Carta aberta aos pais de adolescentes
Thais Maluf, PSICÓLOGA DO PROAD (PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO E ATENDIMENTO A DEPENDENTES) DA UNIFESP - O Estado de S.Paulo
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Carta aberta aos pais de adolescentes
Thais Maluf, PSICÓLOGA DO PROAD (PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO E ATENDIMENTO A DEPENDENTES) DA UNIFESP - O Estado de S.Paulo
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Na Austrália e em Israel água de reúso já é amplamente aplicada em lavouras. Sabesp pode fornecer insumo
O governo de São Paulo está na fase final da elaboração de um plano para a construção de grandes usinas de incineração de lixo para colocar fim à falta de locais para aterros nas regiões metropolitanas e no litoral norte do Estado. Os estudos são feitos pela Emae -empresa estadual para a geração de energia - e começaram em 2004. A Emae negocia as usinas com as prefeituras. A ideia é implantar a primeira usina em dois anos.
O plano da Emae é utilizar o lixo queimado para a geração de vapor e energia elétrica, subprodutos que podem bancar quase todo custo da operação, diz o diretor de geração da Emae, Antonio Bolognesi. Polêmica, a incineração de resíduos urbanos foi combatida por décadas por ambientalistas devido à emissão de poluentes altamente nocivos à saúde.
O secretário do Verde e Meio Ambiente da cidade de São Paulo, Eduardo Jorge, é um dos críticos da incineração. "Essas usinas de incineração produzem dioxinas e furanos, substâncias que provocam câncer nas pessoas. Eles (os fabricantes das usinas) ainda precisam provar que o filtro que colocam é seguro", afirma. Os resíduos resultantes da queima também são considerados um problema ambiental, mas, segundo a Emae, o processo a ser adotado em São Paulo transforma esses restos em material inerte e próprio para a fabricação de blocos para serem usados na construção civil.
O assunto é tão recente no Estado que a Secretaria do Meio Ambiente ainda está elaborando uma resolução com parâmetros de emissão de gases, que são necessários para o licenciamento das usinas. "Pensamos o projeto não só como usina de geração de energia, mas o objetivo é colaborar para resolver o problema do lixo no Estado", diz Bolognesi.
Há hoje um processo se esgotamento dos aterros sanitários licenciados no Estado. No litoral norte, as prefeituras chegam a transportar o lixo por até 120 km para aterros em Santa Isabel (Grande SP) e Tremembé (Vale do Paraíba). Em São Paulo, o aterro Bandeirantes está esgotado e o São João recebe só 10% do lixo-a maior parte dos resíduos vai para aterros em Caieiras e Guarulhos, apesar de lei municipal determinar que o depósito seja feito na própria cidade.
A Folha conversou com técnicos da Cetesb que defendem a implantação do método de incineração. O investimento, porém, é alto. Para queimar mil toneladas por dia - produção média de 1 milhão de pessoas no Brasil- uma usina custaria cerca de R$ 250 milhões. São Paulo produz cerca de 15 mil toneladas por dia, incluindo entulho de construção civil, lixo industrial e comercial e varrição de ruas. A Emae já orçou uma usina com capacidade para 600 toneladas/dia por R$ 200 milhões.
Concorrência - As usinas de lixo já têm hoje, de acordo com a Emae, capacidade para concorrer em custos com a energia eólica, considerada a forma mais limpa. André Vilhena, engenheiro químico e diretor-executivo do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), disse que a incineração tem baixo impacto poluente. "A tecnologia de incineração já é comprovadamente adequada. É muito usada na Europa e no Japão, por exemplo. Eles não iriam adotar a tecnologia se causasse câncer", afirmou.
O governo pretende, primeiro, buscar agregar essas usinas aos polos petroquímicos -como os de Mauá, Cubatão e Paulínia-, que têm forte demanda por energia elétrica e vapor. Isso porque essas regiões, além da concentração industrial, têm capacidade para produzir mais de 150 toneladas diárias, volume considerado mínimo para um projeto desse porte ser considerado economicamente viável.
Bolognesi diz que as conversão estão avançadas com a Prefeitura de São Paulo.
Outra empresa do Estado, a Sabesp, que neste ano começou a atuar em serviços de lixo para prefeituras, se interessa pelo projeto, segundo seu diretor de Sistemas Regionais, Humberto Semeghini.
A principal referência do governo do Estado no projeto de incineração de lixo é a região da Baviera, na Alemanha. Lá, segundo um técnico da Cetesb, 60% do lixo é reciclado e 40%, enviado para incineração, justamente os materiais com maior poder de combustão. (Fonte: Folha de S. Paulo)
Luiz Gonzaga Belluzzo 03/09/2009 16:50:25
Eu estava na ante-sala de uma médica, em Salvador. Sábado, dia 29 de agosto. E apenas por essa contingência, dei-me de cara com uma chamada de primeira página - uma manchetinha - da revista Época, já antiga, de março deste ano de 2009: A moda de pegar rico - as prisões da dona da Daslu e dos diretores da Camargo Corrêa.
Alguém já imaginou uma manchete diferente, e verdadeira como por exemplo, A moda de prender pobres? Ou A moda de prender negros? Não, mas aí não. A revolta é porque se prende rico. Rico, mesmo que cometendo crimes, não deveria ser preso.
