terça-feira, 22 de novembro de 2022

Metrô e trens de SP têm ao menos 15 roubos por dia no 3º trimestre, FSP

 William Cardoso

SÃO PAULO

A Polícia Civil registrou ao menos 15 roubos por dia nos trens e no metrô da capital paulista no terceiro trimestre deste ano. Ao todo, foram 1.343 casos entre julho e setembro. A comparação com outros trimestres é afetada pela falta de padrão no registro das ocorrências.

Roubos são crimes cometidos mediante ameaça e violência, algo que era visto, no passado, como incomum no transporte sobre trilhos —diferentemente dos furtos, quando o ladrão aproveita uma oportunidade ou um descuido da vítima, o que sempre foi um problema em trens e estações.

Plataforma da estação República, na linha 3-vermelha do Metrô, na região central de São Paulo - Rubens Cavallari - 27.jun.2022/Folhapress

O impacto dessa onda de assaltos levou o metrô a promover nos últimos meses uma mudança no setor de segurança e a buscar convênio com a Secretaria estadual da Segurança Pública para contar com 180 policiais militares no dia a dia das estações, por meio de uma operação delegada —a Dejem (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Militar).

O convênio também existe na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), segundo informa pasta.

O governo Rodrigo Garcia (PSDB) chegou, ainda, a resgatar portas detectoras de metais, já usadas sem sucesso no passado.

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A operação delegada com PMs é alvo de críticas por parte dos metroviários, que apontam uma redução significativa no número de seguranças próprios do Metrô como uma das causas da onda de violência em trens e estações.

Para chegar aos números da criminalidade, a reportagem usou como parâmetro os roubos apontados em boletins de ocorrência especificamente dentro do sistema metroferroviário, a partir de dados solicitados via LAI (Lei de Acesso à Informação).

Foram descartadas, por exemplo, aquelas ocorrências que são citadas apenas como em terminais e estações de maneira genérica, sem detalhamento claro sobre onde teriam acontecido (se dentro ou ao redor das paradas, por exemplo). Ou seja, embora o número ao qual se chegou seja elevado, trata-se ainda assim de uma contagem bastante conservadora.

Os 1.343 roubos de julho a setembro somente na capital paulista correspondem a mais de oito vezes o número de crimes da mesma natureza registrados no trimestre anterior, entre abril e junho (161 ocorrências). Também é um montante bastante superior a qualquer outro período analisado ao longo dos últimos quatro anos, mesmo no pré-pandemia, em 2019.

Questionada sobre a discrepância entre os dados apresentados pela própria pasta via LAI, a Secretaria da Segurança Pública afirma que "melhorou a forma de preenchimento dos boletins de ocorrência registrados no metrô, que passaram a incluir, de forma mais precisa, a geolocalização do crime noticiado, em lugar da expressão genérica via pública ou outros". Não foi informado, porém, desde quando isso passou a ser regra.

A SSP também apontou que o registro online ficou mais difundido entre a população e que, no levantamento realizado pela reportagem, cerca de 80% dos casos foram anotados por meio da Delegacia Eletrônica. No segundo trimestre, entretanto, já era bastante comum essa modalidade de anotação dos crimes e, mesmo assim, os números foram consideravelmente mais baixos.

Seja por subnotificação no passado ou atualização na forma de registro, o fato é que a grandeza dos números atuais, todos com data, horário e boletim de ocorrência, se apoia também na impressão de seguranças do metrô com quem a reportagem conversou, sob a condição do anonimato

Os agentes apontam que a redução no número de seguranças está diretamente ligada ao aumento nos roubos. Eles afirmam que a "ação de presença" (funcionários circulando por trens e estações) sempre foi um fator intimidatório para evitar que ladrões agissem de forma violenta, cometendo assaltos. Com menos profissionais, criminosos se sentem mais à vontade.

A estimativa é de um déficit de cerca de 200 seguranças —o quadro atual é de cerca de 1.000 agentes, incluindo aqueles que são afastados rotineiramente por doenças laborais.

Segundo as pessoas com as quais a reportagem manteve contato, a situação é crítica a ponto de algumas estações terem passado a operar na abertura e no fechamento com um único funcionário —mesmo assim integrante do quadro operacional, não um segurança.

