quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Ômicron e o 'fim' da pandemia, Atila Iamarino, FSP

 Até 2022, não registramos mais de 1 milhão de casos de Covid-19 no mundo em um dia. Com a ômicron, passamos de 2 milhões de casos por dia nos últimos 7 dias. Bolívia e Argentina registram recordes. Paraguai e Uruguai estão quase lá. Já o Brasil não registra nada. Completamos mais de um mês com o sistema do Ministério da Saúde fora do ar, no escuro até sobre o avanço da vacinação. As evidências indiretas, como os testes positivos na rede particular de saúde, já indicam que grandes cidades como São Paulo devem bater recordes também.

Ainda é difícil saber o que nos espera. Experimentos mostram uma preferência da ômicron pelas vias aéreas superiores (como as cavidades nasais e a faringe) e uma diminuição do estrago no pulmão. Mas precisamos dessa confirmação em pacientes. E isso só explicaria parte das diferenças.

Felizmente, os vacinados ainda sofrem bem menos. Nos EUA, onde muitos insistem em viver no inferno dos não vacinados, voltaram a registrar mais de 2.000 mortes por dia. A maioria entre quem não se vacinou.

Profissional da saúde imuniza homem com dose de reforço em Siliguri, na Índia - Diptendu Dutta - 10.jan.22/AFP

Como a ômicron consegue circular entre vacinados e muitos só contavam com vacinas para se proteger, sua transmissão é implacável. Uma pessoa doente pode transmitir o vírus do sarampo, um dos mais transmissíveis, para até 13 outras. Mas isso leva por volta de duas semanas. Já ômicron é transmitida para seis pessoas em média, a cada cinco dias. Em duas semanas ela já passou por mais de dois ciclos de contágio e as seis pessoas já transmitiram para outras 36. Pelos próximos meses ela deve circular como nenhuma outra doença que vimos até hoje.

Em vacinados, os sintomas são mais parecidos com os de uma gripe, com nariz escorrendo, congestão nasal e a garganta raspando. Você provavelmente tem conhecidos que estão com esses sintomas, se não estiver também.

O que não quer dizer que a ômicron vai imunizar todo mundo e acabar com a Covid. Mesmo se ela causar menos mortes a cada caso, ainda serão muitos casos. E o vírus já se mostrou bem capaz de mudar. O que nos espera depois da ômicron são outras variantes com mais escape imune. Como o vírus influenza que causa a gripe faz, todo ano.

Essa proteção das vacinas pode indicar a saída. Depois da pandemia de gripe de 1918, continuamos registrando muitas mortes pelos próximos anos, mas elas foram diminuindo. O vírus não parece ter ficado mais fraco. O influenza de 1918 já foi recuperado de corpos da época e não é muito diferente do H1N1 que circula até hoje. Talvez nós é que tenhamos ficado mais fortes.

Em 1918, as pessoas não tinham imunidade prévia contra o influenza e ele causou sintomas que não vemos agora, como problemas neurológicos, de olfato e visão. Provavelmente porque, sem barreira imune, o vírus conseguia infectar o corpo todo. Conforme vieram outras ondas de gripe, quem sobreviveu desenvolveu imunidade. Daí em diante, por mais que o vírus conseguisse escapar o suficiente da imunidade para ser transmitido, muitos continuavam protegidos contra casos mais graves. Hoje, o influenza não encontra quase ninguém sem um mínimo de imunidade, a não ser as crianças, que não são tão afetadas pela doença –e mesmo assim se beneficiam muito de vacinas. Talvez, um adulto hoje que nunca teve contato com o influenza ou vacinas poderia ter uma infecção tão grave quanto em 1918.

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Se o coronavírus se comportar assim, gerando variantes diferentes a ponto se espalhar, mas não tão diferentes que invadem o corpo todo de imunizados, os casos graves do Sars-CoV-2 poderão ser cada vez mais raros conforme nos vacinamos e quem

Elio Gaspari A moratória de Bolsonaro, FSP

 A coisa mais perigosa do mundo é arriscar previsões sobre o comportamento de Jair Bolsonaro. Mesmo assim, é indiscutível que depois da Missão Michel Temer, em setembro do ano passado, ele baixou o verbo com os ministros do Supremo Tribunal Federal.