Lembro isso apenas para acentuar aquilo que poderíamos denominar de espírito de classe da maioria da imprensa brasileira. Ela não se acomoda - isso é preciso registrar. Não se acomoda na sua militância a favor de privilégios para os mais ricos. E não cansa de defender o seu projeto de Brasil sempre a favor dos privilegiados e a favor da volta das políticas neoliberais. Tenho dito com certa insistência que a imprensa brasileira tem partido, tem lado, tem programa para o País.
E, como todos sabem, não é o partido do povo brasileiro. Ela não toma partido a favor de quaisquer projetos que beneficiem as maiorias, as multidões. Seus olhos estão permanentemente voltados para os privilegiados.
Não trai o seu espírito de classe. Isso vem a propósito do esforço sobre-humano que a parcela dominante de nossa mídia vem fazendo recentemente para criar escândalos políticos. E essa pretensão, esse esforço não vem ao acaso. Não decorre de fatos jornalísticos que o justifiquem.
Descobriram Sarney agora. Deu trabalho, uma trabalheira danada. A mídia brasileira não o conhecia após umas cinco décadas de presença dele na vida política do país. Só passou a conhecê-lo quando se fazia necessário conturbar a vida do presidente da República. O ódio da parcela dominante de nossa mídia por Lula é impressionante. Já que não era possível atacá-lo de frente, já que a popularidade e credibilidade
Não, não se queira inocência na mídia brasileira. Ninguém pode aceitar que a mídia brasileira descobriu Sarney agora. Já o conhecia de sobra, de cor e salteado. Não houve furo jornalístico, grandes descobertas, nada disso. Tratava-se de cumprir uma tarefa política. Não se diga, porque impossível de provar, ter havido alguma articulação entre a oposição e parte da mídia para essa empreitada. Talvez a mídia tenha simplesmente cumprido o seu tradicional papel golpista.
Houvesse a pretensão de melhorar o Senado, de coibir a confusão entre o público e o privado que ali ocorre, então as coisas não deviam se dirigir apenas ao político maranhense, mas à maior parte da instituição. Só de raspão chegou-se a outros senadores. Nisso, e me limito a apenas isso, o senador Sarney tem razão: foi atacado agora porque é aliado de Lula. Com isso, não se apagam os eventuais erros ou problemas de Sarney. Explica-se, no entanto, a natureza da empreitada da mídia.
A mídia podia se debruçar com mais cuidado sobre a biografia dos
acusadores. Se fizesse isso, se houvesse interesse nisso, seguramente encontra
Do Sarney a Lina Vieira. Impressionante como a mídia não se respeita.
E como pretende pautar uma oposição sem rumo. É inacreditável que possamos nós estarmos envolvidos num autêntico disse-me-disse quase novelesco, o país voltado para saber se houve ou não houve uma ida ao Palácio do Planalto. Não estamos diante de qualquer escândalo. Afinal, até a senhora Lina Vieira disse que, no seu hipotético encontro com Dilma, não houve qualquer pressão para arquivar qualquer processo da família Sarney - e esta seria a manchete correta do dia seguinte à ida dela ao Senado. Mas não foi, naturalmente.
Querem, e apenas isso, tachar a ministra Dilma de mentirosa. Este é objetivo. Sabem que não a pegam em qualquer deslize. Sabem da
integridade da ministra. É preciso colocar algum defeito nela. Não
importa que tenham falsificado currículos policiais dela,
vergonhosamente. Tudo isso é aceitável pela mídia. Os fins, para ela, justificam os meios.
Será que a mídia vai atrás da notícia de que Alexandre Firmino de Melo Filho é marido de Lina? Será? Eu nem acredito. E será, ainda, que ele foi mesmo ministro interino de Integração Nacional de Fernando Henrique Cardoso, entre agosto de 1999 e julho de 2000? Era ele que cochichava aos ouvidos dela quando do depoimento no Senado? Se tudo isso for verdade, não fica tudo muito claro sobre o porquê de toda a movimentação política de dona Lina? Sei não, debaixo desse angu tem carne?
Mas, há, ainda, a CPI da Petrobras que, como se imaginava, está quase morrendo de inanição. Os tucanos não se conformam, E nem a mídia. Como é que a empresa tornou-se uma das gigantes do petróleo no mundo, especialmente agora sob o governo Lula e sob a direção de um baiano, o economista José Sérgio Gabrielli de Azevedo? Nós, os tucanos, pensam eles, fizemos das tripas coração para privatizá-la e torná-la mais eficiente, e os petistas mostram eficiência e ainda por cima descobrem o pré-sal. É demais para os tucanos e para a mídia, que contracenou alegremente com a farra das privatizações do tucanato.
Acompanho o ditado popular ?jabuti não sobe em árvore?. A CPI da Petrobras não surge apenas como elemento voltado para conturbar o processo das eleições. Inegavelmente isso conta. Mas o principal são os interesses profundos em torno do pré-sal. Foi isso ser anunciado com mais clareza e especialmente anunciada a pretensão do governo de construir um novo marco regulatório para gerir essa gigantesca reserva de petróleo, e veio então a idéia da CPI, entusiasticamente abraçada pela nossa mídia. Não importa que não houvesse qualquer fato determinado. Importava era colocá-la em marcha.
