quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Ataque verbal de Bolsonaro dá auxílio a Doria para ruptura ensaiada de 2022, FSP

Igor Gielow
SÃO PAULO
Buscando viabilizar sua candidatura ao Planalto em 2022, o governador João Doria (PSDB-SP) ganhou auxílio inesperado de seu principal concorrente hoje, o presidente Jair Bolsonaro (PSL).
O recente surto logorreico do presidente colocou Doria, que já vinha tentando se afastar de Bolsonaro, em posição um pouco privilegiada.
Quando aquilo que auxiliares do tucano chamaram de linha vermelha, o questionamento sobre o papel do Estado na morte do presidente do pai da Ordem dos Advogados do Brasil na ditadura, foi ultrapassado, Bolsonaro se tornou alvo para o governador.
Com camiseta "Bolsodoria", candidato a governador de São Paulo João Doria (PSDB) faz campanha no Capão Redondo, zona sul de São Paulo - Luiz Claudio Barbosa-27.out.18/Código19/Agência O Globo
 
O tucano teve o pai, o então deputado federal João Doria, cassado e exilado de 1964 a 1974 pelos militares. Doria chamou de inaceitável a insinuação de Bolsonaro de que o pai de Felipe Santa Cruz tenha sido morto por seus companheiros da esquerda.
Doria e o irmão Raul ficaram fora do país por dois anos, retornando para morar com a mãe, que morreu três meses após a volta do marido ao país.
Além disso, o recente aceno à deputada Tabata Amaral (SP)ameaçada de expulsão do PDT pelo apoio à reforma da Previdência, mostra uma abertura do direitista Doria a flancos à esquerda.
Isso dito, a tarefa do tucano é difícil. Ele associou-se ao movimentoBolsoDoria, surgindo no segundo turno de 2018, quando Geraldo Alckmin (PSDB) já estava abatido na primeira rodada de votação.
Temendo fomentar um futuro adversário, Bolsonaro ouviu auxiliares e se negou a gravar apoio a Doria. Contudo, um acerto de bastidores fez o então presidenciável registrar críticas ao adversário do tucano, o então governador Márcio França (PSB).
Com efeito, ambos saíram eleitos. De lá para cá, Doria tem feito um movimento pendular: ora reafirma seu apoio à agenda econômica de Bolsonaro e o afaga em eventos públicos, ora tenta diferenciar-se do presidente.
Ambos disputam um mesmo eleitorado à centro-direita, que em 2018 comprou a mensagem antipolítica e radical de Bolsonaro assim como Doria —em São Paulo, claro.
A radicalização das duas últimas semanas, vistas por auxiliares do tucano como as mais tenebrosas em termos de retórica de Bolsonaro até aqui, ajudou Doria a modular seu discurso de membro da direita antipetista, mas não associado ideário do presidente.
Adesivo de campanha de Doria apreendido prega voto 'Bolsodoria'
Adesivo de campanha de João Doria ao governo de SP prega voto 'Bolsodoria' - Divulgação
Se isso será suficiente ao longo do tempo para apagar a imagem de Doria com a camiseta amarela com a logomarca BolsoDoria, é algo a ver.
O tucano até agora não se livrou, segundo pesquisas qualitativas internas do PSDB e de adversários, da pecha de que traiu Alckmin ao tentar lançar-se presidente quando estava na prefeitura.
Os mesmos levantamentos colocam a presença do deputado Aécio Neves (MG) no PSDB como peso no pé do tucano que governa São Paulo. Neste caso, a burocracia do partido, agora sob comando de Doria, ainda pisa em ovos. No outro, o governador está sozinho para se virar.
Há questões práticas em questão. A linha 6 do Metrô de São Paulo está no chão até agora porque o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) reluta em aprovar empréstimo a ela.
Limitações semelhantes, ligadas à boa vontade federal, atingem obras como as do Rodoanel. Um ex-governador paulista ouvido pela Folhadiz que a tentação de independência do estado é grande, mas a realidade invariavelmente reduz os apetites na prática.
Doria tem o tempo como aliado e adversário. Uma eventual recuperação econômica mais rápida pode favorecer a Bolsonaro e, em menor medida, a ele. Seria talvez ideal, nas contas tucanas, porque diluiria o senso de bem-estar ao longo de 2020.
Já um atraso na melhoria, paradoxalmente, pode ajudar Bolsonaro caso ela venha mais perto do pleito de 2022. Aí o presidente terá manchetes e sensação real de que a economia está em bom curso.
Doria poderá fazer o mesmo alinhavando atração de investimentos a São Paulo, algo que tentará fazer com mais força na semana que vem com uma missão empresarial à China, mas o fato é que no Brasil o poder central sempre colhe os frutos primeiro.
Essa multiplicidade de fatores embaralha a disputa à frente. Os estrategistas do tucano ainda não têm um tática elaborada para outros eventuais concorrentes ao centro, notadamente o apresentador Luciano Huck (sem partido).
A ideia trabalhada até aqui é a de aproveitar ao máximo a máquina paulista, bem azeitada apesar do déficit de R$ 10 bilhões herdados em caixa na virada do ano, e diferenciar-se dentro do possível do hoje aliado Bolsonaro.
Antes de o rio desembocar em 2022, há uma curva acentuada no ano que vem. A eleição à prefeitura paulistana e de outras vitais no interior paulista tende a criar rearranjos. Doria tem vários candidatos na capital, mas uma hora terá de escolher um de fato.
Aliados suspeitam que será Joice Hasselmann, hoje deputada federal pelo PSL de Bolsonaro. O prefeito-candidato Bruno Covas (PSDB) tem a seu favor o sobrenome famoso do avô Mário e a juventude, mas mesmo políticos próximos dele identificam inapetência para a competição.
Por obrigação partidária, Doria já declarou voto em Covas —embora aliados digam que o prefeito pode jogar a toalha antes da campanha.
A questão colocada hoje é se Joice irá permanecer na linha bolsonarista independente ou migrará de vez para Doria.
A primeira opção é vista como mais complexa visando o futuro em 2022, dado que será imperativo ao governador anabolizar suas chances entre um eleitorado bastante à direita, ainda que mantendo a linha divisória com os arroubos presidenciais.
Logo, uma derrota de opções vistas como radicais cairia bem a Doria não só na capital, mas principalmente nos grandes centros do interior em que votaram maciçamente em Bolsonaro em 2018.

