quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

'Motivo real' de impeachment de Dilma foi falta de apoio, não pedaladas, afirma Barroso, Monica Bergamo, FSP

 

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso escreveu, em artigo para a edição de estreia da revista do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), que "o motivo real" para o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) foi a falta de apoio político, não as pedaladas.

"A justificativa formal foram as denominadas 'pedaladas fiscais' —violação de normas orçamentárias—, embora o motivo real tenha sido a perda de sustentação política", afirmou Barroso. A publicação, que será lançada no dia 10, tem Hussein Kalout, ex-secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, como um dos editores.

Na sequência do texto, ainda inédito, Barroso comparou o quadro com o vivido pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), que sucedeu a petista.

"O vice-presidente Michel Temer assumiu o cargo até a conclusão do mandato, tendo procurado implementar uma agenda liberal, cujo êxito foi abalado por sucessivas acusações de corrupção. Em duas oportunidades, a Câmara dos Deputados impediu a instauração de ações penais contra o presidente."

Barroso já havia expressado esse raciocínio em julho de 2021, durante um simpósio em que afirmou: "Creio que não deve haver dúvida razoável de que ela [Dilma] não foi afastada por crimes de responsabilidade ou corrupção, mas, sim, foi afastada por perda de sustentação política. Até porque afastá-la por corrupção depois do que se seguiu seria uma ironia da história".

Em outras ocasiões, o ministro afirmou também que "impeachment não é golpe" e que não acha que, "do ponto de vista jurídico, tenha sido um golpe [contra Dilma], porque se cumpriu a Constituição".

Além do artigo do magistrado do STF, a primeira edição da revista tem textos dos ex-ministros Rubens RicuperoCelso Amorim, Izabella Teixeira Marina Silva, além de uma entrevista com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, conforme informou o Painel no mês passado.

O Cebri, uma das principais instituições brasileiras dedicadas à política externa, incluirá na publicação artigos e entrevistas com especialistas na área, publicados em português, espanhol e inglês.

Hussein Kalout é um dos editores da revista trimestral, ao lado do professor do Instituto de Relações Internacionais da USP Feliciano Guimarães.

Lula bate o pé por Haddad em eleição de SP em recado a Boulos e França, FSP

 Julia Chaib

BRASÍLIA

Em meio a impasses sobre a eleição paulista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem repetido em reuniões privadas que vê pela primeira vez uma chance real de o PT ganhar a disputa pelo Governo de São Paulo, com Fernando Haddad (PT).

A afirmação foi feita por Lula em reuniões nesta semana com petistas e políticos de outros partidos, inclusive de fora do estado.

Em uma dessas ocasiões, segundo relatos, o ex-presidente avaliou que vê o cenário propício para a eleição do PT e elencou algumas razões.

Diante desse cenário, Lula tem batido o pé na escolha de seu ex-ministro da Educação para disputar o Palácio dos Bandeirantes e enviado recados a políticos da esquerda que buscam o mesmo posto —Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT-SP) em evento em São Bernardo do Campo - Amanda Perobelli-10.mar.21/Reuters

Além de Haddad ter pontuado bem nas últimas pesquisas de intenção de voto, Lula afirmou que a aliança com o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) em âmbito nacional impulsionará a candidatura do ex-prefeito de São Paulo.

O petista disse acreditar que o gesto configura um aceno a setores de centro e centro-direita e que isso impactará positivamente a campanha de Haddad. Alckmin, no PSDB, foi governador de São Paulo quatro vezes.

A expectativa no PT é que o ex-governador paulista também trabalhe pela eleição de Haddad, caso ele venha a ser candidato a vice-presidente ao lado de Lula. Quando Haddad fora prefeito, havia uma boa interlocução entre o petista e o ex-tucano, à época governador.

Nesse cenário, Lula ainda tentaria herdar uma parte dos votos que outrora iriam para Alckmin, que se desfiliou do PSDB no final do ano passado.

