quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Acidentes de trânsito matam 980 mil pessoas no Brasil em 31 anos



Estudo, que considera o período entre 1980 e 2011, mostra retomada da violência no tráfego, impulsionada pela alta de casos com motos

21 de novembro de 2013 | 11h 05

Bruno Paes Manso - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Morreram em acidentes de trânsito no Brasil 980.838 pessoas entre os anos de 1980 e 2011. Neste último ano, o País alcançou a maior taxa de mortes por cem mil habitantes desde que os dados começaram a ser contabilizados. Foram 22,5 mortes por 100 mil habitantes, pico que já havia sido alcançado em 1996, antes da criação do Código Brasileiro de Trânsito, que logo depois que começou a vigorar contribui para quedas importantes nas taxas.
Os dados são do Mapa da Violência 2013, acidentes de trânsito e motocicletas, feita pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos (Cebela).
As motos foram os maiores vilões da retomada da violência no trânsito no Brasil, com crescimento de 742,5% nos últimos 15 anos. Em 1996, morriam por acidentes de moto 0,9 pessoas por 100 mil habitantes. O total cresceu para 7,6 mortes por 100 mil habitantes em 2011. No mesmo período, as mortes em acidentes por automóvel também subiram, mas em proporção menor (41,2%). Em 2011, morreram em acidentes de carro 6,5 pessoas por 100 mil habitantes.
Desde 2008, as motos são as principais causadores de morte no trânsito brasileiro. Tradicionalmente, os pedestres eram as maiores vítimas. Em 1996, morriam 15,6 pedestres por 100 mil habitantes, total 17 vezes maior do que os mortos em motos. Atualmente, as vítimas nas motocicletas é 25% mais alta do que os que andam a pé.
Entre os Estados, Tocantins lidera as taxas de mortes no trânsito, com 37,9 mortes por 100 mil habitantes. É seguido por Rondônia (37,5 por 100 mil), Mato Grosso (35,2), Piauí (34,7) e Mato Grosso do Sul (34,7). O Estado de São Paulo fica na 25ª colocação, com 17,7 mortes por 100 mil habitantes, a frente do Rio de Janeiro (17,2) e Amazonas (14,4), este último, o trânsito menos violento do Brasil. Nos casos de morte de motociclistas, o campeão é o estado do Piauí, com 30,4 mortes por 100 mil habitantes.
Ainda de acordo com o levantamento, a cidade de Presidente Dutra, no Maranhão, é a cidade com o trânsito mais violento do Brasil. Com população de 45.155 habitantes, teve 219 mortes nos últimos cinco anos, o que significa uma taxa de 285,7 mortes por 100 mil habitantes, total 16 vezes maior do que a do Estado de São Paulo.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

SP e Rio: o gargalo das megacidades

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Com população que soma 42 milhões de habitantes, as duas maiores manchas urbanas enfrentam problemas que repercutem no País

13 de novembro de 2013 | 16h 08

Ricardo Brandt
São Paulo: PIB de R$ 897 bilhões é comparável ao da Suíça - Agliberto Lima/Estadão
Agliberto Lima/Estadão
São Paulo: PIB de R$ 897 bilhões é comparável ao da Suíça
A concentração econômica e demográfica no Sudeste fez surgir em São Paulo e no Rio de Janeiro as primeiras megacidades do País, que juntas somam 42 milhões de habitantes - população maior que a do Canadá. Saber planejar e gerenciar de forma integrada o desenvolvimento dessas manchas urbanas, para atacar gargalos como congestionamentos e a proliferação de favelas, é um desafio que interessa a toda economia nacional.

As áreas que se formaram em torno das capitais paulista e fluminense são responsáveis por 35% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, equivalente a R$ 1,1 trilhão. Com o principal porto (Porto de Santos), os maiores aeroportos de carga (Cumbica e Viracopos) e as mais movimentadas rodovias (Anhanguera/Bandeirantes, Anchieta/Imigrantes, Dutra, Castello Branco, D. Pedro), São Paulo e Rio centralizaram investimentos industriais durante anos. Qualquer descompasso nessas economias reverbera Brasil afora.

A concentração de capital e trabalho, ao mesmo tempo em que formou os dois maiores centros consumidores, provocou o acelerado crescimento demográfico em curto período, gerando densidade populacional que chega a ser de 2.476 habitantes por quilômetro quadrado, quando a média nacional é de 22.

"Em todo grande adensamento industrial é normal que surjam problemas. O adensamento urbano, a partir de certo ponto, se torna irracional para as atividades econômicas. O preço do metro quadrado se torna estúpido, os custos de manutenção urbana se elevam sobremodo, os deslocamentos para ir ao trabalho se tornam morosos, custosos", diz o economista Wilson Cano, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Somados a problemas como escassez de água, poluição e violência, a metropolização gerou nas duas megacidades do Sudeste aquilo que os economistas chamam de deseconomias externas, ou deseconomia de aglomeração - fatores externos nos centros urbanos que elevam o custo de produção.

