segunda-feira, 31 de março de 2025

Lygia Maria - O movimento antivax é uma ideologia infecciosa, FSP

 Em 1796, o médico inglês Edward Jenner notou que ordenhadoras infectadas com varíola bovina —forma branda da doença— eram imunes à varíola humana, que é muito mais grave. Resolveu, então, utilizar a secreção de lesões da varíola bovina para inocular uma criança, que depois apresentou imunidade à varíola humana.


O procedimento foi chamado de "vaccination" (vacinação, em português), em referência à "variolae vaccinae", expressão em latim para "varíola das vacas".

Após 229 anos, vacinas que combatem uma gama variada de enfermidades infecciosas salvaram incontáveis vidas. Por isso é impressionante que, em 2025, haja um surto de sarampo na nação mais rica do planeta.

A imagem mostra uma mão segurando uma seringa enquanto outra mão está posicionada para receber a injeção. A seringa está prestes a ser inserida em um braço, que está parcialmente visível. As unhas da mão que segura a seringa estão pintadas de vermelho.
Campanha de vacinação contra a gripe (influenza) 2025, na UBS Nossa Senhora do Brasil, em São Paulo - Karime Xavier - 28.mar.25/Folhapress

De janeiro a 15 de março, os EUA contabilizaram 294 casos de sarampo, superando os registros da doença em todo o ano de 2024. A contaminação começou no Texas e atingiu o Novo México.

A cobertura vacinal entre as crianças no país caiu de 95,2% no período de 2019-2020 para 92,7% em 2023-2024 —índice inferior ao recomendado para garantir a imunidade coletiva (95%).

Enquanto isso, Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde do governo de Donald Trump, anunciou que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) conduzirá um estudo para avaliar se há relação entre vacinas e autismo, mesmo que pesquisas robustas já tenham refutado essa hipótese nas últimas décadas.

Curiosamente, o disparatado movimento antivax da direita populista atual, não só nos EUA, se relaciona com a esquerda, mais especificamente com o movimento hippie dos anos 1960-1970, que se opunha aos imunizantes com base em naturalismo, rejeição da autoridade governamental e ênfase na liberdade pessoal.

A esse ideário, trumpistas adicionam teorias conspiratórias contra farmacêuticas e órgãos internacionais —expressão de seu insensato antiglobalismo.

A diferença é que os hippies nunca chegaram à Casa Branca. Agora, americanos adoecem devido à negação de um procedimento testado e estudado há séculos. O movimento antivax é uma ideologia infecciosa.

O YouTube real é visto apenas por robôs, Ronaldo Lemos - FSP

 Quer ver o mundo digital sem o filtro dos algoritmos? Então acesse o fascinante site Astronaut.io. Ele mostra vídeos aleatórios do Youtube. Um homem na Rússia filmando o rastro de um avião no céu. Ovelhas passando por uma porteira. Pessoas dançando em um aniversário na Indonésia. Uma jovem desmontando um celular.

A cada quatro segundos um vídeo novo. Se você perde, nunca mais vai ver aquelas imagens. Todos têm menos de cinco visualizações, zero comentário ou like.

Quando alguém pensa no Youtube o que vem à cabeça é diferente. Lembramos dos influenciadores, das celebridades como Mr. Beast, Felipe Neto ou Joe Rogan, com bilhões de visualizações. Só que eles são a minúscula exceção de uma realidade totalmente distinta.

Smartphone com logo do Youtube ao lado de uma placa-mãe

Por isso a aleatoriedade é tão importante. Ela espelha a realidade digital, enquanto o algoritmo a domina e a condiciona. O algoritmo sempre quer alguma coisa (atenção, monetização, manipulação). A aleatoriedade não quer nada.

Para entender ainda mais o fenômeno é só olhar o estudo incrível que Ethan Zuckerman fez com seus colegas na Universidade de Massachusetts em Amherst. Eles criaram um programa capaz de gerar endereços aleatórios do Youtube. Igual a um adolescente que liga para números inventados na hora para passar um trote. Desse modo, em vez de acessar o site através de algoritmos ou recomendações, sua equipe compilou e categorizou vídeos aleatórios que são mais representativos da realidade do site.

O resultado é impressionante. Apenas 0,21% dos vídeos encontrados tem alguma forma de monetização. A média de visualizações de um vídeo no Youtube é algo como 41 views. 74% dos vídeos não têm nenhum comentário e 89% não têm nenhum like. A duração média dos vídeos é de 64 segundos, sendo que um terço dos vídeos têm menos de 34 segundos. Em outras palavras, o Youtube é um oceano de vídeos nunca vistos.

O inglês é a língua de apenas 28% dos vídeos, seguido pelo hindu (11%), espanhol (8%), português (7%), russo (6,5%), árabe (6%) e assim por diante.

