Coluna Econômica - 31/08/2012 Luis Nassif
Cristina Kirchner, da Argentina, é uma populista irremediável, Hugo Chávez, da Venezuela, um subversivo disposto a colocar fogo no continente e Ollanta Humalla, do Peru, um esquerdista indefinido. E para as grandes empresas brasileiras, os três representam excelentes oportunidades de negócio, muito bem aproveitadas pelo não-alinhamento pragmático da diplomacia brasileira.
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De 2004 a 2009, por exemplo, a Odebrecht mantinha na Argentina um escritório com 15 funcionários. A partir de 2012, tem 15 mil funcionários atuando em projetos de infraestrutura, energia.
A empresa divide grandes obras, entre outros, com a sueca Skanska, com a argentina Hochtief. As contratações são efetuadas, os pagamentos feitos em dia.
O mesmo ocorre no Peru, com investimentos estáveis, apesar das mudanças políticas.
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Nem se fale da Venezuela, que tornou-se grande parceira do Brasil desde o governo Fernando Henrique Cardoso.
Boquirroto, valentão, impulsivo, vá lá, mas Hugo Chávez assumiu o poder disposto a mudar a realidade do país, dominado pela mais corrupta elite latino-americana.
Sem dispor de quadros técnicos, passou a considerar o Brasil o modelo a ser seguido. Referia-se a Fernando Henrique Cardoso como “mi maestro. No dia em que Lula foi eleito e proferiu o famoso discurso inicial, tornando os pobres o público preferencial, imediatamente ganhou a admiração de Chávez.
No que importa: foram essas afinidades que abriram espaço para as empresas brasileiras conquistarem amplos espaços, especialmente depois da nacionalização de parte da produção petrolífera venezuelana.
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As aventuras da Odebrecht com o Chile e com o Peru são bastante signficativas para entender os efeitos da diplomacia sobre os negócios.
Quando iniciou sua internacionalização, as primeiras investidas da Odebrecht foram em países vizinhos, construindo uma hidrelétrica no Chile, outra no Peru. Ambos os países eram ditaduras militares, o Chile dominado pela direita de Augusto Pinochet; o Peru pela esquerda de Velasco Alvarado.
Politicamente, as afinidades brasileiras eram com a ditadura de Pinochet. Só que o general colocou o Chile sob a órbita dos Estados Unidos. Com isso, abriu uma enorme mercado nos EUA para as frutas chilenas. Mas nenhuma empresa brasileira conseguia entrar no mercado chileno.
Quando Jimmy Carter assumiu a presidência dos EUA, durante um certo período interrompeu toda a ajuda ao Chile, devido aos problemas com direitos humanos. A Odebrecht aproveitou a brecha, ampliou sua presença no país.
Ao assumir a presidência dos EUA, Ronald Reagan reabriu as portas para o Chile, que virou as costas para o Brasil, deixando as empresas brasileiras penduradas com a broxa na mão.
Até hoje o Brasil não tem entrada no Chile.
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Alvarado era apoiado pela URSS.
A convivência com os soviéticos, no Peru, permitiu à Odebrecht ser convidada para construir as obras civis da hidrelétrica de Capanda, em Angola. Era o ano de 1984, em que o país se denominava de República Marxista-Leninista de Angola.
É por isso que, enquanto na velha mídia se pratica o jogo do faz-de-conta, em outros setores trata-se a América Latina com visão pragmática e estratégica.