sábado, 11 de dezembro de 2021

Antes nacional, Mercedes Classe C volta ao Brasil importado da África do Sul, FSP

 Dos 11 milhões de Mercedes Classe C produzidos no mundo, 40 mil rodam no Brasil. É o modelo mais vendido da marca por aqui, e um dos melhores carros já fabricados no Brasil.

O período de produção nacional foi encerrado há um ano, quando a fábrica de Iracemápolis (interior de São Paulo) foi fechada. A unidade foi comprada pela chinesa Great Wall, que iniciará a montagem de seus carros em 2023.

Mercedes-Benz Classe C 2022
Mercedes C300 durante teste em pista fechada no interior de São Paulo - Divulgação

A sexta geração do sedã Mercedes retorna ao mercado nacional como importado. As primeiras unidades virão da Alemanha e, depois, da África do Sul.

A marca promoveu uma apresentação da opção C300 AMG Line, que custa R$ 399,9 mil. O preço pode assustar aos que trazem na memória o valor cobrado há um ano, quando a versão equivalente era vendida por R$ 319 mil.

É necessário, contudo, considerar a disparada geral dos preços de veículos, os custos de importação e os problemas envolvendo falta de peças e desvalorização do real.

Mas o que de fato assusta é a falta de competitividade do país quando o assunto é transpor fronteiras. A fábrica sul-africana da montadora produziu 650 mil unidades do Classe C de quinta geração entre 2014 e 2020. Além de atender ao mercado interno, os carros foram exportados para 90 países.

Já a fábrica de Iracemápolis jamais atingiu a capacidade máxima de 20 mil unidades por ano. Esse número foi alcançado apenas em dezembro de 2018, dois anos e oito meses após o início das operações. O foco sempre esteve em um então combalido mercado interno.

Com o encerramento da produção, o Brasil perdeu a chance de chamar de nacional um dos sedãs mais evoluídos da atualidade, e que deverá receber versões elétricas em breve. A diferença entre as gerações é notável.

O novo Classe C está mais próximo da linha E nos quesitos luxo e qualidade construtiva, mas preserva a esportividade. Está mais refinado e tecnológico que antes.

As telas digitais dominam todo o painel, não há um único mostrador analógico. Há superfícies sensíveis ao toque até mesmo onde botões convencionais fariam mais sentido, como nos comandos elétricos dos retrovisores.

Câmeras e sensores monitoram o tráfego ao redor. O C300 tem sistema de frenagem autônoma que reconhece carros, ciclistas e pedestres.

A grade frontal é repleta de estrelinhas de três pontas e a traseira traz lanternas mais estreitas e alongadas que antes. O carro cresceu 6,5 centímetros, mas não houve um ganho expressivo de espaço interno.

Há uma profusão de LEDs na cabine, que podem ser combinados em 300 variações de luzes e cores.

O motor 2.0 turbo a gasolina que equipa o C300 tem 258 cv de potência e 40,8 kgfm de torque. O sistema híbrido leve entrega 27 cv extras e reduz o consumo de gasolina.

Em uma volta rápida no autódromo Haras Tuiuti (interior de São Paulo), foi possível notar que o novo Classe C se distancia do menor sedã da marca, o Classe A. O novo modelo trata melhor os ocupantes, com suspensão focada em conforto e baixo nível de ruídos.

A Mercedes fala em uma aceleração do zero aos 100 km/h em 6s, e o motor elétrico do sistema híbrido ajuda nessa tarefa.

Além do C300, a Mercedes traz a versão C200 AMG Line (R$ 350 mil), com motor 1.5 turbo e também equipado com o sistema híbrido leve. Se o Brasil fosse competitivo e exportador de bens manufaturados, Iracemápolis poderia continuar a produzi-los.

Representantes da Mercedes dizem que os custos de fabricação no Brasil não eram muito diferentes das demais fábricas –o Classe C também é produzido na China e nos Estados Unidos.


