quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Estádio do Pacaembu terá hotel de luxo em prédio no lugar do tobogã, já demolido, OESP

 Ricardo Magatti, O Estado de S.Paulo

30 de novembro de 2021 | 16h13

Allegra Pacaembu, detentora da outorga do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, pelos próximos 35 anos, concluiu no mês passado a demolição do tobogã e anunciou nesta terça-feira que o edifício que será erguido no local da antiga estrutura terá um hotel de luxo que ocupará dois andares. 

A previsão é de que o estádio seja reinaugurado em novembro de 2023. Antes disso, a partir de janeiro do ano que vem, as arquibancadas amarela e verde serão abertas gratuitamente para o público acompanhar o andamento das obras. 

Tobogã foi demolido e dará lugar a um prédio multiuso com hotel de luxo
Tobogã foi demolido e dará lugar a um prédio multiuso com hotel de luxo Foto: Felipe Rau/Estadão

Além do hotel, a ser criado a partir do acordo firmado com a Universal Music Hotels, rede hoteleira que é um braço da gravadora homônima, o novo prédio vai abrigar cafés, restaurantes, escritórios, espaços multifuncionais, um mercado gastronômico, um centro de convenções e eventos e um novo espaço para até 8,5 mil pessoas no subsolo do Pacaembu. São cinco andares e mais quatro subsolos. Na cobertura deste novo empreendimento haverá ainda uma praça elevada com acesso lateral para as ruas Desembargador Paulo Passaláqua e Itápolis, que cercam todo o complexo e a praça Charles Miller.

Embora reconheça que o perfil do público que passará a frequentar o espaço mudará, o CEO da concessionária, Eduardo Barella, entende que o novo Pacaembu não será elitizado, mas democratizado, com a nova lógica de utilização da estrutura, não mais restrita aos jogos de futebol e aberta a receber eventos culturais, como shows e mostras de arte.

"Nós estamos democratizando o Pacaembu e seu uso. O Pacaembu era focado somente no futebol, agora esse uso será ampliado para a cultura", argumentou Barella. "Esse espaço será inclusivo e democrático. Mas para isso precisamos fazer uma amarração com outras áreas".

O administrador afirmou que a tendência dos grandes estádios é diversificar sua utilização e considera que o público quer consumir "experiências". Mas ele garante que o Pacaembu não perderá seu charme, originalidade e, sobretudo, sua essência histórica. "O Pacaembu tem algo que nenhum novo empreendimento na cidade tem: história. A história construída no Pacaembu impulsiona essa experiência. É o público da música, do esporte, da cultura".

Nesta terça, Barella esteve no complexo acompanhado do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para dar detalhes da construção do hotel, que terá vista para o gramado. O estádio foi aberto pela primeira vez desde a demolição do tobogã, local onde se acomodavam os torcedores com ingressos mais baratos. Essa lógica será alterada quando o estádio for reinaugurado. 

Sem o tobogã, Pacaembu se transformará em espaço de eventos culturais
Sem o tobogã, Pacaembu se transformará em espaço de eventos culturais Foto: Felipe Rau/Estadão

Embora ainda não dê para projetar o valor que será cobrado pelas entradas, é certo que o ticket médio vai aumentar. Mas para o CEO da concessionária, haverá espaço para o público com maior poder aquisitivo e também para aqueles que não podem pagar muito para assistir a um jogo ou evento musical. Sem o tobogã, o estádio terá sua capacidade reduzida para 25 mil pessoas.

"Aqui, antes, o ticket médio era de R$ 27. O cara que queria hospitalidade não vinha no Pacaembu e não estamos excluindo os que pagavam o ingresso mais barato. Vamos ter aqui um estádio com a mesma média de público de antes com efeito de caldeirão", opina o empresário. "Estamos montando um projeto democrático que eleva o ticket médio, mas sem deixar fora o torcedor que compra o ticket mais barato", reforça.