Curioso observar que a crise gestada pela mídia com a tríade
Sarney-Lina- Petrobras, surge precisamente no mesmo período daquela que explodiu em 2005. Eleições e mídia, tudo a ver. Por tudo isso é que digo que a mídia constitui-se num partido. Nos últimos anos, ela tem se comportado como a pauteira da oposição, que decididamente anda perdida. A mídia sempre alerta a oposição, dá palavras-de- ordem, tenta corrigir rumos.
De raspão, passo por Marina Silva. Ela sempre foi duramente atacada pela mídia enquanto estava no governo Lula. Sempre considerada um entrave ao desenvolvimento, ao progresso quando defendia e conseguia levar adiante suas políticas de desenvolvimento sustentável. De repente, os colunistas mais conservadores, as revistas mais reacionárias, passam a endeusá-la pelo simples fato de que ela saiu do PT. É a mídia e sua intervenção política. Marina, no entanto, para deixar claro, não tem nada com isso. Creio em suas intenções de intervenção política séria, fora do PT. Neste, teve uma excelente escola, que ela não nega.
Por tudo isso, considero essencial a realização da I Conferência
Nacional de Comunicação. Por tudo isso, tenho defendido com
insistência a necessidade de uma nova Lei de Imprensa. Por tudo isso, em defesa da sociedade, tenho defendido que volte a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Por tudo isso, tenho dito que a democratização profunda da sociedade brasileira depende da democratização da mídia, de sua regulamentação, de seu controle social. Ela não pode continuar como um cavalo desembestado, sem qualquer compromisso com os fatos, sem qualquer compromisso com os interesses das maiorias no Brasil.
05 de junho de 2009 |
Um movimento pela preservação do emprego do Minc
O ministro do meio ambiente Carlos Minc pode não ser uma pessoa muito simpática aos olhos dos políticos tradicionais e dos estilistas em geral. É esquisitão, adora aparecer, meio estressado, faz umas grosserias, mas ele está absolutamente certo na maior parte das batalhas que tem travado.
Os bois que capturou no pasto, em junho do ano passado, encalharam nos três leilões que organizou. Foi ridicularizado, mas estava certo. O pesquisador do Imazon, Paulo Barreto, fez um estudo e afirmou que esta foi uma das ações mais bem-sucedidas na contenção do desmatamento.
Quando detonou o Incra, mostrando que seus assentamentos eram desmatadores, ouviu impropérios, mas provou-se correto na afirmação.
A contenda desta vez opõe o ministro aos que querem a flexibilização do licenciamento, um processo absurdamente demorado na maioria dos casos. Mas não tê-lo é pior. É falta de visão estratégica.
O Brasil é o candidato mais bem posicionado no silencioso concurso internacional que escolherá o país modelo na área ambiental. Está no caminho. Os maiores concorrentes são os países nórdicos e alguns europeus. Quem chegar na frente, será um polo de atração de investimentos.
A Índia acaba de fazer um planejamento — o e Greenpeace teve acesso ao documento — segundo o qual estará produzindo 200 000 megawatts de energia solar até 2050. O fará mesmo com as evidentes desvantagens da energia solar sobre o carvão.
Ser conhecido como país avançado, consciente e limpo é uma marca poderosa. O Brasil tem um enorme potencial a explorar em energias renováveis. Tem uma das quatro maiores coberturas vegetais do planeta e biodiversidade ímpar. Os mecanismos que vão transformar isso em dinheiro ainda estão sendo criados, mas vão existir.
O que o Minc defende não é apenas um discurso bonitinho para jovens senhoras inglesas verem. Mas o ministro ficou fragilizado. Muito fragilizado. Seu pronunciamento em cadeia nacional, agora há pouco, foi uma mostra disso. Uma prestação de contas desenfreada como se estivesse dizendo ao chefe que está trabalhando.
Tudo o que de pior pode acontecer é o ministro ficar fragilizado, neste momento, em que a legislação ambiental está sob ataque. Sugiro ler o site da Frente Parlamentar Ambientalista para ter mais detalhes.
Muitas vezes a importância das leis passa despercebida. É como o jogo de futebol em que o juiz atua bem: ninguém nota sua presença em campo. Há poucos dias, chegando em Brasília, encontrei uma senhora de aproximados 75 anos. Dona Juranda, carioca, moradora das imediações da Praça da Cruz Vermelha, no centro do Rio. Ela andava com dificuldade e me ofereci para carregar sua bolsa.
Ela ficou muito feliz, não pode se livrar da bolsa que não me concedeu, mas pelo oferecimento. “Todo mundo anda me tratando tão bem”, disse. Sua teoria é de que o arcabouço legal de proteção aos idosos está fazendo efeito. Primeiro gerou imposições e depois consciência nas pessoas. Levou um tempo entre uma coisa e outra.
O mesmo acontece com a legislação ambiental. Ela vai gerar consciência. A conservação será uma atitude mais natural. Enquanto isso, precisa-se de um ministro que saiba se impor. O Minc sabe. Nem a insensibilidade ambiental do presidente Lula o impediu de dizer, no mesmo dia, à noite, que seguirá sua consciência, nem que tenha que sair do governo. Até prova em contrário de suas reais intenções, torço para que não saia.
