domingo, 22 de abril de 2018

A velha ordem abalada - CELSO MING

Tudo se passa como se a ordem global constituída por Estados nacionais autônomos não esteja mais dando conta das funções a que se propôs executar desde o século 17. Não estão claras nem as consequências dessa quebra de paradigma nem o que vem por aí para ocupar seu lugar.

No último dia 15 (no site, o texto foi publicado no sábado, 14), esta Coluna tratou de situação, digamos, aflitiva dos chefes de Estado do G-20, o grupo das 20 maiores potências globais, que já não conseguem controlar a arrecadação de impostos sobre o comércio de serviços, e até mesmo sobre o comércio de produtos. São transações que se transformaram em cada vez mais caudalosos fluxos digitais que ignoram fronteiras e que, assim, fogem à tributação convencional. Este é apenas um dos sintomas que refletem a perda de controle dos Estados nacionais sobre as novidades – e aí não são apenas as novas tecnologias – que vêm-se impondo globalmente.

O diário londrino The Guardian publicou, no último dia 5, amplo estudo do escritor britânico de origem indiana Rana Dasgupta, intitulado A extinção do Estado Nação (The demise of the nation state), dedicado ao mesmo tema, ou seja, dedicado à obsolescência do atual sistema político internacional.

A geometria geopolítica que emergiu da Idade Média era difusa, mas dominada por ampla teia de dinastias hereditárias ou por chefes militares que conquistavam territórios e os controlavam. Nessa ordem política, povos ou nações podiam ser governados ora por um rei, ora por príncipe, ora por um capitão militar, cujas sedes de governo podiam situar-se em terras que não tinham fronteiras entre si. Até hoje, por exemplo, a letra do hino nacional da Holanda lembra esse tipo de arranjo. É a proclamação do Príncipe de Orange (Guilherme de Nassau) que se orgulha de seu sangue germânico e que, na condição de chefe dos Países Baixos, promete honrar sempre o rei da Espanha.

A nova ordem, que consagrou a divisão do Ocidente em Estados nacionais geograficamente determinados, depois estendida ao resto do mundo, surgiu em 1648, dos escombros da Guerra dos Trinta Anos, por meio do Tratado de Westfalia. As pessoas e as comunidades locais já não são mais súditas do príncipe da hora, mas cidadãos de países nacionais delimitados por fronteiras, que têm constituição, bandeira, instituições e governo próprio.

A globalização, o cada vez mais incontrolável fluxo de capitais, a tecnologia digital, o rápido crescimento das criptomoedas que escapam ao controle dos bancos centrais, a disseminação dos chamados big data controlados por grandes empresas de informática, o aparecimento de 65 milhões de refugiados vitimados por violências não provocadas propriamente por guerras entre Estados, os novos impactos destrutivos sobre o meio ambiente, a incapacidade dos Tesouros nacionais de seguir garantindo o pagamento dos benefícios do bem-estar social, a impressionante capacidade do narcotráfico de criar poderes paralelos em muitos países – tudo isso é sintoma e, ao mesmo tempo, causa da desagregação da ordem global prevalecente até aqui.

É compreensível que as reações a esse desmanche sejam as mais disparatadas. O presidente Donald Trump, por exemplo, ameaça deixar a política de supervisão da ordem do Ocidente e proclama o princípio do “put America first”, sabe-se lá com que alcance. O Brexit, a proliferação de partidos populistas em todo o mundo, os movimentos separatistas da Europa, o acirramento dos conflitos tribais na África, a tentativa de criação do califado pelo Estado Islâmico, o aumento do ressentimento das classes médias – todas essas novidades parecem ensaios destinados a procurar escapes às pressões e à sensação de perda de patrimônio e renda que a desarticulação do antigo arranjo vem provocando. E, mais do que isso, parecem à procura de uma nova ordem cuja escala seja capaz de controlar as forças que ganham autonomia a partir do megadesmonte.

Ninguém imagine que os Estados nacionais estejam nas últimas. Como as pessoas, as instituições também gozam de prolongadas expectativas adicionais de vida. E, no momento, não há o menor indício do que possa ser apresentado como opção ao que está aí.

O que parece tendência inexorável é que o modelo em formação aponta para mais globalização, e não para menos. A necessidade imperiosa de unificar a tributação entre os países e os blocos econômicos é sinal disso. E mais globalização implica ainda maior integração financeira, fiscal e política.

Em todo o caso, tudo ainda está à espera de diagnósticos e de prognósticos. Um olhar mais atento sobre essas coisas pode ser o primeiro passo para entender a natureza e o impacto do admirável mundo novo em formação.


