terça-feira, 30 de setembro de 2025

A televisão é um brinquedo muito caro, Por Alberto Luchetti, doBlog do Xonka

 A CNN Brasil é mais um capítulo da mesma novela protagonizada por atores desavisados com o patrocínio de empresário despreparado, oportunista e aventureiro, mas com o objetivo de atender interesses políticos latentes, como já vimos em outros tempos recentes nos meios de comunicação do nosso País.

Rubens Menin, dono da emissora, segue o mesmo caminho de José Carlos Martinez que montou a Central Nacional de Televisão (CNT) e Hamilton Lucas de Oliveira, do Grupo IBF, que comprou e fechou a TV Manchete, a TV Jovem Pan em UHF, o Diário do Comércio e Industria (DCI) e várias rádios em São Paulo, Rio e Brasília.

Menin fez fortuna nos governos petistas sendo apontado no meio empresarial como o “embaixador” do programa Minha Casa Minha Vida. Mais de 10 anos depois, travestido de mecenas midiático, se apresenta ao mercado com as vestes de uma franquia estrangeira, querendo ditar normas de jornalismo independente.

O objetivo de Menin é o mesmo de Martinez e de Oliveira. O fim parece que também será o mesmo. Martinez, que foi tesoureiro da campanha vitoriosa de Collor de Melo, pegou dinheiro do esquema de corrupção montado por Paulo Cesar Farias para montar a sua Rede de Televisão. Foi denunciado, teve que responder à uma CPI e, com o impeachment de Collor, viu sua CNT desmilinguir.

Oliveira não montou rede de televisão. Saiu comprando tudo. Dono de uma gráfica, ficou milionário com o esquema de corrupção da Caixa Econômica do Estado de São Paulo, imprimindo cards de sorteios instantâneos, as famosas “raspadinhas”, durante o governo de Orestes Quércia.

Da fortuna ao infortúnio foram pouco mais de 20 meses. A Manchete voltou para as mãos da família Bloch e depois, vendida novamente, transformou-se na RedeTV. A TV Jovem Pan UHF acabou. Os jornais e as rádios, coincidentemente ou não, foram parar com parentes de Quércia e, recentemente, vendidos para o bilionário do setor de educação, Chaim Zaher.

Com o mesmo objetivo de desafiar a Rede Globo, os três empresários também seguem o mesmo roteiro. Demorou menos de um ano para descobrir que Collor e PC Farias estavam atuando nos bastidos da CNT de Martinez. E quase dois anos para saber que Quércia era o grande influenciador dos veículos de comunicação de Oliveira.

Qual a surpresa que nos reserva a coxia desta caixa teatral da CNN Brasil de Rubens Menin? Politicamente iniciou, em 15 de março de 2020, a serviço do governo de Jair Messias Bolsonaro e ninguém há de refutar esses indícios. Mas como superar a GloboNews, se hoje perde há meses para a Jovem Pan, emissora de rádio tradicional de São Paulo que se transformou em um planfetário fascista e veículo oficial do governo Bolsonaro.

Empresarialmente, que caminho seguirá? É um enlatado cuja matriz orienta empresários e bolsas no mundo todo. E aqui? Quando acabar o governo atual o que fará para ficar 24 horas no ar? Dará cobertura nacional das enchentes, do rompimento de barragens, do crescimento da pobreza e do desmatamento da Amazônia? Ou irá acompanhará diariamente as entrevistas de Lula na porta do Palácio do Planalto, mais uma vez como porta voz do programa Minha Casa Minha Vida, da mesma forma que a Jovem Pan fez com Bolsonaro?

O oxigênio já está no fim. As demissões não param. Hoje, o setor que mais trabalha na CNN é o RH. Será que vai depender de mais dinheiro do governo assim como aconteceu com Martinez e Oliveira? A televisão é um brinquedo muito caro para quem não sabe brincar.

O começo da CNN Brasil já não foi bom. Muitos erros em pouco tempo. Teve gente que “até morreu e continua passando bem no hospital”, como disse um dia uma repórter.  Nem precisamos citar aqui a comentarista de Brasília que afirmou que na bandeira do Brasil estava escrito “Independência ou Morte”.  Para a emissora, Equador e Chile não ficam na América do Sul. Esse é o estresse de grandes coberturas.