A maior parte do lixo encontrado nos oceanos é composto por produtos plásticos, como garrafas, sacos e embalagens. Em algumas regiões, a "poluição plástica" representa 80% de todos os detritos encontrados. As informações fazem parte de um relatório do Programa Ambiental das Nações Unidas (Unep, na sigla em inglês) divulgado nesta segunda-feira em comemoração ao Dia Mundial dos Oceanos.
Embora a Unep não tenha como precisar o total de lixo nos oceanos, a entidade garante que as evidências indicam que a quantidade de entulho está crescendo. O relatório da ONU tem o intuito de alertar os governos das regiões onde a situação está mais crítica, para que alguma solução seja tomada.
A principal causa da poluição marítima, segundo a ONU, são o desperdício e a má administração dos recursos naturais. Ainda segundo a entidade, os sacos plásticos finos deveriam ter sua produção banida e o processo de reciclagem incentivado pelos governos.
O plástico também atinge diretamente os animais que vivem no mar ou dependem dele para sobreviver. Um estudo com os pássaros fulmaros glaciais, encontrados no Mar do Norte, revelou que 95% deles tinham pedaços de plástico em seus estômagos. Ao confundir a poluição com comida, muitos animais acabam ingerindo o plástico por engano, como é o caso das tartarugas que, frequentemente, confundem sacolas com águas-vivas, sua principal presa.
Economicamente, os países também acabam perdendo com a poluição, uma vez que ela pode contaminar áreas de agricultura e turismo, além de danificar barcos e equipamentos de pesca. Em apenas um ano, a Suécia gastou cerca de 1,5 milhão de dólares (aproximadamente 3 milhões de reais) para recuperar as praias de Bohuslan. O Peru também teve que investir cerca de 400.000 dólares (pouco mais de 780.000 reais) - o dobro do investimento feito na limpeza das áreas públicas apenas para limpar sua costa.
O TRUNFO DA DEDINI MONTAGEM EM SÉRIE: Olivério, vice-presidente da Dedini, dentro de uma coluna de destilação |
FUTURISTAS: novas usinas são modernas até na aparência |
O dilema ambiental de hoje é o resultado de uma lógica econômica que ignora os limites naturais para o crescimento. O economista americano Herman Daly foi o primeiro a reconhecer esse problema, quando estava no Banco Mundial, em 1988. Hoje, professor da Universidade de Maryland, ele propõe saídas para o impasse.
A maioria dos economistas não entende um fato simples que para os cientistas é óbvio: o tamanho da Terra é fixo. Nem a superfície nem a massa do planeta crescem ou encolhem. O mesmo vale para a energia: a quantidade absorvida pela Terra é igual à quantidade que o planeta irradia. O tamanho total do sistema – a quantidade de água, solo, ar, minerais e outros recursos presentes no planeta em que vivemos – é fixo.
A mudança mais importante que aconteceu na Terra nos últimos tempos foi o enorme crescimento da economia, que tem consumido cada vez mais recursos do planeta. Desde que eu nasci, a população mundial triplicou, e o número de cabeças de gado, carros, casas e geladeiras aumentou ainda mais. Nossa economia está agora alcançando um ponto em que vai ultrapassar a capacidade da Terra de sustentá-la. Os recursos acabam e os reservatórios de lixo lotam. O mundo natural que nos resta não pode mais suportar a economia atual, muito menos uma que continue a se expandir.
A economia é como um organismo faminto em fase de crescimento. Ela consome recursos naturais como árvores, peixes e carvão. Deles, produz energia e bens úteis e cospe resíduos como dióxido de carbono, lixo e água suja. A maioria dos economistas está preocupada com o sistema circulatório do organismo e em como a energia e os recursos podem ser eficientemente alocados. E tende a ignorar seu sistema digestivo: os recursos que o organismo consome e o lixo que produz. Os economistas pressupõem que ambos sejam infinitos.
Por causa disso, eles não reconhecem limites na capacidade de crescimento da economia. Num relatório publicado no início do ano, a Comissão de Crescimento e Desenvolvimento (apoiada pelo Banco Mundial) revisou a experiência de 13 países, incluindo Botsuana, Brasil, China e Japão. Esses países cresceram 7% ou mais ao ano durante décadas. A comissão sugere que o mundo deveria seguir esse exemplo. No entanto, se a economia global crescesse nesse ritmo, em 25 anos ela estaria cinco vezes maior que hoje. Eles não dizem o que aconteceria depois disso. Presumo que deveríamos simplesmente almejar repetir o feito.
Geralmente, quando o custo de uma atividade começa a se sobrepor a qualquer benefício, nós a interrompemos. Comprar um sorvete faz sentido se isso nos traz prazer e sacia o apetite. Uma vez que já comemos dois ou três sorvetes, contudo, não compramos mais nenhum, porque, apesar do sabor agradável, começamos a passar mal. Esse botão de desligar não está funcionando para a economia como um todo, porque nossa contabilidade não separa os custos da atividade econômica de seus benefícios. Em vez disso, ambos são contados como Produto Interno Bruto (PIB). Contamos como crescimento desejável tanto o benefício da atividade que gera poluição quanto o serviço de limpeza dessa poluição, por exemplo. E, quando a derrubada de árvores e a venda da madeira inflam o PIB, nada subtraímos pela perda de florestas.