Outra razão seria a rejeição do governador João Doria (PSDB-SP) no estado, que respingaria no seu vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB-SP), que tentará sucedê-lo no Palácio dos Bandeirantes.

Doria foi eleito prefeito de São Paulo em 2016, em primeiro turno, com forte apoio de Alckmin. Em 2018, após pouco mais de um ano à frente do comando da cidade, candidatou-se a governador para suceder o padrinho político no Palácio dos Bandeirantes.

Alckmin naquele mesmo ano ficou em quarto lugar —pior desempenho de um tucano em disputa presidencial. Desde então, Doria vinha se articulando para ser o candidato do PSDB ao Planalto, escanteando Alckmin. No fim de 2021, venceu as prévias do partido contra Eduardo Leite (PSDB-RS).

Escolhido no PSDB, Doria enfrenta resistência no eleitorado de São Paulo. Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada em dezembro do ano passado, ele tem rejeição de 38% dos paulistas e aprovação de 24%.

De acordo com o mesmo levantamento, na corrida pelo Bandeirantes, Geraldo Alckmin teria 28% das intenções de voto, seguido por Haddad, com 19%, França (PSB), com 13%, e Boulos (PSOL), com 10%.

Sem Alckmin na disputa e com o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP), que aparece com 6% das intenções de voto, Haddad sobe de 19% para 28% dos entrevistados que declaram o propósito de votar nele.

Já França, ex-vice-governador de Alckmin, cresce de 13% para 19% em um cenário. Boulos passa de 10% para até 18%.

Os tucanos governam São Paulo desde 1995, quando Mário Covas venceu a eleição do estado pela primeira vez, em 1994. Alckmin, por exemplo, foi eleito em primeiro turno em 2014.

Desde então, o PT já brigou pelo governo algumas vezes, a última delas, em 2018, com Luiz Marinho (PT-SP), que terminou a corrida com 12,66% das intenções de voto.

Lula tenta uma costura em São Paulo para que o PSB abra mão de lançar França, e o PSOL, de lançar Boulos, para unir os candidatos tidos mais à esquerda em uma chapa só.

"O PSB diz que tem o Márcio França. Em algum momento se faz uma avaliação para ver quem tem mais chances. Se for o Márcio França, vamos discutir com ele. Mas eu acho, com toda modéstia, que o PT nunca esteve tão próximo de ganhar o governo do estado, como está agora", disse Lula em entrevista a sites de esquerda no mês passado.

Depois disso, o ex-presidente voltou a afirmar, em reunião com integrantes de outros partidos nesta semana, que o integrante do PSB seria um bom candidato ao Senado.

França, porém, tem rechaçado essa possibilidade e diz que não abrirá mão de se candidatar ao governo do estado. Na eleição passada, ele disputou o segundo turno com Doria e, na capital, teve mais votos do que o ex-prefeito Doria.

PSB conversa para formar uma federação com o PT. E São Paulo é considerado o estado mais complicado da negociação, representando um impasse na união dos partidos.

Em outra frente, o PT também quer que Boulos abra mão de disputar o governo. Setores do PT defendem que o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) se candidate a deputado federal.

Na terça-feira (1º), Lula se encontrou com Boulos, como mostrou a FolhaNa reunião, porém, os dois não trataram do cenário paulista.

Essa discussão será travada em encontro a ser marcado nas próximas semanas com a presença de integrantes da direção partidária tanto do PT como do PSOL.

Como mostrou reportagem da Folha, petistas avaliam que, além de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, a qual teria chances de vencer, Boulos também deve fazer um acordo para que o PT o apoie na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2024 e ter um cargo num eventual governo de Lula.

Em 2020, Boulos ocupou o espaço da esquerda, antes monopolizado pelo PT, e como candidato do PSOL chegou ao segundo turno da eleição, quando foi derrotado por Bruno Covas (PSDB).

