sexta-feira, 10 de outubro de 2025

fsp -Nunes diz que cidade de SP também deve aprovar venda de bebida em jogos de futebol

São Paulo

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) diz que a prefeitura vai seguir a liberação da venda de bebidas nos jogos de futebol em São Paulo, caso a medida seja aprovada pela Assembleia e sancionada pelo governador Tarcísio de Freitas.

Na capital, há uma lei municipal que veta a comercialização de bebidas alcoólicas em partidas desde 1997. Uma possibilidade em estudo é aproveitar um projeto em tramitação na Câmara Municipal, que está parado na Comissão de Constituição e Justiça, para fazer a liberação.


A princípio se o estado aprovar, a tendência é seguir aqui [na capital] porque deve ter argumentos técnicos e análise da saúde e da Polícia Militar", diz Nunes.

Como o Painel revelou, nesta terça-feira (7), deputados estaduais da base de Tarcísio apresentarão um projeto, a partir de diretrizes estabelecidas pelo próprio governo, na Assembleia Legislativa (Alesp).

A proposta tem o aval inclusive de deputados de oposição.

De acordo com minuta elaborada pela gestão Tarcísio de Freitas, a venda será permitida apenas em copos descartáveis e com limite de duas unidades por vez, mediante apresentação de documento de identidade ou colocação de pulseira inviolável comprovando que a pessoa é maior de 18 anos.

Outra medida do projeto é estabelecer os mesmos critérios para a venda de bebidas por ambulantes e bares no entorno dos estádios antes, durante e depois das partidas.

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      Datafolha 2025: As melhores marcas de bebidas

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      quinta-feira, 9 de outubro de 2025

      A noite de Tenorio, Ruy Castro _FSP

       Um momento para a história, o do dia 1º último, em homenagem ao pianista Tenorio Jr., no Teatro do BNDES. Tenorio desapareceu na noite de 18 de março de 1976, em Buenos Aires, confundido com um ativista local, às vésperas de um golpe militar. Nunca foi encontrado. Há pouco, 49 anos depois do fato, a Polícia Técnica argentina identificou suas impressões digitais como as mesmas de um homem capturado naquele dia, executado com cinco tiros e enterrado numa cova rasa sem identificação. No Brasil, para os filhos e netos de Tenorio, fechou-se um ciclo —se não o terão de volta, pelo menos agora sabem de seu destino.

      A jornada teve excepcionais participações musicais, a começar pelo trio Rafael Vernet, piano, Breno Aguilar, contrabaixo, e Tutty Moreno, bateria, recriando temas e arranjos de Tenorio de seu único disco como líder, "Embalo", de 1964, uma das duas ou três obras-primas do samba-jazz. Os amigos Joyce Moreno, Gilberto Gil e Caetano Veloso dedicaram-lhe empolgantes highlights de seus repertórios. E a participação de Joyce teve um toque emocionante —ela estava a trabalho com Tenorio em Montevidéu, duas semanas antes daquela noite fatal em Buenos Aires.

      Mas o evento quase impossível de superar já acontecera: a subida ao palco, chamados por Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, do perito portenho Lucas Guanini, que encontrou as impressões digitais de Tenorio; de Irene Molinari e Sara Mrad, duas das Mães da Plaza de Mayo, o coletivo que busca os desaparecidos da ditadura argentina; de Vera Paiva, filha de Eunice e Rubens Paiva; e dos filhos e netos de Tenorio, duas das quais, as adolescentes Sofia e Marina, choraram e fizeram a plateia chorar ao falar de seu avô.

      Tenorio tinha 35 anos ao morrer. Quando despontou para a música, no Beco das Garrafas, apenas 22. Era um garoto —muito difícil pensar nele como um avô. Sofia e Marina nunca o conheceram, claro, e mesmo suas mães eram crianças quando ele desapareceu.

      Mas a memória, quando bem guardada, não desaparece.

      Comprei um livro das mãos de Plínio Marcos, Vicente Vilardaga - FSP

       

      São Paulo

      Em 1983, num sábado, comprei um livro das mãos do dramaturgo Plínio Marcos no Centro Cultural São Paulo, no bairro do Paraíso. Estava ali para ver um show, acho que do grupo Premeditando o Breque. O título da obra era Madame Blavatsky, peça teatral que conta a vida da mística russa Helena Blavatsky, cujas ideias misturavam filosofia hindu, ciência e esoterismo.

