quarta-feira, 4 de abril de 2012

Os pontos do Plano Brasil Maior, do blog do Nassif



Coluna Econômica - 04/04/2012
Lançado ontem, o plano Brasil Maior finalmente abre as portas dos Ministérios econômicos para a parceria com o setor privado. Retoma-se, assim, uma iniciativa inaugurada no governo Collor, das Câmaras Setoriais.
A ideia básica é a de que não se terá competitividade tratando cada empresa individualmente. É necessário analisar a cadeia produtiva, identificar pontos de estrangulamento, aumentar a sinergia, para se obter resultados mais consistentes.
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As medidas anunciadas são da seguinte ordem:

Câmbio

Mantega considera que o dólar a R$ 1,80 é “razoável” para a indústria. Obviamente é muito melhor do que o dólar a R$ 1,60, mas é claramente insuficiente. De qualquer modo, hoje Banco Central e Fazenda possuem um arsenal de medidas que poderão ser acionadas a qualquer momento. Essa perspectiva tende a moderar a gana dos especuladores.

Medidas tributárias

Muitos países europeus têm procurado reduzir o custo da mão-de-obra através da redução de salários. Por aqui, decidiu-se pela redução dos encargos trabalhistas, escolhendo alguns setores para trocar a contribuição sobre a folha pela contribuição sobre o faturamento.
Poucas associações entregaram estudos consistentes, para avaliar se a troca é vantajosa. Em muitos setores, especialmente de pequenas e médias empresas, recorre-se hoje em dia a terceirização. Caberá ao Tesouro Nacional cobrir eventual aumento do déficit da previdência - esta medida específica será Medida Provisória, e entrará em vigor dentro de 90 dias.
São 15 setores que serão, inicialmente, beneficiados: têxtil; confecções; móveis; plástico; material elétrico; ônibus; naval; aéreo. Nos serviços, serão contemplados hotéis, Tecnologia da Informação (TI), call center e design. A previsão é de que a desoneração chegue a R$ 7,200 bilhões anuais.

Compras governamentais

A prioridade será para produtos fabricados no país mesmo q o produto importado seja até 25% mais barato que o nacional.

Comércio exterior

Na modalidade PROEX Financiamento, haverá aumento no orçamento para R$ 1,6 bilhão. No PROEX Equalização, serão destinado R$ 1 bilhão, viabilizando o volume maior de exportações, inclusive de Micro e Pequenas Empresas. Empresas com operações abaixo de R$ 20 milhões terão liberação para o financiamento sem precisar mais passar por uma comissão que analisa as exportações.

Defesa comercial

A Operação Maré Vermelha, atualmente em curso nos portos brasileiros, coloca na “linha cinza” diversos containers para verificação de fraudes, que, até o momento, já somam mais de 5 mil registradas pela receita.  Outra ação importante será a aprovação da Resolução 72, que reduz o ICMS interestadual para importação. Segundo Mantega, os Estados estão dando mais importância para os produtos importados. Se aprovado o projeto, os subsídios às importações, dados pelos Estados, serão reduzidos.

Comunicações

O objetivo será triplicar a rede de banda larga no país, de 11 mil quilômetros para 30 mil até 2014, por meio do Plano Nacional de Banda Larga. Para isso, serão desonerados os principais impostos para equipamentos que viabilizam o plano.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O início da batalha da reindustrialização



Coluna Econômica - 03/04/2012
Hoje de manhã, no Palácio do Alvorada, será anunciado o pacote de estímulos à indústria nacional.
Uma parte do pacote consistirá em desoneração de folha – trocando os encargos sobre a folha por alíquotas sobre o faturamento. Outra parte, do aumento da oferta de financiamentos e redução de juros pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico s Social). Ainda se deverá rever os termos do acordo automotivo.
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Há anos o setor empresarial reclama de aspectos do custo Brasil. Há uma carga desmedida sobre a folha de salários, dificultando a contratação e penalizando setores intensivos de mão-de-obra. Há impostos sobre investimento – algo impensável em qualquer economia desenvolvida.
Existem duas maneiras de trabalhar o problema. A primeira, é através de medidas gerais que beneficiem o setor como um todo.
As dificuldades são enormes. A principal delas é avaliar os impactos sobre as contas públicas. Por exemplo, o que significaria a desoneração geral da folha e a substituição por um imposto sobre faturamento?
A maior dificuldade é na administração de conflitos. Trocando um imposto sobre a folha por outro sobre o faturamento, haveria o benefício aos setores intensivos em mão-de-obra e a penalização dos setores intensivos em capital.
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A maneira encontrada pelo governo foi a segunda via, selecionar setores específicos para aplicar a desoneração da folha. E tomar medidas de redução de juros, que não dependem nem de leis nem de medidas provisórias.
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Some-se a isso a determinação do governo em não permitir a revalorização do real e em insistir na redução da taxa Selic e se entenderá a razão dos empresários estarem otimistas, mesmo com os dados ruins do início do ano.
As próximas pesquisas de empresa e de atividade, aliás, mostrarão dados bastante pessimistas da indústria. Reteve-se emprego até o início do ano, mesmo com queda na produção interna. Agora, começará a arriar.
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Nos próximos meses se tentará reverter esse quadro com esse conjunto de medidas. Demorará um bom tempo para se avaliar o alcance dessas medidas.
Mas, aparentemente, acordou-se para a fase final do processo de consolidação do crescimento sustentado e da transformação do país em uma grande economia.
O primeiro passo é o salto no mercado de consumo interno. O segundo é fornecer as condições para que o aumento do consumo seja garantido pela produção interna. O terceiro passo é a ampliação do mercado externo, através de medidas objetivas – desoneração tributária, financiamento acessível etc – mas, principalmente pela desvalorização da moeda, que é a maneira mais rápida de ganhar diferencial de preços, enquanto as demais medidas não se efetivam.
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É apenas o início da batalha de reindustrialização do país.
Há dois momentos terríveis, que provocam uma razia no desenho industrial brasileiro – ambos associados ao câmbio.
O primeiro, o período Gustavo Franco-Pedro Malan, que vai de 1994 a 1999, com a desvalorização cambial. O segundo, no período Antônio Palocci, especialmente de 2004 a 2008.
São dois momentos em que os respectivos governos garantiram a falsa paz econômica.
Agora, toca remediar o remediável.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