A escala da economia global está se aproximando dos limites com os quais o planeta pode arcar. À medida que os oceanos ficam sem peixes, as florestas encolhem com o desmatamento e os níveis de poluentes e de gases de efeito estufa na atmosfera aumentam, os custos ambientais e sociais do crescimento tendem a aumentar. Até que alcancemos um ponto em que o preço que pagamos por unidade extra de crescimento se torna maior que os benefícios que desfrutamos.
Há evidências de que já passamos desse ponto, ao menos em países ricos como os Estados Unidos e o Reino Unido. Já que nosso PIB não revela se isso aconteceu ou não, acadêmicos deram um jeito de monitorar outros potenciais indicadores, como saúde, bem-estar e o estado do meio ambiente. Criaram medidas como o Índice de Bem-Estar Econômico Sustentável, o Indicador de Progresso Genuíno, a Pegada Ecológica e o Índice do Planeta Feliz. Esses acadêmicos descobriram que, à medida que o PIB cresce, esses outros indicadores se estabilizam ou caem. O crescimento econômico pode já estar nos deixando mais pobres que ricos.
Porque nosso sistema econômico é baseado na corrida pelo crescimento econômico acima de tudo, estamos rumando para um desastre ambiental – e econômico. Para evitar esse destino, é preciso mudar o foco do crescimento quantitativo para o desenvolvimento qualitativo e estabelecer limites estritos para a taxa de consumo dos recursos da Terra. Numa economia estável desse tipo, o valor dos bens produzidos ainda pode crescer, por exemplo, por meio de inovação tecnológica ou melhor distribuição. Mas a escala física da economia deve ser mantida em um nível que o planeta seja capaz de sustentar. É possível transformar nossa economia de um avião acelerado para um helicóptero pairando no ar? Após 200 anos de crescimento econômico, é difícil imaginar como seria uma economia estável. Ela não precisa significar passar frio no escuro sob uma tirania comunista. A maior parte das mudanças pode ser aplicada gradualmente, em pleno voo.
Podemos substituir o Imposto de Renda por uma taxa sobre o consumo de recursos naturais. Por exemplo, cobrando pelo óleo bombeado do fundo da terra ou pelo peixe tirado do mar. Isso incentivaria as empresas e as pessoas a usar melhor esse material. O excesso de embalagens no supermercado desapareceria. Também poderíamos criar um imposto sobre o carbono emitido. Viagens com combustíveis fósseis ficariam proibitivas, o que estimularia o transporte público e os veículos com tecnologias limpas. As empresas venderiam menos produtos e ofereceriam mais serviços. Em vez de comprar, alugaríamos o carro ou o tapete. A empresa fornecedora seria responsável pela manutenção e pela reciclagem do produto.
Como uma economia que não cresce afetaria nossa qualidade de vida? Psicólogos e economistas descobriram que a relação entre renda e felicidade é limitada. Depois que as necessidades básicas são atendidas, a felicidade depende mais da renda relativa – como nós estamos em relação a nossos pares – que da absoluta. Ter menos coisas não significa ser menos feliz. É possível até que traga mais felicidade. Além do prazer de deixar um planeta inteiro para nossos netos.
Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil
Começando com uma não-celebridade: Christopher Lasch. Historiador, norte-americano. Em 1979, ele esboçou um diagnóstico da sociedade dos Estados Unidos como uma "cultura do narcisismo".
Passados 30 anos, dá perfeitamente para se afirmar que a moléstia - e não há dúvida tratar-se de moléstia - se espalhou pelo mundo inteiro. Lasch ponderou ainda que esta cultura se caracteriza por uma relação simbiótica entre celebridade, mídia e audiência, o que, por sua vez, leva a uma definição narcisista de personalidade.
Antes de passarmos a bola para Naomi (é oxítona, hem) Campbell, fiquemos mais um pouquinho com o historiador. Escreveu ele o seguinte: "A mídia dá substância e, assim, intensifica os devaneios de fama e glória, encorajando a pessoa comum a se identificar com astros e estrelas e a odiar o rebanho da multidão, o que torna cada vez mais difícil o processo de aceitar a banalidade da existência do dia-a-dia".
O mundo inteiro, via televisão, tem o seu equivalente aos velhos programas de calouros, só que agora incrementados. Alguém na distinta plateia se lembra do rádio e A Hora do Pato? Os calouros de Ary Barroso? Flávio Cavalcanti e seus jurados amestrados? Multipliquem por mil, acrescentem cores e aí estamos: exatamente onde estávamos.
Outro dia mesmo, uma senhora britânica, beirando os 50 anos, de aspecto e apresentação classe operária, abriu a boca num desses programas milionários em audiência, cantou razoavelmente em inglês uma miserável canção francesa do musical Les Misérables e em menos de 24 horas virou fenômeno mundial. Ou seja, celebridade. As devidas aspas ficam por conta da disposição de cada um.
