terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Saída da Ford deixa rastro de desemprego e devasta economia de Camaçari (BA), FSP

 Leonardo Vieceli

RIO DE JANEIRO e CAMAÇARI (BA)

Da fábrica fechada de Camaçari (BA), restaram os pátios vazios e as placas da avenida que ganhou o nome de Henry Ford, fundador da montadora. Dos funcionários, ficou a união em grupos de aplicativos de mensagens que se tornaram uma espécie de espaço de apoio mútuo pela perda dos empregos.

O anúncio de encerramento das atividades produtivas da Ford no Brasil, que completa um ano em 11 de janeiro, deixou rastro de desemprego, queda na produção industrial e baque em efeito cascata na economia de Camaçari. No início de 2021, a empresa também comunicou o fechamento das fábricas em Taubaté (SP) e Horizonte (CE), além da unidade baiana.

Camaçari abrigou a primeira indústria de automóveis do Nordeste após uma longa batalha política e fiscal na década de 1990 e virou um polo de desenvolvimento nos anos seguintes. O encerramento das atividades piorou o já frágil cenário para a economia da região, afetando especialmente o futuro dos prestadores de serviços que se estabeleceram no local para atender a operação.

Umas das portarias fechadas da Ford em Camaçari (BA) - Rafael Martins/Folhapress

O fechamento da fábrica impactou o comércio e o setor de serviços da cidade, sobretudo os ramos de educação e imobiliário. A prefeitura estima que, apenas em salários dos funcionários diretos da Ford e de sistemistas, cerca de R$ 20 milhões deixaram de circular mensalmente na economia local.

Instalada em bairro planejado que cresceu no entorno da fábrica, a loja de material de construção de José Edmílson Oliveira, 49, teve uma queda de 40% no faturamento em 2021: "A Ford agregava muitas empresas. Esse pessoal costumava comprar aqui".

Escolas e faculdades particulares, por exemplo, perderam alunos. O índice de desligamentos atingiu 50% em alguns cursos. O impacto foi tamanho que a prefeitura teve de abrir um refinanciamento de dívidas tributárias dos estabelecimentos de ensino.

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"A massa salarial era injetada na economia local. Era um dinheiro que ia para consumo, para serviços e aluguéis dos imóveis onde funcionários da Ford moravam. Parte disso se perdeu", afirma o secretário de Governo de Camaçari, Helder Almeida.

Também houve um baque na arrecadação do município –apenas em tributos municipais, a perda foi de R$ 50 milhões por ano. Mas a redução de receita será ainda maior quando for recalculada em 2023 a distribuição da cota do município do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), tributo recolhido pelo estado.

É mais difícil mensurar, no entanto, o impacto na vida das pessoas. Os milhares de funcionários demitidos tomaram diferentes rumos. Parte voltou para suas cidades de origem, outros montaram pequenos negócios e teve até quem usou o dinheiro da rescisão para comprar um carro e se tornar motorista de aplicativo.

A maioria tem futuro incerto. Celso Ricardo Moreira, 43, por exemplo, trabalhou por 20 anos na Ford. Começou no chão de fábrica e chegou a inspetor de qualidade. Após a demissão, abriu uma empresa de administração de condomínios, mas ainda está em busca de seus primeiros clientes.

"Decidi trabalhar por conta própria e estou tocando a empresa devagar. É difícil conseguir uma nova vaga na indústria porque não tem mercado de trabalho para tanta gente", afirma.

Celso Ricardo Moreira mudou de área após ser desligado da Ford em Camaçari (BA) - Rafael Martins/Folhapress

Seu colega Iomário Silva, 26, também dá os primeiros passos na sua empresa de instalação de placas de energia solar. A transição não é fácil, conta. Neste mês, o plano de saúde dos funcionários demitidos, que foi estendido por um ano, será suspenso e isso lhe traz preocupação.

Entre os meses de janeiro e novembro de 2021, o setor de veículos, reboques e carrocerias fechou 4,8 mil empregos formais na Bahia, indicam dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do governo federal.

O saldo mede a diferença entre demissões e contratações. Das 4,8 mil vagas perdidas, 4,6 mil foram registradas em Camaçari.

Iomário Silva perdeu emprego com saída da Ford da Bahia - Folhapress

O impacto na economia local só não foi maior porque parte dos demitidos ainda permanece na cidade e se mantém com o dinheiro recebido na rescisão. É o caso de Charles Alencar, 49, que trabalhou na montadora desde o início das operações, no setor de estamparia, e agora está desempregado há um ano.

Com dificuldade de se recolocar no mercado por causa da idade, também decidiu abrir um negócio. Mas preferiu esperar a crise da pandemia arrefecer. Seu colega Edson Pereira, 52, é outro que segue sem emprego: "A situação da maioria é de ansiedade e preocupação com a família".