É hora de economizar na luz



Investimentos em eficiência energética estão ganhando mais atenção nos Estados Unidos, do site Opinião & Notícia

31/03/2012 | Enviar | Imprimir | Comentários: nenhum | A A A
Poupar energia é uma virtude. É também um negócio que atrai cada vez mais o interesse dos investidores. O caso da Oklahoma Gas & Electric ajuda a explicar porquê. Em 2009, quando o boom do gás de xisto estava começando nos Estados Unidos e o Congresso estava planejando um sistema de controle da poluição que teria impactado o setor carvoeiro, a empresa se viu em um dilema. Ela é necessária para atender à demanda crescente de uma população crescente, mas temia despejar US$ 1 bilhão em uma nova usina com um clima tão incerto. Então, ela adiou a decisão até 2020 e decidiu apostar na conservação de energia para preencher a lacuna.
Os resultados têm sido impressionantes. Até o final deste ano quase todos os lares em Oklahoma terão sido equipados com um medidor inteligente que se comunica com a empresa. Os medidores inteligentes fornecem aos consumidores mais informações sobre o uso e permitem que as empresas experimentem com preços dinâmicos, isto é, eles podem tornar a energia mais cara nos horários de pico, para que as pessoas a usem menos. Isso fez de Oklahoma um improvável líder no crescente negócio da eficiência energética.
Alguns ambientalistas têm sustentado que a eficiência energética é um “recurso” que deve ser usado como uma alternativa aos hidrocarbonetos, à energia nuclear e às energias renováveis. Mas a eficiência não é um combustível. É um meio de reduzir ou suavizar o consumo de energia. Seu apelo, porém, é óbvio e livre de polêmicas.
De acordo com um estudo de 2009 realizado pela McKinsey, uma empresa de consultoria, um esforço para implementar medidas de eficiência energética poderia reduzir a demanda dos Estados Unidos em 25%, poupando cerca de US$ 1,2 trilhão até 2020. A redução anual de emissões de gases de efeito estufa seria aproximadamente equivalente à retirada de todos os carros das ruas dos Estados Unidos. Mas isso não vai acontecer, pois custaria mais de US$ 520 bilhões, afirma a McKinsey. Seria necessária a instalação de medidores inteligentes e outros equipamentos em mais de 100 milhões de edifícios.
No entanto, qualquer economia é válida. Então, conseguir apenas parte dessa economia com regimes como os de Oklahoma não ajuda. O governo federal também tem feito sua parte. O pacote de estímulos de 2009 incluiu cerca de US$ 20 bilhões para projetos de eficiência energética, incluindo subsídios aos estados, assistência e esquemas para reduzir o consumo em prédios federais.
Os investidores perceberam. Em 2011, de acordo com uma revisão anual da PwC, uma empresa de consultoria, houve 82 fusões, aquisições e outros negócios no ramo de eficiência energética em todo o mundo, no valor de US$ 10 bilhões, em comparação com US$ 3,7 bilhões em 2010. A América do Norte sozinha foi responsável por 42 negócios no valor de cerca de US$ 3 bilhões.
Michael Butler, o chefe da Cascadia Capital, um banco de investimento sediado em Seattle, especializado em indústrias sustentáveis, diz que um motivo pelo qual os investidores são atraídos para o setor é que ele faz pouco uso de ativos físicos caros (a maioria dos produtos vendidos pelas empresas de eficiência energética têm um componente de software significativo). A indústria também não está preocupada com as decisões do governo sobre subsídios ou energias renováveis, porque é improvável que barreiras sejam erguidas contra a economia energética. Embora famílias possam ser lentas na absorção, as empresas podem rapidamente trabalhar para encontrar maneiras de obter seu dinheiro de volta a partir de investimentos em eficiência energética. No entanto, pode ser difícil colher essas economias sem possuir uma casa ou uma fábrica por algum tempo.
Como o exemplo de Oklahoma sugere, o momento da eficiência energética tem muito a ver com uma estagnação em outras áreas. Esta semana, a Agência de Proteção Ambiental emitiu novas regras de emissões de carbono que tornam insustentável a construção de novas centrais eléctricas a carvão. O petróleo é caro e politicamente incômodo. E a economia de energia eólica e solar tem altos e baixos. Brian Carey, que lidera o grupo de tecnologia limpa da PwC, adverte que ainda há algumas restrições no setor da eficiência. Ele, por exemplo, gostaria de ver mais dados dos serviços públicos sobre como os consumidores estão recebendo tecnologias como medidores inteligentes. Mas, pelo menos por enquanto, economizar energia é um negócio que deve crescer