Mas… e agora, Menin? Vai investir na compra de eventos esportivos para ver se o Galo canta de novo? Ou usar a arena do Atlético-MG para shows de rock? Ah, mas não esqueça, por favor, de casos policialescos cheios de desgraça, desventura e flagelo já temos o Brasil Urgente e o Cidade Alerta.

Celso Rocha de Barros Mercado só enxerga problema quando vira gasto, FSP

 

Uma pesquisa Genial/Quaest revelou que 98% dos gestores de mercado (em uma amostra de 82) reprovam os rumos da política econômica de Lula. A primeira coisa a ser dita é que se os 2% de gestores que discordam estiverem certos devem fazer uma boa grana nos próximos anos.

Em um certo sentido, o resultado da pesquisa era de se esperar. Os gestores de fundos certamente estão entre os 1% mais ricos da população, que não é território eleitoral fértil para a esquerda. E seria ridículo não reconhecer que os gestores, como todos os outros seres humanos, têm suas opiniões políticas.

Por exemplo, esta coluna está desde dezembro perplexa com o pessoal do mercado que achava que Haddad era um radical. Hoje não parece haver ninguém que ache isso, mas Haddad não mudou, o mercado é que se rendeu às evidências.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad durante evento com prefeitos, em Brasília - Gabriela Biló - 13.mar.2023/Folhapress

Aliás, bom lembrar: boa parte da turma que hoje tem medo de que "Lula não deixe Haddad trabalhar" teve a chance de eleger Haddad presidente em 2018. Ao invés disso, preferiram votar em um muambeiro genocida e golpista que quebrou o país e fugiu pra Disney.

Isso não quer dizer, entretanto, que a esquerda e o mercado nunca possam estar de acordo um com o outro, ou que a esquerda não cometa erros que reforçam a percepção ruim do mercado sobre ela.

O mercado tem gente muito inteligente que ganha muito dinheiro se acertar diagnósticos sobre alguns assuntos, como as variações do PIB ou a situação fiscal. Vale a pena ouvi-los sobre essas pautas. Por outro lado, há todo um universo de problemas relevantes que demoram para virar queda do PIB ou aumento de gasto, ou nunca viram. Sobre isso, é melhor não ouvir o mercado.

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Por exemplo, boa parte do aumento de gastos de Lula até agora foi para resolver crises deixadas por Bolsonaro na área social. Esses gastos foram contratados quando Guedes deixou os trabalhadores brasileiros sem aumento real de salário mínimo por quatro anos, ou quando Damares se recusou a enviar água para as crianças yanomami. Mas só apareceram na conta do mercado quando viraram gasto, já sob outro governo.

Por outro lado, se o mercado só enxerga o problema quando ele vira gasto, a esquerda às vezes só enxerga a crise quando ela vira corte de gastos. Como o mercado nos casos acima, ela também tende a colocar a culpa no cara que tenta resolver o problema.

Nos subsídios dados pelo primeiro governo Dilma já está contada, inteira, a história do ajuste de Joaquim Levy. Por que o empresariado teria investido os recursos dados por Dilma se era claro que eles causariam uma crise fiscal, obrigando o governo a fazer um forte ajuste? O cara que montou uma fábrica em 2012 com seu incentivo fiscal encontrou quantos consumidores em 2015?

Uma boa maneira de conciliar esses horizontes é uma regra fiscal bem bolada, que, como já disse o ex-ministro Nelson Barbosa, tem que agradar "as ruas e a Faria Lima".

Ao que parece, a nova regra fiscal deve ser assim. A proposta ainda não vazou, mas o que se depreende das entrevistas até agora é que ela deve ser muito melhor que o teto de gastos aprovado em 2017.

Torço para que a regra seja boa, para que as reações das ruas e da Faria Lima sejam razoáveis, e para que os 2% de gestores do primeiro parágrafo passem o resto da vida rindo da cara dos colegas de firma.


João Pereira Coutinho, É o excesso de Estado, estúpido! FSP

 Hora da confissão: sempre que escuto a palavra "polarização" sinto vontade de puxar o revólver. E, quando escuto as explicações para essa polarização, a vontade é sacar a bazuca.

