sexta-feira, 22 de junho de 2012

Salvar a boa política, por Arnaldo Jardim


Sucessivos escândalos envolvem dirigentes públicos, políticos e empresários. Sacando contra o erário, comprometem a democracia e a ética, aumentando a descrença com a política. Muitas denúncias, operações da Polícia Federal se sucedem e sequer conseguimos acompanhar o desenrolar e desfecho de cada uma das investigações. 
Por outro lado a sensação de impunidade. Para que ela não prevaleça no Legislativo, defendoo voto aberto nas decisões do Congresso Nacional. O voto secreto no Parlamento tem de acabar! Afinal de contas, quem vota é o indivíduo, o “parlamentar”, e ele o faz como representante de uma delegação popular e assim deve prestar conta da sua decisão.
Nada mais desalentador que o parlamentar que você ajudou eleger com seu voto praticar justamente o contrário daquilo com que se comprometeu na campanha eleitoral.
 Esta situação não é uma “novidade”. Rigorosamente, ao longo da história, fatos assim se sucederam aqui e mundo afora, mas choca a intensidade, a frequência e a impressão de que nada muda.
A impressão que se tem é de partidos que se distanciam da boa política e só existem para as eleições. O culto a personalidade de famosos cedeu lugar a ação programática. Nas eleições legislativas de 2010, um único candidato garantiu o mandado a outros três representantes da sua coligação.
O pragmatismo se tornou regra a nortear as alianças eleitorais e afastou o debate daquilo que importa: as propostas, prioridades, a visão sobre a cidade, sobre o País.
Evidencia a ação de partidos num “jogo de faz de conta”,  no “vale tudo”. O Partido A, antes oposição, no poder adota as mesmas posturas e práticas do Partido B que cutucava quando era governo. O Partido B na oposição desdiz o que fez.
Esta duplicidade e falta de coerência é fruto também de ação de tutela do Executivo, em todos os níveis, ao Legislativo. Postura que limitando a autonomia do Parlamento inibe o debate do que é absolutamente necessário, a proposição de reformas estruturais e de um projeto estratégico de desenvolvimento para o País.
O desinteresse pela política tem crescido e pode ser medido pela grande abstenção registrada em 2010. No primeiro turno, 24,6 milhões de eleitores não votaram, e no segundo turno o número de brasileiros que não compareceu às urnas chegou a mais de 29 milhões, ou um quinto do total de eleitores.
Os partidos precisam reaproximar-se do eleitor, dos movimentos sociais, buscar a participação e a integração dos jovens à vida pública, demonstrando uma efetiva disposição de ouvir, interagir, ir além de interesses imediatos e apresentar sua visão e seus valores morais.
A reforma política pode alterar este descrédito. Nela defendo o voto distrital misto, o financiamento público de campanha e que o voto individual evolua para as listas partidárias.
Partidos mais programáticos do que pragmáticos é uma exigência imediata e as eleições municipais de outubro podem ser um bom momento para cobrarmos essa mudança de orientação.
O eleitor atento deve ir além e exigir o compromisso do candidato à orientação de seu partido sobre saúde, educação, transporte, meio ambiente e tantos outros temas são decisivos para o futuro da cidade.
Aproveito para reafirmar a minha convicção de que numa plataforma mínima de propostas a governança local é o ponto central. Assegura não só a eficiência da gestão pública, como também o comprometimento dos partidos com a execução de cada um dos compromissos que serão feitos durante a campanha, mas acima de tudo o voto para mudar a forma atual de fazer política.
O voto é uma ação política que deve ser pensado e utilizado para garantir a transparência e aética na vida partidária e na pública.

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