democracia, mas instalar uma ditadura de esquerda", dizem os que acham compreensível deixar um ser humano pendurado a noite inteira de cabeça para baixo, nu.

Não vamos entrar no mérito de que muitos dos mortos e torturados sequer estavam na luta armada. Não vamos entrar no mérito de que um golpe militar tende a radicalizar um pouco a postura da oposição. Apenas aceitemos, hipoteticamente, que todos os torturados e mortos quisessem, de fato, instituir uma ditadura de esquerda. Mais ainda: aceitemos, hipoteticamente, que eles quisessem matar todas as criancinhas brasileiras e comê-las com farinha. Ainda assim, o Estado que os torturasse ou os matasse estaria cometendo um crime.

O Estado detém o monopólio do uso da violência justamente para garantir a lei: não pode agir ao largo dela.

"Revanchismo" é o termo que vem sendo usado contra os que desejam ver punidas as violações dos direitos humanos durante a ditadura. Ora, se você é assaltado e quer ver o bandido na cadeia, está sendo "revanchista"? Se você tem um pai, uma filha ou um irmão morto e quer ver os assassinos na cadeia, está sendo "revanchista"?

Pois por 21 anos o Estado brasileiro assaltou, assassinou e violou os direitos de seus cidadãos: com Atos Institucionais, com mentiras, com cabos de vassoura e fios desencapados. Cabe a ele reconhecer seus crimes e prender os responsáveis. Do contrário, estará não só desrespeitando a todos os que sofreram a sua barbárie, mas, pior, estimulando as torturas e assassinatos que seguem acontecendo Brasil afora, todo dia, pelas mãos da polícia.

Os anos de chumbo não são águas passadas: continuam a mover nossos moinhos de moer gente.

Livraria da Folha

Pelo menos um quarto do lixo retirado das grandes obras é reaproveitado (não lido)