Governantes estimulam infrações e instalam anarquia ambiental no país, FSP

Ao desautorizar punições, Bolsonaro e governador incentivam o descumprimento da lei

Do alto de um palanque, o governador do Acre baixou uma nova lei ambiental no estado. "Não pague nenhuma multa, porque quem está mandando agora sou eu", afirmou Gladson Cameli (PP), batendo orgulhosamente no peito.
O ex-senador sempre condenou as punições aplicadas a produtores rurais por desmatamento, mas parece ter se embriagado com o poder depois que assumiu o novo cargo.
O governador do Acre, Gladson Cameli (PP) - Divulgação
Num evento realizado no fim de maio, Cameli criticou o órgão estadual de fiscalização e repetiu três vezes que as multas ambientais já não valem mais nada. "Não pague, não. Eu que estou mandando", declarou.
Sob o pretexto de evitar abusos e proteger a atividade econômica, alguns governantes decidiram partir para a anarquia. As regras de preservação continuam valendo, mas agora vêm acompanhadas de um estímulo à prática de crimes.
O governador do Acre pode até estar incomodado com punições que considera injustas, mas a Constituição estabelece que os estados têm o dever de fiscalizar qualquer ação que prejudique o meio ambiente.
O desmatamento quadruplicou no Acre nos últimos seis meses, segundo dados do Imazon. O repórter Fabiano Maisonnave perguntou a Cameli quantas multas foram aplicadas por seu governo nesse período. O governador não quis responder.
O presidente Jair Bolsonaro também já emitiu um salvo-conduto do tipo. Em abril, ele gravou um vídeo para avisar às madeireiras que os agentes do Ibama estavam proibidos de queimar caminhões e tratores usados no desmatamento ilegal.
O decreto 6.515, editado em 2008, autoriza a destruição desses equipamentos no local da ocorrência, mas o presidente virou o jogo e anunciou que o governo abriria um processo administrativo contra os fiscais.
Enquanto incentiva o descumprimento da lei, o governo fecha os olhos para as transgressões. Ao jogar dúvidas constantes sobre os dados que apontam um avanço do desmatamento na Amazônia, Bolsonaro deixa os infratores mais tranquilos.
Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Número de funcionários públicos aposentados em 2019 já supera 2018 inteiro... Uol

