Para quem já admitiu que "o garimpo é um vício, está no sangue", o compadre Grota deve ser um herói, merecedor de ocupar a galeria dos maiorais, ao lado do ditador Augusto Pinochet, do torturador Brilhante Ustra e do Major Curió, também torturador e líder garimpeiro.
Compadre Grota é o nome de guerra de Heverton Soares, um dos narcotraficantes —o outro é Silvio Berri Júnior, ex-piloto de avião de Fernandinho Beira-Mar— apontados pela Polícia Federal como chefes de organizações criminosas no Pará e que ganharam do governo o direito de explorar uma área de mais de 810 hectares de garimpo de ouro.
As permissões foram outorgadas e efetivadas pela Agência Nacional de Mineração entre 2020 e 2021. Elas são válidas para Itaituba, um município paraense batizado de Cidade Pepita pela grande quantidade de jazidas encontradas quase na superfície do solo. Dá até para imaginar o presidente da República, em seus momentos de tédio e aflição em Brasília, com vontade de jogar tudo para o alto e ir "faiscar", como costumava fazer nos tempos de capitão do Exército.
O general Augusto Heleno também curte um garimpo. Ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência e um dos principais conselheiros de Bolsonaro, Heleno autorizou o avanço de sete projetos de exploração de ouro numa região praticamente intocada da Amazônia, um lugar de fronteira com a Colômbia e a Venezuela conhecido como Cabeça do Cachorro, onde vivem 23 etnias indígenas. O empenho do general não surpreende, se lembrarmos que o regime militar permitiu e incentivou Serra Pelada, no início dos anos 80.
Um estudo do Instituto Escolhas revelou que, das quase 111 toneladas de ouro exportadas em 2020, 17% saíram sem registro de terras indígenas ou de Unidades de Conservação da Amazônia. O ouro ilegal chegou a Canadá, Suíça, Polônia, Reino Unido, Emirados Árabes, Itália, Índia. Bye, bye, Brasil.