De quanta água você realmente precisa?, NYT OESP

 Christie Aschwanden, The New York Times - Life/Style, O Estado de S.Paulo

11 de dezembro de 2021 | 05h00

Se você passou algum tempo nas redes sociais ou esteve em um evento esportivo recentemente, certamente foi bombardeado com incentivos para beber mais água. Os influenciadores carregam garrafas de água do tamanho de um galão como o novo acessório do momento. Os bots do Twitter nos lembram constantemente de reservarmos mais tempo para nos hidratar. Algumas garrafas de água reutilizáveis ainda vêm com frases motivacionais - “Lembre-se do seu objetivo”, “Continue bebendo”, “Quase no fim” - para nos incentivar a beber mais ao longo do dia.

NYT - Life/Style (não usar em outras publicações).
Nem sempre beber água é a melhor forma de se manter hidratado.

Os supostos benefícios do consumo excessivo de água são aparentemente infinitos, desde melhorar a memória e a saúde mental até o aumento da energia e uma aparência melhor. “Fique hidratado” tornou-se uma nova versão da velha saudação, “Fique bem”.

Mas o que significa exatamente “manter-se hidratado”? “Quando os leigos discutem a desidratação, eles querem dizer a perda de qualquer fluido”, disse o Dr. Joel Topf, nefrologista e professor clínico assistente de medicina na Universidade Oakland, em Michigan.

Mas essa interpretação "está completamente desproporcional", disse Kelly Anne Hyndman, pesquisadora da função renal da Universidade do Alabama, em Birmingham. Estar hidratado é definitivamente importante, ela disse, mas a ideia de que o simples ato de beber mais água tornará as pessoas mais saudáveis não é verdade. Tampouco é correto que a maioria das pessoas ande cronicamente desidratada ou que devamos beber água o dia todo.

Do ponto de vista médico, o Dr. Topf acrescentou, a medida mais importante de hidratação é o equilíbrio entre eletrólitos como o sódio e água no corpo. E você não precisa ficar bebendo copo após copo de água ao longo do dia para mantê-lo.

Quanta água realmente preciso beber?

Todos nós aprendemos que oito copos de 240 ml de água por dia é o número mágico para todos, mas essa noção é um mito, disse Tamara Hew-Butler, uma cientista de exercícios e esportes da Universidade Wayne State.

Fatores únicos, como tamanho do corpo, temperatura externa e sua forma de respirar e suar irão determinar o quanto você precisa, ela disse. Uma pessoa de 90 quilos que acabou de caminhar 16 quilômetros no calor obviamente precisará beber mais água do que um gerente de escritório de 55 quilos que passou o dia em um prédio com temperatura controlada.

A quantidade de água de que você precisa por dia também depende da sua saúde. Alguém com um problema como insuficiência cardíaca ou pedras nos rins pode precisar de uma quantidade diferente do que alguém tomando diuréticos, por exemplo. Ou você pode precisar alterar sua ingestão se estiver doente, com vômitos ou diarreia.

Para a maioria das pessoas jovens e saudáveis, a melhor maneira de se manter hidratado é simplesmente beber quando você está com sede, disse o Dr. Topf. (Os mais velhos, na casa dos 70 e 80 anos, podem precisar prestar mais atenção na ingestão de líquidos suficientes porque a sensação de sede pode diminuir com a idade.)

E apesar da crença popular, não confie na cor da urina para indicar precisamente seu estado de hidratação, disse o Dr. Hew-Butler. Sim, é possível que a urina amarela escura ou âmbar possa significar que você está desidratado, mas não há nenhuma ciência sólida para sugerir que a cor, por si só, deva levá-lo a beber mais.

Preciso beber água para ficar hidratado?

Não necessariamente. Do ponto de vista puramente nutricional, a água é a melhor escolha entre opções menos saudáveis, como refrigerantes açucarados ou sucos de frutas. Mas quando se trata de hidratação, qualquer bebida pode adicionar água ao seu sistema, disse o Dr. Hew-Butler.