Uma mocinha também de classe operária - quase um xingamento aqui no Reino Unido -, Jade Goody, participou de um Big Brother mais notório que os outros. Foi por uns tempos a mulher mais odiada do país. Exemplo vivo de ignorância e falta de modos. Levou sua celebridade a outras versões do programa. Até na Índia. Acabou diagnosticada com câncer no útero. Vendeu e promoveu sua doença, para fins beneficentes, claro, casou-se, foi capa de tudo quanto é revista, primeira página de tudo quanto é jornal, ganhou programa próprio de televisão e, muito moça ainda, morreu.
Coitada. Mesmo. Sem sacanagem. Foi, e ainda é, das maiores celebridades recentes da Grã-Bretanha. Já se fala num musical a respeito de sua vida, a estrear dentro de alguns meses.
O povão, zi bigui pípul, ulula, bate palmas e pede bis. Há uma grande fome, uma enorme sede de celebridades. A "celibrocacia" está à solta. Ou a "celebritite". Como quiserem. Reações fervorosas ao fenômeno. Descobriram que qualquer idiota pode ser celebridade. Todos então à fila de inscrição nesse ou naquele outro programa de calouros. Há de tudo para todos os tipos de imbecis.
Não esquecer de forma alguma o que as celebridades 3 estrelas, como restaurantes do Guia Michelin, andam espalhando por aí em matéria de besteira. Brangelina, ou o casal Pitt-Jolie, praticamente anexou a Namíbia.
Madonna se apropriou da kabbalah confundindo tudo, além de ensaiar novas investidas adotivas na República do Malauí. Sharon Stone, cruzando as pernas, ensaia tolices inomináveis no Oriente Médio e na forma como a China trata o Tibete. Tola. O Tibete pertence a Richard Gere, como todos sabem.
Nem vou tocar, que me falta estômago, nos roqueiros. Prefiro encerrar estas divagações com minha celebridade predileta - e de muitos brasileiros também - que é a Naomi "Oxítona" Campbell. Sozinha, ela inventou e patenteou a agressão contra os serviçais mais próximos, ou à mão, da personal trainer à comissária de bordo.
Taca Ficha, Naomi, taca ficha! Calibra a mira e celebriza para valer esse troço aí!
0/03/2009 - 11h03 Por Taís Carolina Seibt* |
Já dizia Jeffrey Immelt, Presidente da General Eletric (empresa fundada em 1879, por Thomas A. Edison), que “o verde da Ecologia traz o verde do Dinheiro. Estamos caminhando em um período em que a melhora ambiental levará à lucratividade”. A previsão torna-se realidade. Nada melhor do que atribuir à invenção energética - que completará 130 anos no dia 22 de Outubro de 2009 - uma das suas razões primordiais de descoberta e surgimento: a natureza. Apesar de a primeira lâmpada incandescente ter como atribuição o cientista Thomas A. Edison (1847-1931), sua idéia só foi possível graças ao político e pesquisador Benjamin Franklin (1706-1790) que, ao observar fenômenos elétricos ocasionados em noites de tempestades, percebeu que os raios eram descargas elétricas que vinham das nuvens, surgindo assim o primeiro pára-raios.
O surto da “febre verde” que teve início no final dos anos 80, ainda representa uma ameaça para uma grande maioria empresarial. Para outras se torna insignificante. No entanto, com as constantes ameaças geradas em torno do aquecimento e do escurecimento global, muitos empresários e industriais que se comprimem em conferências, seminários e congressos sobre leis ambientais, tecnologia da poluição, mercado de carbono, energias renováveis e auditorias ambientais, foram levados mais pela ansiedade sobre os custos de tomar uma decisão ambiental errada – um processo legal dispendioso, solicitações de projetos indeferidos, clientes furiosos – do que pelas oportunidades de acertá-las adequadamente e ainda lucrar com a prevenção.
A inclusão da problemática ambiental vem levando a um contínuo debate da questão em termos institucionais, em razão de que as medidas de proteção ecológicas não foram criadas para impedir o desenvolvimento econômico. A competitividade já não é mais encarada como apenas uma questão de preços, salários e taxas de câmbio. Essas referem-se a antiga visão econômica tradicional. No presente, a concorrência baseia-se no cenário da Terceira Revolução Industrial, onde o meio ambiente torna-se fator estrutural dentro do processo de globalização produtiva e financeira.
E se não foram criadas para barrar o crescimento da economia, torna-se necessário associar a relação ambiental ao desenvolvimento já que se tratam de posturas fundamentadas na compreensão de avaliações de custos/benefícios associadas a projetos de ordem financeira, onde a busca por formas integradas (sociais, ambientais e econômicas) levará a criação de conceitos que permitam a harmonização dessa dualidade.
A existência de iniciativas concretas de aplicação da sustentabilidade nos mostra que este conceito já começa a despontar como um dos principais norteadores das decisões de investimentos governamentais e privados. Uma resposta a esse fator imperativo foi o surgimento do ideal de desenvolvimento sustentável.