Dirigentes do PSOL, hoje, rechaçam a hipótese de retirar Boulos da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, embora admitam conversar com o PT a respeito da eleição paulista.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Supertúnel de esgoto rompido na Marginal funciona desde 2020 e integra ação de despoluição do Tietê, OESP

 Marco Antônio Carvalho, O Estado de S.Paulo

02 de fevereiro de 2022 | 09h47

estrutura que se rompeu nesta terça-feira, 1, nas imediações das obras da Linha 6-Laranja do Metrô em São Paulo é um supertúnel de esgoto da Sabesp que foi inaugurado em fevereiro de 2020. As autoridades agora trabalham para avaliar como reparar a estrutura, que é responsável por encaminhar o esgoto coletado de bairros da região central para uma estação de tratamento em Barueri, na Grande São Paulo. 

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O ITI-7 é classificado como um supertúnel pela Sabesp por percorrer 7,5 quilômetros de extensão embaixo da Marginal do Tietê. A estrutura tem 3,4 metros de largura e 2,65 metros de altura Foto: Consórcio ITI-7

Segundo o governo paulista, o Tatuzão, equipamento de engenharia responsável pela perfuração do túnel do Metrô, não atingiu diretamente o túnel de esgoto. A relação entre a escavação e o rompimento está sendo apurada pela empresa responsável pela obra e pelo governo estadual. A ruptura liberou um fluxo de esgoto que fez ceder parte das pistas da Marginal no sentido Ayrton Senna, na altura da ponte do Piqueri. 

De acordo com a Sabesp, a estrutura danificada é um Interceptor de Esgotos, que é identificado como ITI-7. A companhia estadual disse que equipes técnicas trabalham para reverter o esgoto da tubulação para outra estrutura próxima (ITI-1). Após o escoamento do esgoto, é planejada a realização de um diagnóstico preciso sobre o interceptor avariado, com prazos para os reparos. 

O ITI-7 é classificado como um supertúnel pela Sabesp por percorrer 7,5 quilômetros de extensão embaixo da Marginal do Tietê. A estrutura tem 3,4 metros de largura e 2,65 metros de altura. 

“O empreendimento contribui para a melhoria da qualidade das águas dos rios Tamanduateí e Tietê ao levar para tratamento o esgoto gerado na região central do município, em bairros como Bela Vista, Consolação, República, Anhangabaú, Sé e Liberdade, abrangendo também Aclimação, Cambuci e Ipiranga”, informou a Sabesp na oportunidade da inauguração da obra. 

Cratera na Marginal Tietê
Cratera na Marginal Tietê aumentou de tamanho e autoridades pretendem preenchê-la com argamassa e material rochoso Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Instituído em 1992, o Projeto Tietê, do qual o ITI-7 faz parte, “tem como objetivo contribuir para a revitalização progressiva do rio Tietê por meio da ampliação e otimização do sistema de coleta, transporte e tratamento de esgotos”, detalhou o governo estadual. 

Nas contas da companhia estadual, mais de 350 mil pessoas são beneficiadas por esse conjunto que oferece esgoto tratado, “melhorando o sistema que atende diretamente mais de 2 milhões de pessoas”, informou a Sabesp. 

Ele se complementa com a estação elevatória de esgoto do Piqueri, acrescentou, “para encaminhar os efluentes à estação de tratamento de Barueri, que teve sua capacidade ampliada para 16 mil litros por segundo”. O conjunto é formado ainda pelo novo Coletor-Tronco Anhangabaú e pelo Interceptor Tamanduateí (ITa-1J), que ao todo custou R$ 390 milhões.

A companhia informou nesta terça-feira que um comitê foi criado para investigar a causa do acidente e para avaliar “soluções técnicas para a realização das obras de drenagem, recuperação para a retomada das obras do Metrô, conserto da tubulação e da Marginal do Tietê”. 

Uma reunião com os técnicos da Secretaria dos Transportes Metropolitanos, da Sabesp, da concessionária Acciona e da prefeitura de São Paulo, em um comitê criado, definiu que o buraco será preenchido com "material rochoso e argamassa". A intenção é estabilizar o local o quanto antes para que a via possa ter sua circulação retomada.