Justiça determina suspensão de até 1.068 cargos da Câmara Municipal, OESP


Entendimento de desembargador é de que haja inconstitucionalidade na forma como os postos foram criados

Bruno Ribeiro e Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo
22 Abril 2018 | 18h07
O desembargador Sérgio Rui, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, determinou a suspensão de até 1.068 cargos ocupados por indicação dos vereadores e dos partidos políticos da Câmara Municipal de São Paulo imediatamente. O entendimento foi de que a forma como os cargos foram criados, por uma lei de 2003 reformada no ano passado, é inconstitucional e fere também a Constituição do Estado de São Paulo.
Câmara Municipal de SP
Entre os cargos que seriam cortados pela liminar, há casos como “assistente legislativo”, “assessor legislativo” e “assessor de comunicação externa” Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
A decisão liminar, proferida na sexta-feira, foi aceita após pedido feito pelo procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio. Caiu como uma “bomba” entre os 55 vereadores da cidade, que passaram o fim de semana discutindo, em seus grupos de WhatsApp, a abrangência da liminar. Há dúvida sobre a abrangência da decisão. Embora a ação aberta pelo Ministério Público elenque o total de cargos abrangidos, parlamentares interpretaram a decisão como uma suspensão de novas contratações da casa, mas com manutenção dos cargos já ocupados.
Esse entendimento segue decisão parecida tomada pelo Tribunal de Justiça ao analisar ação de teor parecido proposta pelo MPE contra a assembleia legislativa, no começo de abril. Naquele caso, o parlamento estadual foi proibido de preencher esses cargos com novas pessoas, mas o pessoal já nomeado foi mantido.
Smanio argumentou, em sua ação, que os termos usados na lei que criou os cargos tidos como inconstitucionais eram “genéricos”, mas que evidenciavam que “os cargos em provimento em comissão destinam-se ao desempenho de atividade meramente burocrática ou técnica, que não exigem para seu adequado desempenho relação especial de confiança”. Ele também questiona a falta de critérios para o preenchimento das vagas, como escolaridade mínima.
Entre os cargos atingidos, há casos como “assistente legislativo”, “assessor legislativo” e “assessor de comunicação externa”. Mas a medida atinge assessores de imprensa, os ouvidores da Câmaras e dirigentes da Escola do Parlamento da casa. No caso de cargos como ouvidor, o entendimento foi de que a função não poderia ser preenchida por indicações políticas, apenas por servidores concursados.
A ação também tenta impedir a norma, vigente até aqui, de que os parlamentares pudessem ocupar 17 vagas em seus gabinetes, além da função de chefe de gabiente, preenchendo os cargos da forma como entendessem até um limite mensal de pagamentos, utilizando os cargos que o MPE busca extinguir.
“Os esdrúxulos atos normativos, ao subtrair do Poder Legislativo e conferir a cada vereador a competência para instituir e também extinguir cargos, afronta previsão do artigo 20, parágrafo terceiro, da Constituição Estadual”, afirma o procurador geral de Justiça.
“Assim, se um vereador quiser nomear o maior número possível de servidores comissionados em seu gabinete para favorecer pessoas a ele vinculadas sem qualquer formação escolar mínima, poderá optar apenas por ‘instituir cargos’ de ‘assessor de apoio parlamentar’, que não exige qualquer requisito de escolaridade”, afirma o procurador geral.
O desembargador, ao receber a ação, concedeu a liminar ao entender, preliminarmente, que as leis citadas por Smanio, que criaram tais cargos, “podem violar, em tese, os preceitos basilares escritos na Carta Magna e na Constituição do Estado de São Paulo”.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Câmara afirmou que vai pedir “esclarecimentos sobre o alcance da mesma decisão”, para entender se os cargos suspensos terão de ser esvaziados ou se apenas novas indicações que não poderão ser feitas. Somente depois a assessoria avaliará se haverá necessidade de novas ações.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

