sexta-feira, 4 de junho de 2021

Empresários cogitam apresentar ex-diretor da USP a Bolsonaro como opção para STF, FSP

 O advogado José Rogério Cruz e Tucci, 64, professor e ex-diretor da Faculdade de Direito da USP, tem sido citado por empresários e membros do Judiciário como uma opção a ser apresentada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a cadeira no STF (Supremo Tribunal Federal) que ficará vaga com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello, em julho deste ano.

À MESA 

“É um homem discreto, conciliador, preparado, sem rabo preso com partidos”, afirma o empresário Pedro Grendene, que já participou de conversas em que Tucci foi cogitado para a Corte —ele prefere não citar outros nomes envolvidos nesse debate.

OUVIDOS 

Tucci diz estar ciente da movimentação, mas que não parte dele incentivá-la. “Elogio em boca própria é vitupério”, afirma. “Como o [ex-ministro] Nelson Jobim diz: ‘Vaga no STF não se pleiteia, mas não se recusa’”. “Meus amigos até perguntam se sou evangélico”, brinca Tucci, que é católico —Bolsonaro disse que indicaria ao STF um ministro “terrivelmente evangélico”.

O advogado e professor José Rogério Cruz e Tucci
O advogado e professor José Rogério Cruz e Tucci - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Hélio Schwartsman E ele nem sequer enrubesceu..., FSP

 Em cadeia nacional de rádio e televisão, o presidente Jair Bolsonaro afirmou sentir profundamente cada uma das mortes por Covid-19 e deu a entender que sempre foi um entusiasta da vacinação. Não vou aqui desfilar as inúmeras declarações presidenciais que provam o contrário. O pessoal da CPI já faz isso quase diariamente.

Não me surpreende que Bolsonaro falte com a verdade. O que me intriga é que o faça sem corar. O rubor é, nas palavras de Charles Darwin, “a mais peculiar e a mais humana das expressões”, à qual dedicou um capítulo inteiro em seu “A Expressão das Emoções no Homem e em Animais”.

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E o rubor é de fato algo muito estranho. Como mostra Ray Crozier, ele parece estar associado a emoções autoconscientes como vergonha, culpa e constrangimento. Em geral, dá as caras em situações sociais, quando o indivíduo imagina como aparece para os outros. Em termos fisiológicos, o enrubescimento é involuntário e difícil de falsificar, o que lhe dá especial valor como mecanismo de promoção da sociabilidade.

Imagem do presidente Jair Bolsonaro na TV, durante pronunciamento
Pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro - Anderson Riedel/Divulgação Presidência

Não é agradável ruborizar. Fazê-lo pode até implicar custos imediatos para o indivíduo, que não raro se acusa ao enrubescer. Mas, no médio e no longo prazo, o rubor o beneficia. A charada se resolve se pensarmos o fenômeno como uma forma de sinalização conspícua. Se eu coro quando cometo um “faux-pas”, estou dizendo que reconheço as regras sociais e mostro remorso se as violo. Estou, portanto, dizendo que sou uma pessoa confiável, não um sem-vergonha qualquer.

E não é só. Ao sinalizar arrependimento, o rubor é também um pedido não verbal de desculpas, ato que tem alto valor na prevenção de conflitos que poderiam revelar-se prejudiciais ou mesmo fatais.

Há pesquisas sugestivas de que psicopatas, que padecem de importantes déficits emocionais, até ruborizam, mas em condições muito diferentes das dos normotípicos. Pensando bem, faz sentido que Bolsonaro não tenha corado.


Elio Gaspari - A anarquia militar de Bolsonaro, FSP

 O vice-presidente Hamilton Mourão defendeu a necessidade de punição do general Eduardo Pazuello dizendo que é preciso “evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças”.

Santas palavras. A partir da Proclamação da República, em 1889, a anarquia militar empesteou a política brasileira do século 20 com pelo menos 14 levantes e seis golpes. Pode-se dizer que alguns foram de direita, outros de esquerda, mas todos tinham uma essência política.

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Os tenentes dos anos 1920 queriam uma nova República. Até mesmo os generais que em 1969 empossaram a junta militar do Três Patetas (expressão usada por Ernesto Geisel em conversas privadas e Ulysses Guimarães em declaração pública) agiram em nome de uma suposta defesa da ordem.

A má notícia é que hoje a anarquia militar tem um pé na delinquência civil, para dizer o mínimo. Gregório Fortunato, o “Anjo Negro” e chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas, era paisano. Fabrício Queiroz, o chevalier servant dos Bolsonaro, é um ex-policial militar. Nenhuma crise militar do século passado teve PMs, muito menos conexões com milicianos.

Em 1964, o general Humberto Castello Branco disse que “não sendo milícia, as Forças Armadas não são armas para empreendimentos antidemocráticos, destinam-se a garantir os poderes constitucionais e sua coexistência”. À época, a palavra “milícia” tinha outro significado.

Não passava pela cabeça dos generais do século passado conviver com a ideia de PMs amotinados. Em 1961, quando policiais militares de São Paulo rebelaram-se, o comandante da tropa de São Paulo, general Arthur da Costa e Silva, acabou com o levante no grito e prendeu os indisciplinados.

A essência política da anarquia militar do século 20 cumpria um relativo ritual hierárquico. Em 1955 o general Odylio Denys foi decisivo para que seu colega, o ministro Henrique Lott, depusesse dois presidentes numa só noite. Seis anos depois, como ministro, prendeu-o por ter defendido a posse de João Goulart.

Nessa anarquia prevaleciam os generais silenciosos, aqueles dos quais ninguém lembra o nome.

Bolsonaro gosta de falar em “minhas Forças Armadas”. As tropas de chefes militares que comiam abelhas, como Floriano Peixoto, não tinham dono. Também não existiam PMs amotinadas, milicianos nem generais da ativa em manifestações de motoqueiros paramentados.

Cenas como as da ação da PM no Recife no último domingo são um aviso de que a anarquia pode vir de baixo. Os disparos de balas de borracha contra manifestantes foram uma clara provocação anárquica, porém deliberada.

Hoje esses personagens existem e são um fator relevante na desordem política e administrativa existente no país. A anarquia militar de Bolsonaro é nova, e pior.

O risco de “que a anarquia se instaure dentro das Forças” tornou-se visível com o general Pazuello subindo no carro de som de Bolsonaro, mas ele está aí desde 2018, quando o comandante do Exército sugeriu com seu famoso tuíte que o Supremo Tribunal Federal negasse o habeas corpus que impediria a prisão de Lula.

Ele ecoava uma manifestação do comandante das tropas do Sul, general Jair Dantas Ribeiro, em 1962, forçando a realização de um plebiscito para enterrar o regime parlamentarista. João Goulart apostava na anarquia militar.