quinta-feira, 1 de maio de 2025

Estancar a anistia, Helio Schwartsman, FSP


É sempre meio estranho ver o STF envolvido em negociações políticas com os outros Poderes. A primeira imagem que me vem à cabeça é a de Romero Jucá falando num "acordão, com Supremo e com tudo" para "estancar a sangria" da Lava Jato. Exceto pelo Collor, é difícil hoje afirmar que a profecia de Jucá não se materializou.

Nas versões mais idealizadas do Direito, o juiz é visto como um ser meio etéreo, imune a paixões, inclusive as políticas, e que julga seus casos levando em conta unicamente as provas produzidas e as leis previamente aprovadas. "Fiat iustitia, et pereat mundus" (faça-se justiça, mesmo que o mundo pereça), bradava Kant. Mas, se formos honestos, reconheceremos que deixar o mundo perecer não é uma boa ideia.

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Representantes do Congresso fazem ato pela democracia no dia que invasão a prédios públicos completou um mês - Gabriela Biló 8.fev.23/Folhapress

Boa parte dos julgamentos não triviais tem uma dimensão política que não convém ignorar. A própria Constituição brasileira reconhece isso indiretamente, ao dar ao presidente da República uma liberdade muito maior para indicar nomes para compor o STF do que para outras cortes superiores.

No mais, a ideia de negociação e conciliação não é estranha ao Judiciário. Buscar um entendimento entre as partes é o feijão com arroz de vários ramos da Justiça. É claro que, nesses casos, o juiz atua mais como um facilitador entre as partes do que como uma das partes no acordo.

Faço essas observações para dizer que não vejo com maus olhos as tratativas entre Congresso e STF para evitar uma anistia generalizada à tentativa de golpe. O ideal seria que o próprio Judiciário reduzisse as penas nos casos em que tenha exagerado. Tal caminho existe. Mas, diante do risco de o Legislativo aprovar um perdão amplo que poderia até desencadear uma crise institucional, penso que vale negociar.

O fundamental não é o tamanho das penas, mas que as condenações sejam mantidas nos tipos penais relacionados à preservação do Estado democrático e que os líderes golpistas sofram sanções mais severas do que a infantaria. Abrir mão disso seria uma espécie de suicídio da democracia.

helio@uol.com.br 

Pastor demitido após artigo diz que está 'à disposição para dialogar com quem se sentiu ofendido', FSP

 

SÃO PAULO

Dezenas de pessoas, incluindo pastores e líderes de outras religiões, reuniram-se na manhã desta quinta-feira (1º) na Igreja Presbiteriana Independente do Cambuci, na região central de São Paulo, para o ato "Meditação da paz", em que convidados fizeram leituras de trechos bíblicos e textos teológicos que enfatizam o respeito como valor cristão.

O evento foi promovido pelo pastor Valdinei Ferreira, que acabou demitido da Fatipi, faculdade de teologia da Ipib (Igreja Presbiteriana Independente do Brasil), após ser alvo de uma campanha de difamação nas redes sociais pela publicação do artigo "Judas traiu Jesus ou Jesus traiu Judas?" na Folha.

Segundo Valdinei, o objetivo do artigo era incentivar o diálogo sobre as mensagens da Bíblia e questionar certezas absolutas sobre as noções de bem e mal, mas a resposta foi o oposto. A falsa hipótese de que ele teria empurrado para Jesus a pecha de traidor passou a circular pela internet e, pressionada, a faculdade o demitiu, diz o pastor.

Um homem de cabelo grisalho e óculos está em pé em frente a um púlpito em um ambiente religioso. Ele veste um paletó escuro e uma camisa clara. Ao fundo, há uma cruz preta na parede e algumas cadeiras dispostas. O ambiente é iluminado de forma suave, com uma mesa coberta por um pano claro e instrumentos musicais visíveis ao lado.
O pastor Valdinei Ferreira durante ato na Igreja Presbiteriana Independente do Cambuci, em São Paulo; o evento ocorreu após ele ser demitido depois de publicar artigo na Folha - Eduardo Knapp/Folhapress

Apesar de sentir que não encontrou abertura para diálogo nas redes sociais ou na direção da faculdade onde trabalhava, o pastor afirma que uma postura diferente —respondendo os críticos com acusações e desqualificações— não traria vantagem. "Só vai me levar para o terreno que eles querem, que é o terreno do conflito", ele disse.

Ferreira também tratou a reação ao artigo —em geral, focada no título— como falsa polêmica. Segundo ele, o debate sobre as nuances da traição de Judas Iscariotes a Jesus dentro do cristianismo é antigo.