"Elas fazem com que determinadas atividades econômicas se desloquem ou se expandam para outras áreas", diz Cano. Em São Paulo, uma macrometrópole com 173 cidades, 30 milhões de habitantes e PIB de R$ 897 bilhões - comparável ao da Suíça, 18.ª economia do mundo -, foi o que ocorreu a partir da década de 1970, com empresas indo para o interior, criando polos regionais como Campinas e São José dos Campos.

Usando a mesma estrutura logística da Grande São Paulo, as empresas foram em municípios onde os problemas de mobilidade e abastecimento ainda não eram impeditivos - processo classificado como a desconcentração concentrada do setor produtivo. Na última década, enquanto o crescimento populacional da Região Metropolitana de São Paulo foi de 10,2%, na Região Metropolitana de Campinas foi de 19,7%.

Um novo ciclo de investimentos, liderado pela indústria automotiva e pelo pré-sal, transformará cidades em um raio de até 150 quilômetros das capitais, graças às políticas de isenção fiscal e aos altos custos dos centros das megacidades.
Os investimentos de seis montadoras (Chery-Jacareí, Hyundai-Piracicaba, Honda-Itirapina, Nissan-Resende, Mercedes-Benz-Iracemápolis e Toyota-Sorocaba), de 2012 a 2016, vão criar 10 mil empregos diretos e injetar mais de R$ 7 bilhões nas economias das megacidades de São Paulo e Rio.

O pré-sal, na fase de exploração e operação, vai movimentar nos próximos 30 anos cerca de R$ 3,7 trilhões nas duas megacidades, criando 87 milhões de empregos. Os cálculos são do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV)e levam em consideração estimativa de investimentos para 50 bilhões a 60 bilhões de barris. A consequência será mais migração.

Desafio. O desafio é evitar que esse novo ciclo de crescimento da Região Sudeste leve para regiões pobres ou até então dependentes da economia agrícola os efeitos negativos do adensamento populacional e urbano desorganizado. Caraguatatuba, no litoral paulista, já sente os reflexos da expansão da cadeia de petróleo e gás. É a cidade que mais cresce, mas a cobertura por redes de drenagem, saneamento ambiental, transporte urbano e estrutura viária ainda é insuficiente.

"Nós sabemos o que é preciso ser feito, o problema é fazer. É preciso decisão política e capacidade de gestão. Ter uma visão em escala regional e encontrar formas pelas quais municípios, Estados e até União possam trabalhar juntos na solução de problemas como mobilidade urbana, habitação, disponibilidade de água, saneamento. São assuntos que extrapolam o município", diz o arquiteto e urbanista Jorge Wilheim, um dos maiores especialistas no assunto do País.

Para o secretário-chefe da Casa Civil do Estado de São Paulo, Edson Aparecido, as questões de mobilidade urbana e aumento populacional acelerado sem planejamento são as principais preocupações da macrometrópole. "Saber como planejar o desenvolvimento e gerenciar políticas de interesse comum dessas cidades é um desafio que ainda precisa avançar no País."

A inversão da equação - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 20/11

RIO DE JANEIRO - Era comum nos velhos filmes americanos: o vigarista, depois de dar um golpe na praça, fugia para o Rio. A cena final o mostrava feliz da vida, de camisa havaiana, tomando um drinque colorido, de guarda-chuvinha, e cercado de nativos, morenas e araras. O Rio queria dizer o Brasil. Segundo eles, éramos um refúgio seguro para bandidos. Não que não fosse verdade --vide o inglês Ronald Biggs, que assaltou o trem pagador, veio para cá e passou entre nós os melhores 31 anos de sua vida.

Mas há muito a equação se inverteu. Agora são os golpistas brasileiros que fogem para a Flórida, a Europa e até para o Oriente Médio. O inesquecível PC Farias, o banqueiro Salvatore Cacciola, a fraudadora da previdência Jorgina de Freitas e o médico estuprador Roger Abdelmassih foram só alguns que se escafederam nas barbas da Polícia Federal. A eles junta-se agora o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que se mandou para Roma.

Pizzolato seguiu um "script" dos mais previsíveis: saiu de seu prédio à noite, passou olimpicamente pelo porteiro, viajou de carro milhares de quilômetros e, talvez no porta-malas e com um cobertor por cima, cruzou a fronteira pelo Paraguai. Do qual voou para a Itália, onde desceu como italiano, a salvo de extradição. Mas mesmo uma operação simples como essa não se faz sozinho, nem de graça. Seria didático descobrir quanto lhe custou, quem o ajudou e de onde saíram os recursos.

Como Pizzolato não poderá deixar a Itália, e sabendo que uma "bruschetta" em Roma está pela hora da morte, seus amigos no Brasil se preocupam com sua subsistência. Se não for contratado por um insano banco italiano, terá de vender berinjela na feira livre do Campo de Fiori para se manter.

A não ser que lhe tenha sobrado um troco dos R$ 73,8 milhões que desviou no mensalão