quarta-feira, 9 de abril de 2014

Governo de SP se oferece para tirar Ferroanel do papel


Gargalo ferroviário da cidade de São Paulo poderia ser resolvido com uma parceria no projeto executivo e licenciamento ambiental

09 de abril de 2014 | 2h 10

Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
Os anos de estudo em torno do maior gargalo ferroviário do Brasil não foram suficientes para tirar o Ferroanel de São Paulo do papel, apesar do ultimato dado pela presidente Dilma Rousseff em 2012. Considerado prioritário para destravar o acesso ao Porto de Santos e acabar com o conflito entre trens de passageiros e de carga dentro da cidade de São Paulo, o projeto agora pode mudar de mãos. Pelo menos, na parte administrativa, de elaboração do projeto.
O presidente da Dersa -Desenvolvimento Rodoviário, Laurence Casagrande Lourenço, diz que o Estado negocia com o governo federal a possibilidade de São Paulo elaborar o projeto executivo e o licenciamento ambiental da obra no tramo Norte (entre Jundiaí e Manoel Feio, em Itaquaquecetuba).
Segundo ele, com a construção do Rodoanel, o governo estadual adquiriu elevado nível de informação sobre a área, o que pode facilitar no processo do anel ferroviário, orçado em cerca de R$ 2 bilhões. "É o passo a mais que o Ferroanel está precisando para sair do papel."
Lourenço destaca que, para a transferência de atribuições ocorrer, o governo federal precisa criar uma ferramenta legal - um convênio, por exemplo, resolveria o problema. O custo do projeto executivo e do licenciamento está calculado em torno de R$ 15 milhões, diz ele. As negociações estão sendo tocadas com a Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e com o Ministério dos Transportes. Procurados, os dois órgãos afirmaram apenas que o assunto está em análise.
Hoje as cargas que vêm do interior de São Paulo, pela linha da concessionária MRS, são obrigadas a passar pelo centro da capital para chegar a Santos - ou vice-versa. Como a CPTM tem prioridade para o transporte de passageiro, as composições com carga apenas podem trafegar pelos trilhos durante a noite. "São 50 ou 60 composições por mês (considerado pouco). Se a CPTM decidir diminuir o intervalo dos trens, fica inviável passar carga."
A proposta feita por São Paulo seria a segunda parceria com o governo federal no projeto do Ferroanel. Em 2012, ficou acordado entre ambas as partes que o governo paulista faria a terraplenagem de 44 km do anel ferroviário junto com o Rodoanel Norte. A medida resultou numa economia de R$ 1 bilhão para o governo federal, afirma Lourenço. "O acréscimo de obras significou aumento de R$ 300 milhões no Rodoanel - recurso que está sendo repassado pela União - e uma economia de R$ 1,3 bilhão no Ferroanel."
Com o trecho Norte, a capacidade de transporte de carga vai aumentar, já que os trens poderão circular a qualquer momento pelos trilhos. Além disso, tem potencial para elevar a participação do transporte ferroviário no Porto de Santos - apenas 10% dos granéis chegam ao estuário santista por meio de ferrovias. A maioria das mercadorias que entram e saem do maior porto do País é transportada por meio de caminhão.
Trechos. Nos planos do governo federal, o Ferroanel deverá ter ainda outros dois trechos para contornar São Paulo. O Sul vai margear o Rodoanel Sul, entre a Estação Evangelista de Souza e a cidade de Ribeirão Pires. O trecho Noroeste ligará a malha até Evangelista de Souza.
A prioridade, no entanto, é o tramo Norte, que tem maior potencial de transporte. Quando concluído, será responsável por 90% da demanda do Ferroanel. Segundo projeções da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o trecho movimentará cerca de 40 milhões de toneladas de carga até 2040,sendo24 milhões com destino ao Porto de Santos.
Conseguir tirar o Ferroanel do papel seria um grande avanço no setor. Hoje boa parte dos projetos está emperrada, com questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre custos ou sobre as novas regras. O anel ferroviário de São Paulo deverá entrar no novo modelo do setor: uma empresa constrói a ferrovia, a Valec compra a capacidade e vende para o operador logístico.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Racionamento de informação