IO - Com mais de R$ 35 bilhões em obras sendo executadas ou prestes a começar na cidade, um desafio surgiu nos canteiros. O que fazer com as toneladas de entulho produzidas? Afinal, segundo levantamento feito pelo GLOBO, entre 2010 e 2016 serão pelo menos 9,5 milhões de toneladas de resíduos. Mas, em muitos empreendimentos, o que poderia ser um problema acabou representando economia de dinheiro, menos caminhões circulando pelas ruas em direção aos aterros, além de redução do consumo de matéria-prima. Pelo menos 25% desse material (2,2 milhões de toneladas) estão sendo ou já foram reaproveitados.
Apenas nas obras do Porto Maravilha estão sendo geradas quase um milhão de toneladas de detritos e pedras com as escavações do Túnel Rio 450 Anos, previsto para ser aberto em 2015. Desse total, 66% estão sendo reaproveitados. Um depósito provisório para guardar o entulho foi instalado num terreno da Radial Oeste, no Maracanã, onde o material é reciclado.
— O entulho é transformado em pedra e brita numa usina de reciclagem que implantamos próximo ao Terminal Rodoviário Henrique Lott (perto da Rodoviária). Todas as ruas que já foram pavimentadas ou estão em obras receberam material reciclado. Isso inclui a Via Binário — explicou o presidente do Consórcio Porto Novo, José Renato Ponte.
No caso das vigas da Perimetral, boa parte foi vendida pela prefeitura. Mas algumas foram reaproveitadas nas fundações do Centro de Controle Operacional (em construção), que vai monitorar as operações do Túnel 450 anos.
No futuro Parque Olímpico, na Barra, o Consórcio Rio Mais, que executa as obras numa parceria público-privada, está reaproveitando o entulho gerado pela retirada de toneladas de concreto do antigo Autódromo Nelson Piquet. Conforme a qualidade do material, ele pode ser aplicado como aterro, na construção de meios-fios ou na base da futura pavimentação.
BRTs SUSTENTÁVEIS
Na implantação dos BRTs, estão sendo reaproveitadas 1,2 milhão de toneladas de detritos. No caso do Transolímpico (Barra-Deodoro), até os escombros de casas de luxo demolidas para a passagem do corredor estão sendo reaproveitados em pavimentação.
— Temos procurado usar bastante material reciclado em obras públicas. Isso alivia a exploração mineral, principalmente saibreiras e pedreiras, e os aterros sanitários que recebem esse tipo de material. Isso gera uma economia que é utilizada em outras obras — explicou o secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto.
O presidente da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição, Hewerton Bartoli, explica que o reaproveitamento de entulho é uma estratégia que começou a ser aplicada com mais intensidade há apenas dez anos no Brasil. Mas muitas empresas já se sentem estimuladas em implantar políticas de reaproveitamento em busca de obter certificações internacionais que qualificam as obras como sustentáveis, valorizando o produto.
‘Numa feira em Xangai, vimos que esses materiais têm sido aproveitados na construção de casas populares. O entulho também poderia ser reaproveitado em unidades do Minha Casa Minha Vida’
- ROBERTO KAUFFMANNpresidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscom)
Ele cita como exemplo o projeto do condomínio Ilha Pura, na Barra, que, durante os Jogos, servirá de hospedagem para os atletas. O especialista, que atuou como consultor do projeto, contou que 10 mil metros cúbicos de resíduos de concreto decorrentes da construção dos 33 prédios foram reciclados no próprio canteiro. Segundo ele, descontadas as despesas com o projeto, o reaproveitamento permitiu uma economia de cerca de R$ 1 milhão em deslocamentos de caminhão a aterros sanitários e aquisição de matérias-primas:
— Rio e São Paulo estão na vanguarda desse processo. Embora São Paulo conte com mais usinas, o Rio é um polo importante pela quantidade de obras.
Pela legislação atual, o entulho só pode ser usado por uma empresa no mesmo canteiro de obras. Quando isso não é possível, o material é encaminhado para depósitos e fica à disposição da União para reaproveitamento em outros empreendimentos. É o que está acontecendo, por exemplo, nas obras da Linha 4 do metrô (Barra-Ipanema), responsável pela geração de 42% do entulho das grandes obras (4 milhões de toneladas), e dos piscinões contra enchentes na Grande Tijuca.
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscom), Roberto Kauffmann, iniciativas sustentáveis podem ajudar a reduzir ainda mais o entulho gerado por obras. Ele diz que um projeto de autoria do deputado Carlos Minc (PT), aprovado pela Alerj na semana passada, prevê a isenção de ICMS para produtos fabricados a partir de restos de entulho e poderá ajudar a viabilizar financeiramente um projeto dos empresários:
— Numa feira em Xangai, vimos que esses materiais têm sido aproveitados na construção de casas populares. O entulho também poderia ser reaproveitado em unidades do Minha Casa Minha Vida. Isso e a isenção fiscal ajudariam a reduzir os custos dos projeto.
Investidores privados cada vez mais se interessam pelo negócio. A empresa especializada em demolições Fábio Bruno, que fez a demolição e a reciclagem dos detritos da antiga Fábrica da Brahma no próprio canteiro de obras, na Praça Onze, em 2010, aposta no reaproveitamento dos resíduos de obras. A empresa inaugurou, no fim do ano passado, uma central de reciclagem de entulho, em Inhaúma, na Zona Norte, em parceria com a Lafarge. Empresários pagam cerca de R$ 10 por metro cúbico para deixar o material na central, que é reciclado e revendido. Algumas demolições da própria empresa também são recicladas ali.
— Estamos reciclando 10 mil metros cúbicos por mês e queremos dobrar até 2015. O negócio não é fácil, mas a demanda vem aumentando mês a mês. Por enquanto não dá retorno, mas a gente acha que no futuro vai ser um bom negócio — contou o dono da empresa, Fábio Bruno.
A secretaria municipal do Meio Ambiente diz incentivar o uso de matérias-primas recicladas. Desde 2011, intervenções da prefeitura são obrigadas a usar material reciclado no próprio canteiro. Além disso, obras particulares que precisam de licenciamento ambiental também são obrigadas a reaproveitar os detritos.
‘A RECICLAGEM É UM NEGÓCIO’
O presidente da Comissão de Materiais do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Rio (Sinduscon-Rio), Lydio Bandeira de Mello, elogia os incentivos:
‘Reciclagem é um negócio e precisa ter mercado. Ainda não está na cultura das empresas, a maior parte não recicla’
- LYDIO BANDEIRA DE MELLOpresidente da Comissão de Materiais do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Rio (Sinduscon-Rio)
— Quando obras do município privilegiam materiais reciclados, você está incentivando empresas a entrarem nesse ramo, criando demanda. Esse é o ponto: reciclagem é um negócio e precisa ter mercado. Ainda não está na cultura das empresas, a maior parte não recicla. De cinco anos para cá, em obras que geram muito entulho, como implosões, algumas empresas começaram a reciclar no próprio canteiro de obras.
Já o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, afirma que a reciclagem de resíduos da construção civil é uma tendência mundial e que, no Rio, a prefeitura poderia incentivar ainda mais a prática:
— O incentivo está sendo feito e caminha em boa direção, mas é preciso caminhar mais rápido. É preciso ter uma política pública que seja transparente, para que todas as empresas conheçam. Isso é o ponto que está faltando.