A expressão desenvolvimento sustentável tornou-se “palavra de ordem” após a publicação do Relatório de Brundtland, intitulado “Nosso futuro comum”, em Abril de 1987, pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas, estabelecendo que o atendimento às necessidades do presente não devem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem às suas. Do processo de amadurecimento do conceito de desenvolvimento sustentável iniciou-se a percepção de que existia a necessidade de uma perspectiva multidimensional, envolvendo economia, ecologia e política simultaneamente, já que somente o governo pode corrigir a injustiça ambiental. Pois é apenas o Estado que pode fixar quanto a sociedade deve valorizar o ambiente e em que medida este valor se insere em transações econômicas.
A política ambiental é inevitavelmente intervencionista. Sem a intervenção governamental, a Mãe Terra não pode ser integralmente protegida, já que se encontra ligada à distribuição social. Um dos aspectos ambientais que preocupam a população é o seu aspecto internacional. Cada vez mais, questões relacionadas ao meio ambiente substituirão as da defesa como prioridade das negociações internacionais. Em vez do deslocamento de exércitos e tropas, os diplomatas aprenderão a discutir a influência do dióxido de carbono no ar atmosférico, e a gravidade dos óxidos de nitrogênio na formação da chuva ácida. Os governos que desejarem ser verdes terão que convencer os cidadãos a aceitar os custos em benefícios dos eleitores de outros países.
Os custos das políticas verdes serão uma carga a mais aos setores empresariais e industriais, já que grande parcela das companhias apenas adotará a revolução eco-sustentável até o ponto em que os governantes ordenarem. No entanto, é preciso que o Estado realize suas funções de modo mais efetivo abrindo espaço para a lucratividade empreendedora, mas isso só ocorrerá se ambos compreenderem seu mútuo interesse na regulamentação ambiental.
O desafio é fazer com que o governo fixe padrões a um patamar em que os setores produtivos possam alcançar sem desestabilizar, potencializando a aliança verde entre os setores públicos e privados, criando incentivos à abertura de mercados mais amplos e competitivos em combate aos problemas ambientais. Tal fator será decisivo na redução de custos, já que aumentará a criatividade inventiva industrial com o desenvolvimento de tecnologias de eficiência energética, encontrando usos sustentáveis, reduzindo os montes de lixos no mundo e encontrando formas simples e confiáveis de contracepção.
O setor empresarial e industrial deve ter em mente que investir parte do capital em meio ambiente, significa obter até mesmo em dobro os retornos lucrativos do que foi aplicado, mesmo que em médio ou longo prazo.
Custos existem, mas seus benefícios financeiros em prol do planeta também. Em composição ao Patrimônio Líquido Meio Ambiente, o setor empresarial pode destinar certa parcela do seu Capital Social para aplicação em estratégias ambientais nas atividades de prevenção, recuperação, monitoramento e reciclagem. E, além disso, constituir com reservas para contingências ambientais, doações e subvenções.
Nos casos de contingências ambientais (perdas relacionadas a fenômenos naturais que afetam diretamente as operações e rentabilidade da empresa, como geadas, secas ou inundações), estes fatores podem refletir na estrutura patrimonial e na atividade operacional empresarial. Já a conta de doações e subvenções para investimento em meio ambiente refere-se ao registro de todos os elementos recebidos em incentivos governamentais em nível municipal, estadual e federal para aplicações em atividades sustentáveis classificando-se como Reserva de Capital.
Para o nascimento de empresas e indústrias eco-eficientes torna-se essencial, além da política e conscientização ambiental, a proteção das companhias contra críticas e não apenas contra as penalizações legais. E aí a auditoria ambiental vem a se tornar uma importante aliada. É a partir dela que se verificará o cumprimento das normas e o exame local ou das instalações que estão sendo compradas ou vendidas, garantindo que não ocorram implicações em qualquer surpresa em termos de responsabilidades, e ainda oferecerão uma base para subseqüentes melhorias. É dessa nova fase da Revolução Industrial, que desponta em razão da sobrevivência humana em meio a anunciadas catástrofes de cunho ambiental, que depende o futuro do Planeta. O mercado global e as políticas públicas ditarão as regras referentes ao futuro da Humanidade.
A neutralização de carbono através do reflorestamento de áreas degradadas com o objetivo de neutralizar as emissões de produções ou eventos durante certo prazo pelas pequenas, médias e empresas de grande porte tornar-se-á um fator decisivo para um novo ciclo de consciência, preservação e reconstrução ambiental, favorecendo a economia, a sociedade e a biodiversidade. O mercado de carbono será outro fator que influenciará nas moedas mundiais. Surge como um novo capital concorrente de investimentos globais, que tenderá a afetar e influenciar as Bolsas de Valores e o comércio como um todo. Não há dúvidas que o novo movimento verde baseado na eco-eficiência sustentável irá e já começa a impor custos às empresas. Entretanto, representa também o início de uma extraordinária oportunidade, talvez a mais abrangente já surgida no mundo industrial, para empreendimentos e criatividades. Prosperarão os que souberem tirar o máximo proveito da nova era eco-industrial.
