quarta-feira, 14 de março de 2012

Dois anos decisivos para o Brasil



Coluna Econômica - 14/03/2012
Na semana passada a FGV-RJ divulgou um trabalho sobre o mercado de consumo brasileiro em 2020. Estimou a quantidade de brasileiros nas classes C e A/B sem considerar minimamente os cenários macroeconômicos do período.
É como se pegasse os últimos 8 anos e projetasse para os próximos 8, Não entenderam que o ciclo do governo Lula já se completou e um novo começa agora, com novos desafios.
Os próximos dois anos serão decisivos para consolidar (ou não) a sustentabilidade do desenvolvimento brasileiro. A entrevista de Dilma Roussef (http://migre.me/8h0ID) anunciando sua disposição em defender a produção nacional demonstra que tem plena consciência do papel que lhe cabe na atual etapa do desenvolvimento brasileiro.
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A Fernando Henrique Cardoso coube o desafio da estabilidade e o desenvolvimento de um modelo de governabilidade político – nesse complicadíssimo presidencialismo de coalizão.
A Lula, as políticas de inclusão social, que tiveram como desfecho a formação de um robusto mercado de consumo interno. Daqui para frente, o trabalho será de fortalecer esse modelo de combate à miséria. Mas não apenas isso.
O mercado interno é condição necessária, mas não suficiente, para a explosão sustentada do desenvolvimento.
Aumenta-se o mercado interno. Se não houver produção doméstica, esse aumento será ocupado por produtos importados. No curto prazo, criará constrangimentos nas contas externas. No médio prazo, tirará o dinamismo da economia brasileira e sua capacidade de continuar gerando empregos e aumento de renda.
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Nas últimas décadas, o discurso econômico hegemônico procurou levantar qualquer argumento que justificasse a manutenção dos juros altos e do câmbio apreciado. Um deles é que em uma economia como a brasileira poderia prescindir do papel da indústria como agente dinâmico da economia, substituindo-a pelo setor de serviços.
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Ora, a pátria da nova sociedade do conhecimento, os Estados Unidos, talvez tenha cometido o maior erro estratégico da era moderna ao supor que poderia abrir mão de indústrias intensivas em mão de obra e se concentrar apenas em tecnologia da informação, sistema espacial e setor financeiro. Transformou a China no chão de fábrica do mundo e tirou a capacidade do país de gerar empregos e manter o dinamismo do mercado interno.
Não há como substituir a indústria como motor do crescimento. É o setor com maior cadeia produtiva – isto é, com maior número de fornecedores e fornecedores de fornecedores – e, portanto, com maior capacidade de irrigar a economia. Além disso, é grande demandadora de serviços, de pesquisas, inovação.
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A Inglaterra tornou-se a maior potência do século 19, a China será a maior do século 21 porque souberam montar um modelo que ampliou enormemente seu mercado consumidor – as empresas inglesas exportando para América do Sul e Ásia; a China, para o mundo e para seu próprio mercado interno.
Se conseguir completar esse ciclo, ampliar efetivamente o mercado para os produtos brasileiros, se poderá dizer que o crescimento brasileiro será, de fato, irreversível.

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