Ele afirmou que tem conversado com presidentes de vários clubes e garantiu que o estádio continuará sendo utilizado pelas equipes a partir de sua reinauguração. O Palmeiras, por exemplo, não poderá em várias datas de 2022 utilizar o Allianz Parque em razão da agenda cheia de shows no ano que vem. Mas também não poderá mandar seus jogos no Pacaembu, ainda em obras. Por enquanto, os dirigentes não podem dar um garantia de utilização pois isso depende dos resultados do time em campo. "A nossa ideia é falar para o clube não pagar mais o aluguel para nós, e sim ser nosso sócio no matchday", diz o líder do consórcio vencedor da concessão. 

Barella, que é corintiano fanático, planeja transformar o Pacaembu em palcos de espetáculos, "algo que se aproxima do conceito americano", segundo ele. "Quem for ao estádio não vai apenas para o jogo. A pessoa vai comer no restaurante, vai bater bola com ex-jogadores nas ativações de marketing". 

Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, visitou o Pacaembu
Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, visitou o Pacaembu Foto: Felipe Rau/Estadão

Sua ideia é transformar o complexo em "um hub de experiências que vai resgatar os pilares de cultura e lazer e potencializar o seu uso esportivo". O prefeito Ricardo Nunes disse que a concessão do Pacaembu à iniciativa privada "melhora o ambiente de esportes em São Paulo", e "fortalece os negócios e o turismo da cidade".

Novo Pacaembu

A Allegra Pacaembu assumiu o complexo do Pacaembu em 2020. A concessionária pagou R$ 111 milhões pelo direito de gerir o local por 35 anos. Além do pagamento das outorgas fixa e variável, a concessionária está investindo cerca de R$ 400 milhões na recuperação e modernização do complexo e na construção de novo edifício, no lugar do antigo tobogã, já demolido, e planeja arrecadar R$ 100 milhões anualmente com o novo centro de esportes, entretenimento e cultura a partir do terceiro ano de uso.

O Pacaembu é tombado e a remoção do tobogã foi autorizada previamente pelos órgãos responsáveis pelo patrimônio histórico da cidade (Conpresp e Condephaat). A demolição teve início no fim de junho e foi concluída em outubro.

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No lugar do tobogã, será construído um edifício multifuncional que terá cafés, restaurantes, escritórios, espaços multifuncionais e um grande centro de convenções e eventos Foto: Concessionária Allegra Pacaembu

A obra foi alvo de decisão judicial de 31 de março, quando uma liminar impediu o início da reforma sob alegação de que a intervenção no conjunto preservado feria o patrimônio histórico ao prever a derrubada do Tobogã, a arquibancada construída em 1970, 30 anos depois da inauguração do Pacaembu. Mas uma nova decisão, de 16 de junho, anulou a anterior.

A reforma, que vai durar até 28 meses, não incluiu a área tombada pelo patrimônio histórico e na qual está instalado, por exemplo, o Museu do Futebol. A previsão é que a reinauguração do estádio aconteça em novembro de 2023. As arquibancadas serão reformadas e 

A piscina e o centro esportivo continuam de uso público, com acesso gratuito, exceto quando houver reserva para eventos ou locação. Para frequentar esses equipamentos, que estão fechados no momento, basta ser sócio do Pacaembu.


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01/12/2021 | 05h00

 Por Giovanna Wolf - O Estado de S. Paulo

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

‘A Crônica Francesa’ mostra que Wes Anderson sabe contar uma história, OESP

 Luiz Carlos Merten, Especial para O Estadão

29 de novembro de 2021 | 20h00

No “aplausômetro” do Festival de Cannes deste ano, medido pela revista Empire, A Crônica Francesa ficou em segundo, após o anime Belle. Na recente Mostra de São Paulo, o longa foi um dos que tiveram sessões presenciais lotadas. Está nas salas, mas agora a crítica tem sido dura. Wes Anderson teria esgotado sua chama criativa, à força de repetição. O novo filme seria uma repetição fria dele mesmo. Teria, seria – é mesmo? 