      Não lembro quanto paguei por ele, mas foi bem barato. Tratava-se de uma edição de bolso, com capa verde e papel de má qualidade, produzida pelo próprio Plínio. Anos mais tarde, dei de presente para uma namorada. A peça seria montada pelo diretor Jorge Takla em 1985. Foi um grande sucesso. Recentemente, inspirou o monólogo "Madame Blavatsky – Amores Ocultos", com a atriz Mel Lisboa.

      Homem com colete sem mangas e boina segura uma publicação em feira interna de livros e zines. Pessoas circulam entre mesas e paredes decoradas com cartazes e ilustrações.
      O dramaturgo Plínio Marcos vende seus livros durante bienal em São Paulo: camelô da literatura - Eliana Assumpção/Folhapress

      O dramaturgo, que completaria 90 anos em setembro, se definia como um "camelô da literatura". Até meados da década de 1980, perseguido pela ditadura, podia ser visto em portas de cinemas, teatros, restaurantes, como o Gigetto e o Piolin, casas de espetáculos e locais de aglomeração de jovens, como a praça Roosevelt, vendendo seus livros, humildemente, para quem quisesse comprar.

      Já era um autor consagrado há décadas por peças como "Barrela", "Navalha na Carne" e "Dois Perdidos numa Noite Suja", mas dependia do trabalho nas ruas. Era considerado pornográfico e subversivo e se tornou um alvo preferencial da censura durante o regime militar.

      Foi detido e preso várias vezes e viu as portas se fecharem para qualquer emprego. Era também jornalista e ator. Atuou na novela "Beto Rockfeller", por exemplo.

      Dom Capellari e Alex Lanutti em cena da montagem de 'Dois Perdidos numa Noite Suja' da Ocupação Noites Sujas, no Teatro de Arena Eugênio Kuznet
      Alex Lanutti e Dom Capellari em cena de "Dois Perdidos numa Noite Suja" no teatro Eugênio Kusnet - Allan Fernandes/Divulgação

      No site oficial de Plínio há declarações que expõem sua situação de penúria. "Eu era proibido em todos os ofícios que tinha –cronista esportivo, cronista de carnaval, trabalhar na televisão. Mas batalhei e voltei às minhas origens. Camelô, vender meus livros na rua para sobreviver", disse.

      "Sou um camelô da literatura. Hoje (1986) posso dizer que é muito difícil ainda. É difícil ter espaço nos jornais, encontrar lugar para vender livro. Cheguei a ser expulso de vários lugares. É uma brutalidade única."

      Plínio fazia seu trabalho com dignidade. Ganhava seu pão sem se envergonhar e via sua atividade como uma forma de resistência. Lembro bem de sua altivez e desenvoltura. "Não tem tu, vai tu mesmo. Era assim. Eu ia vendendo meus livros (...). Um pouco aqui, um pouco ali. Batendo papo, contando histórias e faturando uma grana. Sabe, não é fácil vender livros em terra de analfabeto com fome", afirmou.

      O ator Luís Gustavo e Plínio conversam durante as gravações da novela "Beto Rockfeller", em 1968 - Acervo UH/Folhapress

      Quem comprava um de seus livros em algum ponto da cidade reconhecia que aquilo era uma forma de resistir à opressão. Muitos sabiam de sua condição de homem implacavelmente perseguido. Além disso, era um excelente vendedor. Dava autógrafos e estava sempre disposto a conversar com seus clientes. Falava de política, da obra que estava vendendo e sentia prazer em trocar ideias e debater.

      "Era uma parada dura. Mas eu não me acanhava. Não me queixava. Conheço bem a lei do choque do retorno: Quem planta vento colhe tempestade. E eu incomodava mesmo. Era perseguido, mas fiz por merecer. Eu encarava todas do jeito que viessem. Às vezes, apareciam uns e outros querendo me humilhar. Era péssima viagem. Eu pegava bem. Dava duro", disse.

      Plínio foi um herói brasileiro, um gênio da raça. Nunca se vitimizou e nem perdeu o humor e a ironia. Morreu em 1999, aos 64 anos, deixando uma obra grandiosa. "Eu sou um escritor imortal, não da Academia Brasileira de Letras, mas porque não tenho onde cair morto", afirmou certa vez.