* Taís Carolina Seibt é advogada ambiental e professora do MBA em Gestão Ambiental
O problema mais grave do país talvez seja o da natalidade entre a população pobre. Tenho consciência plena de que essa afirmação é considerada politicamente incorreta e que me traz problemas com certas alas da intelectualidade todas as vezes que a faço. Mesmo assim, vou insistir nela. Nove meses de gravações de uma série sobre gravidez, realizadas para a TV em cinco cidades brasileiras, fortaleceram em mim a convicção de que, se não tomarmos providências imediatas, a violência urbana nas próximas décadas nos fará sentir saudades da paz que ainda desfrutamos em lugares como São Paulo e Rio de Janeiro. Numa época em que dispomos de métodos eficazes de contracepção, o número de gestações indesejadas nas classes mais desfavorecidas é tão exagerado que cabe perguntar: por que razão os responsáveis pela elaboração de políticas públicas fogem desse assunto como o Diabo da cruz? Além do descaso, só encontro duas explicações para a omissão: ingenuidade ou falta de coragem para contrariar a igreja. A ingenuidade está na interpretação apressada das estatísticas que mostram queda das taxas médias de natalidade. Realmente, mesmo as mulheres mais pobres têm hoje, em média, menos do que a meia dúzia de filhos de 50 anos atrás. Mas, naquela época, 70% da população vivia em zona rural, onde a criança de sete anos já pegava na enxada para ajudar no sustento da família. Hoje, com 80% dos habitantes nas cidades, três ou quatro filhos pequenos por acaso contribuem para melhorar o orçamento doméstico? Outra distorção ao analisar taxas médias está em não perceber o que acontece com determinadas subpopulações. Por exemplo, segundo o IBGE, as mulheres com formação universitária têm, em média, 1,4 filho (como nos países desenvolvidos), enquanto as analfabetas e as que cursaram apenas um ano escolar têm 5,6 (a mesma taxa da Namíbia). O que mais choca, no entanto, é que não é preciso formação acadêmica para avaliar a gravidade do problema; a realidade está a menos de um palmo de nossos narizes. Quem de nós não conhece de perto uma mulher com muito mais filhos do que poderia sustentar? Casas sem reboco, mocinhas grávidas e criançada na rua saltam à vista de quem chega à periferia ou entra numa favela de qualquer cidade brasileira. Não é preciso consultar o IBGE para constatar que existe uma epidemia de gravidez na adolescência no país, basta ir à sala de espera de uma maternidade do SUS. Na favela da Maré, a maior do Rio de Janeiro, elogiei a beleza da menina no colo de uma moça de cabelo cacheado. É minha neta, respondeu. Tinha 31 anos. Cada bebê assim nascido tira a mãe da escola e empobrece a família dos avós, porque os homens de hoje dificilmente assumem paternidades não desejadas. Quem já pôs os pés numa cadeia sabe o quanto é difícil encontrar um preso que tenha sido criado em companhia de um pai trabalhador; a maioria esmagadora é de filhos de pais desconhecidos, ausentes, mortos em tiroteios ou presidiários como eles. Os que menos filhos deveriam conceber são justamente os que mais os têm. Por quê? Por sem-vergonhice? Por maldade, só para vê-los sofrer? Esses bebês indesejados pelos pais vêm ao mundo como conseqüência da ignorância e da dificuldade de acesso aos métodos de contracepção. Embora no papel o programa brasileiro de planejamento familiar seja considerado dos mais avançados, na prática ele chega capenga à população de baixa renda. As pílulas distribuídas nos postos de saúde são as mais baratas do mercado (e que mais efeitos colaterais provocam); os anticoncepcionais em adesivos a serem trocados apenas uma vez por semana, ideais para vencer a indisciplina das adolescentes como os estudos demonstram, não estão disponíveis; os dispositivos intra-uterinos (DIU) são virtualmente ausentes; e camisinha à vontade, só no Carnaval. Conseguir vasectomia ou laqueadura de trompas pelo SUS, então, é o verdadeiro parto da montanha. Há que marcar consulta com os médicos, com a assistente social e com a psicóloga. São meses de peregrinação pelos corredores dos hospitais públicos que mães ou pais de cinco filhos são obrigados a fazer, para ouvir perguntas como: e se você se separar de sua mulher e se casar com outra mais jovem? E se seus filhos morrerem e você quiser outros? Na cartilha que o Ministério da Saúde distribui às gestantes, está garantido acesso à laqueadura a toda mulher com mais de 25 anos que tenha dois ou mais filhos, gratuitamente, pelo SUS. Você sabia, leitora? De que adianta garantir a existência teórica de um direito, se, na prática, ele é desconhecido por todos? Se o acesso a ele é vedado de forma tão cruel pela burocracia oficial, que até hoje são comuns práticas odiosas como as de políticos trocarem laqueaduras por votos em véspera de eleição, e médicos do SUS cobrarem por fora por esses procedimentos? Que ideologia insana ou princípio religioso hipócrita justifica o fato de nossas filhas atravessarem a adolescência sem engravidar, enquanto as filhas dos mais pobres dão à luz aos 15 anos? Termos um ou dois filhos, no máximo, enquanto eles têm o dobro ou o triplo para acomodar em habitações precárias? A falta de recursos para programas abrangentes de planejamento familiar é desculpa irresponsável! Sai muito mais caro abrir escolas, hospitais, postos de saúde, servir merenda, dar remédios e arranjar espaço físico para esse mundo de crianças. E, mais tarde, construir uma cadeia atrás da outra para enjaular os mal-comportados. * Dráuzio Varella é médico oncologista, professor e escritor. |