Os agentes questionam também a opção pelo convênio com a PM, no lugar da reposição do quadro de funcionários. Segundo eles, o metrô tem uma arquitetura e um sistema complexos, enquanto os policiais estão mais adaptados ao patrulhamento ostensivo, nas ruas.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública afirma que, além dos PMs, policiais civis da Delpom (Delegacia do Metropolitano) "realizam operações periódicas e prenderam 104 criminosos, em flagrante ou por mandados contra envolvidos em crimes cometidos no sistema metroviário".

Já a STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos), responsável por trens e metrô no estado, cita, além do convênio, reforço do patrulhamento nas estações e trens e a ampliação e renovação dos sistemas de segurança. Entre as ações está a chegada de um novo chefe da segurança, o coronel Eduardo Agrella, a compra de detectores de metal e investimento na ampliação e renovação das câmeras.

Fora os 180 policiais para trabalhar no metrô, a secretaria diz que outros cem vigilantes fardados fazem a ronda no entorno das estações. "Com isso, os agentes de segurança do Metrô podem concentrar seus esforços dentro das estações", diz, em nota.

Segundo a STM, o percentual de solução das ocorrências de segurança no Metrô é de 76% e a rápida comunicação dos casos pode ajudar a ampliar esses números. "O passageiro pode informar qualquer caso a um funcionário do Metrô, que vai acionar a rede de agentes e câmeras, auxiliando na captura e detenção dos infratores. A comunicação também auxilia na elaboração de novas estratégias", diz, em nota.

A secretaria diz que a CPTM investe constantemente em ações que reforçam o patrulhamento ostensivo e preventivo no sistema. Cita a escolta em mais de 80% dos trens fora dos horários de pico, equipe de segurança em todas as estações e convênio com a PM em 50% das estações da companhia.

A pasta respondeu também pelas linhas 4-amarela e 5-lilás, de metrô, e 8-diamante e 9-esmeralda, dos trens, sob concessão da ViaQuatro e ViaMobilidade, respectivamente. Segundo a secretaria, houve investimento em bodycams para uso dos agentes de atendimento e segurança.

"As concessionárias também realizam novas contratações de agentes, principalmente mulheres, com o objetivo de tornar o atendimento mais igualitário. Juntas, as quatro linhas contam com 5.052 câmeras que realizam o monitoramento ininterrupto de todo o sistema operado pelas concessionárias, medida que contribui de forma decisiva para a segurança", afirma, em nota.

Brasil é um dos líderes mundiais na digitalização de serviços públicos, EBC

 O Brasil foi reconhecido como o segundo país mais avançado do mundo em governo digital. A avaliação é do Banco Mundial, que mediu o estágio atual de transformação digital do serviço público em 198 países.

Outro destaque brasileiro foi o maior avanço registrado entre as nações avaliadas: o país subiu cinco posições em relação ao ranking de 2021. O estudo salienta que a oferta de serviços públicos digitais na plataforma gov.br já conta com 140 milhões de usuários, cerca de 80% da população adulta. Uma única senha é o que basta para o cidadão ter acesso a milhares de serviços digitais e obter as informações que procura.

“Essa ascensão se dá pela execução natural de um plano que começou em 2019. Um planejamento, utilizando as melhores práticas internacionais, para prestar serviços públicos cada vez mais fáceis e centrados no cidadão”, explica o Secretário de Governo Digital do Ministério da Economia, Fernando Coelho.

Carteira digital de trabalho, CNH digital, acesso a sistemas como o ENEM, SISU e FIES, todos serviços de forte impacto econômico-social, são hoje facilmente acessados por intermédio da plataforma gov.br.
Para fazer a avaliação e elaborar o ranking, o Banco Mundial elencou 48 indicadores, que levaram à formação de quatro índices. O Brasil obteve conceito “muito alto” em todos eles.

“Foram feitas perguntas em quatro grandes eixos: um de sistemas estruturantes, com uma abordagem voltada para a gestão da máquina do estado; outro eixo de oferta de serviços, com uma visão mais para fora, mais para o cidadão (como se dá essa oferta e se ela está organizada); o terceiro eixo é do engajamento e transparência, pra trazer a população para o desenho desses serviços, para contribuir com as políticas públicas; e o quarto eixo que diz respeito à governança, a estratégia, se a visão está bem implementada”, afirma o secretário Fernando Coelho.

A plataforma gov.br materializa a estratégia de governo digital no Brasil, ao reunir em um único portal a oferta de serviços para a população, de forma padronizada, e com uma única identificação do contribuinte.