Uma noção popular é que beber bebidas com cafeína ou álcool pode desidratá-lo, mas se isso for verdade, o efeito é insignificante, disse o Dr. Topf. Um ensaio clínico randomizado e controlado de 2016 com 72 homens, por exemplo, concluiu que os efeitos hidratantes da água, cerveja, café e chá eram quase idênticos.

Você também pode obter água a partir do que come. Alimentos ricos em líquidos e frutas, legumes, sopas e molhos contribuem para a ingestão de água. Além disso, o processo químico de metabolização dos alimentos produz água como subproduto, o que também faz com que sua ingestão aumente, disse o Dr. Topf.

Preciso me preocupar com eletrólitos?

Algumas propagandas de bebidas esportivas podem fazer você pensar que precisa estar constantemente repondo eletrólitos para manter seus níveis sob controle, mas não há razão científica para a maioria das pessoas saudáveis tomarem bebidas com eletrólitos adicionados, disse o Dr. Hew-Butler.

Eletrólitos como sódio, potássio, cloreto e magnésio são minerais eletricamente carregados que estão presentes nos fluidos do corpo (como o sangue e a urina) e são importantes para equilibrar a água em seu corpo. Eles também são essenciais para o funcionamento adequado dos nervos, músculos, cérebro e coração.

Quando você fica desidratado, a concentração de eletrólitos no sangue aumenta e o corpo sinaliza a liberação do hormônio vasopressina, que acaba reduzindo a quantidade de água que é liberada na urina para que você possa reabsorvê-la de volta ao corpo e obter o equilíbrio novamente, disse o Dr. Hyndman.A menos que você esteja em uma situação incomum - fazendo exercícios muito intensos no calor ou perdendo muitos líquidos por vômito ou diarreia - você não precisa repor eletrólitos com bebidas esportivas ou outros produtos que os contenham. A maioria das pessoas obtém eletrólitos suficientes a partir dos alimentos, disse Hew-Butler.

Mas beber mais água, mesmo quando não estou com sede, vai melhorar minha saúde, certo?

Não. Claro, pessoas com certas condições, como pedras nos rins ou a doença renal policística autossômica dominante, que é mais rara, podem se beneficiar fazendo um esforço para beber um pouco mais de água do que sua sede lhes pediria, disse o Dr. Topf.

Mas, na realidade, a maioria das pessoas saudáveis que culpam seu mal-estar por estarem desidratadas pode na verdade estar se sentindo mal por beberem água demais, especulou o Dr. Hyndman. “Talvez tenham dor de cabeça ou se sintam mal, e pensem, 'Ah, estou desidratado, preciso beber mais', e continuam bebendo cada vez mais e mais água, e continuam se sentindo pior e pior e pior.”

Se você beber uma quantidade maior que seus rins podem excretar, os eletrólitos em seu sangue podem se tornar muito diluídos e, no caso mais ameno, podem fazer com que se sinta mal. No caso mais extremo, beber uma quantidade excessiva de água em um curto período de tempo pode levar a uma condição chamada hiponatremia ou “intoxicação por água”. “Isso é muito assustador e ruim”, disse Hyndman. Se os níveis de sódio no sangue ficarem muito baixos, pode causar inchaço do cérebro e problemas neurológicos como convulsões, coma ou até morte.

Em 2007, uma mulher de 28 anos morreu de hiponatremia após supostamente beber quase dois galões de água durante três horas enquanto participava do concurso de uma estação de rádio "Hold Your Wee for a Wii", que desafiava os participantes a beber água e ficar o máximo de tempo possível sem urinar. Em 2014, um jogador de futebol americano de 17 anos de idade na Geórgia morreu dessa condição depois de supostamente beber dois galões de água e dois galões de Gatorade.

A condição se tornou tão comum entre atletas que, quando alguém desmaia durante uma corrida, os socorristas são treinados para considerar a hiponatremia, disse o Dr. Topf. Embora o desenvolvimento de hiponatremia grave seja raro para a maioria das pessoas saudáveis.

Como saber se estou hidratado o suficiente?