Sim, mil vezes sim: a desigualdade econômica, imigração, redes sociais e seus capangas digitais... tudo isso agravou o tom e o estilo da discussão pública. Mas democracias livres são, por definição, polarizadoras. E é bom que sejam. A nostalgia da unidade é o sonho molhado dos tiranos.

O ódio que hoje corre solto tem razões mais fundas: é um ódio existencial, como se cada eleição pusesse em risco a própria sobrevivência de metade do país. Haverá explicação para esse surto psicótico?

Talvez —e mais racional do que se imagina. O diplomata britânico David Frost, escrevendo no Daily Telegraph, oferece a hipótese mais convincente que conheço para o pensamento binário que domina a espécie: globalistas contra nacionalistas; "fascistas" contra "comunistas"; e, no contexto britânico, partidários da União Europeia contra defensores do brexit.

É o Estado, estúpido! Houve um tempo em que o governo se ocupava das funções soberanas (justiça, ordem interna, defesa), tentando ainda fornecer serviços básicos à população. O Estado não estava em todo lugar, mas tentava estar onde deveria.

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Angelo Abu/Folhapress

Isso deixava algum oxigênio para os indivíduos, que podiam tocar suas vidas sem a sombra permanente do Leviatã.

Não mais. Vivemos em "Estados totalizantes" (não confundir com totalitários), que se expandem muito além de suas funções específicas. Não é só justiça ou segurança. Não é apenas saúde ou aposentadoria.

É economia, cultura, educação, costumes, vida privada, pensamentos íntimos —nada escapa ao Leviatã e seu desejo de controle social. O oxigênio se foi e ficou a sensação permanente de asfixia.

Moral da história?

Quando tudo depende do Estado, tudo depende do acesso ao poder. Isso significa que tudo é político —até onde a política estatal tradicionalmente não entrava. Como conclui David Frost, o que está em jogo é importante demais para você não ser tragado pelo vórtice.

É uma tese forte, admito, que os números e a história reforçam. Nos últimos 150 anos, os gastos públicos no Ocidente só caminharam numa direção —para cima. Parte se explica por conjunturas (guerras, pandemias) ou por causas nobres (não pertenço à seita dos neoliberais, para quem o Estado de bem-estar é um dos cavaleiros do apocalipse).

Mas o gigantismo estatal não nasceu apenas de boas intenções. Depois da Primeira Guerra Mundial, entraram em cena os "Estados-projeto", para usar o conceito do grande historiador Charles Maier: Estados ativistas que não se limitavam a administrar, mas se lançavam na tarefa de refazer a economia, a sociedade e a própria natureza humana de acordo com um plano ideológico.

No século 19, tivemos projetos de Estado —o Brasil pós-Independência ou a unificação alemã com Bismarck são exemplos clássicos dessa construção institucional.

O "Estado-projeto" é outra coisa: pressupõe a existência desses elementos (população, território, soberania, governo), mas vai muito além. Sua ambição é remodelar o cidadão com os instrumentos do Estado.

E, para desespero dos críticos, Maier lembrava: não é só coisa de ditadura. Democracias liberais também podem ser "Estados-projeto", descontada a violência. O que define é a intenção: a decisão política de mobilizar o Estado para moldar o futuro.

De vez em quando escuto amigos reclamando da onipresença da política em suas vidas. Entendo o cansaço, a náusea mesmo, com a gritaria sem fim.

Mas essa gritaria não é tão irracional: a política, de fato, infiltra-se em tudo —até na intimidade. Quem zomba de progressistas (ou conservadores) que juram nunca namorar alguém do "outro lado" ignora que isso é apenas a consequência lógica do nosso tempo.

Uma eleição tampouco é apenas uma eleição —um mecanismo pacífico de trocar governantes sem derramamento de sangue, como dizia o filósofo. É a hora em que recursos colossais e instrumentos tentaculares do Estado mudam de mãos. E, se isso não é uma ameaça existencial, o que é?

A polarização poderia ser saudável —se o Estado também fosse. Mas, para tanto, seria preciso devolver o Leviatã às suas funções próprias e limitadas, longe dos delírios dos "Estados-projeto".

Caso contrário, marcharemos de eleição em eleição —até chegarmos à última.