No artigo publicado na Folha, o pastor trata das reflexões do teólogo francês Jean-Yves Leloup, sacerdote da Igreja Ortodoxa, sobre a intenção de Judas e seu arrependimento ao entregar Jesus à autoridades que queriam matá-lo.

A partir de evangelhos apócrifos —antigos escritos cristãos que não foram incluídos nos cânones bíblicos—, Leloup diz que Jesus teria pedido ao discípulo que o entregasse e que, além disso, Judas imaginava que a prisão desencadearia um conflito no qual o Messias se colocaria como líder militar, o que não ocorreu. Mensagens enviadas ao pastor o acusaram de blasfêmia, mesmo que o artigo do pastor não acuse efetivamente Jesus de traição.

"Me coloco à disposição para o diálogo com quem se ofendeu", disse o pastor à Folha. "Eu não obtive o diálogo, me ofereci para ser ouvido e não fui chamado. Fui ignorado e demitido sem ser ouvido."

A demissão de Ferreira foi mencionada brevemente durante o ato, que se concentrou nos textos religiosos que pregam paz e tolerância. O evento foi aberto a pessoas de todas as religiões, e um representante da umbanda e pastores da Igreja Luterana, por exemplo, compareceram.

O ato contou também com a leitura de um texto pelo reverendo Everton Camargo, secretário-geral da Ipib. "De maneira geral, o Protestantismo é guardião das liberdades", diz um trecho do texto. "Não se usa mais a fogueira, nem aplicam as barbaridades físicas da Inquisição. Mas não se deixa de aplicar a tortura moral."

Já a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP, gravou um depoimento em áudio que foi reproduzido na caixa de som da Igreja. "Queria deixar aqui expresso meu afastamento em relação a qualquer forma de censura, venha de onde vier. O mundo civilizado tem de ser o mundo de todos os credos, de todas as opiniões e de liberdade de pensar e dizer", ela afirmou.

Ao final, Ferreira conduziu uma sessão de meditação coletiva, pedindo aos participantes que repetissem uma frase que prega paz e entendimento. Depois, uma fila de pessoas se formou na porta de igreja para abraçá-lo. Uma mulher chorou ao conversar com ele e prestar solidariedade.

Ferreira é pastor há 33 anos. Num outro artigo publicado pela Folha, após o linchamento virtual, ele afirmou que a demissão da Fatipi foi a primeira na sua carreira.

Alunos do curso de teologia divulgaram uma carta em defesa do pastor. "A ausência do professor, cuja atuação foi sempre reconhecida por sua excelência didática, ética pastoral e compromisso com os valores acadêmicos e cristãos, causou surpresa e apreensão", diz o texto.

Questionado se a demissão de Valdinei Ferreira teve a ver com seu artigo sobre Judas, o presidente da FECP, Heitor Pires Barbosa Jr., disse que a "mesma deu-se sem justa causa" e que "cada autor responde pessoalmente pela publicação" de ensaios publicados sem aval da fundação.

"Aprendi que precisamos tratar isso [a cultura do cancelamento] no âmbito da comunidade. É preciso haver uma espécie de educação em relação às redes sociais, porque as pessoas mobilizam agressividade", disse Ferreira nesta quinta. "Esse ato é um chamado à reflexão."

Desemprego sobe, mas é o menor para o 1° tri desde 2012, The News

 

A taxa de desemprego no Brasil subiu para 7% no primeiro trimestre de 2025 . O número é maior do que o registrado no fim de 2024 (6,2%), mas, ainda assim, é o menor para um primeiro trimestre da série histórica , que começou em 2012.

(Imagem: g1)

📈 O aumento das empresas era esperado: O início do ano costuma ser um período de desligamento em, principalmente de temporários contratados no fim do ano, pela alta temporada de compras.

O país tem hoje 7,7 milhões de pessoas desempregadas — 891 mil a mais do que no fim de 2024 —, mas 909 mil a menos que no mesmo período do ano passado.

Ao todo, quase 58% da população com idade para trabalhar é empregada. Outros 67 milhões de pessoas seguem fora da força de trabalho , entre eles aposentados, estudantes e donas de casa.

A informalidade se mantém alta, com taxa de 38%. Isso representa quase 39 milhões de pessoas trabalhando sem carteira assinada , por conta própria ou em empregos domésticos.

Nos primeiros 3 meses do ano, a renda média do trabalhador subiu para R$ 3.410 , alta de 1,2% frente ao último tri de 2024.