Até 2022, não registramos mais de 1 milhão de casos de Covid-19 no mundo em um dia. Com a ômicron, passamos de 2 milhões de casos por dia nos últimos 7 dias. Bolívia e Argentina registram recordes. Paraguai e Uruguai estão quase lá. Já o Brasil não registra nada. Completamos mais de um mês com o sistema do Ministério da Saúde fora do ar, no escuro até sobre o avanço da vacinação. As evidências indiretas, como os testes positivos na rede particular de saúde, já indicam que grandes cidades como São Paulo devem bater recordes também.
Ainda é difícil saber o que nos espera. Experimentos mostram uma preferência da ômicron pelas vias aéreas superiores (como as cavidades nasais e a faringe) e uma diminuição do estrago no pulmão. Mas precisamos dessa confirmação em pacientes. E isso só explicaria parte das diferenças.
Felizmente, os vacinados ainda sofrem bem menos. Nos EUA, onde muitos insistem em viver no inferno dos não vacinados, voltaram a registrar mais de 2.000 mortes por dia. A maioria entre quem não se vacinou.
Como a ômicron consegue circular entre vacinados e muitos só contavam com vacinas para se proteger, sua transmissão é implacável. Uma pessoa doente pode transmitir o vírus do sarampo, um dos mais transmissíveis, para até 13 outras. Mas isso leva por volta de duas semanas. Já ômicron é transmitida para seis pessoas em média, a cada cinco dias. Em duas semanas ela já passou por mais de dois ciclos de contágio e as seis pessoas já transmitiram para outras 36. Pelos próximos meses ela deve circular como nenhuma outra doença que vimos até hoje.
Em vacinados, os sintomas são mais parecidos com os de uma gripe, com nariz escorrendo, congestão nasal e a garganta raspando. Você provavelmente tem conhecidos que estão com esses sintomas, se não estiver também.
O que não quer dizer que a ômicron vai imunizar todo mundo e acabar com a Covid. Mesmo se ela causar menos mortes a cada caso, ainda serão muitos casos. E o vírus já se mostrou bem capaz de mudar. O que nos espera depois da ômicron são outras variantes com mais escape imune. Como o vírus influenza que causa a gripe faz, todo ano.
Essa proteção das vacinas pode indicar a saída. Depois da pandemia de gripe de 1918, continuamos registrando muitas mortes pelos próximos anos, mas elas foram diminuindo. O vírus não parece ter ficado mais fraco. O influenza de 1918 já foi recuperado de corpos da época e não é muito diferente do H1N1 que circula até hoje. Talvez nós é que tenhamos ficado mais fortes.
Em 1918, as pessoas não tinham imunidade prévia contra o influenza e ele causou sintomas que não vemos agora, como problemas neurológicos, de olfato e visão. Provavelmente porque, sem barreira imune, o vírus conseguia infectar o corpo todo. Conforme vieram outras ondas de gripe, quem sobreviveu desenvolveu imunidade. Daí em diante, por mais que o vírus conseguisse escapar o suficiente da imunidade para ser transmitido, muitos continuavam protegidos contra casos mais graves. Hoje, o influenza não encontra quase ninguém sem um mínimo de imunidade, a não ser as crianças, que não são tão afetadas pela doença –e mesmo assim se beneficiam muito de vacinas. Talvez, um adulto hoje que nunca teve contato com o influenza ou vacinas poderia ter uma infecção tão grave quanto em 1918.
Se o coronavírus se comportar assim, gerando variantes diferentes a ponto se espalhar, mas não tão diferentes que invadem o corpo todo de imunizados, os casos graves do Sars-CoV-2 poderão ser cada vez mais raros conforme nos vacinamos e quem