Muitos críticos já destacaram que os personagens excêntricos do autor poderiam estar em filmes do mestre francês Jacques Tati, um gênio da pantomima. Talvez por ter ambientado a história na França, Anderson permitiu-se emular o criador de M. Hulot. Numa cena belíssima, ele mostra o despertar na cidadezinha chamada Ennui-sur-Blasé. Tédio sobre Apatia. Um espaço comunitário, uma praça. Abre-se uma janela, alguém sai por uma porta. De repente, é um vaivém contínuo, gente para lá e para cá. A cidade vive. A essência de Tati – M. Hulot sempre foi o indivíduo confrontado com a multidão. 

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A Crônica Francesa
Bill Murray faz o papel de um editor em 'A Crônica Francesa' Foto: Searchlight Pictures

Crônica Francesa tem talvez o maior elenco de astros e estrelas do ano. Um destaque obrigatório vai para Léa Seydoux. O ano está sendo glorioso para ela, presente no Bruno Dumont (France) e no James Bond (007 – Sem Tempo para Morrer). O nu frontal de Léa, posando para o artista, já entrou para a história. O detalhe é importante porque o nu está longe de ser gratuito. O tema da arte é central no novo Wes Anderson. Arte e política, a arte de ser – e estar – no mundo. 

O filme é sobre o suplemento – editado na França – de um jornal dos EUA. O editor-chefe está morrendo – na América. Essa é a história. O jornal pode morrer com Bill Murray. Antes de partir, ele está preocupado com custos. A imprensa – o suplemento – tem futuro? Interessante forma de refletir sobre um tema atual – a imprensa na era das redes sociais. Exposta a situação, o filme gira em torno de três histórias que discutem o papel da arte no mundo. 

Essa reflexão é particularmente interessante no Brasil, onde o atual governo mantém uma cruzada contra a cultura. A arte como negócio, como expressão política e como autodestruição. São três histórias. Você já leu, e nesse texto, que alguns acham que Anderson está a repetir-se. Mais do mesmo. Mais diversão, mais elegância, mais invenção maravilhosa e excêntrica, mais originalidade. Porque, no limite, a fábula é original. Mais do que o tributo de Anderson à imprensa, é o tributo dele à The New Yorker, com seu jornalismo literário. 

Muitos personagens são reais – devidamente ficcionalizados por Anderson em seu peculiar estilo. O jornalista Herbsaint Sazerac/Owen Wilson é inspirado em Joseph Mitchell, o comerciante de arte Julien Cadazio/Adrien Brodre no lendário Lord Duveen. Tilda Swinton conta a história do artista preso, Frances McDormand evoca o Maio de 68. As histórias fluem na tela criando aquele tecido que faz do cinema de Anderson algo tão especial. Talvez não seja O Grande Hotel Budapeste, nem O Fantástico Sr. Raposo, mas o encantamento segue intacto. A magia do cinema do autor está na sua metalinguagem. O prazer de contar, e contar segundo técnicas e estilos diversos, de tal forma que, mais do que repetir-se, ele permanece fiel a si mesmo. 

A Crônica Francesa
Cena de 'A Crônica Francesa', novo filme de Wes Anderson aplaudido em Cannes Foto: Searchlight Pictures

Os 9 minutos de aplauso em Cannes não representam pouco. Só como curiosidade, Empire lembra o campeão de aplausos em toda a história do festival – O Labirinto do Fauno, de Guillermo Del Toro, 22 minutos. Também vale lembrar que Antonioni foi vaiado por A Aventura, em 1960, e Maurice Pialat recebeu sua Palma debaixo de apupos por Sob o Sol de Satã, em 1987, mas essa, como diria Billy Wilder, é outra história.