Seu corpo vai dizer. A noção de que permanecer hidratado requer cálculos complexos e ajustes instantâneos para evitar consequências terríveis para a saúde é besteira, disseram os especialistas. E uma das melhores coisas que você pode fazer é parar de pensar demais nisso.

Ao invés disso, o melhor conselho para se manter hidratado, disse o Dr. Topf, também é o mais simples: beba quando estiver com sede. É simples assim.

Christie Aschwanden é uma escritora que vive no oeste do Colorado e autora de Good to Go: What the Athlete in All of Us Can Learn from the Strange Science of Recovery /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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Brasileiro escreve biografia dos Monkees, fenômeno televisivo dos anos 1960, FSP

 


Thales de Menezes
SÃO PAULO

Entre artistas pop que têm lugar na memória afetiva do público brasileiro, os Monkees são aqueles com menos material disponível para consulta. A falta de livros em português sobre o quarteto de estrondoso sucesso começa a ser revertida, com um lançamento em São Paulo.

“Love Is Understanding - A Vida e a Época de Peter Tork e os Monkees” chega para preencher essa lacuna. Escrita pelo carioca Sergio Farias, que lançou anteriormente “John Lennon - Vida e Obra”, a biografia nasceu das dificuldades que ele encontrou quando era fã do grupo.

“Comecei a ver os Monkees em 1975, numa das inúmeras reprises na TV”, diz Farias à Folha. “Era criança e, para mim, aquilo era novo. Descobri depois que era dos anos 1960 e fui atrás de informação, mas não encontrei nada.”

quatro homens com visual anos 60 de camisas iguais vermelhas
Davy Jones, Peter Tork, Michael Nesmith e Micky Dolenz, os Monkees, nos anos 1960 - Reprodução

O grupo foi criado para a série “The Monkees”, que teve duas temporadas. Seus 58 episódios foram ao ar nos Estados Unidos entre 12 de setembro de 1966 e 25 de março de 1968. No Brasil, estreou em 1967.

Em menos de dois anos, o quarteto se transformou numa febre mundial. Hoje, soma mais de 63 milhões de discos vendidos.

Para atrair fãs dos Beatles, executivos de TV reuniram Micky Dolenz (bateria e vocal), Davy Jones (vocal), Michael Nesmith (guitarra) e Peter Tork (baixo).

“Queria entender porque o grupo, depois do estrelato mundial, tinha caído no ostracismo”, conta Farias, que mal conseguia falar quando encontrou pela primeira vez Dolenz, Tork e Nesmith reunidos (Jones morreu em 2012, de infarto). “Era muita emoção.”
 

Farias usa como fio condutor a história de Tork, 76, o único Monkee que não tinha uma biografia individual publicada.

Assumindo na série o papel de bobão do grupo, Tork era na verdade o Monkee mais integrado ao mundo do rock. Foi amigo de Jimi Hendrix e Janis Joplin e atuou como uma espécie de padrinho do trio Crosby, Stills & Nash, que nasceu quando seus integrantes moravam na mansão de Tork. 

Com o sucesso, ganhou tanto dinheiro que abrigava amigos em sua casa e mantinha conta aberta em lojas para que pudessem fazer compras para que ele pagasse depois.

Ativa até 1971, a banda sofreu um abalo forte ainda em 1967, quando Nesmith revelou que nenhum deles tocava os instrumentos nos dois primeiros discos, reforçando a imagem de banda pré-fabricada

Com experiência como atores e músicos antes da série, eles tomaram o controle da parte musical e lançaram seu primeiro disco de verdade, o autoral “Headquarters”, mas o estrago estava feito. Sem a TV, o público se afastou.
 

Tork perdeu o dinheiro e chegou a servir mesas na Califórnia. O livro conta as vidas dos ex-integrantes após a separação, entrelaçadas por tentativas de volta em turnês nostálgicas.

“Love Is Understanding”, publicado pela editora portuguesa Chiado Books, está à venda em livrarias brasileiras.