quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Lâmpada bloqueia calor emitido na geração de luz, n` O Globo via Procel info


13.01.16
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Fonte: O Globo - 13.01.2016
Brasil - Velha, ultrapassada, poluidora. A lâmpada incandescente, patenteada por Thomas Edison há mais de 130 anos, está com a reputação apagada há tempos. A rejeição se baseia em seu fraco rendimento: de toda a energia elétrica que consome, apenas de 2% a 3% são convertidos em luz visível. O resto é desperdiçado como calor, contribuindo para o aquecimento global. Seu uso já foi banido em países como Canadá e na União Europeia. Mas uma equipe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) decidiu reinventar a antiga lâmpada. De acordo com um estudo publicado ontem, o aproveitamento da eletricidade pode ser catapultado a 40% com a elaboração de uma camada de nanopartículas envolvendo o filamento interno e bloqueando a saída de raios infravermelhos, que não geram luz visível e elevam a temperatura ambiente.

Hoje, as incandescentes vêm dando lugar às lâmpadas fluorecentes compactas e de LED, que, além de mais eficazes (em média, 13% de sua eletricidade transforma-se em luz visível), são mais econômicas a longo prazo. Porém, em alguns países há resistência a essas alternativas, que produzem luz diferente da “veterana”.

Pesquisador de Eletromagnetismo Moderno do MIT, Ognjen Ilic capitaneou a criação de estruturas minúsculas que devem envolver o fino filamento de metal existente no interior da lâmpada incandescente. Esta nova estrutura é feita a partir de camadas de um cristal que “controla” a luz. Um aspecto importante é o modo como estas camadas foram empilhadas, permitindo a passagem de comprimentos de onda visíveis, enquanto a radiação infravermelha é levada de volta ao filamento, para ser reutilizada.

A análise do MIT, publicada na revista científica “Nature Nanotechnology”, descreve a construção desses “nanoespelhos”, que colheriam a radiação infravermelha para refleti-la de volta ao filamento metálico tradicional aquecido, fazendo com que seja reabsorvida e reemitido como luz visível.

O protótipo criado por Ilic teve uma eficiência de 6,6% — muito mais potente do que uma incandescente comum. Por enquanto, essa lâmpada funciona por menos de dez horas. Com o desenvolvimento de seus cálculos, a equipe do MIT garante que pode aumentar a autonomia da tecnologia e elevar sua taxa de eficácia a 40%. Os cientistas, porém, não estabelecem prazos para quando chegariam a essa marca, nem quando a nova lâmpada se tornaria comercialmente viável. Por enquanto, para o bem do planeta, eles recomendam que a população adote as lâmpadas de LED.

De acordo com Ilic, a missão de seu trabalho é entender a “reciclagem da luz” — ou seja, como deixar passar apenas os comprimentos de onda desejáveis.

“Thomas Edison não foi a primeira pessoa a trabalhar no desenho da lâmpada. Seu feito foi descobrir como produzir a energia elétrica em massa de forma barata e mantê-la estável por mais de dez horas. São dois critérios essenciais que ainda tentamos atingir”, avalia o cientista.

“A lâmpada de LED é uma tecnologia surpreendente, que as pessoas deveriam estar usando. Nosso objetivo não é recolocar no mercado uma tecnologia redundante. Queremos compreender como é possível fazer a reciclagem de luz de um objeto com altas temperaturas”.

A barreira à emissão de calor das lâmpadas é uma arma importante contra o aquecimento global. Por isso, os pesquisadores ressaltam que a nova tecnologia terá “implicações dramáticas” para o desempenho de outras formas de conversão de energia:

“A eficiência energética é uma importante ferramenta contra o aquecimento global, e precisamos lutar contra isso com todas as nossas forças”, pondera o pesquisador.

Diretor-executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade, Bernardo Baeta Neves Strassburg reconhece que o calor provocado pelas lâmpadas incandescentes e a relutância da população em trocá-las pelo LED são dois obstáculos na busca por fontes de energia menos poluentes.

Strassburg assinala que o estudo de Ilic pode aumentar o poder dos painéis solares, cuja tecnologia passou por melhoras significativas na última década. A energia solar, segundo ele, é o maior recurso entre os cotados para substituir os combustíveis fósseis. As atuais turbinas eólicas, outra fonte não poluente, já estão perto de sua capacidade máxima de produção.

“As novas lâmpadas aumentam a eficiência energética na geração de luz e diminuem o calor emitido pelas lâmpadas incandescentes”, comenta Strassburg, que também é professor do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio.

“O protótipo conseguiu um rendimento impressionante. A continuação desse trabalho pode trazer ganhos até para os painéis solares, que são a principal aposta entre os modelos de energia renovável”.

Strassburg aplaude o resultado do protótipo, mas pede cautela na promessa de que as novas lâmpadas conquistarão um rendimento de 40%:

“Existe um caminho gigantesco entre a teoria física e a prática da engenharia”.

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