Parece que a nota do almirante da reserva Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa, levou-o a baixar a bola também no ridículo conflito em torno da vacina das crianças. Se disso resultar uma moratória de Bolsonaro diante da pandemia, o ano de 2022 terá começado melhor.

O presidente Jair Bolsonaro - Rahel Patrasso - 5.jan.22/Xinhua

Desde que o coronavírus entrou na agenda mundial, o capitão errou rodas. A "gripezinha" matou mais de 600 mil pessoas e a cloroquina serviu para nada. A boa notícia veio do funcionamento do programa de imunização, área na qual o Brasil tinha um desempenho histórico louvável.

A ele somou-se o comportamento da população, vacinando-se. Nem o declínio na qualidade da gestão do ministério da Saúde foi suficiente para anestesiar os brasileiros.

Se Bolsonaro parar de exercer ilegalmente a medicina, deixando a pandemia para os médicos, todo mundo ganha.

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O coronavírus teve um terrível efeito sobre o governo de Bolsonaro. Começou brigando com João Dória, um governador que havia ajudado a eleger. Em seguida, brigou com Luiz Henrique Mandetta, um deputado que havia colocado no ministério da Saúde. Nelson Teich, seu substituto, devolveu-lhe o cargo em poucas semanas, até que o capitão puxou da mochila sua arma secreta: um general da ativa.

Eduardo Pazuello deu com os burros n'água e quebrou o encanto da mágica da nomeação de militares para cargos civis. O doutor Marcelo Queiroga foi para a cadeira e mostrou que um médico pode ser pior ministro que um general. Todas essas encrencas saíram do próprio governo, girando em torno de muitas superstições e alguns projetos de falcatruas. A oposição nada teve a ver com isso.

Ao atacar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, presidida por um almirante-médico da reserva, escolhido por ele, Bolsonaro atravessou o espelho. Ele jamais documentaria a insinuação de que a Agência tinha interesses na compra de vacinas. Esse tipo de malandragem rolou na máquina do ministério da Saúde e foi contida, como ficou demonstrado pela Comissão Parlamentar de Inquérito.

O conflito com a Anvisa e com Barra Torres fez parte do acervo de brigas inúteis do governo Bolsonaro. Nessa prateleira estão as caneladas contra a China, a eleição de Joe Biden e o governo argentino de Alberto Fernández. Tudo para nada.

Vale lembrar que nos primeiros dias de governo, a diplomacia de Bolsonaro usou os ofícios de um embaixador israelense exibicionista, aceitando uma missão inútil de socorristas para o desastre de Brumadinho.

Movido por teorias delirantes, o governo escolhe mal tanto os aliados como os adversários. Na pandemia, como o vírus é microscópico, brigou com os colaboradores.

Em 1904, quando alguns políticos, jornalistas e militares insuflaram a Revolta da Vacina, o presidente Rodrigues Alves traçou uma linha que não poderia ser ultrapassada. Prevaleceu. Em 2022 é possível que a linha traçada pacificamente por Barra Torres, venha a restabelecer a racionalidade no tratamento da pandemia. A ver.

EUA: Inflação em 12 meses chega a 7%, maior patamar desde 1982, OESP

 A inflação nos Estados Unidos subiu 0,5% em dezembro de 2021, na comparação com novembro, e alcançou 7% no acumulado dos últimos 12 meses, segundo dados divulgados nesta quarta, 12, pelo Departamento do Trabalho americano. O indicador é a principal medida de inflação americana.

Esta é a inflação acumulada para os últimos 12 meses mais alta desde fevereiro de 1982, quando foi de 7,6%.

Em audiência no Comitê Bancário do Senado realizada ontem, 11, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, afirmou que se a inflação elevada nos Estados Unidos persistir, o órgão terá que adotar uma política monetária mais dura, o que poderia causar uma recessão

Dólar
Inflação em 12 meses nos Estados Unidos chega a 7%, maior patamar desde 1982 Foto: Reuters

“As pressões inflacionárias estão a caminho de persistir até pelo menos metade deste ano”, disse Powell ao comitê.