A economia da transformação digital

A digitalização dos serviços impacta positivamente toda a sociedade – calcula-se uma economia total da ordem de 4,6 bilhões de reais.  O cidadão deixa de gastar, por exemplo, com transporte, impressão e envio de documentos. O estado também reduz os gastos com os recursos que seriam necessários para o atendimento a essas solicitações. Mas, o impacto não é apenas financeiro, uma vez que há também economia de tempo e agilização dos processos, graças à automação.

Outro benefício da transformação digital é a segurança e a proteção de dados, uma questão estratégica para o contribuinte e também para o Estado. A plataforma gov.br está hospedada nos mesmos ambientes e com os mesmos critérios que guardam dados que exigem sigilo fiscal, como o imposto de renda e outros serviços da Receita Federal. E a gestão da privacidade está na mão do cidadão.
“Ele pode pedir informações sobre o uso, ele pode revogar a utilização a qualquer momento. O cidadão é o titular, ele é que tem o poder de utilizar esses dados”, explica Fernando Coelho.

Edição: Claudia Felczak

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Ex-garupa de Bolsonaro, líder evangélico encontra Alckmin, flerta com Lula e apoia Tarcísio, FSP

 


SÃO PAULO

Vice-líder do governo no Congresso e carona do presidente Jair Bolsonaro (PL) na motociata Acelera para Cristo, em junho de 2021, o deputado federal Antonio Cezar Correia Freire (PSD-SP), o Cezinha de Madureira, um dos expoentes da bancada evangélica, foi convidado nesta segunda-feira (21) para um café com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB).

Apoiador de Bolsonaro e do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante as eleições de 2022, Cezinha aceitou o convite e esteve à tarde no escritório de onde Alckmin tem despachado quando está na capital paulista, em meio à articulação da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O presidente Jair Bolsonaro (PL) com o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP) na motociata Acelera para Cristo, em São Paulo, em junho de 2021 - Divulgação

A conversa durou meia hora. Foi a primeira vez em que dois estiveram juntos. O deputado, que também é pastor, diz que Alckmin busca uma interlocução com o segmento evangélico.

"A igreja esteve muito próxima do presidente Bolsonaro. E todos sabem que o presidente Lula foi eleito aí com uma pauta bem difícil com os evangélicos. O doutor Geraldo é um cara conciliador", disse o deputado, após encontro com Alckmin, descrevendo o ambiente político em que foi convidado para o café.

Ex-presidente da bancada evangélica, Cezinha representa a Assembleia de Deus do Ministério Madureira. Ele foi um dos articuladores da aliança do PSD, seu partido, com Tarcísio de Freitas, a pedido de Bolsonaro.

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Cezinha diz que foi convidado para a transição de Tarcísio no Governo de São Paulo. É cotado para uma secretaria estadual. "Como represento uma liderança nacional, a gente conversa com todos", justifica.

Ele afirma até que foi sondado —mas não revela por quem— sobre a hipótese de ocupar um assento no ministério do governo Lula. Não descarta uma participação. "Tinha sido sondado por algumas pessoas próximas do presidente Lula se toparia assumir alguma pasta para fazer essa interlocução com evangélicos, e hoje fui surpreendido com esse convite do doutor Geraldo", afirma.

Segundo o deputado, o encontro aconteceu a pedido de um amigo que sugeriu que Alckmin tomasse esse café com ele.

Cezinha de Madureira lembra ter sido eleito na base de Bolsonaro, e, "em muito especial, com o Tarcísio aqui". Ele afirma que aproximou Tarcísio de São Paulo a pedido do atual presidente. "Eu trouxe o Tarcísio em janeiro para nós começarmos a montar um trabalho aqui. Na sequência, consegui trazer o [Gilberto] Kassab [presidente nacional do PSD] para colocar o vice", diz.

"Como nós nos tornamos uma liderança no mundo evangélico nacional, fui presidente da bancada evangélica, vice-líder do presidente Bolsonaro no Congresso e na Câmara, avançamos em muitas pautas e muitas interlocuções", afirma Cezinha.

Apesar da conversa com Alckmin, a quem Lula tem chamado de companheiro, o deputado afirma que se manterá fiel à agenda conservadora. "Vamos continuar com nossa lealdade ao grupo de direita. Doutor Geraldo é um homem de direita", afirma.

O deputado afirma que manterá sua lealdade, "em especial, a Tarcísio", mas diz que "política é a arte de conversar".