É curioso que todos esses dados só sejam acessíveis a partir de um projeto de pesquisa longo e complexo. O próprio Google, dono da plataforma, não revela estatísticas. Aliás, há sempre um desejo de manter a imagem do Youtube como algo pouco lembrado quando comparado a outras redes sociais. Outra distorção enorme.

O site é de longe a rede social mais popular nos EUA, sendo usado por 83% dos adultos e 93% dos adolescentes. É o segundo site mais visitado do planeta, perdendo só para o próprio Google. Há cerca de 15 bilhões de vídeos na plataforma. O Youtube é o gigante discreto. Lembra o provérbio chinês 深藏不露 (shēn cáng bù lù) que prescreve esconder e não revelar seu verdadeiro poder.

Outro modo de ver tudo isso é que o Youtube tornou-se parte da infraestrutura da internet. É o repositório preferido de qualquer pessoa que faz um vídeo. Acaba funcionando como um arquivo da humanidade. É uma pena que esse arquivo seja tão invisível. E que quem mais se interesse por ele sejam as inteligências artificiais, não pessoas.

Já era – achar que o Youtube é um site povoado por celebridades

Já é – perceber que o Youtube é um grande oceano (ou deserto) de vídeos pouco vistos

Já vem – inteligências artificiais sendo treinadas a partir desse vasto repositório humano

sexta-feira, 28 de março de 2025

'Nem nos meus melhores sonhos', diz Hugo Souza, herói da final, FSP

 O goleiro Hugo Souza, que garantiu o título estadual do Corinthians contra o Palmeiras ao defender um pênalti batido por Raphael Veiga celebrou a atuação que teve na noite desta quinta-feira (27) na Neo Química Arena, diante da torcida alvinegra.

"Para o goleiro, nada melhor que pegar pênalti na final, garantindo título. Nem nos meus melhores sonhos, nos melhores roteiros que poderia sonhar, eu sonhava com isso. Mas, graças a Deus, a gente foi feliz e hoje a gente sai campeão", afirmou o goleiro, que já defendeu sete pênaltis desde que chegou ao clube do Parque São Jorge, em julho de 2024.

"Esse clube, depois de seis anos, voltar a ser campeão…o Corinthians merece estar sendo campeão mais e mais vezes e que isso aqui volte a ser rotina. É isso que a gente vai buscar", disse Hugo Souza.

Revelado nas categorias de base do Flamengo, ele disse ainda que "imaginava que daria certo aqui [no Corinthians], imaginava muito que as coisas poderiam acontecer, mas não imaginava que seria tão rápido."

O goleiro agradeceu à torcida corintiana "que me abraçou e me acolheu desde meu primeiro dia."

Ele celebrou também a dedicação dos companheiros de equipe em busca do objetivo de serem campeões com a camisa do Corinthians.

PUBLICIDADE

"A gente sonhou muito com isso. A gente lutou muito por isso. Tudo mundo sabe, não preciso falar, mas na temporada passada o Yuri [Alberto] teve inúmeras propostas para ir embora e quis ficar para ser campeão com o Corinthians. O Garro teve uma proposta milionária e decidiu ficar para ser campeão com o Corinthians. O Memphis, com toda a carreira que tem, foi convencido de ficar para ser campeão com o Corinthians. Só queria fazer isso acontecer e fazer valer a pena", celebrou Hugo Souza

Um goleiro, vestido com um uniforme amarelo e preto, está se esticando para defender uma bola em direção ao gol. Ele está em um momento de ação, com os braços estendidos e a expressão concentrada. O fundo mostra uma rede de gol e parte do estádio.
Hugo Souza defende pênalti de Raphael Veiga na final do Paulista - Reprodução/Ag. Paulistão no X

O holandês Memphis Depay, que também levantou a primeira taça com a equipe, afirmou estar orgulhoso do time e que o Corinthians mereceu a conquista do título.

"É um título para a torcida, eles estavam esperando há muito tempo. Dedico o título a eles", disse o camisa 10. "É importante seguirmos assim. Podemos melhorar muitas coisas, precisamos trabalhar muito para conquistar mais títulos", acrescentou o meia, que marcou dois gols e deu cinco assistências em 12 partidas no Paulista.

Yuri Alberto celebrou iniciar a temporada com um título. "Poder começar o ano com um grande título passa uma energia muito boa para a gente disputar os próximos campeonatos", afirmou.

"Estava orando, chorando, pedindo para Deus tocar o coração do árbitro para ele soprar aquele apito logo e acabar o jogo", disse o atacante. Com confusões entre os jogadores em alguns momentos, o segundo tempo teve um acréscimo de 16 minutos.

"Começa a passar muita coisa na cabeça, tudo que passei no ano passado, os títulos que bateram na trave. Esse ano vai ser um ano muito abençoado para nós", afirmou Yuri. "Que seja o primeiro de muitos."