RESUMO DA NOTÍCIA

  • Em apenas seis meses, o número de servidores aposentados neste ano já superou todo o ano de 2018
  • Entre janeiro e junho, foram 20.652 benefícios concedidos, enquanto no ano passado todo foram 18.835
  • 98,2% receberam aposentadoria integral aos 61 anos de idade em média
  • Reforma da Previdência não seria único fator, diz sindicato
No serviço público, a corrida contra o tempo para se aposentar antes da aprovação da reforma da Previdência está a todo vapor. Em apenas seis meses, o número de aposentados neste ano já superou todo o ano de 2018. Entre janeiro e junho, foram 20.652 benefícios concedidos, enquanto no ano passado o número total foi de 18.835.
Entre os trabalhadores da iniciativa privada, houve redução de pedidos de aposentadoria: foram 876.836 entre janeiro e maio. No mesmo período do ano passado, houve 1,4 milhão de pedidos (queda de 37%).

Perfil dos servidores públicos recém-aposentados 

A maior parte dos servidores federais recém-aposentados está no Sudeste (35,3%), e a proporção entre homens e mulheres é praticamente a mesma (50,1% são mulheres e 49,9% são homens). Em relação aos cargos que ocupavam, a maioria era de nível intermediário/médio (68,1%), e praticamente todos (98,2%) receberam aposentadoria integral. A média de idade destes servidores que se aposentaram recebendo de acordo com o último salário da carreira é de 61 anos. Ministério da Economia é o que mais tem aposentados Os dados disponíveis no Painel Estatístico de Pessoal mostram que o ministério que lidera a corrida pela aposentadoria é o da Economia, que no governo de Jair Bolsonaro fundiu os antigos ministérios da Fazenda, Planejamento, Trabalho, Indústria e Comércio Exterior. Ao todo, foram 6.705 aposentadorias concedidas a servidores que atuam na pasta comandada por Paulo Guedes, o equivalente a 32,47% das concessões nos primeiros seis meses do ano.Atrás do Ministério da Economia, estão o Ministério da Saúde, com 25,94% do número total de aposentadorias neste ano, e o Ministério da Educação, com 20,95%.
 Reforma da Previdência não seria único fator, diz sindicato O secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no DF (Sindsep-DF), Oton Pereira Neves, destaca que a reforma da Previdência não é o único fator que motivou a disparada na corrida pela aposentadoria. Ele diz que, em janeiro deste ano, foi paga a última parcela de uma gratificação de desempenho acordada ainda no governo Dilma, em 2015. "Isso fez com que as pessoas se aposentassem. Não havia mais nenhuma vantagem em continuar no serviço público", disse Neves. "A máquina pública federal vai ter um prejuízo enorme, está perdendo toda a sua memória, seu patrimônio em termos de recursos humanos. A sociedade vai sentir essa falta, porque é uma irresponsabilidade você perder todo esse patrimônio que é o funcionalismo do governo", afirmou o secretário-geral do Sindsep-DF. O ministro da Economia, Paulo Guedes, já afirmou que não há previsão de realizar concursos nos próximos anos. 

Regras atuais e futuras A aposentadoria dos servidores públicos é regulada pelo RPPS (Regime Próprio de Previdência Social). Pela regra atual, eles podem se aposentar por idade ou por tempo de contribuição. No primeiro caso, homens devem ter 65 anos e mulheres 60, e ambos devem somar dez anos de atuação no serviço público e cinco anos no último cargo.  Topo A regra atual de aposentadoria por tempo de contribuição no serviço público estabelece que homens devem ter 60 anos de idade e 35 anos de contribuição, enquanto mulheres devem ter 55 anos de idade e 30 anos de contribuição. Ambos também devem somar dez anos de atuação no serviço público e cinco anos no último cargo. Essas são as regras aplicadas àqueles que ingressaram no serviço público a partir de 2004. O texto da reforma da Previdência estabelece que só será possível se aposentar por idade. A proposta aprovada em primeiro turno pela Câmara eleva a idade mínima para 65 anos (homens) e 62 (mulheres). O tempo de contribuição deverá ser de 25 anos, dez anos no serviço público e cinco no último cargo. Para começar a valer, a proposta de reforma da Previdência ainda precisa passar por um segundo turno de votação no Plenário da Câmara antes de ir ao Senado --onde também deverá ser aprovada em dois turnos de votação. Entenda a proposta de reforma da Previdência em 10