Edson Pereira e Charles Alencar, ex-funcionários da Ford na Bahia - Rafael Martins/Folhapress

Números calculados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sinalizam que a indústria baiana foi atingida com força pela saída da montadora.

No acumulado de janeiro a outubro de 2021, a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias despencou 94,6% no estado nordestino. O Brasil teve alta de 28,2% em igual intervalo.

Com o baque no setor automotivo, a produção industrial da Bahia, em termos gerais, foi puxada para baixo: houve queda de 13,1% até outubro.

É a maior retração, com folga, entre os 15 locais pesquisados pelo IBGE no ano. O segundo maior recuo na produção industrial, de 5,2%, foi registrado em Mato Grosso.

"A queda na Bahia está muito ligada ao fechamento da Ford", aponta o economista João Paulo Caetano, da SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia), vinculada ao governo estadual.

À época do anúncio do fechamento da montadora, o órgão projetava que o fim das operações em Camaçari poderia gerar um baque anual de cerca de R$ 5 bilhões para a economia baiana, o equivalente a 2% do PIB (Produto Interno Bruto).

Segundo Caetano, o valor exato das perdas só poderá ser calculado a partir da divulgação do PIB de 2021, o que ainda não ocorreu.

ESTADO BUSCA INTERESSADOS

O governo estadual afirma que, em 2021, a Bahia perdeu cerca de R$ 280 milhões em arrecadação com o encerramento das operações da montadora.

O cálculo leva em consideração o ICMS direto e o recolhimento ao Fundese (Fundo de Desenvolvimento Social e Econômico).

Para reparar os impactos, o governo tenta levar novos investimentos para Camaçari. A administração estadual indica estar em negociações com o setor automotivo, mas ainda evita citar nomes de companhias que teriam interesse em preencher o espaço deixado pela Ford.

"Todo o esforço do governo está sendo feito no sentido de atrair outra grande indústria para ocupar a área da Ford em Camaçari, pois esse é o modo mais direto e eficaz de neutralizar os efeitos da saída da empresa", diz o governo.

O estado também menciona que foi indenizado em R$ 2,1 bilhões pela Ford após o encerramento das operações, recursos que foram agregados ao orçamento em 2021.

Superintendente da Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), Vladson Menezes considera que a mão de obra qualificada pode ser um chamariz para eventuais interessados em substituir a montadora. Mas isso, por si só, não é suficiente, diz.

Menezes entende que o estado precisa buscar avanços em áreas como infraestrutura, e incentivos fiscais serviriam para dar competitividade para a instalação de novos negócios, segundo ele.

Além disso, também é importante um ambiente político e econômico menos incerto no Brasil, o que fica mais complicado em ano eleitoral, avalia.

"Quanto mais esse processo demorar, mais difícil vai ficar a situação, porque as empresas sistemistas estão deixando de operar ou porque uma parte dos trabalhadores pode estar migrando para outros setores", afirma Menezes.

Procurada pela reportagem, a Ford não deu detalhes sobre o impacto em suas operações causado pelo fechamento das fábricas no Brasil. A empresa informou que "o mercado brasileiro ainda é um dos maiores da América Latina e, portanto, extremamente relevante para a Ford".

Etanol sobe 62% e café avança 50%: veja as maiores altas da inflação em 2021, FSP

 Leonardo Vieceli

RIO DE JANEIRO

Preços de produtos diversos dispararam em 2021, mostram dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial de inflação no Brasil.

O etanol foi o item no país que acumulou a maior variação no ano passado: 62,23%.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável pela divulgação dos dados nesta terça-feira (11), a disparada do combustível está relacionada às condições da safra da cana-de-açúcar. Em 2021, plantações foram prejudicadas pela seca, que reduziu a oferta e pressionou os preços.

O café moído foi o segundo item do IPCA que mais subiu no ano passado. A variação chegou a 50,24%.

Choques climáticos também ajudam a explicar a disparada do café, já que a falta de chuvas e as geadas castigaram plantações em estados como Minas Gerais, destaque nessa atividade.

Em termos gerais, o IPCA subiu 10,06% em 2021. A alta é a maior para o período de janeiro a dezembro desde 2015 (10,67%).

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Conforme a metodologia do índice, nem sempre os produtos e serviços com as maiores variações de preços representam as principais influências sobre o resultado.

Prova disso é que o IPCA de 2021 foi pressionado especialmente pela gasolina. No ano passado, o combustível subiu 47,49%, gerando impacto de 2,34 pontos percentuais sobre o índice geral, o principal da pesquisa. Isso ocorreu porque a gasolina tem um peso maior na cesta de produtos e serviços analisados pelo IBGE.