05 de abril de 2014 | 2h 04

CLAUDIO J. D. SALES E EDUARDO MÜLLER MONTEIRO - O Estado de S.Paulo
A ocorrência de um racionamento de energia elétrica põe qualquer país em trajetória econômica muito negativa e é interpretada por qualquer governante como pesadelo político tão pesado que a simples menção à palavra "racionamento" (e similares, como "apagão" e "blecaute", apesar de equivocadas) é considerada tabu a ser evitado a qualquer custo por recomendação de marqueteiros e estrategistas eleitorais.
Governantes podem até se preocupar com sua imagem político-eleitoral, mas é preciso aceitar que o limite desse direito acaba quando a sociedade passa a ser privada de informações claras e objetivas sobre a real situação de oferta de energia e sobre as perspectivas futuras. A falta de boa informação, além de subestimar a capacidade de compreensão e reação da sociedade, produz ineficiências e custos adicionais.
A situação pela qual o Brasil passa é de "estresse" (como passou a dizer o próprio governo) caracterizado pela seguinte combinação: 1) todas as usinas termoelétricas disponíveis estão ligadas para poupar água nos reservatórios de usinas hidrelétricas; 2) apesar disso, o nível de armazenamento dos reservatórios na Região Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO), a mais relevante do sistema, está em 35,3%, tendo aumentado apenas 0,7% entre 1.º e 21 de março; 3) o período de chuvas na região (de novembro a abril) se encerra em menos de 45 dias, prazo curto para que os reservatórios tenham cerca de 43% de energia armazenada, volume necessário para atravessarmos o período seco do ano sem maiores estresses.
A matriz elétrica é baseada na lógica hidrotérmica, segundo a qual nossos invejáveis 68% de capacidade instalada de hidrelétricas são complementados com termoelétricas (cerca de 30%), eólicas (cerca de 2%) e solares (fonte em fase de inserção).
Nossa matriz tem a vantagem de ser altamente renovável, mas a desvantagem de depender do regime de chuvas, que, neste ano, e em especial no SE/CO, tem sido de seca muito severa (o terceiro "pior" janeiro e o segundo "pior" fevereiro de nossa história). Esses fatos, porém, não justificam o estresse, pois os modelos computacionais usados no planejamento e na operação do sistema, baseados em séries históricas de chuvas, deveriam dar as respostas tanto para a expansão da oferta de energia quanto para a operação do sistema.
No médio e no longo prazos há muito o que aprimorar, especialmente nos critérios utilizados nos leilões de energia, mas, no curto prazo, decisões urgentes precisam ser tomadas.
Como estamos usando todas as termoelétricas de que dispomos, dependemos fundamentalmente de duas variáveis para chegar ao fim de abril com o nível dos reservatórios necessário: chuvas nas próximas seis semanas (variável que não controlamos) e redução do consumo pela sociedade.
Ao não comunicar a situação atual de forma clara e imparcial, o governo perde excelente oportunidade de compartilhar esse desconforto com os cidadãos brasileiros e de criar alternativas que poderiam evitar um racionamento ou, no mínimo, diminuir os riscos e/ou custos de um eventual racionamento.
A lista de alternativas que surgiriam com uma comunicação mais transparente seria fortemente derivada da mudança de percepção do consumidor sobre a situação de oferta de energia. Afinal, o consumidor brasileiro tem muitas razões para estar confuso. De um lado, ele ouviu da presidente da República que sua tarifa seria reduzida, um incentivo para consumir mais. De outro, ele ouve no noticiário análises sobre risco de racionamento, o que exigiria economizar energia.
Além de uma provável redução voluntária de consumo, o aumento da transparência governamental abriria caminho para a formulação de medidas regulatórias para a promoção da redução incentivada de consumo de forma a restabelecer a lógica econômica que se perdeu e que deve vincular escassez de oferta ao custo da energia.
SÃO PRESIDENTE E DIRETOR EXECUTIVO DO INSTITUTO ACENDE BRASIL
SITE: WWW.ACENDEBRASIL.COM.BR

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Abandonada, TV Senado está em más condições


Criada em 1996 para divulgar as atividades dos senadores, a TV Senado vive situação de sucateamento e abandono, segundo e-mails e relatos de servidores.
Com funcionários trabalhando em condições insalubres e equipamentos sem manutenção por quase um mês, a TV enfrenta cortes no orçamento devido à política de redução de gastos imposta pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
E-mails obtidos pela Folha e relatos de servidores que preferem não se identificar revelam que os serviços de manutenção foram suspensos após o contrato para a atualização dos equipamentos ser encerrado.
Nesse período, câmeras e ilhas de edição pararam de funcionar –após ser procurada pela reportagem, a Casa firmou contrato com validade de dois meses.
Quando as fitas para gravação acabaram, técnicos da emissora passaram a selecionar o que seria registrado e a descartar imagens anteriores.
Sem tinta para impressão, passaram a recorrer a outros departamentos do Senado.
Eles também se queixam do mau cheiro que emana do subsolo da TV, causado por um defeito na bomba que leva o esgoto do Senado até a Caesb (Companhia de Esgoto de Brasília). A situação já levou a direção da emissora a suspender o expediente por uma tarde devido ao "estado insalubre" causado pela"liberação de gases".
OUTRO LADO
Em nota, o Senado afirmou que a maior parte dos equipamentos da TV tem quase 15 anos de utilização, mas deve começar a ser substituída neste ano.
A Casa diz ainda que a falta de impressora não prejudica os trabalhos da TV.
Quanto ao esgoto, o Senado admite o problema e promete realizar a manutenção na bomba aos sábados.