O Metrô de São Paulo comparado com o Metrô do México, AEAMESP

 20.04.2018   |  Notícias de Mercado
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Por Peter Ludwig Alouche
O editorial do Estadão do dia 15 de abril de 2018, “O Metrô deve ser Prioridade”, faz considerações sobre as últimas inaugurações de estações e linhas do Metrô de São Paulo, critica a lentidão na expansão do nosso Metrô e cita que nosso metrô tem “um considerável atraso”, o que é, sem dúvida, verdade. Toma como exemplo o Metrô da Cidade do México para fazer comparações citando: “A capital mexicana tem uma rede de 200 km, que é o dobro do que São Paulo terá no fim deste ano, se tudo correr bem”. Isto é meia verdade.
Rogerio Wassermann, da BBC Brasil em Londres, num artigo publicado em janeiro de 2013, comparando a extensão do Metrô de São Paulo com outros metrôs do mundo, afirmava que o nosso Metrô, ao ritmo médio de expansão anual precisaria de mais 172 anos, para chegar à extensão atual do metrô de Londres e que entre os metrôs latino-americanos, o da Cidade do México, inaugurado em 1969, com 226 km, tem maior ritmo de expansão do que o nosso, mais de 5 quilômetros a mais por ano. E acrescentava: “O sistema da Capital Paulista, inaugurado em 1974, tem hoje 74,3 quilômetros de extensão – numa média de expansão de somente 1,91 quilômetros por ano”.
Jornalistas e políticos brasileiros, seguem a mesma linha para criticar a rede do Metrô de São Paulo considerada muito pequena face à demanda, e sempre se referem ao Metrô do México como o paradigma a ser seguido. Eu gostaria de discordar dessa visão, no meu entender, errada por ser, no mínimo, incompleta.
A Cidade do México é uma megalópole de mais de 20 milhões de habitantes. Hoje, o Metrô da Cidade do México transporta cinco milhões de passageiros por dia, 2,6 bilhões por ano, sendo um dos mais frequentados mundo, atendendo de maneira relativamente eficiente grande parte da região metropolitana da capital mexicana. A sua Linha 1, a primeira, foi aberta ao público de Zaragoza a Chapultepec em 4 de setembro de 1969. Foi construído no seu início com um financiamento do governo francês. A tecnologia do Metrô do México, em 10 de suas linhas adotou a tecnologia do Metrô de Paris com seu material rodante com rodas de pneus de borracha. Nas Linhas A e 12 preferiu a tecnologia com rodas de aço, igual a São Paulo.
O Metrô tem uma rede de 226 km, com 12 linhas e 163 estações. Grande parte das linhas do Metrô mexicano foram construídas em superfície. As linhas subterrâneas têm pouca profundidade em função da Cidade ser plana (um antigo lago). Isto explica em parte o menor custo de construção do Metrô mexicano comparado com São Paulo.
A Cidade do México não tem uma ampla rede suburbana de transporte sobre trilhos como São Paulo. A Linha Buenavista-Cuautitlan, que liga a Cidade do México a quatro municípios da Região, moderna, foi inaugurada em 2009 – a primeira em 40 anos. Tem 27 km de extensão e transporta 300.000 passageiros por dia.
A Linha B, a penúltima linha do Metrô a ser construída, teve no ano 2000 a inauguração de seu último trecho de Ciudad Azteca a Villa de Aragón. A partir de então o Metrô do México teve que esperar 12 anos para ter, em 2012, a sua última linha, a chamada linha dorada, a de número12, inaugurada de Tláhuac a Mixcoac. Teve, porém, que ser interditada no início de sua operação por problemas sérios na interface via/material rodante, com riscos reais de descarrilamento.
A Região Metropolitana de São Paulo conta com duas grandes redes de transporte sobre trilhos: O Metrô que possui 6 linhas em operação, 89,8 quilômetros de rede, 79 estações. Transporta por ano mais de 1 bilhão e 295 mil passageiros. A Companhia do Metrô que opera 5 das 6 linhas transporta diariamente cerca de 4 milhões de usuários. A Via Quatro que opera a Linha 4 do Metrô, com 8,9 km, totalmente automatizada, uma das mais modernas do mundo transporta 780.000 passageiros por dia. Um sucesso.
A CPTM que tem uma rede de 273 km de extensão, com 7 linhas e 94 estações operacionais, atende 23 municípios. As linhas estão sendo modernizadas, para terem a mesma qualidade de serviço do metrô. Logo, logo chega lá. Transporta hoje 2,8 milhões de passageiros por dia. Assim, a Região metropolitana de São Paulo conta atualmente com quase 363 quilômetros e transporta mais de 7,5 milhões de passageiros diários.
Esses números desmentem a visão errônea de muitos jornalistas mal informados, ao comparar México com São Paulo, como o correspondente da BBC, ou então o autor do Editorial do Estadão. Nosso Metrô dentro da rede sobre trilhos totalmente integrada, tem uma malha razoavelmente grande. Isto não significa que a Cidade não necessite com rapidez, de mais linhas de metrôs, em áreas ainda não atendidas coisa que aliás está sendo feito, verdade seja dita, com um ritmo que poderia ser bem maior.
Penso que confrontar simplesmente a dimensão das redes de metrôs, não é uma análise abrangente e conclusiva. É necessário considerar num estudo de benchmarking mais aprofundado, outros parâmetros, como a importância do metrô na Região atendida, a qualidade de serviço oferecida, incluindo a oferta de serviço, a confiabilidade, a disponibilidade, a segurança, a manutenção do sistema, o conforto e a limpeza do transporte. Nisto, o metrô de São Paulo é insuperável. Além do mais o Metrô do México serve a capital do País recebendo por isso do seu Governo Federal mais atenção e mais recursos (como Paris por exemplo). Não é o nosso caso. O Metrô da Cidade do México já foi um exemplo para nós. Inspirou até, no seu início, o nosso Metrô. Instruiu nossos primeiros operadores, mas hoje não se compara. No confronto global, o Metrô de São Paulo vence de goleada.
Fonte: AEAMESP
Data: 19/04/2018