MAIORES VARIAÇÕES DO IPCA EM 2021

​Acumulado de janeiro a dezembro, em %

Etanol62,23
Café moído50,24
Mandioca (aipim)48,08
Açúcar refinado47,87
Gasolina47,49
Óleo diesel46,04
Pimentão39,16
Gás veicular38,72
Açúcar cristal37,55
Mudança37,09
Gás de botijão36,99
Mamão36,01
Revista35,68
Transporte por aplicativo33,75
Fubá de milho32,82

Fonte: IBGE


Aposentados do INSS terão reajuste de 10,16% e teto sobe para R$ 7.087, FSP

 Fernanda Brigatti

SÃO PAULO

Aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) com benefícios acima do salário mínimo (de R$ 1.100 até 31 de dezembro de 2021) terão reajuste de 10,16% neste ano.

O aumento vale também para benefícios por incapacidade, como auxílio-doença, e será aplicado integralmente a todos aqueles que já estavam recebendo seus pagamentos em 1º de janeiro de 2021.

A variação equivale ao INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) registrado de janeiro a dezembro do ano passado e que mede o impacto da variação de preços para as famílias com renda entre um e cinco salários mínimos.

O valor dos benefícios previdenciários com reajuste entra em vigor em 1º de janeiro - Eduardo Knap/Folhapress

O índice foi divulgado nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e reajustará também o teto do INSS, que é o valor máximo tanto para os benefícios previdenciários quanto para as contribuições recolhidas à Previdência Social.

Dos atuais R$ 6.443,57, o teto passa a ser de R$ 7.087,22 a partir de 1º de janeiro.

Para quem ganha o salário mínimo, o novo valor foi definido em R$ 1.212 por medida provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em 31 de dezembro de 2021. Segundo o INSS, atualmente, 23.4 milhões de benefícios recebem o pagamento no valor igual ao do salário mínimo. Ao todo, o instituto faz 36 milhões de pagamentos mensalmente.

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A variação do piso dos salários e benefícios ficou em 10,18%, um pouco acima dos 10,16% da variação do INPC no ano passado. Apesar do aumento acima do piso, os segurados que ganham o salário mínimo não terão ganho real. Cerca de R$ 2 do valor reajustado referem-se à compensação devida pelo governo no ano passado, quando a inflação ficou superior à prevista

Em alguns dias, o Ministério do Trabalho e Previdência e o INSS deverão oficializar os percentuais de reajuste proporcionais, que serão pagos aos segurados com benefícios concedidos a partir de fevereiro. Como esses segurados não receberam 12 meses de pagamentos do INSS, o percentual de reajuste é menor, calculado em relação ao tempo do segurado como beneficiário da Previdência Social.

Os segurados do INSS começarão a receber seus benefícios reajustados a partir de 25 de janeiro, quando os que ganham o salário mínimo têm seus depósitos referentes à folha de fevereiro. Quem recebe mais do que o piso terá o primeiro benefício com o reajuste de 10,16%% a partir de 1º de fevereiro.

Para saber a data exata do pagamento, o segurado deve consultar o número de seu benefício e considerar apenas o o penúltimo algarismo –o INSS descarta o dígito. O número do benefício tem 10 dígitos e aparece no seguinte formato: 999.999.999-9.

Calendário para pagamento de benefícios 2022 - Divulgação

O novo salário mínimo não mexe somente com as aposentadorias. Outros pagamentos, como o seguro-desemprego, o recolhimento dos microempreendedores individuais (MEI), o valor do abono do PIS/Pasep e o limite para receber antes os valores de atrasados judiciais também são ajustados pelo piso dos salários.

As RPVs (Requisições de Pequeno Valor), como os atrasados são chamados no judiciário, são pagos na Justiça Federal mensalmente e são limitadas a 60 salários mínimos. Se o valor do salário mínimo for mantido, elas passarão de R$ 66 mil para R$ 72.720.

No seguro-desemprego, o novo valor será usado nos pedidos feitos a partir desta terça (11). Para calcular o benefício pago ao trabalhador, o governo apura a média dos três salários anteriores à demissão e, depois, aplica um redutor, conforme a faixa da remuneração.

Para os trabalhadores autônomos registrados como MEI, a contribuição base passará a ser de R$ 60,60, o mesmo valor previsto para donas de casa de baixa renda, que pagam ao INSS 5% do salário mínimo. No caso dos MEI, há um acréscimo de R$ 1 para quem atua com comércio e indústria (referente ao ICMS), de R$ 5, para o setor de serviços, ou de R$ 6 aos que trabalham com os dois setores.